Para 
      compreender a sublimidade de nossos direitos, devemos voltar a nossas origens. 
      Mas antes de considerar a natureza do Homem Espírito, vamos investigar, 
      de forma geral, o que pode ser chamado Espírito, em qualquer ou todas 
      as classes e ordens; iremos descobrir as fontes fundamentais de onde se 
      deriva tal expressão, e iniciaremos tomando a palavra Espírito 
      sob os diferentes significados encontrados em nossas línguas. 
      
      O espírito de alguma coisa pode ser considerado como sendo o real 
      engendramento (Geração), parcial ou completo, dos poderes 
      de sua ordem.
      Assim, a música nos é conhecida tal como é somente 
      pela emissão dos sons, através dos quais alcança nossos 
      ouvidos, e que nada são além de expressão efetiva, 
      ou espírito ativo do plano ou imagem que ela representa.
      
      Desta forma, o vento é a real emissão do ar, comprimido pelas 
      nuvens ou poderes atmosféricos. E na ordem elementar, tão 
      logo cesse a compressão, não há mais vento: ora, sabemos 
      que as línguas antigas usavam a mesma palavra para expressar o vento, 
      a respiração e o espírito.
      
      Portanto a respiração do Homem, e de outros animais, é 
      a real emissão do resultado, em seu interior, da união entre 
      o ar e seus poderes vitais; quando esses poderes vitais cessam, a respiração, 
      o espírito, ou a expressão da vida, também cessa.
      
      Assim, a propulsão (aprisionamento) de nossos pensamentos, e o que 
      o mundo chama de razão (espírito) no Homem, é a real 
      emissão daquilo que é desenvolvido por uma fermentação 
      secreta dos poderes de nossa compressão, e esta propulsão 
      é, conseqüentemente, o fruto do real engendramento destes poderes: 
      quando esta fermentação secreta é suspensa em nós, 
      ficamos como se não tivéssemos mais razão (espírito), 
      embora ainda tenhamos em nós todos os germens que podem produzi-lo. 
      
      
Espírito, 
      uma emissão dos Poderes Eternos.
       
De 
      acordo com esta exposição, podemos, sem temor, considerar 
      o Espírito como sendo o fruto que procede perpetuamente dos Poderes 
      Eternos Supremos, ou da Unidade Universal destes poderes, uma vez que o 
      real engendramento, que produz este fruto, sem interrupção, 
      deve, acima de todas as outras emissões, receber o nome de Espírito, 
      o qual atribuímos a tudo aquilo que tenha o caráter de uma 
      emissão ou expressão real.
      
      E aqui, devemos lembrar que os Poderes Gerativos Eternos deste Ser Universal, 
      repousam, como tudo o que existe, sobre duas bases fundamentais que, na 
      obra "O Espírito das Coisas", indicamos sob os nomes de 
      força e resistência; Jacob Boehme, aplicando estas duas bases 
      à Divindade, apresenta sob o nome de um duplo desejo, o de permanecer 
      em seu próprio centro e o de desenvolver ali seus esplendores universais; 
      também, sob os nomes de aridez e brandura; luz e trevas; e ainda 
      sob os nomes de angústia e deleite, fúria e amor; embora ele 
      afirme continuamente que, em Deus, não há aridez, trevas, 
      angústia ou fúria, e que usa tais expressões somente 
      para designar poderes distintos, mas que atuando simultaneamente, apresentam 
      e apresentarão eternamente, a mais perfeita unidade não só 
      neles e com eles próprios mas também com aquele Espírito 
      Eterno e Universal, que nunca deixam e nunca deixarão de engendrar.
      
A 
      emissão perpétua da Unidade Universal, o Ser Divino.
       
Além 
      do mais, me parece, não ser infrutífera ou indiferente a noção 
      que obtemos aqui do caráter deste Fruto Perpétuo do real engendramento 
      da Unidade Universal, cujos Poderes são, contínua, necessária 
      e exclusivamente dependentes de si próprios; e se os observadores 
      assim tivessem considerado esta unidade produtiva, dentro deste caráter 
      de emissão necessária e real, teriam tirado grande proveito 
      de suas pesquisas sobre o Ser Divino e Universal, e como resultado, não 
      teriam tentado examinar, no princípio, a natureza deste Ser, sem 
      observarem Sua Ação; pois que Sua Ação é 
      provavelmente Sua total Natureza; a conseqüência de suas táticas 
      errôneas tem sido que, não só não encontraram 
      o Ser Divino que buscaram de forma imprópria, mas foram longe demais 
      ao enganarem a si próprios afirmando que aquilo que não encontraram, 
      não existe.
      
