Para
compreender a sublimidade de nossos direitos, devemos voltar a nossas origens.
Mas antes de considerar a natureza do Homem Espírito, vamos investigar,
de forma geral, o que pode ser chamado Espírito, em qualquer ou todas
as classes e ordens; iremos descobrir as fontes fundamentais de onde se
deriva tal expressão, e iniciaremos tomando a palavra Espírito
sob os diferentes significados encontrados em nossas línguas.
O espírito de alguma coisa pode ser considerado como sendo o real
engendramento (Geração), parcial ou completo, dos poderes
de sua ordem.
Assim, a música nos é conhecida tal como é somente
pela emissão dos sons, através dos quais alcança nossos
ouvidos, e que nada são além de expressão efetiva,
ou espírito ativo do plano ou imagem que ela representa.
Desta forma, o vento é a real emissão do ar, comprimido pelas
nuvens ou poderes atmosféricos. E na ordem elementar, tão
logo cesse a compressão, não há mais vento: ora, sabemos
que as línguas antigas usavam a mesma palavra para expressar o vento,
a respiração e o espírito.
Portanto a respiração do Homem, e de outros animais, é
a real emissão do resultado, em seu interior, da união entre
o ar e seus poderes vitais; quando esses poderes vitais cessam, a respiração,
o espírito, ou a expressão da vida, também cessa.
Assim, a propulsão (aprisionamento) de nossos pensamentos, e o que
o mundo chama de razão (espírito) no Homem, é a real
emissão daquilo que é desenvolvido por uma fermentação
secreta dos poderes de nossa compressão, e esta propulsão
é, conseqüentemente, o fruto do real engendramento destes poderes:
quando esta fermentação secreta é suspensa em nós,
ficamos como se não tivéssemos mais razão (espírito),
embora ainda tenhamos em nós todos os germens que podem produzi-lo.
Espírito,
uma emissão dos Poderes Eternos.
De
acordo com esta exposição, podemos, sem temor, considerar
o Espírito como sendo o fruto que procede perpetuamente dos Poderes
Eternos Supremos, ou da Unidade Universal destes poderes, uma vez que o
real engendramento, que produz este fruto, sem interrupção,
deve, acima de todas as outras emissões, receber o nome de Espírito,
o qual atribuímos a tudo aquilo que tenha o caráter de uma
emissão ou expressão real.
E aqui, devemos lembrar que os Poderes Gerativos Eternos deste Ser Universal,
repousam, como tudo o que existe, sobre duas bases fundamentais que, na
obra "O Espírito das Coisas", indicamos sob os nomes de
força e resistência; Jacob Boehme, aplicando estas duas bases
à Divindade, apresenta sob o nome de um duplo desejo, o de permanecer
em seu próprio centro e o de desenvolver ali seus esplendores universais;
também, sob os nomes de aridez e brandura; luz e trevas; e ainda
sob os nomes de angústia e deleite, fúria e amor; embora ele
afirme continuamente que, em Deus, não há aridez, trevas,
angústia ou fúria, e que usa tais expressões somente
para designar poderes distintos, mas que atuando simultaneamente, apresentam
e apresentarão eternamente, a mais perfeita unidade não só
neles e com eles próprios mas também com aquele Espírito
Eterno e Universal, que nunca deixam e nunca deixarão de engendrar.
A
emissão perpétua da Unidade Universal, o Ser Divino.
Além
do mais, me parece, não ser infrutífera ou indiferente a noção
que obtemos aqui do caráter deste Fruto Perpétuo do real engendramento
da Unidade Universal, cujos Poderes são, contínua, necessária
e exclusivamente dependentes de si próprios; e se os observadores
assim tivessem considerado esta unidade produtiva, dentro deste caráter
de emissão necessária e real, teriam tirado grande proveito
de suas pesquisas sobre o Ser Divino e Universal, e como resultado, não
teriam tentado examinar, no princípio, a natureza deste Ser, sem
observarem Sua Ação; pois que Sua Ação é
provavelmente Sua total Natureza; a conseqüência de suas táticas
errôneas tem sido que, não só não encontraram
o Ser Divino que buscaram de forma imprópria, mas foram longe demais
ao enganarem a si próprios afirmando que aquilo que não encontraram,
não existe.
