Pedro nos ensina
(I Epistola 3:19): "que o salvador, tendo ressuscitado pelo espírito,
foi pregar aos espíritos que estavam na prisão e que, outrora,
tinham sido incrédulos, quando nos dias de Noé eles contavam
com a sapiência e com a bondade de Deus... ". Pois o Novo Homem
deve ser para si mesmo um salvador particular, à semelhança
daquele que veio traçar-lhe o caminho e que operou pela universalidade.
É preciso, então, que esse Novo Homem, após ter consumado
seu sacrifício, desça aos seus próprios abismos para
realizar aí um julgamento terrível a todos os prevaricadores
que foram incrédulos com ele e que não se mantiveram fiéis
à verdade. E esse julgamento não será o momento menos
penoso da sua obra. Pois, qual é a esponja que pode ser apertada
depois de ser embebida em águas corrompidas? E sem isso a natureza
seria a esponja do pecado? O homem seria a esponja da natureza? O salvador
seria esponja do homem?
Por isso o Novo Homem, que, pelos poderes da salvação universal,
tornou-se o seu próprio salvador, é considerado como tendo
tomado nele e sobre ele as iniquidades de todo o seu ser, e se descer ao
fundo de si mesmo, será para fazer uma total separação
entre ele e aquelas substâncias suas que não forem purificadas
de suas iniquidades.
Vejamos, então, esse juiz terrível descer em seus próprios
abismos, vejamo-lo interrogar sucessivamente todas as faculdades que o constituem,
condenar a uma exclusão absoluta as que são refratárias
à sua palavra e que não quiserem aproveitar as graças
que ele lhes traz. Vejamo-lo imprimir sobre essas faculdades refratárias
a impressão do assombro e do terror, como se estivesse armado de
todos os poderes da vingança. Vejamo-lo condenar a suspensões
e a novas provações aquelas que, sem ser incrédulas,
vacilaram e adiaram sua renovação no espírito. Vejamo-lo
executar ele mesmo todos esses julgamentos, reunir em torno de si todas
as iniquidades e todas as prevaricações que o velho homem
cometeu, e pronunciar a cada uma delas uma sentença severa e rigorosa,
sem se permitir a menor indulgência, pois de outra forma não
cumpriria sua missão e mereceria ser tratado, ele próprio,
como um servo infiel.
Pois esse é o momento de realizar em todas as reuniões da
sua essência a renovação que já se operou nele
mesmo, e que devia iniciar a partir de seu coração ou de seu
próprio centro, para se estender, em seguida, às extremidades
mais afastadas, como a salvação universal partiu do coração
de Deus para se estender em seguida a todas as nações. Além
disso, por que o salvador universal teria ficado três dias na tumba,
se não fosse para purificar a examinar rigorosamente as três
regiões que compõem todo o universo visível e invisível?
O Novo Homem, então, também ficará ignorado pelos seus
durante algum tempo, e enquanto acreditarem que estão separados dele
para sempre, ele estará ocupado em revivificar e examinar tudo o
que existe ainda de impuro e irregular nas substâncias do seu próprio
ternário, e permanecerá entre elas até que as tenha
feito passar por inteiro pela corrupção da tumba. Se ele próprio
se sujeitou à morte para operar sua regeneração de
que maneira tudo o que existe nele poderia recuperar a vida sem se submeter
à mesma lei e sem passar pelo horror da morte e da putrefação,
que é a sua conseqüência? Se tudo foi culpado nele, como
poderia não haver julgamento e condenação?
Mas ele se conduzirá em relação a eles como o espírito
se conduziu com ele, e como o salvador se conduziu com os espíritos
na prisão, aos quais foi pregar (I Epístola de São
Pedro, 3:19). Ele os exortará, como fez consigo próprio, a
imolarem-se voluntariamente e a reconhecerem, ao mesmo tempo, a justiça
e a necessidade do seu sacrifício, de forma que todo o seu ser entre
livremente no caminho do julgamento e da regeneração, pois
todo o seu ser entrou livremente, outrora, no caminho da injustiça,
da iniqüidade e das trevas.
Reanimando-lhes assim pelo calor do seu próprio fogo, não
fará senão repetir o que o salvador universal fez com relação
a ele, e o que fez continuamente com relação a toda espécie
humana, a que ele não cessa de enviar os raios do seu Fogo Divino
para encorajá-los ao sacrifício. Pois não só
esse salvador ficou três dias na tumba, não só permaneceu
quarenta dias sobre a terra depois da ressurreição, como deve
ainda ficar neste mundo até a consumação dos séculos.
