A
prática dos sacrifícios entre outras nações;
sua corrupção.
É
evidente que o uso destas cerimônias entre outras nações
não se atribui à religião Judaica e nem aos sacrifícios
em que ela estava fundamentada, porque os Judeus eram um povo exclusivo
e isolado, que não possuía relações com outras
nações; isto porque eles deixaram de existir como um povo,
somente na nossa época e, a partir de então, tem perdido o
uso de suas cerimônias e sacrifícios; além do mais,
tendo os sacrifícios estado em uso desde o início do mundo,
quando este fora renovado após o Dilúvio, a renovação
dos sacrifícios entre todas as nações deve ser atribuída
à dispersão destas nações, que teriam carregado
consigo os costumes e cerimônias de seus antepassados.
Não é, portanto, o prevalecimento universal dos sacrifícios
que irá agora nos surpreender e ocupar, pois, já que são
reconhecidos como originários de campos naturais, nenhuma de suas
ramificações pode ter outra origem; mas, as mudanças
que estas correntes ou ramos tem tomado em seu curso é o que deve
ser objeto de nossas pesquisas e reflexões.
Esta mudança corrupta nunca teria ocorrido se não houvesse
uma nascente pura a que tudo deu início; e aqueles que tem atribuído
o uso dos sacrifícios à mera ignorância e superstição,
tem confundido o abuso e as conseqüências com o princípio
e, agindo desta forma, impedem a si próprios de conhecer tanto o
princípio como as conseqüências. Não vamos esquecer
jamais a infeliz situação do Homem neste mundo de aflições
e trevas, exemplificado pelos sofrimentos de todos os mortais e pelas lágrimas
de todos os tempos. Não vamos esquecer de que se estamos rodeados
por influências regulares, das quais os animais puros são os
intermediários, também estamos rodeados por influências
desordenadas, que tentam incessantemente introduzir a desordem em tudo o
que se aproxima de nós, para que possa nos invadir e adiar o nosso
retorno em direção a luz.
Este quadro, infelizmente tão real e caro a nós, assim se
torna ainda mais quando lembramos das preparações sacerdotais
a que as vítimas eram submetidas de acordo com a lei Judaica; e especialmente
quando nos recordamos das aves que desceram sobre as carcaças, na
ocasião do sacrifício de Abraão e que foram afastados
por este patriarca.
Não se deve acreditar que na multiplicidade de sacrifícios
que foram oferecidos, seja na família de Noé, ou na de seus
descendentes que povoaram a Terra, nunca houve a falta destas preparações
sacerdotais, e que as aves foram sempre afastadas das vítimas; isto,
eu afirmo, não se pode acreditar, na medida em que vemos a abominação
aparecer no seio da própria família de Noé, e a sua
posteridade envolvida nas trevas, a ponto de obrigar a Sabedoria Suprema
a fazer uma nova eleição. Ainda que um único ato de
negligência, nestas importantes cerimônias, basta para dar acesso
as influências desordenadas assim como a todas as suas conseqüências.
Julgue, então, que conseqüências foram estas se o sacrificador
à negligência uniu a profanação, à profanação
uniu a impiedade e à impiedade um propósito criminoso; em
resumo, se ele mesmo abriu o caminho à influência desordenada,
e atuou em concordância com ela, ao invés de resistir a ela.
Com certeza, nada mais se poderia ter esperado do que uma inundação
de horrores e abominações surgisse deste ato, inundação
que cresce diariamente a uma proporção que não se pode
estimar e que deve ter invadido o mundo com suas águas impuras, cobrindo-a
com a iniqüidade.
A influência ou ação desordenada a que o sacrificador
deu acesso em si mesmo, o levou ao erro de várias formas; em um momento,
sugeriu a idéia de trocar de vítima e substituir as vítimas
puras por vítimas tais como bestas, adequadas aos desígnios
abomináveis; a partir disto não é de se surpreender
o fato de observarmos sobre a Terra os inúmeros animais usados nos
sacrifícios.
Numa segunda oportunidade, sem interferir com as vítimas, a influência
desordenada deve ter instigado o sacrificador a endereçar a ela própria
o espírito e intenção de sua obra, levando-o a esperar
por isso um benefício maior do que aquele que se poderia esperar
de um Ser severo e zeloso, que retira todas as suas graças por causa
da menor negligência durante as cerimônias que Ele instituiu;
e, ao lançar a sua cobiça em várias direções,
esta influência desordenada teria unido o Homem a si mesmo, afundando-o
nos mais fatais abusos e monstruosas abominações.
Uma outra vez, empregará todas estas iniqüidade juntas e fazendo
com que tenham uma piedade aparente, para assegurar o sucesso, irá,
sob esta máscara, levar o Homem às mais revoltantes e desumanas
práticas, persuadindo-o de que quanto maior o preço e maior
o número de vítimas, mais ele poderá ser amado pela
Divindade; além disso, como este poder desordenado estava, assim
como o poder ordenado, conectado a todas as substâncias e materiais
do sacrifício, ela terá a capacidade de fortalecer e confirmar
todas estas falsas insinuações, através de manifestações
visíveis, todas de grande eficácia, porque correspondem aos
sentimentos internos e movimentos secretos que o sacrificador já
havia recebido.
Vamos, então, considerar a raça humana sob o jugo de um inimigo
engenhoso e atento, que respira unicamente para levar o Homem de erro em
erro, e que o tem feito se curvar de joelhos diante de si, em todo lugar,
através dos mesmos meios que foram dados ao Homem para repeli-lo.
Há
três classes ou níveis de desordem e abominações.
Estes
erros podem ser divididos em três classes: primeira, abominações
de primeiro grau, quando todas as faculdades do Homem se encontram corrompidas.