Se tivéssemos considerado o Ser Universal, como o fruto real, espiritual
e divino dos poderes da Unidade Eterna, em Seu verdadeiro caráter,
teríamos extraído dali os grandes benefícios que se
seguem.
Espírito,
o fruto de todos os poderes da Unidade.
Como
o fruto de toda geração que temos conhecimento, reproduz e
representa tudo o que constitui os poderes que o engendrou, assim, o que
chamamos Espírito, no ato gerativo da Unidade Eterna, nada mais pode
ser do que a expressão real e manifesta de tudo aquilo, sem exceção,
que pertença a esta Unidade Eterna: desta forma, cabe ao Espírito
Universal nos tornar tal Unidade conhecida, descrevendo-a inteiramente,
assim como o Homem reproduz, temporariamente, todas as propriedades de seu
pai e mãe, de quem é uma imagem viva completa.
Sim, se observarmos atentamente com nossa compreensão, este real
e perpétuo fruto da Unidade Eterna, veremos que, desde que os poderes
desta Unidade são perpétuos, necessários e exclusivamente
dependentes uns dos outros, e o fruto da união destes poderes é
um real engendramento, tão ilimitado quanto infinito, este fruto
deve realmente ser a expressão real e completa desta mútua
união; ele deve conter em si, tudo o que pode servir como fundamento
para a atração mútua destes poderes, uns em direção
aos outros, de forma real e universal.
Assim, é necessário que o fruto deste engendramento e este
Ser Divino, se revele e se apresente a nós, sem cessar, em todos
os pontos, tamanha a abundância e continuidade de amor, vida, força,
poder, beleza, justiça, harmonia, proporção, ordem
e todas e quaisquer outras qualidades das quais, nosso pensamento deve,
em todo lugar, encontrar o efeito vivo de sua plenitude, e nunca deixar
de reconhecer a supremacia de sua unidade universal; acima de tudo, se faz
necessário, que este fruto engendrado pela Essência Divina,
da mesma forma, se torne um, já que deve ter e ser tudo aquilo que
esta Unidade contém e que não se pode admitir nenhum intervalo
ou alguma diversidade de graus, entre o amor destes poderes e o ato de seu
engendramento, como também não é possível perceber
qualquer diferença entre a existência essencial e a natureza
constituinte deste fruto.
Só
o Espírito pode revelar a si mesmo.
Porém
só a esta Essência Universal, a esta real e perpétua
emissão da Unidade Eterna, cabe a transmissão deste conhecimento
a nós, assim como só cabe ao fruto das gerações
naturais, proporcionar o conhecimento dos poderes que os geraram, diante
de nossos olhos.
Assim, aqueles que não têm reconhecido este Ser como necessário,
este fruto real e perpétuo do engendramento a Unidade Eterna, acabam,
naturalmente, não mais reconhecendo a própria Unidade Eterna,
já que absolutamente mais nada além deste fruto real poderia
apresentá-la a eles, com todas as suas qualidades e propriedades
constituintes; da mesma forma, se afastarmos nossos olhos do fruto da terra,
perderemos, rapidamente, o conhecimento das virtuais qualidades gerativas
da Natureza; e se considerássemos o homem, de forma muda e inerte,
perderíamos, rapidamente, a idéia da extraordinária
atividade de seu corpo, e a vasta extensão de seu pensamento e de
sua inteligência.
A
geração e a anastomose oculta dos seres.
Anastomose:
Comunicação material ou artificial, entre dois vasos sangüíneos
ou outras formações tubulares.
Se os poderes da Unidade Eterna são necessariamente um em seu engendramento,
e a Essência Universal ou o Fruto que procede deste engendramento,
necessariamente, os torna senão um, esta é, sem dúvida
a razão fundamental do porquê desta sua geração
ser oculta a nós, já que não podemos conceber este
Fruto separado de Suas Fontes gerativas.
Mas, se por outro lado, há, necessariamente, uma união progressiva
e gradual de toda a Unidade Universal com toda produção possível,
que aparece diante de nossos olhos, não devemos nos surpreender,
porque nunca fomos capazes de penetrar na geração das coisas,
uma vez que, não só os poderes gerativos, nestas gerações
parciais, também seguem a lei da Unidade, de acordo com sua ordem,
mas até mesmo seus frutos se tornam um com estes poderes, diante
do exemplo da Unidade Universal, ao menos na raiz, e no ato gerativo, embora,
mais adiante, o fruto se desprenda de suas fontes gerativas, ao pertencerem
às regiões de sucessão.
