O 
      Homem deve ser a continuação ou o recomeço de Deus.
       
O 
      Homem é o ser encarregado de continuar a Deus, onde Ele não 
      é conhecido por si mesmo: não em sua ordem divina fundamental; 
      pois, ali, Ele executa sua geração eterna e secreta. O homem 
      continua a Deus nas manifestações e na ordem das emanações, 
      pois ali Deus se faz conhecido somente através de suas imagens e 
      representantes. 
      
      O Homem continua a Deus, ou, em outras palavras, o recomeça, como 
      um embrião ou um germe recomeça uma árvore, ao nascer 
      imediatamente daquela árvore, sem agente intermediário. 
      
      Um recomeça o Outro como um herdeiro recomeça seu antecessor, 
      ou um filho a seu pai, tomando posse de todos os pertences do predecessor 
      ou do pai; de outra forma ele não poderia representá-lo; só 
      há uma diferença, na ordem espiritual, a vida ainda permanece 
      na fonte que a transmite, porque esta fonte é simples; enquanto que, 
      na ordem material, a vida não permanece na fonte que a engendra, 
      pois esta fonte é mista, e não pode engendrar apenas ao dividir 
      a si mesma. Na ordem material, particularmente na vegetação, 
      o fruto, que é a vida ou o germe, e o grão, que é morte, 
      estão intimamente conectados. No grão, a vida está 
      oculta na morte; no fruto, a morte está oculta na vida.
      
O 
      processo de recomeço abolido pela queda.
       
Tenho 
      descrito o Homem até aqui somente em relação ao seu 
      estado original; ao descrevê-lo de acordo com o que tem feito de si 
      mesmo pelo uso falso e criminoso de seus privilégios, este alto privilégio 
      que ele possuía de recomeçar a Deus, desaparece; e somos compelidos 
      a dizer que, desde esta época fatal, Deus tem tido, ao contrário, 
      que recomeçar o Homem; Deus recomeça o Homem diariamente.
      
      Pois, não só no momento de sua queda, Deus foi obrigado a 
      recomeçar o Homem, ou renovar seu contrato divino com ele, mas em 
      todas as épocas, nas quais Ele enviou leis para nossa restauração; 
      épocas que renderam inutilidades pela nossa falta de respeito por 
      seus presentes, e o pequeno fruto que retiramos delas, teve que ser sucedido 
      por outro, sempre mais importante que seu predecessor; mas que, por sua 
      vez, fora igualmente profanado por nós, o que só nos prejudica, 
      ao invés de nos auxiliar; isto requer que o Amor Divino nos recomece 
      novamente.
      
      Se assim não fosse, este universo visível, onde estamos aprisionados, 
      teria sido, há muito tempo, lançado novamente no abismo, fora 
      do alcance do Amor supremo.
      
O 
      Processo de libertação do Homem: do crime, através 
      da lei, para a ação vital.
       
O 
      Homem passou do crime para as trevas. Ao deixar as trevas a Divindade Suprema 
      o fez passar pela Natureza. Ao deixar a Natureza, Ele o fez passar pelo 
      ministério da Lei. Fora do ministério da Lei passou por aquele 
      das orações, ou a Lei da graça que deveria ter restaurado 
      todas as coisas para ele. 
      
      Mas, como o sacerdócio humano tem corrompido esta lei da graça 
      tornando-a vã, ela teve que ser suspensa, por sua vez, e substituída 
      por uma ação vital violenta, assim como a oração, 
      ou a lei da graça havia substituído a lei que fora mal usada 
      pelos judeus; tal é o Espírito de sabedoria e a terna benevolência, 
      com que o Amor Supremo conduz ou admite que aconteça todos estes 
      lamentáveis eventos dos quais o homem terrestre reclamam, esquecendo 
      que seus próprios crimes os produziram, deixando a terra em completa 
      desordem, enquanto que ele nasceu no mundo para pacificar e melhorar todas 
      as coisas.
      