Segunda, abominações religiosas que tem início, assim
como a anterior, com a própria corrupção do Homem,
mas que o comanda, a partir de então, através de suas fraquezas.
Terceira, a mera superstição ou idolatria, que embora derive
das outras duas, não tem o mesmo efeito e conseqüências.
Podemos até acreditar que as superstições pueris e
abusos secundários, aos quais o Homem tem sido levado através
de sua fraqueza e credulidade, possa o ter preservado e salvado de crimes
mais essenciais na medida em que possuísse mais luz e poder.
E, na verdade, não são os ídolos que possuem bocas,
eles não falam, a ponto de evitar aqueles que possuem boca e que
falam, que possuem ouvidos e ouvem, que possuem olhos e vêem etc.
O
primeiro grau de abominações: tragado pelos elementos.
As
abominações conectadas com estes tipos de ídolos, ferindo
a justiça em seu centro, deve ser enquadrada no primeiro grau; isto
tem atraído inumeráveis calamidades, tanto conhecidas como
desconhecidas, sobre os culpados: pois, quantos crimes tem afundado no abismo
juntamente com aqueles que os cometem! Podemos ter uma idéia, por
todas estas abominações transmitidas a nós nas Escrituras,
das outras que se mantém em silêncio.
Lembrar o pecado do primeiro Homem, que lhe provocou uma profunda mudança,
o fez passar da luz para as trevas em que vive; lembrar as abominações
cometidas pela sua descendência durante o Dilúvio, e do imenso
número de culpados levados por este, é fazer uma idéia
da grande quantidade de crimes que deve ter sido eliminado de nossa vista
por este intermédio; verifique as abominações dos Egípcios,
e dos habitantes da Palestina que atraiu a ira de Deus sobre aquelas regiões,
compelindo-o a fortalecer os elementos e poderes da Natureza e até
mesmo o fogo do céu para destrui-los.
Em resumo, basta olharmos para o nosso globo, onde talvez não encontremos
um único ponto que ainda não mostre os sinais da ira do céu
espalhada sobre os desafortunados que foram insanos e culpados o suficiente
para se juntar ao inimigo contra a Divindade; e este quadro de nosso globo
é uma história viva, mais convincente do que qualquer outra
contida nos livros, e demonstra a prevalência universal do crime,
não mencionados nos livros, ou aludidos apenas resumida ou incidentemente.
Tudo indica que as calamidades e abominações do primeiro grau
parecem ter diminuído; e, se não acabaram completamente, não
se encontram mais nas estruturas das nações, mas apenas praticadas
por indivíduos.
O
segundo grau: abominações religiosas, ilusões Satânicas,
ciências ocultas etc.
Na
pura observação dos sacrifícios legítimos, o
sacerdote sincero e seu povo recebiam visíveis evidências da
aprovação do Poder Soberano, já que tinham instruções
para a sua conduta na senda da santidade, respostas para as perguntas dentro
da sabedoria e justiça; contudo, tão logo a negligência
ou corrupção invadiu estes sacrifícios, a influência
desordenada entrou imediatamente neles, mostrando-se visivelmente sob a
forma que desejasse; ela elaborava respostas e se estabeleceu como oráculo
e a real arca da aliança.
Muitos sacerdotes foram ingênuos e vítimas destas falsas aparições;
e muitos tendo primeiro se submetido ao seu governo, governaram , então,
nações através destas seduções encantadoras!
Esta influência desordenada pôde comunicar algumas verdades
que chegou a conhecer através da imprudência dos homens; ela
previu eventos que vieram a ocorrer, e freqüentemente respondia questões
de forma correta; isto era o suficiente para fazer o povo se prostrar diante
dela, seja qual for a forma que tomasse, ou qualquer ordens que prescrevesse.
Tal é, sem dúvida, a origem de muitas religiões e formas
de culto no mundo, assim como das atrocidades associadas religiosamente
a elas; é preciso distinguir claramente estas abominações
secundárias daquelas do primeiro grau, que atacaram a própria
Divindade intencionalmente; o efeito dos crimes do segundo grau parece ter
sido apenas o de desviar os homens e privá-los dos benefícios
dos propósitos divinos; isto representa atacar a Divindade apenas
indiretamente. Mas estes crimes parecem superar em número e extensão
o que não possuem em importância.
Nesta classe devemos colocar todos aqueles mestres das ciências ocultas,
a quem os ignorantes tem chamado de iluminados; todos aqueles que tem ou
tiveram espíritos Pythonicos, que consultam espíritos de familiares,
e deles recebem mensagens.
Nesta classe se deve colocar todos aqueles oráculos dos quais as
mitologias estão repletas, todas aquelas respostas proféticas
e ambíguas que os poetas tem feito de base e centro dos seus poemas,
na tentativa de despertar nosso interesse em seus heróis representando-os
como vítimas do destino, ou até mesmo vítimas de palavras
ambíguas, através das quais foram levados a caminhos de erros
e problemas, ao invés de marcharem sob os estandartes da verdade
e sabedoria.
Nesta classe devem ser colocados muitos daqueles prodígios realizados
na suspensão de nossos sentidos corporais (torpor mesmérico,
sonambulismo etc.) que expõem os homens a qualquer domínio
que se apresente; além do mais, temos motivos para crer que o crime
do Homem teve início com o sono, e que por ter permitido seus sentidos
reais se tornarem torpes, mergulhou na ilusão e nas trevas.
Nesta classe devem ser colocadas todas aquelas práticas ilegítimas
e falsas, de todas as épocas, que sob a aparência da verdade,
separou os homens da única Verdade que deveria ser seu guia. Me refiro
a todas as práticas abusivas, pois apesar da não realização
dos sacrifícios em grande parte do mundo, é certo que estes
abusos tiveram início na corrupção destes sacrifícios,
sendo então propagados de geração em geração,
produzindo novos erros até a nossa própria época, já
que a fonte criminosa de onde surgiram é viva e apodera-se de cada
oportunidade que os homens lhe proporciona para estender seu reino e realizar
seus desígnios.