Ora, que outro objetivo poderiam ter esses diferentes estágios, senão
o de reanimar, se possível, até os últimos resquícios
das tribos esparsas de Israel, fazendo nascer nelas o desejo de entrar livremente
no caminho da sua libertação, de se precipitar com coragem
ao mar vermelho e atravessar dolorosamente, todos os desertos que lhes restam
a percorrer, para saírem do lugar de sua escravidão e sua
servidão e entrarem na terra prometida e na Jerusalém sagrada,
que jamais poderão ocupar enquanto não tiverem se libertado,
com ardor e resignação, dessas penosas viagens e dessas perigosas
empresas. Pois se a natureza é a esponja do pecado, se o homem é
a esponja da natureza, se o salvador é a esponja do homem, Deus é
o único lugar de repouso de todos os seres. E ai está Jerusalém,
à qual são convocadas todas as tribos de Israel, tanto na
ordem universal da espécie humana como na ordem particular dos indivíduos.
Em todos os estágios e em todos os repousos do salvador universal,
seja durante os três dias que ficou na tumba, seja durante os quarenta
dias que permaneceu sobre a terra, seja durante o tempo que se passará
até a consumação dos séculos, e que prometeu
passar no mundo, ele caminhou em medidas fixas e números exatos,
porque ele próprio era o arquétipo de todas as regularidades
e seu único objetivo foi relacionar o peso, o número e a medida
em todas as classes onde os havíamos alterado e destruído.
O Novo Homem, à sua imagem, tentará relacionar também
a justeza e as proporções em todas as regiões do seu
ser. Mas como ele é apenas a imagem do salvador; como, além
disso, as misturas que o compunham antes da sua regeneração
devem introduzir mil variedades em sua obra, nos frutos da sua obra e nos
tempos da sua obra, ninguém pode indicar o número, o peso
e a medida que lhe serão prescritos, seja na estadia que fará
na tumba, seja durante o tempo que ficará sobre a terra após
a ressurreição, seja durante o período até a
consumação dos séculos, cada indivíduo que se
regenera tendo que preencher proporções particulares.
Para ti, homem vulgar, todas as medidas são ainda mais incertas,
pois são violadas e tu as violas ainda mais a cada dia.
Estás ocupado apenas em repelir esse número e essa medida
que te oferecem, e em se tornar o joguete cotidiano dos poderes irregulares
que como tu, evitam a regularidade e o caminho do retorno, imprimindo continuamente
sobre ti o peso injusto, o número falso e a medida inexata que se
tornaram o seu único elemento. Além disso, que poderia algum
dia calcular teu retorno para a luz e a duração das provações
que precisarias suportar se criasses o desejo de entrar novamente na regularidade!
E tu, natureza, tu estás ainda menos ao nosso alcance; tens hoje
mais do que teu peso, pois és a esponja do pecado; tens menos do
que tua medida, pois teus poderes foram alterados pelo crime e tua duração
foi abreviada pela misericórdia. Como poderíamos, então,
encontrar teu número justo relativamente a tuas purificações
futuras, se esse número só pode ser revelado passando-se por
tua medida e teu peso?
Novo homem, Novo Homem, heis as dores que experimentarás na tumba
durante a estadia mais ou menos longa que farás aí. Mas como
puseste o pé no caminho, saberás a quem deves auxílio
para aí te manteres. E aquele que te deu o exemplo e o meio de entrar
na tumba do espírito será também aquele de quem esperarás
todas as tuas consolações do espírito será também
aquele de quem esperarás todas as tuas consolações
e todos os teus desenvolvimentos. Sim, divino salvador, foste o único
que conservaste na sua justeza todos esses elementos da regularidade e da
perfeição, por isso só em ti e por ti é que
podemos ser instruídos da marcha dos seres e das suas diferentes
leis progressivas para retornar à luz.
Quando o Novo
Homem tiver assim pronunciado o julgamento no fundo dos seus próprios
abismos; quando tiver condenado ao extermínio, diante dele, todos
aqueles que se tornaram os inimigos da sua palavra e do seu nome; e quanto
tiver devolvido a liberdade àqueles que a tiverem desejado, entrará
na região do seu ser aparente e lá se mostrará àqueles
dos seus que ainda estão nessa região, a fim de convencê-los
de que está vivo e de que ressuscitou, pois havia morrido. E os convencerá,
ao mesmo tempo, dos benefícios que alcançou com essa morte
e essa ressurreição.