      A Revolução Francesa foi provavelmente designada pela Providência 
      para expurgar, se não suspender, este ministério das orações; 
      uma vez que este, em sua origem, fora designado a suspender o ministério 
      da Lei. Com isto, o povo Francês pode ser considerado o povo da nova 
      Lei, assim como o Hebreu foi o da antiga Lei. Não precisamos nos 
      espantar com tal eleição, apesar de nossos crimes e banditismos. 
      Os judeus eleitos não foram, em seu tempo, melhores do que os Franceses.
      
      Contudo, há uma coincidência ainda pior; o templo de Jerusalém 
      foi destruído e queimado duas vezes, uma por Nabucodonozor, outra 
      por Tito; e aqueles dias em que tais eventos ocorreram, são os mesmos 
      em que a autoridade temporal da França fora arruinado; i. e., o «10 
      de Agosto». "Quando Tito se recuou em Antonia, ele resolveu atacar 
      o Templo, no dia seguinte, 10 de Agosto, com todo o seu exército; 
      eles estavam na véspera daquele dia fatal no qual Deus havia, há 
      muito tempo, condenado este santo lugar a ser queimado, assim como havia 
      sido anteriormente, no mesmo dia, por Nabucodonozor, Rei da Babilônia." 
      (Fl. Josephus, 'Roman ----', LVI. Q XXVI)
      Esta ação vital que, de acordo com todas as aparências, 
      tem que substituir o ministério das orações, irá 
      alcançar ainda senão uma conquista parcial entre os Homens, 
      se comparado com a grande maioria, que não se beneficiará 
      dela; haja vista a propensão ao mal uso de todas as coisas, que o 
      Homem tem exibido desde o princípio. 
      
O 
      processo consumado no último julgamento.
       
Desta 
      forma, Deus será novamente obrigado a recomeçar o Homem através 
      do último julgamento, ou o fim dos tempos; mas como nesta ocasião, 
      todo o círculo terá sido rodado, a obra será consumada 
      sem volta; ou seja, sem o temor de qualquer nova delinqüência 
      por parte do Homem, e conseqüentemente sem que Deus seja mais obrigado 
      a recomeçar o Homem.
      
      Ao contrário, o Homem irá, então, ter recuperado o 
      sublime privilégio de recomeçar Deus, como deveria ter feito 
      desde o princípio.
      
      Contudo, há uma diferença: no princípio o Homem estava 
      somente sob os olhos do pacto (aliança) e ele podia se comportar 
      como quisesse: no final, ele estará na aliança; desta forma, 
      ele não será mais capaz de escolher, pois ele será 
      eternamente um impulso propulsor na corrente divina.
      
A 
      porta da Luz e do Amor no Homem.
       
Em 
      nossa passagem terrestre, e nos vários caminhos espirituais que o 
      Homem pode escolher durante esta passagem, há uma porta particular 
      para cada um de nós, através da qual a Verdade procura entrar; 
      é somente através dela que a Verdade pode chegar até 
      nós. Esta porta é distinta e independente da via principal 
      de nossa origem, pela qual a vida de nossa Raiz desce até nós 
      e nos torna Espírito; pois esta porta principal é comum a 
      todos, e ao Capeta também.
      
      A porta particular, ou a via aludida, tem o objetivo de nos renovar na fonte 
      da vida, e na Luz Eterna do Amor; ela não é oferecida ao Capeta.
      
      Isto possibilita, verdadeiramente, recuperar as fontes da Luz e do Amor; 
      sem elas, passamos nossos dias em vão, muito embora façam 
      parte do verdadeiro conhecimento; até que a fonte da vida encontre 
      esta porta aberta em nós, ela espera do lado de fora.
      