Somos levados a acreditar que se a maioria dos homens vive sob o jugo destas
iniquidades e ilusões, ainda que de boa fé ou pela ignorância,
podem também trazer suas paixões e intenções
egoístas para dentro de si, ao invés da virtude; aquele que
se acerca das abominações do primeiro grau, mostram muito
bem o que tem sido as lamentações dos profetas e como toda
vontade é fundada.
Terceira
classe de desordem: superstição, idolatria, confecção
de santos, imagens etc.
Finalmente,
a terceira classe destas abominações é aquela de todo
tipo de idolatria e superstição. As múltiplas formas
que a influência desordenada era capaz de assumir, a fim de alterar
os sacrifícios e desencaminhar o Homem, foram as principais fontes
da idolatria material, os sacerdotes que recebiam tais manifestações
sendo levados por uma tendência natural a reverenciar animais e outras
substâncias naturais com que aquelas formas, assumidas pelo poder
desordenado, tinha alguma relação; e esta era a origem de
cultos oferecidos por tantas nações a diferentes criaturas.
Deste ponto para a idolatria figurativa, ou a confecção de
imagens, não há mais que um passo; inumeráveis causas
freqüentemente levam à substituição da imagem
de ídolos pelo próprio ídolo; o povo transfere facilmente
sua veneração do ídolo para a imagem.
A deificação tem uma origem similar; o sacerdote tem sido
objeto de adoração. Assim, quase que em todas as nações,
encontramos uma Divindade visível e uma invisível; no Norte,
dois Odins, um é o Deus supremo, o outro é um conquistador;
entre os gregos encontramos dois Zeus; dois Zoroastros entre os Persas;
dois Zamolxis entre os Thracias etc.
Não é muito difícil descobrir a origem das superstições
populares. Não foi pela falta de profetas que os judeus caíram
em todo tipo de idolatria já que em seus escritos particularmente
os Salmos, o Deus Supremo é claramente distinto de qualquer coisa
que o Homem tem tomado por Deus.
Mas, ao abordar os sacrifícios, esteja corrompido ou não,
e pelo testemunho das cerimônias daquelas abominações
secundárias, o Homem verá que, sob certas circunstâncias
ocorrem certos resultados; o Homem perderá a visão do espírito
que deveria dirigir todas estas formalidades e ao lhe dar valor e se prender
à forma vazia, substância, ou somente a cerimônias isoladas,
entregando a eles aquilo que conquistou enquanto o espírito vivo
estava com eles.
Vemos aqui como o povo vem consultar as entranhas das vítimas, mesmo
no últimos momentos do agonizante animal; o vôo dos pássaros;
talismãs; criptograma; amuletos; ou seja, a todos aqueles inumeráveis
sinais naturais cuja as opiniões agitam as mentes dos homens, e a
cobiça, se tem dado um valor e uma importância que na verdade
não possuem.
Este triste quadro é suficiente para mostrar a que tipo de aberrações
a mente do Homem está exposta, quando ele para de olhar contra a
influência desordenada, que após tê-lo desviado na época
de sua glória, o desviou novamente quando os sacrifícios foram
instituídos para a sua regeneração; ela tem propagado
a desordem de tal forma que o Homem não pode conhecer nenhuma paz
até que sua morada seja inteiramente renovada.
É preciso notar, com relação aos presentes, que estes
sempre foram oferecidos ao vidente, uma imitação daqueles
oferecidos no templo através do sacrificador; estes presentes e oferendas
faziam parte, a princípio, da virtude do sacrifício, depois
é que se tornaram órgãos inferiores de correspondência
e por fim um mero objeto de fraude, avareza e especulação.
As
leis são progressivas em sua ordem e objetivo.
Todos
as leis dadas ao Homem desde o seu pecado, tem tido a sua elevação
como objetivo. Por esta razão, a lei é sempre inferior ao
limite para o qual aponta e para o qual pretende levar o Homem, embora seja
superior àquele onde o encontrou: é por este motivo também
que estas diferentes leis teriam sido sempre progressivas se o Homem não
tivesse atrapalhado seu curso, tão freqüentemente, através
de seus erros; contudo, tendo o Homem multiplicado continuamente suas próprias
quedas, e aumentado suas próprias trevas, ele atraiu leis de rigor
e repressão enquanto deveria ter recebido aquelas de bondade e consolo.
A
lei dada a Adão.
Após
a primeira expiação do primeiro Homem culpado, ele recebeu
uma lei certamente mais vasta e luminosa do que aquela posteriormente dada
aos Israelitas; podemos verificar isto através da diferença
de nomes pelos quais estas leis eram governadas. Era o próprio nome
de Deus que governava a primeira, e apenas o nome representativo que governava
a segunda: ver Paulo aos Gálatas (GL III.19) onde ele diz: "esta
lei foi promulgada por anjos, pela mão de um mediador".
Além disso, Adão, embora culpado, estava apenas privado de
suas alegrias primitivas; ele não estava até então
sob a mancha do pecado, que havia sido removida pelo batismo da libertação
das mãos de seu inimigo, o que pode ser chamado de sua grande ou
espiritual circuncisão.
O envoltório corporal que ele recebeu era um puro extrato de todas
as substâncias mais vitais da Natureza que ainda não haviam
passado pelas catástrofes secundárias que se sucederam; não
é surpresa alguma que, então, sob estas circunstâncias,
a lei do retorno dada a Adão fosse mais poderosa e virtuosa do que
a lei judaica. Um único exemplo será suficiente para mostrar
a diferença.