Vamos fazer uma pausa aqui para contemplar que coisa admirável e
quão impressiva é esta profunda lei, que oculta a origem de
tudo o que é produzido, mesmo daqueles que recebem ou adquirem esta
origem! Sob este impenetrável véu, as raízes de todos
os engendramentos estão intercomunicadas com a fonte Universal. E,
somente quando ocorre esta anastomose secreta, e as raízes das essências
recebem, no mistério, uma preparação vivificante, é
que a substanciação tem início, e as coisas tomam forma
ostensiva, cores e propriedades. Tal anastomose é insensível,
mesmo no tempo, e se torna perdida na imensidade, no eterno, e no imutável,
como que para nos ensinar que o tempo é somente a região da
ação visível das coisas, mas que a região da
ação invisível é infinita.
Sim, a Sabedoria e o Amor Eterno alimentam sua própria glória,
e também nossa inteligência; eles parecem temer que acreditemos
que nada teve um princípio, e que não há nada que não
seja Eterno; já que, na verdade, nenhuma criatura, nem mesmo o homem,
tem a mínima idéia de sua própria origem, a não
ser a de seu corpo; e ele adquire este conhecimento muito mais pelo cansaço
que este corpo ocasiona a seu espírito, do que pelos exemplos de
sua reprodução, os quais testemunha diariamente; pois, de
fato, nada pode ter um início (absolutamente) senão o mal
e a desordem. E, como o Homem pertence à Unidade, ou ao Centro, que
é o meio de todas as coisas, ele pode envelhecer em seu corpo, e
nem ao menos acreditar que esteja no meio de seus dias. Assim, a origem
oculta das coisas é uma expressiva evidência de sua fonte eterna
e invisível, e sentimos que nada começa a não ser o
mal e a morte, e que a vida, a perfeição e a felicidade nunca
existirão se não existiram desde sempre.
O
Ser Universal Se engendra ou Se revela em todo lugar, especialmente em nós.
Isto
confirma o princípio demonstrado por nós; se, em todos os
exemplos dados, nada pode receber o nome de Espírito, senão
pela presença do fenômeno de uma real e constante possível
emissão, é muito provável que o Ser Universal deva
portar o mesmo caráter, e portanto revelar à nossa inteligência
a real e necessária plenitude de uma existência ininterrupta,
sem começo ou princípio.
Feliz aquele que pode elevar seu pensamento a esta altura e o manter ali!
Ele irá, desta forma, alcançar tal clareza de inteligência,
o fundamento de tudo o que existe, na ordem das coisas invisíveis,
assim como na ordem das coisas visíveis, lhe parecerá simples,
ativo, permanente e, por assim dizer, diáfano; irá ver que
o Ser Universal, através de sua viva e contínua Realidade,
deve levar a todo lugar a luz e a limpidez da qual É o foco perpétuo.
Mas se quisermos assim considerar a Realidade viva e contínua deste
Foco Supremo e Universal, em todas as coisas visíveis e invisíveis,
o que ocorrerá quando a considerarmos em nós mesmos, e ver
o que ela opera em nosso próprio ser? Pois, descobriremos uma notável
diferença, no que diz respeito a nós, que é a seguinte:
nós podemos, pela reflexão, observar prontamente tal realidade
em todas as coisas individuais, mas também, na verdade, podemos senti-la,
na Natureza e em nós próprios.
Sim, se por um único momento, penetrássemos as profundezas
de nossa existência interna, sentiríamos rapidamente, que todas
as Fontes divinas, com seu Espírito Universal, abundam e fluem na
raiz de nosso ser, que somos um constante e perpétuo resultado do
engendramento de nosso Princípio, que ele esta continuamente em sua
realidade conosco, e assim, após a definição que demos
de Espírito, podemos ver facilmente, como um ser, capaz de sentir
em si a ebulição da Fonte Divina, tem direito ao nome Homem
Espírito.
A
origem do Homem.
