O
Homem deve ser a continuação ou o recomeço de Deus.
O
Homem é o ser encarregado de continuar a Deus, onde Ele não
é conhecido por si mesmo: não em sua ordem divina fundamental;
pois, ali, Ele executa sua geração eterna e secreta. O homem
continua a Deus nas manifestações e na ordem das emanações,
pois ali Deus se faz conhecido somente através de suas imagens e
representantes.
O Homem continua a Deus, ou, em outras palavras, o recomeça, como
um embrião ou um germe recomeça uma árvore, ao nascer
imediatamente daquela árvore, sem agente intermediário.
Um recomeça o Outro como um herdeiro recomeça seu antecessor,
ou um filho a seu pai, tomando posse de todos os pertences do predecessor
ou do pai; de outra forma ele não poderia representá-lo; só
há uma diferença, na ordem espiritual, a vida ainda permanece
na fonte que a transmite, porque esta fonte é simples; enquanto que,
na ordem material, a vida não permanece na fonte que a engendra,
pois esta fonte é mista, e não pode engendrar apenas ao dividir
a si mesma. Na ordem material, particularmente na vegetação,
o fruto, que é a vida ou o germe, e o grão, que é morte,
estão intimamente conectados. No grão, a vida está
oculta na morte; no fruto, a morte está oculta na vida.
O
processo de recomeço abolido pela queda.
Tenho
descrito o Homem até aqui somente em relação ao seu
estado original; ao descrevê-lo de acordo com o que tem feito de si
mesmo pelo uso falso e criminoso de seus privilégios, este alto privilégio
que ele possuía de recomeçar a Deus, desaparece; e somos compelidos
a dizer que, desde esta época fatal, Deus tem tido, ao contrário,
que recomeçar o Homem; Deus recomeça o Homem diariamente.
Pois, não só no momento de sua queda, Deus foi obrigado a
recomeçar o Homem, ou renovar seu contrato divino com ele, mas em
todas as épocas, nas quais Ele enviou leis para nossa restauração;
épocas que renderam inutilidades pela nossa falta de respeito por
seus presentes, e o pequeno fruto que retiramos delas, teve que ser sucedido
por outro, sempre mais importante que seu predecessor; mas que, por sua
vez, fora igualmente profanado por nós, o que só nos prejudica,
ao invés de nos auxiliar; isto requer que o Amor Divino nos recomece
novamente.
Se assim não fosse, este universo visível, onde estamos aprisionados,
teria sido, há muito tempo, lançado novamente no abismo, fora
do alcance do Amor supremo.
O
Processo de libertação do Homem: do crime, através
da lei, para a ação vital.
O
Homem passou do crime para as trevas. Ao deixar as trevas a Divindade Suprema
o fez passar pela Natureza. Ao deixar a Natureza, Ele o fez passar pelo
ministério da Lei. Fora do ministério da Lei passou por aquele
das orações, ou a Lei da graça que deveria ter restaurado
todas as coisas para ele.
Mas, como o sacerdócio humano tem corrompido esta lei da graça
tornando-a vã, ela teve que ser suspensa, por sua vez, e substituída
por uma ação vital violenta, assim como a oração,
ou a lei da graça havia substituído a lei que fora mal usada
pelos judeus; tal é o Espírito de sabedoria e a terna benevolência,
com que o Amor Supremo conduz ou admite que aconteça todos estes
lamentáveis eventos dos quais o homem terrestre reclamam, esquecendo
que seus próprios crimes os produziram, deixando a terra em completa
desordem, enquanto que ele nasceu no mundo para pacificar e melhorar todas
as coisas.
A Revolução Francesa foi provavelmente designada pela Providência
para expurgar, se não suspender, este ministério das orações;
uma vez que este, em sua origem, fora designado a suspender o ministério
da Lei. Com isto, o povo Francês pode ser considerado o povo da nova
Lei, assim como o Hebreu foi o da antiga Lei. Não precisamos nos
espantar com tal eleição, apesar de nossos crimes e banditismos.
Os judeus eleitos não foram, em seu tempo, melhores do que os Franceses.
Contudo, há uma coincidência ainda pior; o templo de Jerusalém
foi destruído e queimado duas vezes, uma por Nabucodonozor, outra
por Tito; e aqueles dias em que tais eventos ocorreram, são os mesmos
em que a autoridade temporal da França fora arruinado; i. e., o «10
de Agosto». "Quando Tito se recuou em Antonia, ele resolveu atacar
o Templo, no dia seguinte, 10 de Agosto, com todo o seu exército;
eles estavam na véspera daquele dia fatal no qual Deus havia, há
muito tempo, condenado este santo lugar a ser queimado, assim como havia
sido anteriormente, no mesmo dia, por Nabucodonozor, Rei da Babilônia."
(Fl. Josephus, 'Roman ----', LVI. Q XXVI)
Esta ação vital que, de acordo com todas as aparências,
tem que substituir o ministério das orações, irá
alcançar ainda senão uma conquista parcial entre os Homens,
se comparado com a grande maioria, que não se beneficiará
dela; haja vista a propensão ao mal uso de todas as coisas, que o
Homem tem exibido desde o princípio.
O
processo consumado no último julgamento.
Desta
forma, Deus será novamente obrigado a recomeçar o Homem através
do último julgamento, ou o fim dos tempos; mas como nesta ocasião,
todo o círculo terá sido rodado, a obra será consumada
sem volta; ou seja, sem o temor de qualquer nova delinqüência
por parte do Homem, e conseqüentemente sem que Deus seja mais obrigado
a recomeçar o Homem.
Ao contrário, o Homem irá, então, ter recuperado o
sublime privilégio de recomeçar Deus, como deveria ter feito
desde o princípio.
Contudo, há uma diferença: no princípio o Homem estava
somente sob os olhos do pacto (aliança) e ele podia se comportar
como quisesse: no final, ele estará na aliança; desta forma,
ele não será mais capaz de escolher, pois ele será
eternamente um impulso propulsor na corrente divina.