      É só através desta porta que o Homem pode obter sua 
      subsistência; se falharmos em abri-la, permaneceremos completamente 
      destituídos; se a abrirmos, ela nos trará abundante nutrição; 
      se fôssemos sábios não iniciaríamos obra alguma 
      sem havermos pago nosso débito, ou seja, até que tivéssemos 
      aberto esta porta e completado a tarefa que ela induz.
      
      Mas como esta porta também é uma determinação 
      de Deus, para nos introduzir ao ministério espiritual quando já 
      fazemos parte daqueles chamados para a obra, agitações e tempestades 
      podem nos atormentar, a fim de retardar a obra, mas a Fonte da Vida ainda 
      assim irá encontrar esta porta naqueles preparados para serem empregados, 
      e a glória de Deus triunfará neles para sua grande satisfação. 
      
      
Todos 
      devem abrir a porta em si mesmo.
       
Embora 
      Deus abra esta porta naqueles que emprega, aqueles que não são 
      empregados não devem repousar diante de qualquer suposta impossibilidade 
      sob a justificativa de que nenhuma porta se abrirá neles, pois em 
      todos os homens, há uma porta para o desejo e para a justiça; 
      somos todos obrigados a abrir esta porta nós mesmos, o que podemos 
      fazer se perseverarmos.
      
A 
      porta da eleição. 
       
Assim 
      como aquela única a levar o Homem à obra de Deus, esta porta 
      também só pode ser aberta por Deus; mas isto não é 
      prova de nosso avanço, se a primeira permanece fechada pela indolência 
      e pela preguiça. Podemos expulsar os demônios em Seu nome mesmo 
      que Ele não nos conheça.
      
      Há um conflito entre aquilo que deve passar por dentro e por fora 
      de nossa verdadeira porta, tornando muito difícil que qualquer coisa 
      seja adquirida por meios externos. É como uma planta enxertada, onde 
      os sumos estão em conflito com a seiva da árvore onde é 
      transplantada; este conflito dura até que a seiva da árvore 
      tome seu curso natural e arraste os novos sumos consigo. Mas algumas vezes 
      a seiva da planta selvagem é vencedora. 
      
A 
      seiva da Árvore da vida.
       
Qual 
      é a verdadeira seiva que deve levar consigo, em seu curso, todas 
      as coisas? Você que aspira ser admitido no grau dos trabalhadores 
      do Senhor, sabe qual é.
      
      Você sabe que ela deve animar suas próprias essências 
      e que ela flui da eterna Geração Divina.
      
      Você sabe que ela não pode circular em si sem retraçar 
      a própria Geração Divina eterna.
      
      Você sabe que até mesmo a menor parte de seu ser deve ser vivificada 
      por esta seiva.
      
      Você sabe que o poder desta seiva vivifica e rege todas as regiões 
      espirituais, assim como as estrelas, animais, plantas e todos os elementos 
      visíveis ou invisíveis. 
      Você sabe que o que ela faz por todas as coisas, ela tem o direito 
      de fazer pelo homem, se ele não se opusesse. 
      
      Portanto se apresente ao Princípio eterno desta seiva fecundante 
      e diga: "Oh, Autor Supremo de todas as coisas, não permita que 
      tua imagem seja degradada e caia na futilidade. Toda a Natureza experimenta 
      contínua e diretamente os efeitos de tua seiva, e não é, 
      nem por um instante, privada de sua ação vivificante; o Homem 
      não está sujeito à tua imagem por ser menos favorecido 
      que a Natureza e outras criaturas feitas por ti; faça-o tomar parte 
      do mesmo benefício; permita-o ser reconciliado com tua Unidade universal 
      e, a partir de então, como tu, ele jamais se movimentará sem 
      que o universo visível e invisível se movimente com ele; ele 
      não irá se mexer sem estar rodeado de agentes que o tornarão 
      um participante de tua Glória e poder".
      