Agora
podemos chegar a uma idéia concreta sobre a origem do Homem. O Homem
nasceu e nasce continuamente na Fonte Eterna que não deixa de ser
a perpétua embriaguez de suas próprias maravilhas e deleites.
Esta é a razão pela qual afirmamos freqüentemente que
o Homem pode viver somente pela admiração, uma vez que, como
mostrado pelo autor Alemão citado, nenhuma criatura pode ser mantida
senão pela substância ou frutos de sua própria mãe.
O Desejo e a Vontade.
Contudo, o Homem também nasceu na Fonte do desejo; pois Deus é
um Desejo e uma Vontade Eterna de ser manifestado; Sua magia, ou a doce
impressão de Sua existência, pode se propagar e se estender
a tudo aquilo capaz de a receber e a sentir. O Homem também deve
viver através deste desejo e desta vontade; e ele é encarregado
de manter estas sublimes afeições com ele; pois, em Deus,
o desejo é sempre vontade, enquanto que no Homem o desejo dificilmente
atinge este termo, sem o qual nada pode ser feito. É através
deste poder, dado ao Homem de elevar seu desejo ao caráter de vontade,
que ele deve realmente ser uma imagem de Deus.
A União entre a Vontade Divina e o desejo do Homem.
De fato, o Homem pode fazer com que a Vontade Divina propriamente dita venha
até ele para se unir com seu desejo; a partir de então ele
passa a trabalhar e a atuar de acordo com a Divindade, que se digna, por
assim dizer, a compartilhar Sua obra, Suas propriedades e Seus poderes com
o Homem: e se, ao lhe dar o desejo, que é como a raiz da planta,
Ele reserva a Vontade, que é como seu botão ou flor, não
é com a intenção de que o homem permaneça na
privação desta Vontade Divina e não a conheça;
mas, ao contrário, Seu desejo é que o homem chame por ela,
a conheça por ele mesmo; pois, se o Homem é a planta, Deus
é a seiva ou a vida. E o que seria da árvore se a seiva não
corresse em suas veias?
O
Pacto Divino.
É
nesta profundidade, nas regiões naturais e verdadeiras da emanação
do Homem, que o pacto divino é estabelecido; tal pacto liga a Fonte
Suprema ao Homem. Através deste pacto, a Fonte Suprema, só
podia transmitir ao Homem todos os seus próprios gérmens sagrados,
se acompanhados de todas as fundamentais e incontestáveis leis que
constituem sua própria Essência criativa Eterna, das quais
não pode se separar sem deixar de existir. Este pacto não
sofre alterações, como sofrem os pactos materiais pela vontade
das partes.
Ao formar o Homem, a Fonte Suprema haveria de ter-lhe dito: "Com os
fundamentos eternos ou com as bases de meu ser, e as leis, eternamente inerentes
a eles, Eu te constituo, Homem; Não tenho regras para fixar a ti
senão aquelas que resultam naturalmente de minha eterna harmonia;
não tenho nem mesmo a necessidade de impor qualquer penalidade a
ti se não as infringi-las; cada cláusula de nosso pacto está,
exatamente, nas bases de tua constituição. Se tu observá-las
e não cumpri-las, irás causar teu próprio julgamento
e punição; pois, a partir deste momento deixarás de
ser Homem.
O Pacto se estende por toda a Natureza.
Podemos observar este princípio em toda cadeia de seres, onde descobriremos
que todas as criações estão ligadas, cada uma de acordo
com sua classe, à sua fonte gerativa por um tratado implícito;
destas fontes procedem todas as suas leis; e, na verdade estes seres caíram
em desarmonia no momento em que estas leis foram infligidas, leis que carregam
em sua essência e que são recebidas de suas fontes gerativas
no instante em que lhe dão a vida.
O
peso, número e medida na Natureza.
Ao
prestarmos atenção nas leis fixas e regulares, pelas quais
a Natureza produz e governa todas as suas obras, e acompanhando, passo a
passo, cuidadosamente, as pistas deixadas por ela, reconheceremos em todo
lugar, um peso, um número e uma medida que são os inseparáveis
ministros da Natureza; eles mostram que existiam, primitivamente, na Fonte
mencionada acima, e constituem o ternário eterno, cuja imagem encontramos
em nós mesmos; sobre eles repousa o pacto divino.