A
porta da Luz e do Amor no Homem.
Em
nossa passagem terrestre, e nos vários caminhos espirituais que o
Homem pode escolher durante esta passagem, há uma porta particular
para cada um de nós, através da qual a Verdade procura entrar;
é somente através dela que a Verdade pode chegar até
nós. Esta porta é distinta e independente da via principal
de nossa origem, pela qual a vida de nossa Raiz desce até nós
e nos torna Espírito; pois esta porta principal é comum a
todos, e ao Capeta também.
A porta particular, ou a via aludida, tem o objetivo de nos renovar na fonte
da vida, e na Luz Eterna do Amor; ela não é oferecida ao Capeta.
Isto possibilita, verdadeiramente, recuperar as fontes da Luz e do Amor;
sem elas, passamos nossos dias em vão, muito embora façam
parte do verdadeiro conhecimento; até que a fonte da vida encontre
esta porta aberta em nós, ela espera do lado de fora.
É só através desta porta que o Homem pode obter sua
subsistência; se falharmos em abri-la, permaneceremos completamente
destituídos; se a abrirmos, ela nos trará abundante nutrição;
se fôssemos sábios não iniciaríamos obra alguma
sem havermos pago nosso débito, ou seja, até que tivéssemos
aberto esta porta e completado a tarefa que ela induz.
Mas como esta porta também é uma determinação
de Deus, para nos introduzir ao ministério espiritual quando já
fazemos parte daqueles chamados para a obra, agitações e tempestades
podem nos atormentar, a fim de retardar a obra, mas a Fonte da Vida ainda
assim irá encontrar esta porta naqueles preparados para serem empregados,
e a glória de Deus triunfará neles para sua grande satisfação.
Todos
devem abrir a porta em si mesmo.
Embora
Deus abra esta porta naqueles que emprega, aqueles que não são
empregados não devem repousar diante de qualquer suposta impossibilidade
sob a justificativa de que nenhuma porta se abrirá neles, pois em
todos os homens, há uma porta para o desejo e para a justiça;
somos todos obrigados a abrir esta porta nós mesmos, o que podemos
fazer se perseverarmos.
A
porta da eleição.
Assim
como aquela única a levar o Homem à obra de Deus, esta porta
também só pode ser aberta por Deus; mas isto não é
prova de nosso avanço, se a primeira permanece fechada pela indolência
e pela preguiça. Podemos expulsar os demônios em Seu nome mesmo
que Ele não nos conheça.
Há um conflito entre aquilo que deve passar por dentro e por fora
de nossa verdadeira porta, tornando muito difícil que qualquer coisa
seja adquirida por meios externos. É como uma planta enxertada, onde
os sumos estão em conflito com a seiva da árvore onde é
transplantada; este conflito dura até que a seiva da árvore
tome seu curso natural e arraste os novos sumos consigo. Mas algumas vezes
a seiva da planta selvagem é vencedora.
A
seiva da Árvore da vida.
Qual
é a verdadeira seiva que deve levar consigo, em seu curso, todas
as coisas? Você que aspira ser admitido no grau dos trabalhadores
do Senhor, sabe qual é.
Você sabe que ela deve animar suas próprias essências
e que ela flui da eterna Geração Divina.
Você sabe que ela não pode circular em si sem retraçar
a própria Geração Divina eterna.
Você sabe que até mesmo a menor parte de seu ser deve ser vivificada
por esta seiva.
Você sabe que o poder desta seiva vivifica e rege todas as regiões
espirituais, assim como as estrelas, animais, plantas e todos os elementos
visíveis ou invisíveis.
Você sabe que o que ela faz por todas as coisas, ela tem o direito
de fazer pelo homem, se ele não se opusesse.
Portanto se apresente ao Princípio eterno desta seiva fecundante
e diga: "Oh, Autor Supremo de todas as coisas, não permita que
tua imagem seja degradada e caia na futilidade. Toda a Natureza experimenta
contínua e diretamente os efeitos de tua seiva, e não é,
nem por um instante, privada de sua ação vivificante; o Homem
não está sujeito à tua imagem por ser menos favorecido
que a Natureza e outras criaturas feitas por ti; faça-o tomar parte
do mesmo benefício; permita-o ser reconciliado com tua Unidade universal
e, a partir de então, como tu, ele jamais se movimentará sem
que o universo visível e invisível se movimente com ele; ele
não irá se mexer sem estar rodeado de agentes que o tornarão
um participante de tua Glória e poder".
Isto, Oh Homem de Desejo, é o objetivo ao qual todos os seus esforços
devem tender. Você tem em si a porta pela qual esta seiva deve entrar.
Se você compreender isto, como uma ajuda espiritual humana, ou que
por força das circunstâncias, todas as outras portas estão
fechadas a ti, alegre-se por isto, pois é prova que o Pai Supremo
pode, assim, lhe forçar a olhar por esta porta sagrada, onde Ele
espera por você, e pela qual Ele lhe dará acesso às
maravilhas que lhe são preparadas.
Agora, estas maravilhas envolvem o círculo universal de tudo, que
já foi o alicerce de teu império; e uma prova de que todos
os poderes, visíveis e invisíveis, estavam presentes na ocasião
de seu nascimento primitivo, é que eles estão sensivelmente
presentes em sua regeneração, e cada um faz a sua parte nesta
regeneração. Assim, se Deus deseja que todos os segredos sejam
descortinados ao Homem, o que há de permanecer oculto a nós?
Tão logo olharmos Deus dentro de nós, veremos nele todas as
regiões.
Toda
infeção interna deve ser exaurida.
Deus,
sem dúvida, conhece nosso estado interior; Ele conhece todas as substâncias
corrosivas que acumulamos diariamente, ainda assim, Ele permite que continuemos
e ainda nos leva a determinadas situações para que compreendamos
este nosso estado interior de forma consciente, e nos faz trazer à
superfície todas estas substâncias injuriosas, mostrando-as
externamente.