Oh como o homem regenerado, ou o Novo Homem, está acima do homem
ainda sepultado nas ilusões dos elementos, pois seu corpo adquiriu
uma agilidade extraordinária e superior a tudo o que a lei dos elementos
pode manifestar! E, com efeito, ele está animado da vida do espírito,
e essa vida do espírito não pode animá-lo sem prolongar
seus reflexos e seus raios até seu ser aparente, para oferecer-lhe
ao menos alguns indícios dessa atividade primitiva da qual teríamos
desfrutado se o pecado não nos tivesse entorpecido.
Ao mesmo tempo, a inteligência não deve, de modo nenhum, ficar
surpresa de ver o Novo Homem se apoderar de todos os direitos desse ser
aparente, que parecia como que suspenso durante o suplício, as provações
e a morte desse Novo Homem. A inteligência, digo eu, não deve
ficar espantada de ver o Novo Homem atravessar novamente seu ser aparente,
após ter como que desaparecido, porque quando pareceu estar separado
desse ser aparente, foi apenas para descer ainda abaixo dessa aparência,
a fim de exercer o julgamento nos abismos. Mas como sua estadia e a sua
morada não estão nos abismos; como nasceu do alto e é
preciso que retorne até o reino do seu Pai, não pode voltar
ao reino do seu Pai, sem atravessar de novo esse ser aparente abaixo do
qual descera por um tempo.
Mas, ao atravessar novamente esse ser aparente, fará como o salvador
que Deus ressuscitara no terceiro dia. Mostrar-se-á vivo, não
a todo o povo (Atos,10:41), mas às testemunhas escolhidas antes do
tempo da sua missão particular. A fim de que as testemunhas possam
pregar e atestar em seguida, diante de todo o povo, que foi esse Novo Homem
que constituiu o espírito para ser, em seu reino individual, o juiz
dos vivos e dos mortos. Não se mostrará a todo o povo, que
está nele, pois o povo que está nele não está
todo em condições de contemplar sua glória e aproveitar
seus tesouros.
Esse era um dos principais sentidos dessa lei levítica pela qual
os judeus viviam separados das nações, e pela qual lhes era
proibido admitir as nações entre eles, a menos que elas se
submetessem a todas as ordens cerimoniais da sua aliança. Mas como
eles próprios violaram as leis e as ordens que lhes haviam trazido
a luz das nações; como se mostraram imprudentemente as nações
estrangeiras e as admitiram no seu culto, desprezando a lei que se opunha
isso, foram despojados da sua herança, foram obrigados a solicitar,
por sua vez, a aliança das nações estrangeiras e a
abjurar sua própria lei para serem aceitos entre as nações.
Ora, se os judeus, e se esse povo da antiga aliança e da lei materialmente
figurativa, deviam viver afastados delas? Será que as nações
podem compreendê-lo e interpretá-lo? Será que as nações
podem ser admitidas à sua sublime aliança, antes de ter concebido
as leis e as ordens e antes de tê-las cumprido? Oh mundo, oh mundo!
Sim, existem verdades soberbas, serenas, consoladoras e capazes de dissipar
todas as trevas e todos os teus desgostos, mas não é ainda
tempo para que sejam verdadeiras para ti. E se um homem a nova lei se apressasse
em abrir para ti os tesouros da tua aliança, ele cairia breve em
desgraça, como os judeus, e seria condenado como eles a recorrer
à assistência e à caridade das nações.
Tu sentes, contudo, quando essas verdades se aproximam de ti; se não
és culpado, elas não provocam tua reprovação
por causa dos teus pecados; te reanimam, mas à tua revelia, por causa
da tua ignorância e das tuas trevas. Caminhas junto delas e com elas,
como os discípulos de Emaús caminhavam e conversavam com o
Salvador, sem o conhecerem e sem saberem que era a ele mesmo que buscavam.
E só quando tua hora tiver chegado, e tuas faculdades tiverem sido
abertas pelo poder do espírito, que te aperceberás da tua
ilusão e dirás como os discípulos de Emaús:
Nosso coração não estava totalmente ardente em nós
quando ele nos falava durante o caminho e nos explicava as escrituras? Ora,
essa hora jamais chegará para ti se permaneceres para sempre nas
trevas, pois é preciso que saias da tua própria ilusão
para que essa própria luz não te pareça uma ilusão.
É apenas à medida que as almas se separam da sua própria
região aparente que concebem completamente o reino do senhor e que
ouvem sua palavra. É a cada quebrantamento do nosso ser que obtemos
alguns raios do nome vivificador e que podemos adquirir testemunhos da sua
glória e do seu poder, assim como só pela partição
do pão é que o salvador foi reconhecido por esses mesmos discípulos
com os quais conversara durante o caminho.