Vemos, além do mais, que estas três bases, satisfazem o Onipotente,
pois estabelecem as fundações de todas as obras da Natureza
caracterizando externamente todas as variedades de Sua produção,
ou aqueles desenvolvimentos externos da forma, cor, duração,
cheiro, propriedades essenciais, qualidades etc., coisas que não
são números, embora possuam números para manifestação
e indicação.
É desta forma que o ternário Universal varia, ad infinitum,
multiplicando suas operações, e as mantendo sempre em operação
no infinito do qual dependem; assim, o Homem nunca pode numerá-las
ou apoderar-se delas; e, de fato, é suficiente para ele ter o uso
destas operações; ele está proibido de as possuir com
suas propriedades, já que, através desta multiplicidade de
meios que o todo poderoso possui de variar as manifestações
de seu ternário Universal, Ele assegura somente a si mesmo, o direito
de propriedade deste ato gerativo; nunca deixando, contudo, de manifestar
esta infinidade, de forma externa, para que seja admirada.
Os
poderes opostos na Natureza.
Sem
o poder contrário, que trouxe desordem para o Universo, a Natureza
não conheceria desarmonia alguma, e nunca se separaria das leis prescritas
pelos planos Eternos; mas, apesar de sua desordem, quando consideramos a
Natureza como sendo composta de tão vários instrumentos e
órgãos, servindo como canais para a vida universalmente difundida,
percebemos uma gradação em suas obras, que nos faz admirar
aquela sabedoria beneficente que direciona o curso harmonioso das coisas.
Os
graus no conhecimento da Natureza, do Homem e do Espírito.
Observaremos,
de fato, que na série de obras da Natureza, tudo serve como um grau
para chegar não só ao próximo, mas ao mais alto grau.
A ação e a harmonia do fenômeno da Natureza leva ao
conhecimento de seus fundamentos e elementos constituintes.
O conhecimento de seus elementos constituintes leva ao conhecimento daqueles
poderes temporais e imateriais que criam este fenômeno.
O conhecimento destes poderes temporais e imateriais leva ao Espírito,
pois eles não possuem em si próprios a chave do projeto geral.
O conhecimento do Espírito leva ao conhecimento da comunicação
entre ele e nosso pensamento, uma vez que, outrora, mantínhamos relações
com o Espírito, e toda relação pressupõe dois
ou mais seres análogos; uma relação não pode
ocorrer quando há um só ser.
O conhecimento da comunicação de nosso pensamento com o Espírito
nos leva à luz de Deus, uma vez que somente esta luz pode ser o ponto
gerativo central de tudo o que é luz e ação.
O conhecimento da luz de Deus nos leva a conhecer nossa própria miséria,
devida a nossa terrível privação desta luz, que é
a nossa única vida.
O conhecimento de nossa miséria nos mostra a necessidade de um poder
restaurador, uma vez que o Amor, que é uma ordem eterna e um eterno
desejo de ordem, nunca pode deixar de nos apresentar esta ordem e este amor,
para que desfrutemos deles.
O conhecimento de um poder restaurador nos leva à recuperação
da santidade de nossa essência e origem, uma vez que nos traz novamente
ao seio de nossa fonte gerativa primitiva, ou à Trindade Eterna.
Assim tudo na física, na natureza espiritual, tem o objetivo de crescimento
e melhoramento, que poderia servir como uma trilha em nosso labirinto e
para nos ajudar a valorizar os direitos de nosso pacto divino; pois, independentemente
de nossas descobertas neste pacto divino, alimento revigorante para aquela
insaciável necessidade que temos de admirar, é preciso aprender
a preencher uma das mais nobres funções do Ministério
Espiritual do Homem, a de ser capaz de compartilhar esta felicidade suprema
com nossos semelhantes.