Os hebreus eram proibidos de aliarem-se àquelas nações
que iriam combater na terra prometida; a transgressão desta lei levou
a várias sujeições especiais as quais foram submetidos.
Enquanto que para Adão, e sua posteridade, toda a Terra foi dada
para ser cultivada e para que extraísse dela os espinhos e as ervas
daninhas; e justamente por ter feito o contrário, ou seja, cobri-la
de maldade, que o Senhor retirou Seu espírito dos homens, e despejou
o Dilúvio sobre eles. Pela extensão do crime podemos avaliar
a extensão da lei.
Esta lei não podia ser dada a Adão enquanto ele ainda se encontrava
no abismo, sob o jugo absoluto de seu sedutor. Foi somente a graça
livre que operou naquele terrível momento, para extrair da morte
eterna aquele que era a imagem e semelhança do Deus de todos os seres;
naquele momento o Homem era incapaz de progredir através de qualquer
lei; mas, superado este primeiro passo, ele se tornou suscetível
a uma lei para a sua restauração. Ora, a lei que ele recebeu,
trazia, sem dúvida, as três características já
mencionadas; ou para ser mais claro, era um julgamento do inimigo através
de quem o Homem havia sido arruinado; era um alerta ao Homem, para que reconhecesse
os perigos que o rodeava, e para evitar que o Homem sofresse novas quedas;
finalmente, era um meio para a sua santificação, através
do caminho traçado para o seu retorno e um meio para os sacrifícios
que foram utilizados pelo seu primogênito, o que nos leva a supor
que Adão também tenha feito uso destes sacrifícios.
A
Lei no período de Noé.
A
lei restauradora, tendo sido anulada pela assustadora conduta da posteridade
do Homem, agora duplamente culpado, o lançou novamente no abismo,
sendo que só um alvo fora preservado. Noé permaneceu fiel
às ordens do Senhor; e quando após o Dilúvio, o vemos
oferecendo um sacrifício de doce aroma, não devemos concluir
que ele tenha sido o fundador dos sacrifícios, mas considerá-lo
como o preservador e ministro de uma lei tão antiga quanto o exato
início das coisas; o que de fato, indica que o sacrifício
foi oferecido pelo primeiro Homem.
Se a posteridade de Noé tivesse prosseguido na sabedoria e santidade
daquele patriarca, a obra teria avançado em direção
à sua realização sem a necessidade de se instituir
uma nova lei, e eleger um povo peculiar; isto porque todos os pecados foram
eliminados pelo Dilúvio, a família foi salva e seus descendentes,
deveriam ter sido a imagem viva do primeiro Homem em seu caminho de volta,
dentro da lei que favorecia seu retorno.
Contudo a posteridade de Noé ao se permitir cometer todo tipo de
fraqueza, fez com que esta lei restauradora perdesse seu efeito; a partir
de então, se tornou necessário que Homem passasse novamente
pelo que havia sofrido no princípio, já que todas as línguas
foram confundidas, e eles não mais permaneceram como nos dias de
Noé, uma única família que mantinha a língua
pura.
Abraão,
quando não estava sob a lei.
Neste
estado de trevas universal, Abraão foi escolhido para ser o chefe
de um Povo Eleito; tudo lhe foi dado, a princípio, pela revelação,
por assim dizer, profeticamente, até mesmo a história de seu
próprio povo que ele viu num sonho: mas nada foi dado em desenvolvimento;
ele não possuía a terra que lhe havia sido mostrada; ele foi
obrigado a comprar até mesmo a tumba onde Sarah foi enterrada. Ele
não viu a numerosa prole que lhe foi prometida; ele viu unicamente
o filho prometido, mas não os filhos deste filho, pois morreu antes
do nascimento de Jacó e Esau; ele não foi encarregado de nenhum
cerimonial religioso, pois o sacrifício que lhe foi ordenado a oferecer,
era apenas o de servir de testemunha da aliança; Deus não
lhe deu o sacrifício como uma instituição.
Ao nos dizer que a extensão da iniqüidade dos Amonitas não
estava completa, as Escrituras certamente nos dá um motivo pelo qual
a lei não foi dada a Abraão; contudo, uma razão ainda
mais direta pode ser encontrada: a lei era para ser dada a um povo e não
para um indivíduo, como no caso de Adão, e este povo ainda
não havia nascido.
A lei deveria vir para um povo, porque eram os povos ou nações
que haviam se corrompido e se afastado da lei; porque as cerimônias
desta lei requeria um grande número de ministros; porque esta lei
era para ser baseada no número perdido, na antiga numeração
das nações, para que fosse restaurada a elas; e finalmente,
porque requeria um receptáculo que deveria estar conectado em suas
subdivisões com cada ramificação da lei; pois, se Adão
que, corporalmente, é a raiz e tronco de toda humanidade, todos estes
galhos são senão um.
A eleição de Abraão não podia alcançar
seu complemento até que as doze crianças de Jacó estivessem
aptas, em número, a oferecer um receptáculo, capaz de receber
a influência salutar correspondente a este número, mesmo que
seja somente em princípio na bênção do pai; foi
somente no Sinai, que as doze tribos receberam o necessário desenvolvimento
desta lei, da qual seus antepassados haviam recebidos os primeiros frutos.
A
lei Mosaica, preparação para a lei profética ou espiritual.
Esta
lei era unicamente uma preparação do povo para a lei espiritual
que o aguardava, depois que a lei das formas e cerimônias cumprisse
seu curso. Era necessário que esta lei das formas desenvolvesse as
bases e essências espirituais que continha, para que o povo, por sua
vez, apresentasse ao espírito um receptáculo apropriado onde
este pudesse vir e repousar.
A
lei profética ou espiritual, uma preparação para a
lei divina.