O Novo Homem, sabendo então que o mundo não pode conhecê-lo,
em vez de se mostrar ao mundo, após a sua ressurreição
só se mostrará de início aos dois precursores que o
assistiram quando da sua glorificação. Eles se juntarão
à sua obra, durante e após a sua ressurreição,
para instruir a alma simples e amante que estará em consternação,
a espera da sua vinda, e que, possuía pelo medo, terá os olhos
baixos sobre a terra, "porque esses dois precursores aparecer-lhe-ão
de uma só vez, com túnicas brilhantes". Os precursores
dirão, então, a esse amigo: "Por que buscais entre os
mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui; ressuscitou.
Lembrai-vos do que ele vos falou, quando estava ainda na Galiléia:
é preciso que o Filho do homem seja entregue nas mãos dos
pecadores, que seja crucificado e que ressuscite no terceiro dia".
Quando essa alma simples e amante tiver sido assim preparada pela influência
e pelos discursos dos precursores, o Novo Homem se mostrará a ela
e, chamando-a pelo nome, lhe transmitirá bastante da sua própria
luz, para que ela reconheça e diga: Ralboni, meu mestre. Essa alma
simples que, com suas companheiras, irá anunciar aos discípulos
a ressurreição desse Novo Homem e prepará-los para
que por sua vez, mantenham o aspecto da sua glória e as maravilhas
do seu poder. Pois após ele ter ressuscitado do espírito,
sua ação estendeu-se e adquiriu o poder de manifestar-se somente
por prodígios.
Mas esse Novo Homem, esse Filho do espírito e da sabedoria eterna,
esse Filho divino que a alma humana tem o poder de criar, e por cujo nascimento
ele deve salvar-se, como essas mulheres que, segundo disse Paulo a Timóteo,
se salvarão pelas crianças que puseram no mundo, esse Novo
Homem, digo eu, estais bem mais empenhado em reinar sobre a alma humana
por seu amor do que por seus prodígios.
Por isso perguntará a ela, enternecido: Vós me amais?, e ela
responderá: sim, Senhor, sabeis que eu vos amo. O Novo Homem lhe
dirá: Apascentai minhas ovelhas. Ele perguntará novamente:
Vós me amais? Ele lhe dirá: Apascentai minhas ovelhas. Ele
perguntará pela terceira vez: Vós me amais?, e ela responderá:
Senhor, sabeis todas as coisas, sabeis que eu vos amo. E ele lhe dirá:
Apascentai minhas ovelhas.
Alma humana, não te aflijas se o Novo Homem te pressiona dessa maneira
a declarares a ele teu amor. Seu único objetivo é unir-te
a ele por esse amor, como está unido por esse mesmo amor ao espírito
do qual é Filho. Ele repetiu essa terna e tocante pergunta porque,
antes do seu sacrifício, deste-lhe razões para suspeitar do
teu amor por ele. Repetiu-a três vezes porque tu o negaste quando
o viste ser entregue nas mãos dos seus adversários, e temeste
partilhar com ele das provações e dos perigos.
Se fizeste então como o primeiro homem, que, em vez de unir-se ao
seu chefe supremo, submeteu-se ao jugo das três ações
elementares, se o poder dessas três ações inferiores
fez-se sentir sobre ti nos três ataques que foram desferidos, não
será justo que manifestes três vezes tua fidelidade aquele
que sempre te amou e que foi imolado apenas para te devolver a vida?
Não esquece de observar qual é a prova que te pede do teu
amor por ele. Apascentar suas ovelhas; manter em todas as faculdades e regiões
que estão na tua dependência particular a ordem, a medida e
a harmonia, que, daqui por diante ele beberá na fonte viva, para
transmiti-las a ti e a todos os teus; exortá-las a seguirem o exemplo
dele, imolando a si próprios, como ele se deixou imolar à
exemplo do salvador, se quiserem recobrar a vida e ver renascer entre eles
a unidade universal.
Alma humana,
teu salvador particular, ou o Novo Homem, abriu-te o espírito para
que compreendesses a conclusão do que fora dito acerca dele na lei
de Moisés, nos profetas e nos salmos. Pois quando o salvador universal
dizia: foi sobre mim que todos eles profetizaram, não falava apenas
de si próprio, e dava a entender por essas palavras que eles haviam
profetizado acerca de todas as almas de desejo, de todos os que querem tornar-se
novos homens, pois ele se nomeou teu irmão e o irmão de todos
os eleitos.