      Isto, Oh Homem de Desejo, é o objetivo ao qual todos os seus esforços 
      devem tender. Você tem em si a porta pela qual esta seiva deve entrar. 
      Se você compreender isto, como uma ajuda espiritual humana, ou que 
      por força das circunstâncias, todas as outras portas estão 
      fechadas a ti, alegre-se por isto, pois é prova que o Pai Supremo 
      pode, assim, lhe forçar a olhar por esta porta sagrada, onde Ele 
      espera por você, e pela qual Ele lhe dará acesso às 
      maravilhas que lhe são preparadas.
      
      Agora, estas maravilhas envolvem o círculo universal de tudo, que 
      já foi o alicerce de teu império; e uma prova de que todos 
      os poderes, visíveis e invisíveis, estavam presentes na ocasião 
      de seu nascimento primitivo, é que eles estão sensivelmente 
      presentes em sua regeneração, e cada um faz a sua parte nesta 
      regeneração. Assim, se Deus deseja que todos os segredos sejam 
      descortinados ao Homem, o que há de permanecer oculto a nós? 
      Tão logo olharmos Deus dentro de nós, veremos nele todas as 
      regiões.
      
Toda 
      infeção interna deve ser exaurida.
       
Deus, 
      sem dúvida, conhece nosso estado interior; Ele conhece todas as substâncias 
      corrosivas que acumulamos diariamente, ainda assim, Ele permite que continuemos 
      e ainda nos leva a determinadas situações para que compreendamos 
      este nosso estado interior de forma consciente, e nos faz trazer à 
      superfície todas estas substâncias injuriosas, mostrando-as 
      externamente. 
      
      Permitindo, desta forma, que estas falsas influências terminem seu 
      ciclo completo, a glória divina brilha, sem dúvida, com todo 
      esplendor; pois este círculo de falsas influências pode seguir 
      como quiser, ele termina em nada; e o eleito que suportou a prova até 
      o máximo, é inflexível a ele e muito mais na sua guarda 
      contra o inimigo.
      É muito mais para nossa purificação, do que para Sua 
      própria glória que Deus nos permite passar por estes estágios 
      dolorosos e humilhantes; ou seja, esta hipocrisia que reina aqui embaixo 
      um dia deve acabar.
      
Onde 
      há maldade, a hipocrisia reina.
       
Se 
      o homem tivesse cuidado com sua conduta, ele poderia ter produzido o mesmo 
      resultado, ou tirado de si mesmo uma outra conduta; isto é, quando 
      ele se sentiu atraído pelo que era falso, deveria ter tentado não 
      esquecer que a verdade não deixou de existir; seria, dizer a Deus, 
      no mais íntimo de seu ser, que ainda há muito mais a ser feito 
      para o aperfeiçoamento da Natureza, da alma humana e para o avanço 
      da obra Divina da Sabedoria. Isto seria mostrar a Ele o quão urgente 
      era aquela obra, e pedir para ser empregado nela, e não ter ficado 
      inativo, ou desistido de qualquer outra obra, até que esta tivesse 
      sido terminada. 
      
      É certo que o Homem seria enormemente preservado desta maneira. Mas 
      esta prudência salutar só pode ser o fruto de um longo e habitual 
      trabalho; ela só pode ser, por assim dizer, a recompensa da sabedoria. 
      O Homem deve primeiro expelir de si toda maldade e deformidade; pois, enquanto 
      houver um só vestígio de maldade, a hipocrisia estará 
      por perto e sempre pronta a cobrir esta deformidade: porque, para ser preservado 
      de qualquer hipocrisia, há senão um meio que é a abstenção 
      da maldade. 
      
      Por outro lado, ao abster-se da maldade, o homem facilita o desenvolvimento 
      do óleo santo dentro dele. Quando isto ocorre, o óleo santo 
      dentro de nós atrai o fogo, e não pode deixar de se inflamar. 
      Neste instante, todas as nossas condutas são iluminadas, não 
      havendo mais lugar para a hipocrisia.
      
Os 
      diferentes infernos. 
       