Permitindo, desta forma, que estas falsas influências terminem seu
ciclo completo, a glória divina brilha, sem dúvida, com todo
esplendor; pois este círculo de falsas influências pode seguir
como quiser, ele termina em nada; e o eleito que suportou a prova até
o máximo, é inflexível a ele e muito mais na sua guarda
contra o inimigo.
É muito mais para nossa purificação, do que para Sua
própria glória que Deus nos permite passar por estes estágios
dolorosos e humilhantes; ou seja, esta hipocrisia que reina aqui embaixo
um dia deve acabar.
Onde
há maldade, a hipocrisia reina.
Se
o homem tivesse cuidado com sua conduta, ele poderia ter produzido o mesmo
resultado, ou tirado de si mesmo uma outra conduta; isto é, quando
ele se sentiu atraído pelo que era falso, deveria ter tentado não
esquecer que a verdade não deixou de existir; seria, dizer a Deus,
no mais íntimo de seu ser, que ainda há muito mais a ser feito
para o aperfeiçoamento da Natureza, da alma humana e para o avanço
da obra Divina da Sabedoria. Isto seria mostrar a Ele o quão urgente
era aquela obra, e pedir para ser empregado nela, e não ter ficado
inativo, ou desistido de qualquer outra obra, até que esta tivesse
sido terminada.
É certo que o Homem seria enormemente preservado desta maneira. Mas
esta prudência salutar só pode ser o fruto de um longo e habitual
trabalho; ela só pode ser, por assim dizer, a recompensa da sabedoria.
O Homem deve primeiro expelir de si toda maldade e deformidade; pois, enquanto
houver um só vestígio de maldade, a hipocrisia estará
por perto e sempre pronta a cobrir esta deformidade: porque, para ser preservado
de qualquer hipocrisia, há senão um meio que é a abstenção
da maldade.
Por outro lado, ao abster-se da maldade, o homem facilita o desenvolvimento
do óleo santo dentro dele. Quando isto ocorre, o óleo santo
dentro de nós atrai o fogo, e não pode deixar de se inflamar.
Neste instante, todas as nossas condutas são iluminadas, não
havendo mais lugar para a hipocrisia.
Os
diferentes infernos.
Infelizmente
é verdadeiro afirmar que o Homem pode, por atos impróprios
e falsas contemplações, acender em si um fogo prejudicial
tanto ao próprio Homem quanto a todas as regiões em que terá
que exercer o seu ministério; pois tudo é poder, e é
a força respectiva dos diferentes poderes que fabrica todo o perigo,
sofrimento e a assustadora oposição de todas as criaturas
que combatem umas as outras aqui neste plano.
Primeiro, quando deixamos de viver nossa verdadeira vida, ou seja, tão
logo deixamos de nos apoiar na região fundamental de nosso pacto
primitivo, aprendemos que há uma espécie de inferno passivo,
que pode, contudo, ser chamado de inferno divino, já que, para nós,
é como o esforço da vida real contra a inércia ou o
vazio onde descendemos através da indolência.
Mas se formos além, e ao invés de repousarmos na região
de nosso pacto primitivo, nos apoiarmos ou nos unirmos às regiões
desordenadas ou viciosas, rapidamente chegaremos a um inferno mais ativo,
que possui dois níveis: em um destes níveis, devemos ordenar
todas aquelas paixões que nos liga mais ou menos ao serviço
de nosso inimigo; o outro é a exata porção ou estado
do diabo propriamente dito, e aqueles que se identificam com ele.
O primeiro nível deste inferno ativo envolve, por assim dizer, todo
o gênero humano, e, neste ponto de vista, talvez não há
um único homem que não realize, diariamente, a obra do diabo,
e quem sabe aquela de muitos diabos ao mesmo tempo; apesar que, neste nível,
os Homens realizam tal obra sem ao menos suspeitarem disto, sem conhecimento.
Isto porque ela não mostra a menor correspondência por parte
do demônio, a ponto de manter todos os Homens a seu serviço,
e de fazê-los executar tudo o que é possível, e ainda
ao fingir tão bem e ao se manter atrás das cortinas, ele faz
os homens agirem ao seu bel prazer, e os fazem até mesmo acreditarem
que ele não existe.
Este inimigo, sendo espírito, dirige todo pensamento a um ponto fora
da mente do homem, ao levá-lo de ilusão a ilusão, pois
ele realmente trabalha o Homem no espírito, enquanto parece estar
agindo somente na ordem externa das coisas; isto porque o Homem, que é
espírito, apresenta naturalmente o caráter de sua própria
existência ilimitada a tudo o que ele aborda.
O inimigo, a quem o Homem serve cegamente, o conduz por este caminho até
o túmulo, com projeções e paixões sem fim, ludibriando-o
tanto na sua existência transitória como em sua real existência;
está é também a razão pela qual a Sabedoria
Eterna com, a qual devemos sempre residir, é obrigada a se afastar
da morada infectada do Homem.
Como, de fato, a Sabedoria Eterna poderia habitar entre os Homens? vendo
como servem um mestre que não conhecem, e em quem não acreditam;
e vendo que, em sua cegueira, julgam uns aos outros, corrompem uns aos outros,
roubam uns aos outros, lutam e matam uns aos outros. Todos estes movimentos
turbulentos A enchem de medo, Ela que fora ordenada a observar e habitar
exclusivamente a paz, a ordem e a harmonia.
No segundo nível deste inferno ativo, os homens também servem
o diabo, mas não inconscientemente, como antes; eles não mais
estão na dúvida ou na ignorância de sua existência;
eles participam, consciente e ativamente, em suas iniquidades. Felizmente,
esta classe de traidores é a minoria, de outro modo o mundo teria
afundado sob o peso das abominações do inimigo.
O divino, ou o inferno passivo, compreende toda região de sofrimento,
exceto aquela da iniqüidade. Ali, portanto, a angústia sucede
a angústia, como as ondas do mar.
Mas, ali também, uma onda engole a outra e nenhuma tem domínio
completo. Por esta razão, a esperança ainda é, de tempos
em tempos conhecida neste inferno.