Abrindo-te o espírito acerca de teu destino, ensina-te que deves
pregar diariamente em ti próprio, em seu nome, a penitência
e a remissão dos pecados em todas as nações, começando
por Jerusalém. Ou seja, começando por essa pedra fundamental
que está em ti e da qual devem brotar fontes vivas capazes de saciar
todos os povos.
O novo Filho que nasceu para ti vai seguir seu curso. Desceu aos teus abismos,
revelou-se em teu ser aparente. É chegada, a hora em que vai subir
novamente até o Pai para enviar-te o dom que te prometeu, por meio
do qual poderás instruir todos os povos que existem em ti e batizá-los
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a observar
todas as coisas que te foram ordenadas. Porque não sairás
de jeito algum da tua própria Jerusalém se não estiveres
revestido da força do alto, e se o consolador não vier te
encher com a força divina, como tu o poderias ter sido da força
espiritual, por todas as tuas operações precedentes, a fim
de que tenhas certeza de que esse Filho que nasceu para ti e foi imolado
por ti, estará sempre contigo até a consumação
dos séculos.
Não podes duvidar, com efeito, de que ele não estará
contigo até a consumação dos séculos, pois é
sem sair de ti que ele cumpre todas as suas obras e que observa todo seu
curso nas diferentes épocas, à semelhança do salvador
universal que, não obstante a diversidade das suas realizações,
jamais se separou daquele que o criou, que o cria e que o criará
eternamente. Assim então, se esse Novo Homem encontra em ti a sua
mãe, os seus Filhos, os seus irmãos e o seu Pai, é
sem cair de ti que ele subirá novamente até esse mesmo Pai,
de onde devem derivar todas as consolações que a fonte eterna
que te criou procura somente verter sobre ti, tomando-te pelo seu órgão.
É sob esse aspecto que deves considerar-te como uma espécie
de universalidade, assim como te foi anunciado em muitas passagens desse
escrito, pois trazes em ti o mundo divino, o mundo espiritual, o mundo natural
e, desse modo, és a imagem daquele que tudo produziu e que é
tudo. Mas tu só serás assim a imagem daquele que tudo produziu
e que é tudo, se morares nele e se ele próprio der forma a
todas as tuas faculdades e substâncias, pois como serias uma universalidade
parcial, se não fosses continuamente conhecido, criado e alimentado
pela grande universalidade?
Não hesites em crer que esse é o objetivo dessa grande universalidade
em relação a ti. E que todos os seus planos e todas as suas
obras procuram dar à tua existência a característica
da sua grandeza e da sua imensidão.
Julga-a pelas comparações que podes fazer entre o teu ser
e todos os vastos poderes que te cercam e que dominam acima de ti. Contempla
a imensidão do universo em relação à tua configuração
frágil. Contempla a imensidão do espaço e do tempo
em comparação com todos esses seres parciais que tem apenas
uma pequena fração da sua duração, e reconhece
que todos os esforços do supremo poder buscam somente aumentar o
teu ser, pelo reflexo que essas relações podem fazer nascer
em ti, e dar um curso mais vasto ao teu pensamento, isto é, imprimir
nele a marca dessa imensa universalidade.
Pois, por mais fracos e desprezíveis que sejam os mortais em aparência,
não podem negar que é para eles mesmos que todos esses grandes
presentes são enviados, pois só eles têm condições
de contemplá-los e de nutrir com eles seus pensamentos, ao passo
que todos os outros seres utilizam os auxílios que recebem sem compreendê-los.
Alma humana, se pelo órgão desse Novo Homem que nasceu em
ti podes elevar teus olhos acima deste mundo passageiro e corruptível,
descobrirás na tua região superior uma imensidão bem
mais vasta e dons infinitamente mais abundantes, e aprenderás, então,
a te engrandeceres cada vez mais com os benefícios daquele que tudo
produziu e que é tudo.
Aprenderás a avaliar a semente preciosa com a qual ele formou a alma
humana, e lhe é tão cara que, não obstante suas ingratidões,
ele não consegue desviar os olhos dela.
Verás esse ser infinito verter continuamente sobre nós a abundância
dos seus poderes, da sua majestade e da sua infinitude. Porque nossa vontade
pestilenta se vangloria, o Eterno não cessa de mostrar-nos o limite
e a impotência, fazendo-nos constantemente nadar na sua imensidão
universal. Não te aflijas, portanto, alma humana, se o teu Novo Homem,
após ter sido abençoado, separar-se de ti e elevar-se ao céu.