"Seja
feita a tua vontade"
O
Homem clama, desde a queda, pelo cumprimento da vontade divina, esta súplica
tem um significado muito profundo e natural, pois rogamos para que o acordo
divino possa recuperar seu valor; que toda vontade e desejo procedente de
Deus possa ser cumprido, e, desta forma, que a alma do homem possa florescer
novamente em seu verdadeiro desejo e vontade original, o que a faria tomar
parte no desenvolvimento do desejo e vontade de Deus; portanto não
podemos pedir ao Regente Supremo para que seja feita a tua (Dele) vontade,
sem, através desta oração, rogar para que as almas
de todos os homens possam ser restauradas na possibilidade de desfrutar
do elemento primitivo, e para que sejam colocadas em condições
de serem restabelecidas no Ministério Espiritual do Homem.
Observe aqui, que, nas orações recomendadas por Deus, não
é dito aos homens que peçam aquilo que não possa ser
concedido a todos; Ele promete somente o que é compatível
com sua generosidade universal, que se refere, por sua vez, as necessidades
universais dos homens e à sua glória universal. Quando pedimos
a Deus algo particular que não pode ser dado, igualmente, a todos
os nossos semelhantes, tal como coisas materiais, empregos ou distinções,
nos afastamos essencialmente de nossa lei.
Pelo
que se deve orar.
Nunca
devemos pedir a Deus algo que pertença a este mundo, pois tudo aqui
é contável e limitado, sendo impossível que todas tenham
lucro; e se um é beneficiado com uma grande parte, outro deve, necessariamente,
sofrer privações. Isto mostra o quão alheia eram as
posses para o código primitivo, e que o preceito Evangélico,
assim como a renúncia aos bens materiais, está intimamente
ligada as próprias e fundamentais bases da verdadeira justiça.
Ao contrário, devemos clamar incessantemente por coisas do mundo
real e infinito no qual nascemos, porque nada daquele mundo pode chegar
ao homem sem abrir caminho para que desça sobre todos.
Nas orações recomendadas por Deus ao homem, a primeira coisa
a que se deve rogar a Ele e a seu Reino, é que ele venha até
nós; só após isto é que o Homem será
lembrado.
O que se pede ao Homem é que de modo algum peça por coisas
terrestres; o pão de cada dia de que se fala, não é
nosso alimento elementar, pois o Homem tem mãos para trabalhar e
a terra para cultivar, somos proibidos de cuidar das necessidades de nossos
corpos, como fazem os pagãos. Este pão de cada dia, que deve
ser adquirido através da doçura do semblante, é o pão
da Vida, que Deus distribui às suas crianças diariamente,
e o único que pode ajudar a desenvolver a nossa obra. Finalmente,
pedimos o perdão de nossos pecados e para que nos afaste da tentação.
Tudo nesta oração é Espírito, tudo é
caridade divina, pois seu objetivo é, de modo geral, fazer com que
o pacto divino mantenha a condição em que todas têm
que contribuir.
Quando é dito no Evangelho, "Busque primeiro o reino de Deus
e a sua retidão, e tudo o mais lhe será dado", podemos
crer que o auxílio temporal de que precisamos, de fato, não
nos falta, se fixarmos nossa morada nas riquezas espirituais; mas o Evangelho
vai mais longe e afirma que deveríamos primeiro buscar o reino divino,
e que o reino divino, e que o reino espiritual também nos será
dado; ou seja, se estabelecermos nossa morada em Deus, não haverá
nada na luz e nos poderosos presentes do
Espírito
que nos será recusado.
Esta é a razão pela qual aqueles que buscam somente as ciências espirituais, e não vão diretamente a Deus, tomam o caminho mais longo e freqüentemente se perdem. Portanto é dito que só uma coisa é necessária, pois ela abrange todas as outras. É, de fato, uma lei indispensável que qualquer região deve abranger, administrar, possuir e dispor de tudo o que vem depois de si, ou num grau inferior a si própria. Assim, não é de se surpreender que ao alcançarmos a região divina, que esta acima de todas as outras, estaremos alcançando a supremacia sobre todas as coisas. Vamos buscar a Deus, e nada mais, se quisermos ter todas as coisas; pois nascemos da fonte do
Desejo
Eterno e do ESPÍRITO Universal.
Os
animais e as outras coisas da Natureza também têm um desejo,
mas a vontade que coroa este desejo é um tanto estranha e separada
deles: por esta razão eles não precisam orar, como precisa
o homem; eles só precisam agir.
A
Luz é parte do Convênio Divino com o Homem.