      Se tivéssemos considerado o Ser Universal, como o fruto real, espiritual 
      e divino dos poderes da Unidade Eterna, em Seu verdadeiro caráter, 
      teríamos extraído dali os grandes benefícios que se 
      seguem.
      
Espírito, 
      o fruto de todos os poderes da Unidade.
       
Como 
      o fruto de toda geração que temos conhecimento, reproduz e 
      representa tudo o que constitui os poderes que o engendrou, assim, o que 
      chamamos Espírito, no ato gerativo da Unidade Eterna, nada mais pode 
      ser do que a expressão real e manifesta de tudo aquilo, sem exceção, 
      que pertença a esta Unidade Eterna: desta forma, cabe ao Espírito 
      Universal nos tornar tal Unidade conhecida, descrevendo-a inteiramente, 
      assim como o Homem reproduz, temporariamente, todas as propriedades de seu 
      pai e mãe, de quem é uma imagem viva completa. 
      
      Sim, se observarmos atentamente com nossa compreensão, este real 
      e perpétuo fruto da Unidade Eterna, veremos que, desde que os poderes 
      desta Unidade são perpétuos, necessários e exclusivamente 
      dependentes uns dos outros, e o fruto da união destes poderes é 
      um real engendramento, tão ilimitado quanto infinito, este fruto 
      deve realmente ser a expressão real e completa desta mútua 
      união; ele deve conter em si, tudo o que pode servir como fundamento 
      para a atração mútua destes poderes, uns em direção 
      aos outros, de forma real e universal. 
      
      Assim, é necessário que o fruto deste engendramento e este 
      Ser Divino, se revele e se apresente a nós, sem cessar, em todos 
      os pontos, tamanha a abundância e continuidade de amor, vida, força, 
      poder, beleza, justiça, harmonia, proporção, ordem 
      e todas e quaisquer outras qualidades das quais, nosso pensamento deve, 
      em todo lugar, encontrar o efeito vivo de sua plenitude, e nunca deixar 
      de reconhecer a supremacia de sua unidade universal; acima de tudo, se faz 
      necessário, que este fruto engendrado pela Essência Divina, 
      da mesma forma, se torne um, já que deve ter e ser tudo aquilo que 
      esta Unidade contém e que não se pode admitir nenhum intervalo 
      ou alguma diversidade de graus, entre o amor destes poderes e o ato de seu 
      engendramento, como também não é possível perceber 
      qualquer diferença entre a existência essencial e a natureza 
      constituinte deste fruto. 
      
Só 
      o Espírito pode revelar a si mesmo.
       
Porém 
      só a esta Essência Universal, a esta real e perpétua 
      emissão da Unidade Eterna, cabe a transmissão deste conhecimento 
      a nós, assim como só cabe ao fruto das gerações 
      naturais, proporcionar o conhecimento dos poderes que os geraram, diante 
      de nossos olhos. 
      
      Assim, aqueles que não têm reconhecido este Ser como necessário, 
      este fruto real e perpétuo do engendramento a Unidade Eterna, acabam, 
      naturalmente, não mais reconhecendo a própria Unidade Eterna, 
      já que absolutamente mais nada além deste fruto real poderia 
      apresentá-la a eles, com todas as suas qualidades e propriedades 
      constituintes; da mesma forma, se afastarmos nossos olhos do fruto da terra, 
      perderemos, rapidamente, o conhecimento das virtuais qualidades gerativas 
      da Natureza; e se considerássemos o homem, de forma muda e inerte, 
      perderíamos, rapidamente, a idéia da extraordinária 
      atividade de seu corpo, e a vasta extensão de seu pensamento e de 
      sua inteligência.
      
A 
      geração e a anastomose oculta dos seres.
       
Anastomose: 
      Comunicação material ou artificial, entre dois vasos sangüíneos 
      ou outras formações tubulares.
      Se os poderes da Unidade Eterna são necessariamente um em seu engendramento, 
      e a Essência Universal ou o Fruto que procede deste engendramento, 
      necessariamente, os torna senão um, esta é, sem dúvida 
      a razão fundamental do porquê desta sua geração 
      ser oculta a nós, já que não podemos conceber este 
      Fruto separado de Suas Fontes gerativas.
      