No primeiro nível do inferno ativo, não há, em princípio,
espiritualmente, nem angústia nem esperança; não há
nada além de ilusão; mas sob esta ilusão está
o abismo, que rapidamente faz a veemência de seu remorso amargo ser
sentido.
No segundo nível deste inferno ativo, não há nada além
da iniqüidade, não há nem esperança, nem ilusão;
ali, a unidade do mal é inquebrável.
Embora permanecer nos caminhos dolorosos do inferno divino seja algo desagradável,
está à mercê da Sabedoria Divina permitir que os homens
que se lançaram ali, permaneçam por pouco tempo. Se eles não
fossem mantidos ali, nunca saberiam ou esqueceriam que mesmo lá os
poderes ainda são divinos. Sim, este inferno se torna uma das fontes
de nossa salvação, nos ensinando a tremer diante dos poderes
de Deus, e regozijar, ainda mais, ao compará-los com o Seu amor.
A Sabedoria Suprema permite também que nada sobre este inferno, e
nem sobre os dois níveis do inferno ativo, seja escondido do homem
de desejo; visto que ele deve ser instruído em cada ramo conectado
a seu ministério, já que ele, posteriormente terá que
dar assistência a outros; mesmo àqueles que, apesar de ainda
viverem, possam ter se afundado ou se naturalizado neste abismo ou inferno
ativo.
Pois a existência destes membros ambulantes do demônio é
um dos assustadores delírios que o trabalhador do Senhor deve conhecer;
esta é a parte mais dolorosa de seu ministério. Mas para o
profeta ser investido, ele não deve, como Ezequiel, engolir o livro
escrito por dentro e por fora;? isto significa que ele deve ser preenchido
com lamentações abundantes.
Sim, Deus permite até mesmo que Seus profetas sejam testados pelo
Maléfico, para que aprendam a sentir por seus irmãos no cativeiro
e redobrem seu ardor pela promulgação da lei.
Assim, para o trabalhador do senhor cumprir seu destino, que o conclama
a ser espiritualmente útil a seus semelhantes, acima de todas as
coisas é necessário abster-se de cair no inferno ativo; mas,
além disso, é preciso trabalhar para se livrar do inferno
passivo ou divino, se é que ele o tem abordado, descuidadamente;
pois, enquanto estiver lá, não pode ser empregado na obra
de modo algum.
É somente na medida em que ele se livra deste inferno passivo que
as riquezas do pacto divino entram nele, podendo então vivificar
outros homens, vivos e mortos. Com isto, o homem se torna não só
o órgão de louvor (admiração), mas, até
mesmo, de algum modo, seu objeto, quando manifesta aquelas maravilhas inexauríveis
com as quais seu coração pode se expandir abundantemente;
as quais, de fato, podem sair dele, assim como vemos toda espécie
de maravilhas brilhantes que se desprendem ou surgem da luz no instante
em que se acendem de sua fonte de fogo.
O
Homem pode atingir diferentes eleições.
Deixe
este homem ter coragem e perseverança e não se limitar a uma
mera eleição de purificação; deixe-o aspirar
a obter a eleição da vocação e do ensinamento;
ou ainda a eleição da intenção e da vontade,
que por sua vez não é tudo; pois o Homem ainda não
é nada sem ser conduzido na eleição da ação
e da operação; e mesmo esta última eleição
ainda não pode ser levada em conta até que se torne como o
ETERNO.
Pois o ETERNO é a expressão que tem caracterizado Aquele que
É, uma vez que O descreve na sua existência.
A
ação de Deus, um foco vivificante no Homem.
Ora,
Sua existência está mais longe de nós do que Sua ação;
e Sua ação é o que serve como Seu intermediário.
E nós não somos nada, caímos na anulação
se a ação e o movimento divino não são constantes
e universais em nós.
Não vemos nosso sangue dissolver, purificar e sutilizar continuamente
toda a matéria bruta com a qual o saturamos? e que sem isto o peso
desta matéria bruta e sua corrupção colocariam um fim
em nossa existência? Não vemos que se a natureza não
tivesse, em si, um princípio vivificante que executasse por ela as
funções de nosso sangue, ela já teria sucumbido às
forças corrosivas que agem contra ela e a contaminam?
Portanto, em nossa região espiritual, deve haver um Foco vivificante
ativo para decompor e retificar, sem cessar, todas as substâncias
falsas e venenosas com as quais somos preenchidos diariamente, senão
por nós mesmos, pelo contato com nossos semelhantes. Se assim não
fosse, estaríamos todos na completa morte espiritual.
Este foco é aquele princípio universal da vida eterna e real
no Homem, que renova continuamente o pacto divino em nós; Ele nunca
nos deixa órfãos se aceitamos Seus presentes: mas é
também aquele poder vivificante que negligenciamos e ignoramos a
cada minuto, embora ele nunca deixe de estar bem perto de nós. E
se poderia dizer de nós o que foi dito em São João
(XIII.18): "Aquele que come o meu pão, levantou contra mim o
seu calcanhar".
O
Foco da ação cria espelhos da Sabedoria ao nosso redor.
A
nossa junção com esta ação vital e vivificante
é uma necessidade fundamental de nosso ser; mais que isto, só
ela pode satisfazer esta necessidade urgente; é ela também
que mais contribui para nossas verdadeiras satisfações ao
nos colocar em condições de fazer com que tanta sabedoria
desabroche à nossa volta, a qual reflete o fruto de nossas obras;
e, assim como a Sabedoria Eterna faz com Deus, ela nos dá a felicidade
de ver que são boas.
Pois todos os seres divinos e espirituais necessitam destas sabedorias,
para servirem como espelhos aos seus próprios espíritos, assim
como eles mesmos servem ao Espírito da Divindade; e somente a classe
material animal não tem necessidade destes espelhos, pois esta classe
não tem obras de sabedoria a produzir.
O poder da ação de Deus sobre nossos irmãos e todas
as coisas.