Imita o exemplo dos discípulos do salvador universal que, após
tê-lo "visto separar-se deles e subir ao céu, retornaram
cheios de alegria à Jerusalém, onde se dirigiram ao templo,
louvando e bendizendo a Deus", porque estavam cheios de confiança
em suas promessas.
Não te surpreendas que o Novo Homem, após ter retornado ao
seu Pai e permanecido com ele durante o tempo prescrito por teus números
particulares, venha te dar novos sinais da sua presença e do seu
interesse por ti. Pois "quando os dias da tua Pentecostes forem cumpridos,
todos os teus discípulos estando reunidos em um mesmo lugar, ouvirás
repentinamente um grande estrondo, como o de um vento violento e impetuoso,
que virá do teu céu e encherá toda a casa onde estarão
instalados. Ao mesmo tempo, verás como que línguas de fogo
se dividindo e pairando sobre cada um deles. Logo estarão cheios
do Espírito Santo e começarão a falar várias
línguas, de acordo com as palavras que o Espírito Santo porá
em suas bocas".
Com efeito, conhecerás as línguas de todas as substâncias
que te constituem. Ouvirás sua linguagem e elas ouvirão a
tua, a fim de que concorrais todos juntos para manifestar as dores particulares
que vos são próprias; para ouvir, cada vez mais, o reino do
vosso Deus. E não ocorrerá um único movimento em ti
do qual não tenhas discernimento e do qual não sintas o julgamento
que deves ter e o uso que deves fazer dele. Se esses movimentos forem falsos,
ouvirão tua língua assim como os movimentos verdadeiros, mas
não a ouvirão apenas para a sua condenação,
pois tua língua tornar-se-á espada de dois gumes.
Quando esses movimentos falsos se derem a conhecer em ti, bastará
que digas apenas uma palavra e eles serão precipitados ao abismo,
e terás o direito de dizer aos Sáfiros e aos Ananias que estarão
em ti e procurarão te enganar: "Como Satã tentou o vosso
coração para vos levar a mentir ao Espírito Santo e
subtrair uma parte do vosso fundamento de terra? Não ficaria convosco
se quisésseis guardá-lo? Não foi aos homens que mentistes,
mas a Deus. Os que vêm para vos enterrar estão à porta.
E à tua palavra, esses impostores entregarão o espírito
e cairão por terra".
Mas tu terás também o poder de verter consolações
sobre os aflitos e os doentes, quando tiverem no coração uma
santa esperança e uma viva confiança nos poderes do Senhor,
a ponto de tua própria sombra livrá-los das suas doenças.
Quando fores ao templo, como é do teu costume, encontrarás
pobres estropiados e os examinarás para avaliar sua fé; e
quando, pelo movimento interior do espírito, acreditares poder empregar
tuas riquezas em seu favor, dirás a eles: Não tenho ouro nem
prata, mas vos dou isso, ficai curados em nome do salvador e caminhai. Então
eles se levantarão e ficarão firmes sobre os pés, e
entrarão contigo no templo, caminhando, saltando e louvando a Deus.
Ficarás livre dos entraves da lei, quando fores admitido no reino
do espírito. E se tua piedosa delicadeza ainda te deixar inquieto
acerca das ordens levíticas, o espírito te responderá
como a São Pedro (Atos 10:15): Não chameis de impuro o que
Deus purificou.
Quando os inimigos que estão em ti procurarem se apoderar de ti,
e quando acreditarem ter te vencido, após terem te aprisionado em
suas trevas para te impedir de difundir a palavra de verdade no templo,
o anjo do Senhor, sem que eles saibam, abrirá a porta da tua prisão
e te dirá: Vai ao templo e prega ousadamente ao povo todas as palavras
dessa doutrina de vida. E os teus inimigos, surpresos por não te
encontrarem na prisão, tremerão de raiva por ver a palavra
difundir-se apesar deles.
Não deves ficar surpreso se, quando falares com fé e confiança
aos povos que estão em ti e que te escutarão, o espírito
descer sobre eles, assim como desceu sobre ti, pela palavra do Novo Homem,
e se eles se tornarem assim suscetíveis de receber o batismo da tua
mão, como o recebeste da mão do teu salvador particular, em
razão do que és o depositário das sete fontes sacramentais
que devem brotar da tua pedra fundamental. Pois a promessa foi feita a ti
e a teus Filhos, e a todos aqueles que estão longe para quantos o
Senhor teu Deus chamar a si.(Atos 2:39).
Não
basta que o Novo Homem tenha percorrido todas as épocas temporais
da regeneração, e que tenha passado por todas as progressões
particulares ligadas à restauração da posteridade humana.