Finalmente,
a própria lei espiritual era somente uma preparação
para a lei divina, o único fim do Homem já que é uma
criatura divina. Ora, é nesta lenta e suave progressão de
auxílios enviados de Deus, que podemos dizer, de todas as leis em
geral, o que São Paulo disse da lei hebraica em particular: "a
lei se tornou nosso pedagogo para nos levar até Cristo" (Gl.
III 24,26), pois não há nenhuma das leis temporais que não
podem ser referidas como um tutor ou condutor para o seu objetivo, quanto
a nós, somos realmente crianças até que sejamos admitidos
na lei e adquiramos forças para praticá-la.
Esta tem sido a administração divina em todos estes períodos;
sob a regra levítica, ou aquela dos sacrifícios de sangue,
o sacerdote, por estar ainda e unicamente nas regiões naturais, recebia
sua substância do povo, e a lei apontava cidades e dízimos
para suas necessidades espirituais. Sob as regras proféticas, Deus
alimentou seus servos por meios especiais, mas através de ação
natural, como vemos em Elias e Daniel. Sob a lei da graça, a intenção
do instituidor era que os sacerdotes fossem cautelosos com tudo; o alimento
era para ser dado a eles pelo céu, como foi mostrado a São
Pedro e na descrição e benefícios prometidos das águas
vivas.
Contudo é somente para as crianças dóceis e submissas
que estas leis mantém suas características; elas mostram mais
o que o homem deveria ser do que aquilo que realmente é. A mão
que administra estas leis salutares, é freqüentemente obrigada
a deixá-las atuar na punição do homem mais do que na
sua recompensa.
Este, como vimos, foi o caso do lapso do Homem com relação
à lei de Moisés; enquanto que se a posteridade de Adão
tivesse sido fiel à assistência recebida nos diferentes períodos
já observados, teriam facilitado enormemente a sua volta à
Verdade e teriam conhecido somente os deleites dos caminhos Divinos ao invés
de quase sempre experimentar seu rigor e amargor.
Tal será novamente o caso dos filhos de Israel, no período
que agora iremos considerar, ou seja, o período profético
ou o preceito.
A
época profética, ou preceito; ameaças e promessas:
seus objetivos espirituais.
Se
o povo tivesse observado fielmente os decretos do Senhor, dirigidos aos
superiores da raça eleita, aqueles auxílios que os acompanharam
através do deserto não os teria abandonado na terra prometida;
a lei dos sacrifícios de animais os teria conduzido à lei
espiritual, sob a qual receberia, diretamente, os auxílios recebidos
de forma indireta, enquanto estava sob a lei dos sacrifícios.
Porém, como o povo, os governantes e sacerdotes não deixaram
de agregar abominações, além de violarem todas as leis
de sacrifício - como testemunharam os filhos de Eli - e mais, tendo
abandonado o governo teocrático, instituindo aquele vigente em outras
nações que separa o povo inteiramente, não é
de se surpreender que este povo atrasasse seu próprio curso, ou que,
de acordo com a linguagem das Escrituras, que a palavra de Deus se tornasse
rara dentre ele.
Mas se, por um lado, o Homem é aprisionado em seu caminho por suas
iniqüidades, o tempo não pára; e como a hora da lei espiritual
havia chegado para os Judeus, ela só podia transcorrer diante de
seus olhos, muito embora eles pudessem estar despreparados.
Todavia esta lei tomou, então, um caráter duplo, conforme
a dupla forma de Misericórdia e Justiça que precisava realizar
na Terra; como a luz que fora acesa na ocasião da eleição
dos Judeus não pode ser apagada, ela então exibiu tanto os
primeiros raios de sua iluminação, como os terrores da ira
divina.
Esta é a razão pela qual distinguimos claramente dois tipos
de profecia, uma que aterroriza o povo com ameaças, outra que promete
dias de consolo e conforto aos amantes da paz. Observamos também
o quanto a influência da profecia cresce nesta época; vemos
como ela aborda a regeneração da alma humana, que, embora
visada em todas as prévias manifestações divinas, se
encontrava oculta em rituais simbólicos.
É com os Profetas que vemos o Homem escolhido desdobrar seu caráter
como sacerdote e sacrificador do Senhor; ali, vemos o sacrifício
de nossos pecados substituídos pelo sacrifício de animais
e a circuncisão do coração e do espírito recomendada
como o verdadeiro caminho da reconciliação do Homem com Deus;
vemos ainda, os falsos profetas e maus pastores maculados ludibriarem a
alma de seus rebanhos e lhes assegurar a vida; em resumo, vemos o início
do despertar daquele dia espiritual e divino que se tornou evidente para
nunca mais se pôr; assim, o Homem viu, ainda que vagamente, que nascera
na região do espírito e da santidade, e que só ali
poderia encontrar sua verdadeira lei e seu verdadeiro repouso.
Afirmamos que estas verdades só lhe foram mostradas vagamente porque,
além da humanidade em geral, que os profetas vieram despertar, era
preciso agir e fazer profecias a um certo grupo de pessoas em particular,
aqueles que ainda não haviam ido além de sinais e figuras.
Mas em todos os aspectos, o profeta pode sempre ser considerado como uma
vítima, seja pelas mortes violentas que a maioria sofre ou seja pelos
trabalhos espirituais a que se submeteram.
A
razão dos sacrifícios proféticos e suas operações.
De
fato os profetas substituíram as extintas virtudes do sacrifício
e tornaram, aos olhos do Espírito, o lugar das vítimas, que
eram, agora, oferecidas como uma mera formalidade, sem fé por parte
dos sacrificadores. O sangue destes profetas tornou-se o holocausto da expiação
onde a ação do Espírito operava de forma mais terrível
e salvadora do que no sangue dos animais.