Ora, o poder da ação vivificante divina em nós se estende
a nada menos do que nos fazer abrir o centro mais íntimo das almas
de nossos irmãos, passados, presentes e futuros, a fim de que todos
possam assinar juntos o pacto divino; ele nos capacita a abrir o centro
interior de todos os tesouros naturais e espirituais, dissimilados por todas
as regiões; ele restitui a nós aquilo que é, ou seja,
a ação de todas as coisas. Esta é a razão pela
qual há tantos homens desprovidos de inteligência neste mundo;
pois não há nenhum que realmente trabalhe para se tornar a
ação das coisas: "Não há nenhum que faz
o bem; não, nenhum".
Como
podemos atingir esta ação: através do Espírito,
e da voz espiritual do Homem.
É
pela invasão do Espírito em nós, e da ardente aspiração
de nosso próprio espírito, que podemos chegar a ser a ação
das coisas; porque através desta aspiração livramos
cada princípio de seu revestimento, e damo-lhe a possibilidade de
manifestar suas propriedades; uma aspiração que causa em nós,
o que a respiração causa nos animais, ou o ar causa na Natureza.
Estritamente falando, podemos dizer que todas as coisas em todas as minúcias
de cada ordem das coisas são feitas pelo espírito e pelo ar;
na natureza elementar, só o ar está livre e libera todas as
coisas, assim como na natureza espiritual, aqui embaixo, só o espírito
do Homem tem este duplo privilégio; é justamente pelo ar estar
livre, que a voz do Homem Espírito possui tais direitos extensivos
a todas as regiões.
Pois, em seus concertos musicais, onde o homem tenta desenvolver todas as
maravilhas da música, os acompanhamentos representam a atuação
das correspondências, natural, espiritual, celestial e infernal à
voz do Homem, que tem o direito da mudar todas as regiões à
vontade, e fazê-las tomar parte de seus relacionamentos.
Magia
Divina, o princípio desta ação.
Mas
como o Espírito do Homem penetra até o Centro Universal, não
devemos nos surpreender, ao vermos os homens tão fascinados e levados
por seus respectivos dons, talentos e ocupações, a ponto de
se devotarem a si próprios. Tudo isto aponta a um único termo,
o de que a Magia Divina envolve, preenche e penetra todas as coisas.
Se os homens dirigissem suas aspirações, nunca com tão
pouca constância, a qualquer das direções onde esta
magia pode, provavelmente, ser encontrada (a propósito, a fecundidade
das fontes divinas esta quase que em todo lugar, tanto na ordem espiritual
como na ordem natural), não estariam longe de chegar a uma destas
origens, das quais todas possuem a mesma magia como princípio, e
eles rapidamente se intoxicariam com deleites, que embora venham de diferentes
canais, todos têm o mesmo fundamento em Deus.
Os
homens deveriam se emanar em satisfação com tudo o que tem
senão uma base.
Desta
forma, os homens seriam todos um em seu entusiasmo, se olhassem para a unidade
desta base e termo de todas as suas satisfações, o que nada
mais é do que o movimento da Vida e da Luz eterna dentro deles, e
assim, baniriam, rapidamente, todas aquelas rivalidades, ciúmes e
preferências, que se reportam meramente a forma ou modo como estes
prazeres os afetam.
Os eruditos têm procurado submeter as Belas Artes a este princípio,
sem saberem; e ao mesmo princípio devem ser submetidas todas as ciências,
descobertas, invenções e segredos, assim como todas as sublimidades
dos homens de gênio, e todo o charme e o divertimento que comunicam
a nós, aqui neste plano; pois, se o Espírito do Senhor preenche
a Terra, não podemos nos movimentar sem entrar em contato com ele.
Ora, não extraímos a felicidade até mesmo da menor
aproximação do Espírito do Senhor? E, como há
senão um Espírito do Senhor, não deve repousar no mesmo
fundamento todas as nossas bem-aventuranças, e serem radicalmente
uma só?
A
respiração ou o Espírito do inimigo.
O
inimigo também possui uma certa aspiração de seu próprio
espírito, uma respiração pela qual, ao invés
de nos fazer triunfar, tenta nos submeter a seu falso domínio. Mas
a respiração do inimigo, seu espírito, em resumo, não
está livre como aquela do Homem. Portanto, enquanto somos vigilantes,
ele não pode fazer nada, tanto na ordem espiritual, como na ordem
da Natureza, pois não tem acesso ao ar, que, embora livre em si,
esta fechado para ele.
Assim, os falsos e figurativos meios que ele emprega, podem representar
projetos e princípios a serem exibidos a nós; mas não
nos podem ser dados já que o inimigo não os possuem; ele não
pode realizá-los, pois só tem poder para destruir e não
para gerar.
O inimigo, desta forma, prova que seu crime primitivo foi o de ter desejado
dominar a raiz das coisas e o pensamento de Deus; já que deseja,
continuamente, dominar a alma do homem, que é o pensamento de Deus.
Oh, monstro! repleto de sangue, como pudestes tornar o inimigo do pensamento
de Deus? Mas, tu, Oh, Homem! não eras também um pensamento
do Senhor? E mesmo assim pecastes! Aqui o Homem de Desejo exclama: Oh, arrependimento!
Deixe-me ser inundado pelas lágrimas; cubra-me, esconda-me da face
do Senhor, até que eu possa ver o Homem, o pensamento do Senhor,
limpo de suas máculas.
Deus,
o purificador de Seu pensamento, a alma humana.
Nossa
mente (espírito) está selada por sete selos; e os homens ao
influenciarem uns aos outros, usam, de fato, as chaves, reciprocamente,
com as quais podem abrir os selos uns dos outros: mas, para nosso pensamento
ser puro, o próprio Deus deve purificá-lo, uma vez que só
podemos viver por causa de nossa matriz.