É preciso que ele se ligue, de uma maneira temporal e espiritual,
ao complemento particular dessa restauração, se não
de modo estável haja vista a imperfeição de nossa região,
ao menos que se aproxime e inicie essa reintegração permanente
da qual ele usufruirá, quando, após ter representado neste
mundo o seu princípio de uma maneira limitada, poderá representá-lo
nos céus de uma maneira tão vasta quanto duradoura.
É preciso então que, independentemente desse julgamento particular
que vimos pronunciar quando desceu ao seus abismos, ele pronuncia ainda,
profeticamente, o julgamento final que deve decidir a sorte dos prevaricadores
e fazer a separação entre aqueles que, em si mesmo, tendo
escapado pela penitência à primeira morte, serão preservados
da segunda morte, e aqueles que serão as vítimas das duas
mortes.
Vejamo-lo, assim, traçar antecipadamente nele o quadro desses últimos
tempos, em que a esperança será abolida e restará apenas
a consolação ou o desespero, o gozo perfeito ou a privação
absoluta. Vejamo-lo tomar as sete trombetas para chamar ao julgamento final
todas as nações dentro dele que estão submetidas ao
seu poder, para examinar as "que tiverem adorado a besta ou a sua imagem,
as que tiverem recebido o sinal na fronte ou na mão, a fim de que
bebam o vinho da cólera de Deus, o vinho todo puro, preparado no
cálice da sua cólera, e que sejam atormentadas pelo fogo e
pelo sofrimento diante dos santos anjos e na presença do cordeiro
e no nome do seu Pai escritos na fronte, e que cantarão o cântico
novo diante do trono, como se tivessem sido resgatados da terra. Pois a
sua voz será semelhante ao barulho das grandes águas e ao
estrondo de um grande trovão, e formarão como que um uníssono
de muitos tocadores de harpa tocando suas harpas. E não se encontrará
mentira na sua boca, porque eles são puros e imaculados diante do
trono de Deus".
Vejamo-lo voando pelo meio do seu céu, "portando o evangelho
eterno para anunciá-lo àqueles que estão sobre a terra,
a todas as nações, a todas as tribos, a todas as línguas
e a todos os povos, e dizendo com uma voz forte: Temei ao Senhor e rendei-lhe
glória, porque a hora do seu julgamento chegou, e adorai aquele que
fez o céu e a terra, o mar e a fonte das águas".
Vejamo-lo em seguida tomar no templo do tabernáculo o testemunho
das sete taças de ouro, cheias da cólera de Deus, que vive
pelos séculos dos séculos.
Vejamo-lo desferir os quatro primeiros golpes sobre a terra, sobre os rios
e sobre o sol, para realizar a dissolução da região
fantástica e ilusória que o retém nas trevas e para
fazer com que os homens que tiverem o sinal da besta sejam acometidos de
uma praga maligna e perigosa, que o mar se torne como o sangue de um morto,
que os rios e as fontes das águas sejam transformadas em sangue.
E os homens, sendo afetados por um calor devorador, blasfemarão contra
o nome de Deus, que tem as pragas em seu poder, recusando-se fazer penitência
para render-lhe glória. O quinto golpe espalhar-se-á sobre
o trono da besta, e o seu reino se tornará tenebroso. O sexto golpe
será desferido contra o grande rio Eufrates, e a sua água
será seca para abrir caminho aos reis que devem vir do Oriente. O
sétimo golpe difundir-se-á pelo ar, e uma voz forte se fará
ouvir tanto do templo como do trono, dizendo: está feito".
Então ocorrerão no Novo Homem "clarões, ruídos,
trovões e um grande tremor de terra, como jamais houve desde que
os homens habitam a terra. A grande cidade será dividida em três
partes, e as cidades das nações cairão; todas as ilhas
e montanhas desaparecerão".
Após todos esses espantosos prodígios, o Novo Homem "prenderá
a Besta e com ela o falso profeta, e os jogará vivos no lago do fogo
e do sofrimento". E sairá do trono uma voz que dirá:
"Louvai o nosso Deus, vós todos que sois os seus servos e que
o temeis, pequenos e grandes, porque seus julgamentos são verdadeiros
e justos, condenou a grande prostituta, que corrompeu a terra com sua prostituição,
e vingou o sangue dos seus servos, derramado pelas mãos delas.