      Mas, se por outro lado, há, necessariamente, uma união progressiva 
      e gradual de toda a Unidade Universal com toda produção possível, 
      que aparece diante de nossos olhos, não devemos nos surpreender, 
      porque nunca fomos capazes de penetrar na geração das coisas, 
      uma vez que, não só os poderes gerativos, nestas gerações 
      parciais, também seguem a lei da Unidade, de acordo com sua ordem, 
      mas até mesmo seus frutos se tornam um com estes poderes, diante 
      do exemplo da Unidade Universal, ao menos na raiz, e no ato gerativo, embora, 
      mais adiante, o fruto se desprenda de suas fontes gerativas, ao pertencerem 
      às regiões de sucessão. 
      
      Vamos fazer uma pausa aqui para contemplar que coisa admirável e 
      quão impressiva é esta profunda lei, que oculta a origem de 
      tudo o que é produzido, mesmo daqueles que recebem ou adquirem esta 
      origem! Sob este impenetrável véu, as raízes de todos 
      os engendramentos estão intercomunicadas com a fonte Universal. E, 
      somente quando ocorre esta anastomose secreta, e as raízes das essências 
      recebem, no mistério, uma preparação vivificante, é 
      que a substanciação tem início, e as coisas tomam forma 
      ostensiva, cores e propriedades. Tal anastomose é insensível, 
      mesmo no tempo, e se torna perdida na imensidade, no eterno, e no imutável, 
      como que para nos ensinar que o tempo é somente a região da 
      ação visível das coisas, mas que a região da 
      ação invisível é infinita.
      
      Sim, a Sabedoria e o Amor Eterno alimentam sua própria glória, 
      e também nossa inteligência; eles parecem temer que acreditemos 
      que nada teve um princípio, e que não há nada que não 
      seja Eterno; já que, na verdade, nenhuma criatura, nem mesmo o homem, 
      tem a mínima idéia de sua própria origem, a não 
      ser a de seu corpo; e ele adquire este conhecimento muito mais pelo cansaço 
      que este corpo ocasiona a seu espírito, do que pelos exemplos de 
      sua reprodução, os quais testemunha diariamente; pois, de 
      fato, nada pode ter um início (absolutamente) senão o mal 
      e a desordem. E, como o Homem pertence à Unidade, ou ao Centro, que 
      é o meio de todas as coisas, ele pode envelhecer em seu corpo, e 
      nem ao menos acreditar que esteja no meio de seus dias. Assim, a origem 
      oculta das coisas é uma expressiva evidência de sua fonte eterna 
      e invisível, e sentimos que nada começa a não ser o 
      mal e a morte, e que a vida, a perfeição e a felicidade nunca 
      existirão se não existiram desde sempre.
      
O 
      Ser Universal Se engendra ou Se revela em todo lugar, especialmente em nós. 
      
       
Isto 
      confirma o princípio demonstrado por nós; se, em todos os 
      exemplos dados, nada pode receber o nome de Espírito, senão 
      pela presença do fenômeno de uma real e constante possível 
      emissão, é muito provável que o Ser Universal deva 
      portar o mesmo caráter, e portanto revelar à nossa inteligência 
      a real e necessária plenitude de uma existência ininterrupta, 
      sem começo ou princípio.
      
      Feliz aquele que pode elevar seu pensamento a esta altura e o manter ali! 
      Ele irá, desta forma, alcançar tal clareza de inteligência, 
      o fundamento de tudo o que existe, na ordem das coisas invisíveis, 
      assim como na ordem das coisas visíveis, lhe parecerá simples, 
      ativo, permanente e, por assim dizer, diáfano; irá ver que 
      o Ser Universal, através de sua viva e contínua Realidade, 
      deve levar a todo lugar a luz e a limpidez da qual É o foco perpétuo.
      
      Mas se quisermos assim considerar a Realidade viva e contínua deste 
      Foco Supremo e Universal, em todas as coisas visíveis e invisíveis, 
      o que ocorrerá quando a considerarmos em nós mesmos, e ver 
      o que ela opera em nosso próprio ser? Pois, descobriremos uma notável 
      diferença, no que diz respeito a nós, que é a seguinte: 
      nós podemos, pela reflexão, observar prontamente tal realidade 
      em todas as coisas individuais, mas também, na verdade, podemos senti-la, 
      na Natureza e em nós próprios. 
      
      Sim, se por um único momento, penetrássemos as profundezas 
      de nossa existência interna, sentiríamos rapidamente, que todas 
      as Fontes divinas, com seu Espírito Universal, abundam e fluem na 
      raiz de nosso ser, que somos um constante e perpétuo resultado do 
      engendramento de nosso Princípio, que ele esta continuamente em sua 
      realidade conosco, e assim, após a definição que demos 
      de Espírito, podemos ver facilmente, como um ser, capaz de sentir 
      em si a ebulição da Fonte Divina, tem direito ao nome Homem 
      Espírito.
      