Infelizmente 
      é verdadeiro afirmar que o Homem pode, por atos impróprios 
      e falsas contemplações, acender em si um fogo prejudicial 
      tanto ao próprio Homem quanto a todas as regiões em que terá 
      que exercer o seu ministério; pois tudo é poder, e é 
      a força respectiva dos diferentes poderes que fabrica todo o perigo, 
      sofrimento e a assustadora oposição de todas as criaturas 
      que combatem umas as outras aqui neste plano.
      
      Primeiro, quando deixamos de viver nossa verdadeira vida, ou seja, tão 
      logo deixamos de nos apoiar na região fundamental de nosso pacto 
      primitivo, aprendemos que há uma espécie de inferno passivo, 
      que pode, contudo, ser chamado de inferno divino, já que, para nós, 
      é como o esforço da vida real contra a inércia ou o 
      vazio onde descendemos através da indolência. 
      
      Mas se formos além, e ao invés de repousarmos na região 
      de nosso pacto primitivo, nos apoiarmos ou nos unirmos às regiões 
      desordenadas ou viciosas, rapidamente chegaremos a um inferno mais ativo, 
      que possui dois níveis: em um destes níveis, devemos ordenar 
      todas aquelas paixões que nos liga mais ou menos ao serviço 
      de nosso inimigo; o outro é a exata porção ou estado 
      do diabo propriamente dito, e aqueles que se identificam com ele.
      
      O primeiro nível deste inferno ativo envolve, por assim dizer, todo 
      o gênero humano, e, neste ponto de vista, talvez não há 
      um único homem que não realize, diariamente, a obra do diabo, 
      e quem sabe aquela de muitos diabos ao mesmo tempo; apesar que, neste nível, 
      os Homens realizam tal obra sem ao menos suspeitarem disto, sem conhecimento. 
      Isto porque ela não mostra a menor correspondência por parte 
      do demônio, a ponto de manter todos os Homens a seu serviço, 
      e de fazê-los executar tudo o que é possível, e ainda 
      ao fingir tão bem e ao se manter atrás das cortinas, ele faz 
      os homens agirem ao seu bel prazer, e os fazem até mesmo acreditarem 
      que ele não existe.
      
      Este inimigo, sendo espírito, dirige todo pensamento a um ponto fora 
      da mente do homem, ao levá-lo de ilusão a ilusão, pois 
      ele realmente trabalha o Homem no espírito, enquanto parece estar 
      agindo somente na ordem externa das coisas; isto porque o Homem, que é 
      espírito, apresenta naturalmente o caráter de sua própria 
      existência ilimitada a tudo o que ele aborda.
      
      O inimigo, a quem o Homem serve cegamente, o conduz por este caminho até 
      o túmulo, com projeções e paixões sem fim, ludibriando-o 
      tanto na sua existência transitória como em sua real existência; 
      está é também a razão pela qual a Sabedoria 
      Eterna com, a qual devemos sempre residir, é obrigada a se afastar 
      da morada infectada do Homem. 
      
      Como, de fato, a Sabedoria Eterna poderia habitar entre os Homens? vendo 
      como servem um mestre que não conhecem, e em quem não acreditam; 
      e vendo que, em sua cegueira, julgam uns aos outros, corrompem uns aos outros, 
      roubam uns aos outros, lutam e matam uns aos outros. Todos estes movimentos 
      turbulentos A enchem de medo, Ela que fora ordenada a observar e habitar 
      exclusivamente a paz, a ordem e a harmonia.
      
      No segundo nível deste inferno ativo, os homens também servem 
      o diabo, mas não inconscientemente, como antes; eles não mais 
      estão na dúvida ou na ignorância de sua existência; 
      eles participam, consciente e ativamente, em suas iniquidades. Felizmente, 
      esta classe de traidores é a minoria, de outro modo o mundo teria 
      afundado sob o peso das abominações do inimigo.
      