Alma humana, quando esses temíveis julgamentos forem pronunciados
e executados em ti, então haverá para ti um novo céu
e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra terão
desaparecidos, e o mar não mais existirá. Então verás
"a cidade santa, a nova Jerusalém, que vindo de Deus descerá
do céu em ti, enfeitada como uma esposa que se enfeita para o seu
esposo. E ouvirás uma grande voz que virá do trono e dirá:
Heis o tabernáculo de Deus com os homens, e ele habitará contigo
e tu serás o seu povo, e o próprio Deus habitando em ti será
o teu Deus. Deus enxugará todas as lágrimas dos teus olhos
e a morte não existirá mais".
Alma humana,
queres conhecer as proporções dessa cidade santa, dessa Jerusalém
que descerá em ti, enfeitada como uma esposa que se enfeita para
o seu esposo, transporta-te até a grande e alta montanha que há
em ti. Verás que essa cidade santa é iluminada pela claridade
de Deus, que a luz que a ilumina é semelhante a uma pedra preciosa,
a uma pedra de jaspe transparente como o cristal.
Verás que ela é quadrada, igual em comprimento e largura,
e que a medida da muralha é de cento e quarenta e quatro côvados
de medida do homem, para te fazer compreender que é sobre as próprias
dimensões, ao mesmo tempo ternárias, quaternárias e
setenárias, da tua essência sagrada que deve elevar-se essa
cidade eterna da paz e das consolações. Porque tu és
a única com a qual a eterna fonte de todas as medidas e de todos
os números tem relações bastante estreitas, a ponto
de ter querido fazer de ti seu representante entre os povos e entre todas
as regiões do universo visível e invisível. Reconhecerás
que tu próprio és o tabernáculo de Deus, com todos
os que habitam em ti, e é por isso que ele quer morar em ti, a fim
de que sejas o seu povo e que ele próprio, morando em ti, seja o
teu Deus.
"Também não verás outro templo nessa cidade santa
e nessa Jerusalém celeste, porque o Senhor Deus Todo-Poderoso e o
cordeiro estão no templo. E essa cidade não tem necessidade
de ser iluminada pelo sol ou pela lua, porque é a luz de Deus que
a ilumina, e o cordeiro que há em ti é a lâmpada. As
nações marcharão ao encontro da sua luz e os reis da
terra levarão para lá sua glória e sua honra".
Alma humana, vês os homens que ainda estão no reino terrestre
e material que fecharam as portas das suas cidades de guerra, após
terem tido o cuidado de expulsar os inimigos e os malfeitores. Os homens
no reino espiritual fazem o mesmo, para não correrem o risco de serem
as vítimas da sua negligência. Pois se deixarem os inimigos
os devorarão, sem que o saibam, durante o sono? Quantas aflições
a aurora lhes revelará, abrindo-lhes os olhos apenas para lhes deixar
ver sua escravidão?
Mas nesse reino divino que o Novo Homem estabelece em ti "as portas
da cidade santa não se fecharão no fim de cada dia, porque
não haverá mais noite; não haverá nada de contaminado
nela, ou quem cometa abominação e mentira, mas somente aqueles
que estão inscritos no livro da vida".
Verás também na cidade santa um reino de água viva,
clara como o cristal, que correrá do trono de Deus e do cordeiro,
pois não ignoras que o homem é ele próprio um regato
provindo desse rio, devendo, portanto, correr eternamente como aquele que
lhe dá, sem interrupção, o nascimento.
"Encontrarás também no meio da praça da cidade,
dos dois lados do rio, a árvore da vida que tem doze frutos e que
dá fruto a cada mês, e as folhas dessa árvore são
para curar as nações". Pois essa árvore da vida
é essa luz do espírito que acaba de se iluminar no pensamento
do Novo Homem e que não mais poderá extinguir-se. Esse fruto
que ele dá a cada mês é a palavra desse Novo Homem que
deve, daqui por diante, encher com toda a sua sabedoria a universalidade
do tempo. Essas folhas que devem curar as nações são
as obras do Novo Homem, que espalharão sem cessar, ao redor de ti,
a harmonia e a felicidade, como deverias tê-las difundido outrora
em virtude desses três dons sagrados que te constituem, ao mesmo tempo,
na imagem e no Filho do Deus dos seres.
Não dês, portanto, descanso a ti próprio antes que essa
cidade santa esteja reconstruída em ti, tal como teria subsistido
se o pecado não a tivesse destruído, e lembra-te, todos os
dias da tua vida, que o santuário invisível onde nosso Deus
se compraz de ser honrado, que o culto, as iluminações, o
incenso, dos quais a natureza e os templos exteriores nos oferecem imagens
instrutivas e salutares, que enfim todas as maravilhas da Jerusalém
celeste podem reencontrar-se, ainda hoje, no coração do Novo
Homem, pois elas existem nele desde a origem.