Mas
o Homem teve sua origem não só nas Fontes da admiração,
do desejo e da vontade, mas também na Fonte da Luz, e esta Luz, conseqüentemente
também formou uma das bases do pacto divino com o Homem.
Por esta razão, o Homem é o primeiro componente da relação
entre ele próprio e todos os objetos naturais e espirituais à
sua volta. Por esta razão, se o Homem não esclarecer a si
mesmo a respeito de sua própria existência, nunca esclarecerá
nada a respeito da existência de qualquer outra criação
ou ser emanado.
O Homem é a escala de medida para todas as criaturas.
De fato, se o Homem teve sua origem na real fonte da admiração,
do desejo, da vontade e da luz - em uma palavra, na fonte da realidade -
ele se torna, na sua qualidade de ser real, a escala de todo objeto e criatura
que assemelhe-se a ele, podendo medir sua existência, leis e ação,
apenas através daquilo em que eles diferem de si mesmo: uma profunda
e importante verdade, que muitos parecem desprezar, mas que só afastam
da indolência somente quando crêem afastá-la da modéstia.
Esta verdade é, além do mais, provada pelas experiências
diárias daquilo que se passa entre os homens. Pois, como os homens
se tornam juizes e arbitrários nas ciências, leis, artes e
instituições, em resumo, em tudo aquilo que preenche sua vida
transitória? Não é por começar a dominar, tanto
quanto possível, os princípios relacionados a cada assunto?
E assim que tenham penetrado completamente estes princípios e os
tornado seus próprios princípios, então eles os tomam
como grau de comparação para tudo aquilo que lhe é
dado a examinar: quanto mais os homens estão preenchidos com o conhecimento
destes princípios fundamentais, mais se espera que sejam capazes
de julgar corretamente, e determinar o valor e a natureza dos assuntos submetidos
ao seu tribunal.
A santa raça do Homem, engendrada na Fonte da admiração,
do desejo e da inteligência, foi, então, estabelecida na região
do tempo ilimitado, como um orbe luminoso de onde ele deveria irradiar amplamente
uma luz celeste: em poucas palavras, o Homem era um ser, situado entre a
Divindade e o traidor, que na região espiritual podia produzir, à
vontade, explosões de relâmpagos e trovões, ou a serenidade
do silêncio; carregar as correntes da culpa, e lançar-se nas
trevas, ou imprimir os sinais de consolo e amor nas regiões da paz.
O
Homem e Deus, os extremos da cadeia dos seres.
O
Homem e Deus são os dois extremos da cadeia dos seres. O Homem deve,
até mesmo agora, aqui embaixo, ter o verbo realizador. Todas as coisas
entre estes dois seres, estão sujeitas a eles; a Deus, como suas
criações; ao Homem, como seus súditos. E tudo reverenciaria
e estremeceria diante de nós, se deixássemos livre acesso
à substância divina em nosso ser: em primeiro lugar a Natureza,
pois ela nunca conheceu, e nunca poderá conhecer, esta substância
divina; em segundo lugar, nosso implacável inimigo, pois ele a conhece
não mais que pelo terror de seus poderes invencíveis.
A
responsabilidade do Homem, como distribuidor das riquezas de Deus.
Sem
dúvida, o Homem nasceu para penetrar as magníficas obras de
Deus, e reprimir a desarmonia; mas também para habitar sempre perto
de Deus e, desta altura, supervisionar continuamente todo o círculo
das coisas, e distribuir as riquezas divinas, sob os olhos da própria
sabedoria; e descobrimos que assim deve ser, ao nunca nos sentirmos em repouso
e em nossa correta proporção, exceto quando atingimos esta
alta posição; mesmo que isto raramente aconteça aqui
embaixo.
Pense, então, Oh Homem, na santidade de seu destino; você tem
a glória de ter sido escolhido para ser, de alguma forma, o domicílio,
o santuário e o ministro das graças de nosso Deus; e seu coração
ainda pode ser preenchido com estes tesouros deliciosos, enquanto, ao mesmo
tempo, espalha estas maravilhas nas almas de seus semelhantes; contudo,
quanto mais importante for o seu ministério, mais certo e justo é
que o Homem responda por sua administração.
A
Terra, um exemplo para o Homem.