E, quando Deus admite um homem na primeira posição, do Ministério
Espiritual do Homem, é para transformá-lo num agente perspicaz
e vivificante, cuja ação deverá ser universal e permanente;
assim, os caminhos de Deus não são manifestados para fins
levianos e transitórios. Portanto todo o Universo deveria ser o mesmo
que nada aos nossos olhos, em termos de valor, se comparado com uma eleição
como esta, se é que fôssemos felizes o bastante para que ela
nos fosse oferecida; já que, a partir de então, poderíamos
trabalhar com sucesso para o alívio da alma humana.
As
aflições terrestres.
Tudo
é Espírito na obra divina. Portanto as aflições
deste mundo, guerras, catástrofes da natureza, que não são
enviadas diretamente de Deus, não ocupam Sua atenção
como a preocupação com as almas; e quando os homens massacram
uns aos outros, ou seus corpos são vítimas de grandes calamidades,
Ele sente essencialmente os males que suas almas sofrem; pois a alma é
Seu pensamento, ela lhe é querida, e requer Seu zelo e ação.
As aflições servem somente para amadurecer o Homem, o Homem
Espírito; em resumo, é dito a seus ministros e eleitos: todos
os fios de cabelos de suas cabeças foram numerados, e que nem um
deve cair ao chão sem Sua permissão.
Ele deixa aqueles que estão nas regiões dos poderes espirituais
inferiores, serem comandados por aqueles poderes mais baixos.
Aqueles que estão ainda mais baixo, nas regiões da matéria
pura, caem sob a classe dos bois; e, de acordo com Paulo (1 Cor. IX.9),
Deus não se preocupa com os bois; embora o Espírito se preocupasse
com eles no tempo dos Levitas, e com referência aos Judeus, que foram
os apóstolos figurativos, mas não com referência a outras
nações que buscaram os espíritos da abominação
em seus sacrifícios.
Acrescentaremos ainda que Deus normalmente não faz nenhuma mudança
no doloroso e desastroso curso das coisas, mesmo para Seus eleitos, aqui
embaixo, mas apenas lhes dá força para resistirem: o que não
impede Sua preocupação com suas almas e espíritos,
em todos os casos, e sob qualquer circunstância, uma preocupação
que nossas fracas compreensões não podem, conceber, e nem
nossas línguas expressar, o objetivo é que Ele nos preserve
somente dos verdadeiros perigos que nos rodeiam e que devem, unicamente,
ser temidos, tão grande o Seu desejo de nos ver realizar o convênio
divino presente em nossa origem, como poderemos observar daqui a pouco.
O
Homem na infância.
Faço
aqui uma pausa para considerar o Homem numa idade em que ele ainda não
apresenta nenhuma daquelas lamentáveis características que
temos observado, ou qualquer daqueles raios luminosos que temos anunciado
como sendo o recipiente e o órgão.
Quando contemplamos as alegrias simples das crianças, como é
possível imaginar os extremos da virtude e do vício dos quais
o homem adulto é capaz, e que podem estar oculto e encerrados neste
invólucro infantil?
Esta criatura, carregada como uma boneca, que explode em risos diante de
uma bolha de ar, ou que cai na aflição quando perde um brinquedo;
este ser pode, repito, algum dia estar tão desenvolvido a ponto de
elevar seus pensamentos ao céu ou de olhar o abismo e compreender
a correta execução dos decretos supremos sobre o secto dos
fracos; ela pode se tornar um exemplo vivo do modelo divino para o mundo;
ela pode exibir a grande penetração na ciência, e o
maior heroísmo na virtude; em resumo, ela pode ser, de todas as maneiras,
um modelo por excelência.
Mas esta mesma criatura pode vir a ser um modelo do contrário, e
imergir na ignorância e no crime; ela pode se tornar a inimiga do
Princípio que a gerou, o foco ativo da depravação e
de toda abominação.
O contraste é tão dilacerante que é impossível
observar, sem dor, que o pensamento destas ternas e inocentes criaturas
podem, sobre este interessante exterior, conter as sementes de todas as
doenças, e terminar numa vergonhosa degradação do coração,
da alma e do espírito; seus frágeis galhos podem nutrir uma
seiva pestilenta, a explosão daquilo que será somente a mais
mortal, porque está atrasada e adiada para uma outra ocasião;
ou seja, talvez estas criaturas contenham em suas essências um suco,
doce e benigno no presente, mas que um dia pode se transformar no mais amargo
e corrosivo dos venenos.
Como se pode imaginar que a ingenuidade desta criança, para quem
o menor doce proporciona uma inocente alegria, possa ser transformada, algum
dia, na ferocidade de um tigre; que ela possa se tornar uma perseguidora
de seus semelhantes, e ser a vítima e o instrumento daquele inimigo,
de quem somos todos escravos, como já afirmei, aqui neste plano.
A
esperança na Promessa Divina.
Mas
o que pode amenizar, se não remover as angústias do Homem
de Desejo, desta lamentável perspectiva, e dar-lhe consolo e esperança
para o futuro, é que o pacto divino tem sido também rescrito
nas essências desta planta tenra, e traz consigo um remédio
específico que não só pode reprimir os germens desordenados,
que talvez já a tenha infectado, mas que provoca o florescimento
dos germens divinos, dos quais também é depositária
por direito de origem.
Sim, não podemos venerar demasiadamente a Sabedoria Suprema, quando
vemos a suave progressão com a qual Ela procura nos guiar continuamente
ao ponto mais alto, pois é para isto que recebemos vida e existência;
e se os olhos inteligentes, amantes do que é bom, observassem cuidadosamente
a infância do homem e procurassem, com os altos poderes, trazer os
tesouros com os quais o pacto divino tem enriquecido a planta jovem, até
a maturidade, não haveria nenhuma espécie de êxtase
ou deleite que não se esperasse, em qualquer estágio de sua
existência.