Operava de forma mais terrível porque este sangue derramado injustamente
era um notório testemunho dos crimes e cegueira do povo. Este sangue,
contudo, atraía a mais desordenada das influências espirituais,
com a qual este povo perdido e culpado estava poluído, de acordo
com as leis de transposição que citamos anteriormente.
Os espíritos dos profetas conduziam também, pelos sofrimentos
e labuta, as iniquidades de Israel, para que, ao dispersar estas influências
desordenadas, irregulares, agarradas ao povo, a comunicação
de influências regulares e ordenadas fosse restituída de forma
mais fácil e confiável.
Se o povo tivesse aproveitado todos estes auxílios enviados pela
Sabedoria e Amor Supremo, teriam por sua vez aliviado o sangue e o espírito
dos profetas da opressão daquelas influências desordenadas,
comunicando-lhes novamente e participando com eles do efeito daquelas virtudes
e influências ordenadas que o sacrifício corporal e espiritual
dos profetas haviam atraído.
Contudo, ao endurecerem-se cada vez mais, prolongaram aos profetas, mesmo
após suas mortes, as dores e os trabalhos que lhes causaram durante
suas vidas, tornando-os ainda maiores, pela prática da resistência
e pelo peso de suas próprias iniquidades, que a caridade divina dos
profetas havia tirado de suas cabeças. Ao atraírem sobre si
mesmos uma dupla mancha, a de não terem ouvido a voz da Sabedoria
e a de manter em penoso encarceramento aqueles que a Sabedoria tomou como
seus instrumentos, todo o sangue dos profetas derramado pelo povo, desde
Abel a Zacarias, lhes será cobrado; pois não se deve esquecer
que o povo Hebreu foi nada menos que o representante do Homem, de toda posteridade
de Adão.
Por outro lado, o sangue dos profetas operou no povo de forma mais salvadora
do que aquele das vítimas Levíticas, porque, como o sangue
e a vida do Homem são a base da exata imagem da Divindade, ele não
poderia ser derramado sem a liberação ou sem trazer à
Luz as santas influências que as almas dos justos difundem naturalmente
ao seu redor; além do mais, se o sacrifício de animais pudesse
abrir a região espiritual ao povo Hebreu, o sangue e a palavra dos
profetas abriam a eles as vias do divino.
O
fim da época profética. A contínua corrente da orientação
e misericórdia divina.
Através
deste duplo poder, os profetas executaram sobre o povo Hebreu aquilo que
o Espírito lhes havia enviado a realizar.
Tendo esta obra sido efetuada, as profecias acabaram entre os Judeus, pois
embora o tempo não exista para o Espírito propriamente dito,
a mista morada que habitamos sujeita sua ação a intervalos
e partes; assim, após a escravidão babilônica, que confirmou
e evidenciou as ameaças dos profetas, a obra destes parecia ter chegado
ao fim; desde então, eles pareceram dar muito pouca luz, e mesmo
tão pouca apenas para acelerar a construção do segundo
templo; o povo então é deixado por sua própria conta,
para que pudesse ter tempo de reconhecer a justiça das severidades
pelas quais havia passado.
Mas, ao deixá-lo por si só, o Espírito deixou para
sua orientação tanto as palavras dos profetas como a memória
dos eventos recém ocorridos; assim como, após a sua eleição
e Êxodo do Egito, tiveram a lei Levítica, e a história
de sua libertação e de suas árduas jornadas no deserto;
assim como, após o Dilúvio, os filhos de Noé ainda
tinham as instruções de seu pai, e a tradição
de tudo o que havia se constituído suas iniquidades, por terem considerado
o Senhor um inimigo, e, o véu que caiu sobre todos os filhos de Adão
só se tornou mais espesso através de seus atos.
O "Tableau Naturel" ao mostrar a necessidade de um Redentor (Reparador)
que deve ser um Homem-Deus, mostrou os altos mistérios deste sacrifício,
no qual a vítima oferece a si mesma sem cometer suicídio,
e no qual os sacrificadores cegos, acreditando terem executado um criminoso,
deram ao mundo, sem saberem, um elétron universal que realizaria
sua própria renovação; "O Homem de Desejo"
mostrou que o sangue desta vítima era espírito e vida, desta
forma quando os Judeus perguntaram se ele poderia ser derramado sobre eles
e seus filhos, não puderam separar a misericórdia da Justiça
que estavam contidas ali.
Nós apenas recordamos, rapidamente, estas profundas e confortantes
verdades, pois os espírito do Homem não as pode ter constantemente
diante de si.
O
Homem libertado da prisão de seu sangue.
Vimos
que, após a queda, o sangue se tornou uma barreira e uma prisão
para o Homem, e que havia a necessidade deste sangue ser purificado a fim
de que o Homem recupere sua liberdade progressivamente, através das
transposições que o derramamento deste sangue forjou a seu
favor. Contudo vimos, ao mesmo tempo, que cada uma das leis fornecidas para
a sua regeneração era apenas uma espécie de iniciação
a uma lei ainda mais elevada; o objetivo de todas estas leis preparatórias
era levar o Homem a fazer um sacrifício livre e voluntário
de si próprio; nenhum sacrifício prévio poderia substituir
a este, uma vez que, sem o derramamento de seu próprio sangue, ele
não pode afirmar que está realmente libertado da prisão
em que seu sangue o enclausurou.
Ora, o que lhe poderia ensinar esta bela e profunda verdade? Que o ideal
não era o sacrifício de animais, já que estes, destituídos
de moralidade, não deu ao Homem idéia alguma de sacrifício
voluntário; e como eles traziam nada mais que seus corpos ao altar,
nada mais podiam conseguir do que liberar suas correntes corporais.