Quando
os céus visíveis enviam suas substâncias, ou as matérias
do trabalho diário para que a terra possa conduzi-las à maturidade,
eles anunciam à Terra: «Estes são os nossos planos,
estes são os nossos desejos, tanto para a preservação
das coisas, assim como para a expansão das maravilhas da natureza;
tu deves prestar contas de tudo aquilo que confiamos a ti; não permita
que nenhuma destas essências permaneça inativa; deixe que tudo
coopere conosco, ao fazer com que esta morte universal, que devora todas
as coisas, desapareça.»
A Terra, então, para escapar da sua própria morte, incuba
e alimenta as virtudes que os céus acabaram de depositar em si; ela
desenvolve seus poderes encerrados e coagulados e, em suas aspirações
acrescenta outros poderes aos já existentes; então, a terra
traz à superfície a leal prestação de contas
que testemunhamos, de tudo o que lhe foi confiado, com um grande progresso
proveniente do emprego e colaboração de suas próprias
faculdades.
A mesma lei é destinada a você, Oh Homem Espírito, para
a administração de seus bens como o oficial da Verdade. Você
é a terra de Deus; você é um funcionário divino
no Universo. Deus lhe envia, todos os dias, talvez a todo momento, pelo
menos, a cada período espiritual, a tarefa que Ele lhe dá
a desempenhar, de acordo com os Desígnios de Sua Sabedoria, e com
a Sua própria idade e força. Ele lhe envia esta tarefa, desejando
que você não se poupe da consumação de seus sofrimentos,
advertindo que Ele irá exigir, rigorosamente, o seu retorno, o que
consiste em nada mais do que a restauração da ordem, da paz,
e da vida na esfera de seus domínios os quais Ele confiou aos teus
cuidados.
Esta
obra é a Magia de Deus, e o complemento daquele que ora.
Este
desejo que Deus manifesta, e o alerta que lhe dá, não deve
parecer algo estranho; é preciso reconhecer aqui a própria
sede de justiça de Deus, e a aniquilação da desordem;
quando Deus envia seu desejo ou sede para dentro do homem, Ele faz mais
do que admiti-lo em seu conselho, pois Ele traz o seu Conselho para dentro
do homem, introduzindo ali os mais doces e elevados propósitos de
sua Sabedoria; o Homem é, então, impregnado com as mesmas
relações que Deus propriamente dito tem com tudo o que é
imperfeito, e Ele próprio o provê do necessário para
realizar sua retificação; ou seja, Deus provê o Homem
com recursos extraídos de sua própria glória, e procura
estimular seu ardor através da esperança que proporciona a
ele de participar de todos os frutos com Ele próprio.
Esta obra é o exato complemento daquele que ora, já que é
a exata ação, para não dizer, a geração
viva da ordem divina que passa dentro do Homem.
Teurgia,
suas falhas e perigos.
Esta
obra está muito acima de todas aquelas operações teúrgicas,
nas quais o Espírito pode se ligar a nós, zelar por nós
e até mesmo orar por nós, sem o nosso ser, mesmo que sábio
ou virtuoso; como este Espírito está, então, ligado
a nós apenas externamente, e opera estas coisas quase sempre nos
desconhecidas de nós, que alimentam nosso orgulho e encorajam nossa
falsa segurança, talvez seja mais perigoso do que nossas faltas e
fraquezas que nos fazem lembrar da humildade.
A
verdadeira obra é central e se desenvolve na ação.
Aqui,
ao contrário, todas as coisas começam no centro, somos vivificados
antes que nossas obras emanem de nós; eis o porque temos muita satisfação
a ser extraída de nós através de nossas obras, eliminando
a vaidade; e quando o homem é feito para ser, verdadeiramente, o
servo de Deus, este modo de existência, esta condição
sublime, deve parecer tão natural e tão simples a ele que
não dá para conceber qualquer outra.
Pois qual seria o fim ou o objetivo da ação senão conectar
aqueles consagrados a ela com a Ação Universal? É através
da atuação que nos unimos à ação, e acabamos
sendo nada menos do que órgãos de ação contínua
e constante; assim, aquilo que não é esta ação
é como nada para nós, e nada além desta ação
nos parece natural.
O Homem deve ser a continuação ou o recomeço de Deus.