Todos estes passos do Homem poderiam ser pacíficos, todos os seus
movimentos conectados, todos os seus níveis de progresso poderiam
ser unidos insensivelmente uns aos outros, e a satisfação
divina acompanharia todos, pois esta satisfação seria o objetivo
do progresso, assim como foi o princípio; em poucas palavras, o Homem
chegaria, quase que sem dor, problemas ou esforço, a uma alta perspicácia,
inteligência, sabedoria, virtude e poder, da qual parece estar tão
longe, em sua tenra idade, a ponto de não acreditarmos que isto possa
ser possível algum dia.
A
instrução do jovem.
No
entanto, seria bom ensinar a esta jovem planta uma lição muito
útil e de um caráter sombrio. Por Deus! a Sabedoria, que deve,
trazer de si mesma tanta satisfação a nós, é
obrigada a se fechar para nós, com trajes de luto e tristeza; nossa
sabedoria deve ser agora o sofrimento, ao invés do júbilo,
pois o crime dividiu todas as coisas e fez duas sabedorias. A segunda, ou
a posterior destas sabedorias, não é vida, mas concentra a
vida em nós, e nos prepara para receber vida, ou a primeira sabedoria,
a fonte de toda satisfação; é esta sublime primeira
Sabedoria que cria e mantém todas as coisas. É por esta razão
que ela é sempre jovem.
Esta jovem planta também deveria ser ensinada, na medida em que cresce,
que se a Sabedoria Suprema não pode nos permitir, neste plano, olhar
a Jerusalém celeste propriamente dita, tal como existia primeiramente
na alma do Homem, Ela nos permite, ao menos que observemos, algumas vezes,
seus planos, o que basta para nos preencher com o mais doce consolo.
Seria aconselhável ensiná-lo e fazê-lo se convencer,
através de sua própria experiência, que a oração
deve ser uma companheira espiritual contínua; pois devemos orar somente
com Deus, e nossa oração não merece nem mesmo este
nome, enquanto Deus não orar em nós, pois só assim
faremos nossas orações no reino de Deus.
Seria bom ensiná-lo que os médicos supostamente conhecem a
natureza e propriedades da medicina, e que têm apurado todas as virtudes
de seus remédios, sendo capazes de curar qualquer doença;
que esta simples observação pode esclarecê-lo a respeito
do destino original do Homem, o que deve, sem dúvida, capacitá-lo
a curar todas as desordens, e conhecer cada substância da Natureza,
pois todas estão sujeitas ao Homem. É preciso depreender disto
quão vergonhosa é a degradação a que o Homem
tem se submetido.
Seria bom dizer-lhe que o homem da verdade deve ser separado dos Homens
da Torrente; que ele teria muito a perder ao misturar-se com eles e, acima
de tudo, que aquilo que coloca em risco não lhe pertence, mas ao
seu mestre.
Seria bom alertá-lo que não há perigo maior para um
homem em sua guarda, entre homens que estão perdidos, do que haveria
entre os espíritos maus; porque agora, os homens combinam dois poderes,
dos quais abusam à vontade, ao encobrirem um sob o outro, enquanto
que o diabo só possui um; além disso, ele não tem forma
de si mesmo, e é obrigado a criar uma a cada instante, para servir
como receptáculo de seu poder; mas o homem carrega consigo, em todo
lugar, uma forma que é, ao mesmo tempo, o receptáculo e o
instrumento de seu duplo poder.
Sobre este assunto seria bom dizer-lhe que há muitos espíritos
errantes que procuram revestir-se de nós, enquanto estamos quase
nus, apesar de nossos corpos, e que o Homem não tem nada para fazer
aqui embaixo senão buscar revestir-se com seu primeiro corpo, no
qual a Divindade pode habitar.
Seria bom dizer-lhe que a castidade encerra, ao mesmo tempo, a pureza do
corpo, a Justiça do espírito, o fervor do coração
e a atividade da alma e do amor; pois ela abarca, geralmente, todas as virtudes
e é a ausência de qualquer vício.
Seria bom dizer-lhe que as virtudes nós cultivamos e a inteligência
nós adquirimos, há tantas lâmpadas que acendemos à
nossa volta que se queimam quando dormimos.
Seria bom dizer-lhe que quase todas as criaturas na Natureza são
uma espécie de humilhação para o Homem; pois são
ativas, vigilantes, ordenadas, e só o Homem é passivo, indiferente,
covarde e em alguns aspectos uma monstruosidade.
Seria bom dizer-lhe que, embora Deus governe todas as coisas sensíveis,
Ele está tão distante delas que nossa natureza terrestre e
nossa parte material não pode compreender como podemos tornar Seu
reino conhecido entre os Gentios, já que nossas palavras espirituais
são ininteligíveis até mesmo aos nossos próprios
sentidos. E que devemos estar completamente renovados e exaltados de nossos
sentidos e de todas as coisas figurativas, antes de nos tornarmos as testemunhas
espirituais do Verbo, e entramos no Ministério Espiritual do Homem.
Seria bom dizer-lhe que os rios fluem, de seu princípio ao seu destino,
sem saberem quando atravessam opulentas cidades, ou pobres aldeias, áridos
desertos ou terras férteis embelezadas pela Natureza e pelo esforço
do homem; e que, tal deve ser o ardor do Homem de Desejo, que ele deve,
de toda maneira, tender ao fim que lhe esperava, sem indagar o que há
nas margens de sua rota terrestre.
Seria bom dizer-lhe que quando um Homem de Desejo trabalha em si mesmo,
ele realmente trabalha por todos os homens, uma vez que ele se empenha,
e desta forma contribui, em mostrar-lhes a imagem e semelhança de
Deus na pureza; e conhecer esta imagem e semelhança é tudo
o que querem os homens.
Seria bom dizer-lhe que quando os Deístas reconhecem a existência
de um Ser Supremo, e ainda assim não permitem que Ele encarregue-se
do governo deste mundo, e nem dos homens que nele habitam, pode-se dizer
que o erro vem do fato de terem se tornado materiais e selvagens; que, de
fato, Deus não se intromete com a matéria e muito menos com
os selvagens, mas os tem governado através de Seus poderes; que,
desta forma, os Deístas enfraquecem suas almas, que Deus não
mais Se aproxima deles para guiá-los, pois Ele não pode se
satisfazer com nada além de Sua própria imagem e nem Se preocupa
com nada mais, é por isto que afirmam que Deus não se envolve
com o governo da humanidade; pois, de fato, no estado de degradação
e trevas em que os Deístas permitiram-se afundar, Deus não
mais se envolve com eles.