Tampouco o sacrifício e morte dos profetas foi suficiente, já
que estes não morreram voluntariamente, embora possam ter tido resignação;
esta morte foi, para aqueles que a sofreram, apenas uma incerta conseqüência
de suas missões, e não a missão propriamente dita;
eles foram enviados apenas para enunciar a chegada do dia eterno da libertação
do Homem; além disso, desejaram observar este dia eterno, que proclamaram
sem conhecerem, e que avistaram apenas parcialmente, de tempo em tempo,
e através de lampejos do espírito.
As
condições necessárias da vítima e do sacrifício
para libertar a humanidade.
Posto que a palavra e o sangue dos profetas foram mais úteis ao Homem
do que as vítimas da lei Levítica - e de ocorrerem desde a
época de Adão até os dias de hoje; e por Adão,
após sua queda, ter a lembrança de seu crime e do sacrifício
do Amor que a Bondade Suprema havia feito voluntariamente a seu favor a
fim de arrancá-lo do abismo - vemos que desde o primeiro pacto divino
e a partir da região pura onde a verdade habita, uma contínua
corrente de luz e misericórdia se estende ao Homem, através
de todas as épocas, até o fim dos tempos, até retornar
à morada de onde descende, levando consigo todas as almas pacíficas
que terá coletado em seu caminho; que o Homem saiba que foi o Amor
que abriu, dirigiu e fechou o círculo de todas as coisas.
A transição da época profética para aquela das
boas-novas sobre a libertação universal.
O sangue e as palavras dos profetas levou o povo hebreu apenas até
as vias do templo da região divina, porque não havia chegado
o tempo em que o Homem podia adentrar ao templo propriamente dito. Muitos
profetas foram empregados nesta obra preparatória, e a mão
que os guiou no deserto lhes traçou diferentes caminhos pelos quais
nunca haviam passado. Por esta razão, cada profeta, percorrendo seu
próprio caminho particular, nem sempre sabia o termo final para o
qual suas profecias apontavam.
O povo, que não havia reconhecido a lei do Espírito nas cerimônias
Levíticas, apesar de lá estar presente, tampouco reconheceu
a lei divina contida na lei do Espírito, ou as profecias; além
do mais, continuaram a caminhar nas trevas e assim chegaram à época
da libertação universal, que nunca deixou de ser anunciada
pelos profetas, de acordo com o conhecimento de cada um; a época
da libertação universal também é citada nos
livros de Moisés, particularmente nas bênçãos
que Jacó proferiu a seus filhos; se o povo tivesse feito um cuidadoso
estudo destes livros, teria encontrado algo que prenderia suas atenções,
a passagem do poder temporal de Judá para as mãos de Herodes!
A união secreta de todas as leis divinas.
A íntima união de todas estas leis é um dos mais sublimes
segredos da Santa Sabedoria, que se mostra, assim, ser sempre uma, apesar
da diversidade e dos intervalos de suas operações.
O povo judeu era demasiadamente bruto para penetrar esta simples e profunda
verdade. Onerado, sobretudo, por todas as iniqüidades cometidas ao
negligenciar as leis e recomendações de Moisés e pelo
derramamento do sangue dos profetas, o povo judeu viu que a lei da graça,
cujo o tempo havia chegado para toda a humanidade, recaiu sobre este como
reprovação, já que falhou no seu papel de representante
desta lei; ao invés de eliminarem seus crimes através da fé
na nova vítima, que veio para oferecer-se a si próprio, eles
o colocaram ainda mais longe ao libertarem sua mente; não o conduziram
àquela sublime idéia de um sacrifício submisso e voluntário,
encontrado no conhecimento do abismo ao qual nosso sangue nos retém
e na viva esperança de nossa libertação absoluta quando
este sacrifício é feito sob os olhos da Luz e no verdadeiro
movimento de nossa natureza eterna.
Assim, uma outra vítima foi requisitada, alguém que reunisse
em si as propriedades das vítimas precedentes e que ensinasse o Homem,
através do preceito e exemplos, o verdadeiro sacrifício que
ele ainda tinha que fazer para cumprir completamente o espírito da
lei.
Esta vítima deveria ensinar ao Homem que, para alcançar o
objetivo essencial do sacrifício, não é suficiente
que ele morra como carneiros e touros, sem a participação
do espírito de que estavam privados; ensinar que, ainda não
é suficiente que morra corporalmente, como os profetas, mortos injustamente
pelas paixões do povo para o qual pregavam a verdade, pois acreditavam
que pudessem escapar deste erro, assim como Elyah, sem falharem em sua missão.
Era preciso ensinar ao Homem que era necessário, por sua própria
vontade, conscientemente e em perfeita serenidade, entrar em sacrifício
de seu ser físico e animal, assim como o único que poderia
separá-lo do abismo no qual está confinado pelo seu sangue,
que, para o Homem é o órgão e ministro do pecado; em
resumo, é preciso ensinar ao Homem a encontrar a morte como um triunfo,
que o eleva da posição de escravo e criminoso e lhe dá
posse de sua própria herança.
Estas condições se cumpriram no derramar do sangue do Redentor.
Este era o segredo sublime que o Redentor veio revelar aos mortais; esta
era a luz luminosa que ele permitiu que os homens descobrissem em suas próprias
almas, ao sacrificar-se voluntariamente por eles, deixando-se capturar por
aqueles a quem veio derrotar através do sopro de seu verbo; orando
por aqueles que mataram seu corpo, o derramamento de seu sangue realizou
todas estas maravilhas, porque, ao mergulhar em nosso abismo de trevas,
o Redentor seguiu todas as leis de transposição pelas quais
esta região é constituída e governada.