A 
      origem do Homem. 
       
Agora 
      podemos chegar a uma idéia concreta sobre a origem do Homem. O Homem 
      nasceu e nasce continuamente na Fonte Eterna que não deixa de ser 
      a perpétua embriaguez de suas próprias maravilhas e deleites. 
      Esta é a razão pela qual afirmamos freqüentemente que 
      o Homem pode viver somente pela admiração, uma vez que, como 
      mostrado pelo autor Alemão citado, nenhuma criatura pode ser mantida 
      senão pela substância ou frutos de sua própria mãe.
      O Desejo e a Vontade. 
      
      Contudo, o Homem também nasceu na Fonte do desejo; pois Deus é 
      um Desejo e uma Vontade Eterna de ser manifestado; Sua magia, ou a doce 
      impressão de Sua existência, pode se propagar e se estender 
      a tudo aquilo capaz de a receber e a sentir. O Homem também deve 
      viver através deste desejo e desta vontade; e ele é encarregado 
      de manter estas sublimes afeições com ele; pois, em Deus, 
      o desejo é sempre vontade, enquanto que no Homem o desejo dificilmente 
      atinge este termo, sem o qual nada pode ser feito. É através 
      deste poder, dado ao Homem de elevar seu desejo ao caráter de vontade, 
      que ele deve realmente ser uma imagem de Deus.
      A União entre a Vontade Divina e o desejo do Homem.
      
      De fato, o Homem pode fazer com que a Vontade Divina propriamente dita venha 
      até ele para se unir com seu desejo; a partir de então ele 
      passa a trabalhar e a atuar de acordo com a Divindade, que se digna, por 
      assim dizer, a compartilhar Sua obra, Suas propriedades e Seus poderes com 
      o Homem: e se, ao lhe dar o desejo, que é como a raiz da planta, 
      Ele reserva a Vontade, que é como seu botão ou flor, não 
      é com a intenção de que o homem permaneça na 
      privação desta Vontade Divina e não a conheça; 
      mas, ao contrário, Seu desejo é que o homem chame por ela, 
      a conheça por ele mesmo; pois, se o Homem é a planta, Deus 
      é a seiva ou a vida. E o que seria da árvore se a seiva não 
      corresse em suas veias?
      
O 
      Pacto Divino.
       
      
É 
      nesta profundidade, nas regiões naturais e verdadeiras da emanação 
      do Homem, que o pacto divino é estabelecido; tal pacto liga a Fonte 
      Suprema ao Homem. Através deste pacto, a Fonte Suprema, só 
      podia transmitir ao Homem todos os seus próprios gérmens sagrados, 
      se acompanhados de todas as fundamentais e incontestáveis leis que 
      constituem sua própria Essência criativa Eterna, das quais 
      não pode se separar sem deixar de existir. Este pacto não 
      sofre alterações, como sofrem os pactos materiais pela vontade 
      das partes.
      
      Ao formar o Homem, a Fonte Suprema haveria de ter-lhe dito: "Com os 
      fundamentos eternos ou com as bases de meu ser, e as leis, eternamente inerentes 
      a eles, Eu te constituo, Homem; Não tenho regras para fixar a ti 
      senão aquelas que resultam naturalmente de minha eterna harmonia; 
      não tenho nem mesmo a necessidade de impor qualquer penalidade a 
      ti se não as infringi-las; cada cláusula de nosso pacto está, 
      exatamente, nas bases de tua constituição. Se tu observá-las 
      e não cumpri-las, irás causar teu próprio julgamento 
      e punição; pois, a partir deste momento deixarás de 
      ser Homem.
      
      O Pacto se estende por toda a Natureza.
      
      Podemos observar este princípio em toda cadeia de seres, onde descobriremos 
      que todas as criações estão ligadas, cada uma de acordo 
      com sua classe, à sua fonte gerativa por um tratado implícito; 
      destas fontes procedem todas as suas leis; e, na verdade estes seres caíram 
      em desarmonia no momento em que estas leis foram infligidas, leis que carregam 
      em sua essência e que são recebidas de suas fontes gerativas 
      no instante em que lhe dão a vida. 
      
O 
      peso, número e medida na Natureza.
       
Ao 
      prestarmos atenção nas leis fixas e regulares, pelas quais 
      a Natureza produz e governa todas as suas obras, e acompanhando, passo a 
      passo, cuidadosamente, as pistas deixadas por ela, reconheceremos em todo 
      lugar, um peso, um número e uma medida que são os inseparáveis 
      ministros da Natureza; eles mostram que existiam, primitivamente, na Fonte 
      mencionada acima, e constituem o ternário eterno, cuja imagem encontramos 
      em nós mesmos; sobre eles repousa o pacto divino.
      