Seria bom dizer-lhe que a prova de que verdadeiros pensamentos não
vêm de nós mesmos é que se os criássemos, não
mais seríamos dependentes de Deus; que nem mesmo os falsos pensamentos
vêm de nós; mas que somos meramente colocados entre os dois
para distinguirmos entre suas origens divina e infernal; que os homens não
podem comunicar nada entre eles, senão ao tornarem seus pensamentos
perceptíveis através das palavras ou sinais equivalentes;
como conseqüência todo pensamento que chega até nós
não vem do que é externamente sensível, apesar de sua
comunicação e expressão, embora nem sempre os ouvimos
materialmente; os bebês são um exemplo disto: não podemos
negar que possuem percepção, mas seria em vão tentar
exprimir nossos pensamentos a eles através de palavras, sabemos que
não ouvirão os sons; numa idade um pouco mais avançada
as crianças distinguem os sons, mas não compreendem os significados;
por fim, num estado mais perfeito elas tanto escutam os sons como compreendem
seus significados, recebendo, assim, a comunicação interna
de nossos pensamentos; de fato, agimos diante dos bebês ao invés
de falarmos com eles, mas certamente eles não enxergam e nem compreendem;
em princípio, eles só se afetam através dos sentidos
mais grosseiros, o tato, o cheiro, o sabor; a este incipiente estado e idade
segue-se o uso de sinais e da audição; por fim, vem a fala,
que, contudo, está sujeita a uma progressão bastante lenta,
pois seu início são os gritos, e isto é uma lição
para que o Homem se torne humilde.
Seria bom dizer-lhe que os grandes pensamentos que Deus freqüentemente
nos envia durante o doloroso curso de nossa expiação, são
inúmeras testemunhas que podemos trazer diante Dele quando oramos:
e nada lhe dará maior alegria do que aquele pensamento de que devemos
fazer uso deles, e lembrá-lo de Suas promessas e consolos.
Seria bom dizer-lhe que assim como Deus estava só quando fez o Homem,
da mesma forma, estará só ao instrui-lo e guiá-lo em
Suas profundezas divinas.
Seria bom alertá-lo sobre a grande prudência que deveria ter
na administração das riquezas divinas que possam ser confiadas
a ele pela generosidade Suprema, uma vez que não caminhará
muito longe na senda da Verdade antes de sentir que há certas coisas
que não podem ser ditas, mesmo ao Espírito, já que
são mais elevados do que o Espírito.
Seria bom dizer-lhe que há uma linha e uma ordem de instrução,
da qual nunca deve se desviar ao tentar direcionar a compreensão
de seus semelhantes, que é a seguinte:
nosso pensamento, um espelho divino;
existência de um Ser superior, provada por este espelho quando está
puro e limpo;
nossas privações, provam que há uma Justiça;
esta Justiça prova que tem havido uma corrupção livre
e voluntária (alteração);
Amor Supremo, despertar;
leis de geração, dadas sob forma de diferentes pactos (alianças);
tempo de retorno;
vida espiritual;
Luz;
fala (palavra);
união;
entrada em repouso.
Tal deveria ser o curso de ensino, se o professor não enganar, nem
adiar ou extraviar suas disciplinas.
Seria bom dizer-lhe que não se faça a ilusão de que
pode sempre ter sabedoria em sua memória, ou adquiri-la pelo mero
cultivo de sua inteligência; a sabedoria é como o amor materno,
que só pode ser sentido após as fadigas da gestação
e as dores do parto.
Finalmente, seria bom dizer-lhe que não é suficiente para
um homem adquirir a luz da sabedoria; ele deve mantê-la quando alcançá-la,
o que é incomparavelmente mais difícil.
A
queda.
Quando
caímos de uma certa altura, ficamos tão atordoados que perdemos
a consciência; é somente no instante do choque, que o agudo
sentido da dor toma conta de nós, depois normalmente ficamos sem
movimentos e insensíveis. Tal foi a história da alma humana
quando pecou: ela perdeu a vista da região gloriosa de onde caiu,
e o Homem permaneceu morto, em sua totalidade, e privado do uso de qualquer
faculdade de seu ser.
O
tratamento.
Mas
o processo curativo de tratamento também foi similar à nossa
prática humana. Da mesma forma que quando o homem sofre um grave
acidente, o médico o sangra profundamente, para prevenir inflamações,
assim, após a terrível queda da raça humana, a Sabedoria
Divina tirou do Homem quase que todo o seu sangue, ou seja, sua força
e seus poderes; de outra forma, este sangue, não encontrando mais
os órgãos em condição de cooperar em sua ação,
os teria destruído completamente.
É certo que esta precaução indispensável por
parte do médico, pode reduzir a vida futura do paciente, que talvez
pudesse ter sido maior. Pela mesma razão, Deus tem encurtado nossos
dias, como encurta a duração do Mundo, em favor daqueles chamados
de eleitos, sem os quais nenhum homem poderia ser salvo.
Conforme o regime médico, líquidos espirituais também
são ministrados para nos reviver; após isto, ungüentos
curativos são aplicados; e, finalmente, alimento substancial nos
é permitido para restaurar nossas forças.
Quando, na branda efusão do Amor Supremo, os primeiros tratamentos
foram aplicados à alma humana, ela recuperou seu movimento, o que
a possibilitou progredir no caminho da instrução através
do movimento que rege o universo; pois estes dois movimentos deveriam ser
coordenados. Nós, de fato, buscamos, a cada dia, sintonizar nossos
pensamentos com tudo o que se move no universo; este foi um favor especial
à alma humana, que proporcionou meios para que pudesse contemplar
a verdade nas imagens do mundo, depois de ser banida da realidade.