De fato, o derramar do sangue de uma vítima deve operar de acordo
com a posição e propriedades das vítimas; se o sangue
de animais podia apenas libertar as correntes corporais do pecado no Homem,
que são todas elementares, se o sangue dos profetas libertaram as
correntes do espírito do Homem, ao permitirem que este discernisse
os raios da estrela de Jacó, o derramamento do sangue do Redentor
serviu para libertar as correntes de nossa alma divina, já que o
Redentor era o próprio princípio da alma humana, ele abriu
os olhos desta alma divina o suficiente para ver a exata fonte de sua existência,
e sentir que é unicamente através do sacrifício voluntário
interno de tudo aquilo o que está ou pertence ao nosso sangue, é
que podemos algum dia satisfazer o desejo e a vontade essencial que sentimos
de nos reunir com nossa fonte divina.
O
Homem Espírito pode atingir sua regeneração ainda neste
mundo.
Não
é de se surpreender que uma revelação como esta abolisse
todos os outros sacrifícios e vítimas, uma vez que agora o
Homem é colocado exatamente na sua posição: assim,
de agora em diante, o Homem Espírito é elevado à posição
de um verdadeiro sacrificador e aguarda o momento de reentrar nos caminhos
da regeneração e atingir, pelo menos através de sua
compreensão, sua plena realização ainda neste mundo,
basta unir a si mesmo em coração, mente e obra com aquele
que abriu o caminho e atingiu o objetivo antes dele.
Revelação
do Homem-Deus comparada com tudo o que veio antes dele.
Aqui
também não há surpresas; como todas as revelações
anteriores esta também deveria chegar até nós através
de um homem, já que o Homem era seu objetivo; mas o que eminentemente
a distingue das outras é que esta foi pregada, provada e inteiramente
realizada no Deus-Homem e no Homem-Deus, enquanto que, dentre as outras,
nenhuma teve este caráter universal.
A morte de Abel não foi voluntária: ela pode ter sido útil
para a elevação de Adão, na transposição
das influências desordenadas aderidas ao pai culpado da humanidade,
efetivadas através deste sangue que fora derramado; mas isto não
cumpriu a obra da aliança com Deus, pois Abel nada mais era do que
um homem concebido no pecado; seu irmão Seth foi escolhido, em seu
lugar, para transmitir ao Homem a continuação e o curso das
graças espirituais, aprisionadas pela sua morte.
A revelação da justiça feita a Noé e derramada,
diante de seus olhos, sobre a posteridade do Homem, o colocou, sem dúvida,
na primeira posição daqueles escolhidos pelo Senhor, para
a execução dos planos de sua Sabedoria divina; mas Noé
aparece, nesta grande catástrofe, mais como um anjo exterminador,
do que como um libertador da humanidade, além do mais, as vítimas
que ele oferece em sacrifício eram de uma natureza diferente da sua
e poderiam buscar auxílios para o Homem somente após ajudarem
sua própria espécie.
Abraão derrama seu sangue em circuncisão, como um sinal de
sua aliança com Deus e evidência de sua eleição:
mas ele não derramou o princípio, propriamente dito, de seu
sangue, onde residia sua vida animal; não é preciso acrescentarmos
mais nada além do que já foi dito sobre este patriarca.
Seu filho Isaac chegou bem perto, mas não consumou o sacrifício,
porque o Homem ainda estava no tempo das formas, e a fé de seu pai
foi suficiente para consolidar a aliança, sem manchá-la pelas
atrocidades do infanticídio.
Moisés serviu como órgão para a eleição
do povo Hebreu, foi até mesmo, como Homem, ministro deste povo; é
ainda como Homem que foi escolhido para operar sobre o Homem ou seus representantes
(os Hebreus); mas como agia somente sobre os representantes do Homem em
geral, era chamado apenas a empregar sacrifícios externos e vítimas
figurativas, por causa da permanente razão de que como o Homem estava
ainda apenas na era dos símbolos e imagens, a lei das transposições
só poderia operar sobre ele desta forma, não podendo se elevar.
Os profetas vieram, para dar seu sangue e sua palavra cooperando assim,
na libertação do Homem. Se houvesse a necessidade de que os
próprios homens viessem executar os decretos da justiça, e
traçar figurativamente os caminhos da regeneração,
seria ainda mais necessário que os homens viessem para abrir as entradas
dos verdadeiros caminhos do Espírito; os profetas eram o órgão,
a língua e a exata expressão do Espírito, enquanto
que Moisés recebeu a lei e a transmitiu unicamente sobre pedras;
em resumo, Moisés, diante dos mágicos do Faraó, só
tomou a serpente pela cauda; é preciso um poder maior do que Moisés
para pegá-la pela cabeça, de outra forma a vitória
não seria completa.
Tudo num profeta mostra o que eles queriam a fim de introduzirem o Homem
na revelação de sua própria grandeza; podemos acrescentar
uma razão simples e notável ao que já dissemos, a de
que estes homens altamente favorecidos não eram um Princípio
do Homem.
Podemos aqui encontrar uma explicação parcial da passagem
de São João (X.8): "Todos aqueles que vieram antes de
mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não lhes
deram ouvidos", embora esta passagem se aplique muito mais diretamente
aos grandes sacerdotes do que aos profetas, mostra claramente que todos
aqueles superiores e enviados eram incapazes de fazer com que o povo adentrasse
ao reino, já que caminhavam somente no espírito e o reino
é divino; mas esta passagem mostra também que eles não
eram verdadeiros pastores, uma vez que não ofereciam suas vidas voluntariamente
para o povo, e ao invés de protegê-lo do inimigo, freqüentemente
eram os primeiros a entregá-lo à sua própria ira.
Isto é o que Deus combateu de forma tão forte em Ezequiel
(XXII. 24-31), onde após marcar os crimes dos princípios e
os pecados dos profetas diz: "Tenho procurado entre eles alguém
que construísse o muro e se detivesse sobre a brecha diante de mim,
em favor da Terra, a fim de prevenir a sua destruição, mas
não encontrei ninguém".