      Vemos, além do mais, que estas três bases, satisfazem o Onipotente, 
      pois estabelecem as fundações de todas as obras da Natureza 
      caracterizando externamente todas as variedades de Sua produção, 
      ou aqueles desenvolvimentos externos da forma, cor, duração, 
      cheiro, propriedades essenciais, qualidades etc., coisas que não 
      são números, embora possuam números para manifestação 
      e indicação.
      
      É desta forma que o ternário Universal varia, ad infinitum, 
      multiplicando suas operações, e as mantendo sempre em operação 
      no infinito do qual dependem; assim, o Homem nunca pode numerá-las 
      ou apoderar-se delas; e, de fato, é suficiente para ele ter o uso 
      destas operações; ele está proibido de as possuir com 
      suas propriedades, já que, através desta multiplicidade de 
      meios que o todo poderoso possui de variar as manifestações 
      de seu ternário Universal, Ele assegura somente a si mesmo, o direito 
      de propriedade deste ato gerativo; nunca deixando, contudo, de manifestar 
      esta infinidade, de forma externa, para que seja admirada.
      
Os 
      poderes opostos na Natureza.
       
Sem 
      o poder contrário, que trouxe desordem para o Universo, a Natureza 
      não conheceria desarmonia alguma, e nunca se separaria das leis prescritas 
      pelos planos Eternos; mas, apesar de sua desordem, quando consideramos a 
      Natureza como sendo composta de tão vários instrumentos e 
      órgãos, servindo como canais para a vida universalmente difundida, 
      percebemos uma gradação em suas obras, que nos faz admirar 
      aquela sabedoria beneficente que direciona o curso harmonioso das coisas.
      
Os 
      graus no conhecimento da Natureza, do Homem e do Espírito.
       
Observaremos, 
      de fato, que na série de obras da Natureza, tudo serve como um grau 
      para chegar não só ao próximo, mas ao mais alto grau.
      
      A ação e a harmonia do fenômeno da Natureza leva ao 
      conhecimento de seus fundamentos e elementos constituintes. 
      
      O conhecimento de seus elementos constituintes leva ao conhecimento daqueles 
      poderes temporais e imateriais que criam este fenômeno. 
      
      O conhecimento destes poderes temporais e imateriais leva ao Espírito, 
      pois eles não possuem em si próprios a chave do projeto geral.
      
      O conhecimento do Espírito leva ao conhecimento da comunicação 
      entre ele e nosso pensamento, uma vez que, outrora, mantínhamos relações 
      com o Espírito, e toda relação pressupõe dois 
      ou mais seres análogos; uma relação não pode 
      ocorrer quando há um só ser.
      
      O conhecimento da comunicação de nosso pensamento com o Espírito 
      nos leva à luz de Deus, uma vez que somente esta luz pode ser o ponto 
      gerativo central de tudo o que é luz e ação.
      
      O conhecimento da luz de Deus nos leva a conhecer nossa própria miséria, 
      devida a nossa terrível privação desta luz, que é 
      a nossa única vida.
      O conhecimento de nossa miséria nos mostra a necessidade de um poder 
      restaurador, uma vez que o Amor, que é uma ordem eterna e um eterno 
      desejo de ordem, nunca pode deixar de nos apresentar esta ordem e este amor, 
      para que desfrutemos deles. 
      
      O conhecimento de um poder restaurador nos leva à recuperação 
      da santidade de nossa essência e origem, uma vez que nos traz novamente 
      ao seio de nossa fonte gerativa primitiva, ou à Trindade Eterna. 
      Assim tudo na física, na natureza espiritual, tem o objetivo de crescimento 
      e melhoramento, que poderia servir como uma trilha em nosso labirinto e 
      para nos ajudar a valorizar os direitos de nosso pacto divino; pois, independentemente 
      de nossas descobertas neste pacto divino, alimento revigorante para aquela 
      insaciável necessidade que temos de admirar, é preciso aprender 
      a preencher uma das mais nobres funções do Ministério 
      Espiritual do Homem, a de ser capaz de compartilhar esta felicidade suprema 
      com nossos semelhantes.
      
"Seja 
      feita a tua vontade"
       
O 
      Homem clama, desde a queda, pelo cumprimento da vontade divina, esta súplica 
      tem um significado muito profundo e natural, pois rogamos para que o acordo 
      divino possa recuperar seu valor; que toda vontade e desejo procedente de 
      Deus possa ser cumprido, e, desta forma, que a alma do homem possa florescer 
      novamente em seu verdadeiro desejo e vontade original, o que a faria tomar 
      parte no desenvolvimento do desejo e vontade de Deus; portanto não 
      podemos pedir ao Regente Supremo para que seja feita a tua (Dele) vontade, 
      sem, através desta oração, rogar para que as almas 
      de todos os homens possam ser restauradas na possibilidade de desfrutar 
      do elemento primitivo, e para que sejam colocadas em condições 
      de serem restabelecidas no Ministério Espiritual do Homem.
      
      Observe aqui, que, nas orações recomendadas por Deus, não 
      é dito aos homens que peçam aquilo que não possa ser 
      concedido a todos; Ele promete somente o que é compatível 
      com sua generosidade universal, que se refere, por sua vez, as necessidades 
      universais dos homens e à sua glória universal. Quando pedimos 
      a Deus algo particular que não pode ser dado, igualmente, a todos 
      os nossos semelhantes, tal como coisas materiais, empregos ou distinções, 
      nos afastamos essencialmente de nossa lei.
      
Pelo 
      que se deve orar. 
       
Nunca 
      devemos pedir a Deus algo que pertença a este mundo, pois tudo aqui 
      é contável e limitado, sendo impossível que todas tenham 
      lucro; e se um é beneficiado com uma grande parte, outro deve, necessariamente, 
      sofrer privações. Isto mostra o quão alheia eram as 
      posses para o código primitivo, e que o preceito Evangélico, 
      assim como a renúncia aos bens materiais, está intimamente 
      ligada as próprias e fundamentais bases da verdadeira justiça.
      
      Ao contrário, devemos clamar incessantemente por coisas do mundo 
      real e infinito no qual nascemos, porque nada daquele mundo pode chegar 
      ao homem sem abrir caminho para que desça sobre todos.
      
      Nas orações recomendadas por Deus ao homem, a primeira coisa 
      a que se deve rogar a Ele e a seu Reino, é que ele venha até 
      nós; só após isto é que o Homem será 
      lembrado. 
      
      O que se pede ao Homem é que de modo algum peça por coisas 
      terrestres; o pão de cada dia de que se fala, não é 
      nosso alimento elementar, pois o Homem tem mãos para trabalhar e 
      a terra para cultivar, somos proibidos de cuidar das necessidades de nossos 
      corpos, como fazem os pagãos. Este pão de cada dia, que deve 
      ser adquirido através da doçura do semblante, é o pão 
      da Vida, que Deus distribui às suas crianças diariamente, 
      e o único que pode ajudar a desenvolver a nossa obra. Finalmente, 
      pedimos o perdão de nossos pecados e para que nos afaste da tentação.
      
      Tudo nesta oração é Espírito, tudo é 
      caridade divina, pois seu objetivo é, de modo geral, fazer com que 
      o pacto divino mantenha a condição em que todas têm 
      que contribuir.
      
      Quando é dito no Evangelho, "Busque primeiro o reino de Deus 
      e a sua retidão, e tudo o mais lhe será dado", podemos 
      crer que o auxílio temporal de que precisamos, de fato, não 
      nos falta, se fixarmos nossa morada nas riquezas espirituais; mas o Evangelho 
      vai mais longe e afirma que deveríamos primeiro buscar o reino divino, 
      e que o reino divino, e que o reino espiritual também nos será 
      dado; ou seja, se estabelecermos nossa morada em Deus, não haverá 
      nada na luz e nos poderosos presentes do 
Espírito 
      que nos será recusado.
       
Esta é a razão pela qual aqueles que buscam somente as ciências espirituais, e não vão diretamente a Deus, tomam o caminho mais longo e freqüentemente se perdem. Portanto é dito que só uma coisa é necessária, pois ela abrange todas as outras. É, de fato, uma lei indispensável que qualquer região deve abranger, administrar, possuir e dispor de tudo o que vem depois de si, ou num grau inferior a si própria. Assim, não é de se surpreender que ao alcançarmos a região divina, que esta acima de todas as outras, estaremos alcançando a supremacia sobre todas as coisas. Vamos buscar a Deus, e nada mais, se quisermos ter todas as coisas; pois nascemos da fonte do
Desejo 
      Eterno e do ESPÍRITO Universal.
       
Os 
      animais e as outras coisas da Natureza também têm um desejo, 
      mas a vontade que coroa este desejo é um tanto estranha e separada 
      deles: por esta razão eles não precisam orar, como precisa 
      o homem; eles só precisam agir. 
      
A 
      Luz é parte do Convênio Divino com o Homem.
       
Mas 
      o Homem teve sua origem não só nas Fontes da admiração, 
      do desejo e da vontade, mas também na Fonte da Luz, e esta Luz, conseqüentemente 
      também formou uma das bases do pacto divino com o Homem.
      
      Por esta razão, o Homem é o primeiro componente da relação 
      entre ele próprio e todos os objetos naturais e espirituais à 
      sua volta. Por esta razão, se o Homem não esclarecer a si 
      mesmo a respeito de sua própria existência, nunca esclarecerá 
      nada a respeito da existência de qualquer outra criação 
      ou ser emanado.
      O Homem é a escala de medida para todas as criaturas.
      
      De fato, se o Homem teve sua origem na real fonte da admiração, 
      do desejo, da vontade e da luz - em uma palavra, na fonte da realidade - 
      ele se torna, na sua qualidade de ser real, a escala de todo objeto e criatura 
      que assemelhe-se a ele, podendo medir sua existência, leis e ação, 
      apenas através daquilo em que eles diferem de si mesmo: uma profunda 
      e importante verdade, que muitos parecem desprezar, mas que só afastam 
      da indolência somente quando crêem afastá-la da modéstia. 
      
      
      Esta verdade é, além do mais, provada pelas experiências 
      diárias daquilo que se passa entre os homens. Pois, como os homens 
      se tornam juizes e arbitrários nas ciências, leis, artes e 
      instituições, em resumo, em tudo aquilo que preenche sua vida 
      transitória? Não é por começar a dominar, tanto 
      quanto possível, os princípios relacionados a cada assunto? 
      E assim que tenham penetrado completamente estes princípios e os 
      tornado seus próprios princípios, então eles os tomam 
      como grau de comparação para tudo aquilo que lhe é 
      dado a examinar: quanto mais os homens estão preenchidos com o conhecimento 
      destes princípios fundamentais, mais se espera que sejam capazes 
      de julgar corretamente, e determinar o valor e a natureza dos assuntos submetidos 
      ao seu tribunal. 
      
      A santa raça do Homem, engendrada na Fonte da admiração, 
      do desejo e da inteligência, foi, então, estabelecida na região 
      do tempo ilimitado, como um orbe luminoso de onde ele deveria irradiar amplamente 
      uma luz celeste: em poucas palavras, o Homem era um ser, situado entre a 
      Divindade e o traidor, que na região espiritual podia produzir, à 
      vontade, explosões de relâmpagos e trovões, ou a serenidade 
      do silêncio; carregar as correntes da culpa, e lançar-se nas 
      trevas, ou imprimir os sinais de consolo e amor nas regiões da paz.
      
O 
      Homem e Deus, os extremos da cadeia dos seres.
       
O 
      Homem e Deus são os dois extremos da cadeia dos seres. O Homem deve, 
      até mesmo agora, aqui embaixo, ter o verbo realizador. Todas as coisas 
      entre estes dois seres, estão sujeitas a eles; a Deus, como suas 
      criações; ao Homem, como seus súditos. E tudo reverenciaria 
      e estremeceria diante de nós, se deixássemos livre acesso 
      à substância divina em nosso ser: em primeiro lugar a Natureza, 
      pois ela nunca conheceu, e nunca poderá conhecer, esta substância 
      divina; em segundo lugar, nosso implacável inimigo, pois ele a conhece 
      não mais que pelo terror de seus poderes invencíveis.
      
A 
      responsabilidade do Homem, como distribuidor das riquezas de Deus.
       
Sem 
      dúvida, o Homem nasceu para penetrar as magníficas obras de 
      Deus, e reprimir a desarmonia; mas também para habitar sempre perto 
      de Deus e, desta altura, supervisionar continuamente todo o círculo 
      das coisas, e distribuir as riquezas divinas, sob os olhos da própria 
      sabedoria; e descobrimos que assim deve ser, ao nunca nos sentirmos em repouso 
      e em nossa correta proporção, exceto quando atingimos esta 
      alta posição; mesmo que isto raramente aconteça aqui 
      embaixo.
      
      Pense, então, Oh Homem, na santidade de seu destino; você tem 
      a glória de ter sido escolhido para ser, de alguma forma, o domicílio, 
      o santuário e o ministro das graças de nosso Deus; e seu coração 
      ainda pode ser preenchido com estes tesouros deliciosos, enquanto, ao mesmo 
      tempo, espalha estas maravilhas nas almas de seus semelhantes; contudo, 
      quanto mais importante for o seu ministério, mais certo e justo é 
      que o Homem responda por sua administração. 
      
A 
      Terra, um exemplo para o Homem.
       
Quando 
      os céus visíveis enviam suas substâncias, ou as matérias 
      do trabalho diário para que a terra possa conduzi-las à maturidade, 
      eles anunciam à Terra: «Estes são os nossos planos, 
      estes são os nossos desejos, tanto para a preservação 
      das coisas, assim como para a expansão das maravilhas da natureza; 
      tu deves prestar contas de tudo aquilo que confiamos a ti; não permita 
      que nenhuma destas essências permaneça inativa; deixe que tudo 
      coopere conosco, ao fazer com que esta morte universal, que devora todas 
      as coisas, desapareça.»
      
      A Terra, então, para escapar da sua própria morte, incuba 
      e alimenta as virtudes que os céus acabaram de depositar em si; ela 
      desenvolve seus poderes encerrados e coagulados e, em suas aspirações 
      acrescenta outros poderes aos já existentes; então, a terra 
      traz à superfície a leal prestação de contas 
      que testemunhamos, de tudo o que lhe foi confiado, com um grande progresso 
      proveniente do emprego e colaboração de suas próprias 
      faculdades.
      
      A mesma lei é destinada a você, Oh Homem Espírito, para 
      a administração de seus bens como o oficial da Verdade. Você 
      é a terra de Deus; você é um funcionário divino 
      no Universo. Deus lhe envia, todos os dias, talvez a todo momento, pelo 
      menos, a cada período espiritual, a tarefa que Ele lhe dá 
      a desempenhar, de acordo com os Desígnios de Sua Sabedoria, e com 
      a Sua própria idade e força. Ele lhe envia esta tarefa, desejando 
      que você não se poupe da consumação de seus sofrimentos, 
      advertindo que Ele irá exigir, rigorosamente, o seu retorno, o que 
      consiste em nada mais do que a restauração da ordem, da paz, 
      e da vida na esfera de seus domínios os quais Ele confiou aos teus 
      cuidados.
      
Esta 
      obra é a Magia de Deus, e o complemento daquele que ora.
       
Este 
      desejo que Deus manifesta, e o alerta que lhe dá, não deve 
      parecer algo estranho; é preciso reconhecer aqui a própria 
      sede de justiça de Deus, e a aniquilação da desordem; 
      quando Deus envia seu desejo ou sede para dentro do homem, Ele faz mais 
      do que admiti-lo em seu conselho, pois Ele traz o seu Conselho para dentro 
      do homem, introduzindo ali os mais doces e elevados propósitos de 
      sua Sabedoria; o Homem é, então, impregnado com as mesmas 
      relações que Deus propriamente dito tem com tudo o que é 
      imperfeito, e Ele próprio o provê do necessário para 
      realizar sua retificação; ou seja, Deus provê o Homem 
      com recursos extraídos de sua própria glória, e procura 
      estimular seu ardor através da esperança que proporciona a 
      ele de participar de todos os frutos com Ele próprio.
      
      Esta obra é o exato complemento daquele que ora, já que é 
      a exata ação, para não dizer, a geração 
      viva da ordem divina que passa dentro do Homem.
      
Teurgia, 
      suas falhas e perigos.
       
Esta 
      obra está muito acima de todas aquelas operações teúrgicas, 
      nas quais o Espírito pode se ligar a nós, zelar por nós 
      e até mesmo orar por nós, sem o nosso ser, mesmo que sábio 
      ou virtuoso; como este Espírito está, então, ligado 
      a nós apenas externamente, e opera estas coisas quase sempre nos 
      desconhecidas de nós, que alimentam nosso orgulho e encorajam nossa 
      falsa segurança, talvez seja mais perigoso do que nossas faltas e 
      fraquezas que nos fazem lembrar da humildade.
      
A 
      verdadeira obra é central e se desenvolve na ação.
       
Aqui, 
      ao contrário, todas as coisas começam no centro, somos vivificados 
      antes que nossas obras emanem de nós; eis o porque temos muita satisfação 
      a ser extraída de nós através de nossas obras, eliminando 
      a vaidade; e quando o homem é feito para ser, verdadeiramente, o 
      servo de Deus, este modo de existência, esta condição 
      sublime, deve parecer tão natural e tão simples a ele que 
      não dá para conceber qualquer outra.
      
      Pois qual seria o fim ou o objetivo da ação senão conectar 
      aqueles consagrados a ela com a Ação Universal? É através 
      da atuação que nos unimos à ação, e acabamos 
      sendo nada menos do que órgãos de ação contínua 
      e constante; assim, aquilo que não é esta ação 
      é como nada para nós, e nada além desta ação 
      nos parece natural. 
      O Homem deve ser a continuação ou o recomeço de Deus.