      O divino, ou o inferno passivo, compreende toda região de sofrimento, 
      exceto aquela da iniqüidade. Ali, portanto, a angústia sucede 
      a angústia, como as ondas do mar. 
      
      Mas, ali também, uma onda engole a outra e nenhuma tem domínio 
      completo. Por esta razão, a esperança ainda é, de tempos 
      em tempos conhecida neste inferno.
      
      No primeiro nível do inferno ativo, não há, em princípio, 
      espiritualmente, nem angústia nem esperança; não há 
      nada além de ilusão; mas sob esta ilusão está 
      o abismo, que rapidamente faz a veemência de seu remorso amargo ser 
      sentido.
      
      No segundo nível deste inferno ativo, não há nada além 
      da iniqüidade, não há nem esperança, nem ilusão; 
      ali, a unidade do mal é inquebrável.
      
      Embora permanecer nos caminhos dolorosos do inferno divino seja algo desagradável, 
      está à mercê da Sabedoria Divina permitir que os homens 
      que se lançaram ali, permaneçam por pouco tempo. Se eles não 
      fossem mantidos ali, nunca saberiam ou esqueceriam que mesmo lá os 
      poderes ainda são divinos. Sim, este inferno se torna uma das fontes 
      de nossa salvação, nos ensinando a tremer diante dos poderes 
      de Deus, e regozijar, ainda mais, ao compará-los com o Seu amor.
      
      A Sabedoria Suprema permite também que nada sobre este inferno, e 
      nem sobre os dois níveis do inferno ativo, seja escondido do homem 
      de desejo; visto que ele deve ser instruído em cada ramo conectado 
      a seu ministério, já que ele, posteriormente terá que 
      dar assistência a outros; mesmo àqueles que, apesar de ainda 
      viverem, possam ter se afundado ou se naturalizado neste abismo ou inferno 
      ativo. 
      
      Pois a existência destes membros ambulantes do demônio é 
      um dos assustadores delírios que o trabalhador do Senhor deve conhecer; 
      esta é a parte mais dolorosa de seu ministério. Mas para o 
      profeta ser investido, ele não deve, como Ezequiel, engolir o livro 
      escrito por dentro e por fora;? isto significa que ele deve ser preenchido 
      com lamentações abundantes.
      
      Sim, Deus permite até mesmo que Seus profetas sejam testados pelo 
      Maléfico, para que aprendam a sentir por seus irmãos no cativeiro 
      e redobrem seu ardor pela promulgação da lei.
      
      Assim, para o trabalhador do senhor cumprir seu destino, que o conclama 
      a ser espiritualmente útil a seus semelhantes, acima de todas as 
      coisas é necessário abster-se de cair no inferno ativo; mas, 
      além disso, é preciso trabalhar para se livrar do inferno 
      passivo ou divino, se é que ele o tem abordado, descuidadamente; 
      pois, enquanto estiver lá, não pode ser empregado na obra 
      de modo algum. 
      
      É somente na medida em que ele se livra deste inferno passivo que 
      as riquezas do pacto divino entram nele, podendo então vivificar 
      outros homens, vivos e mortos. Com isto, o homem se torna não só 
      o órgão de louvor (admiração), mas, até 
      mesmo, de algum modo, seu objeto, quando manifesta aquelas maravilhas inexauríveis 
      com as quais seu coração pode se expandir abundantemente; 
      as quais, de fato, podem sair dele, assim como vemos toda espécie 
      de maravilhas brilhantes que se desprendem ou surgem da luz no instante 
      em que se acendem de sua fonte de fogo.
      
O 
      Homem pode atingir diferentes eleições.
      
Deixe 
      este homem ter coragem e perseverança e não se limitar a uma 
      mera eleição de purificação; deixe-o aspirar 
      a obter a eleição da vocação e do ensinamento; 
      ou ainda a eleição da intenção e da vontade, 
      que por sua vez não é tudo; pois o Homem ainda não 
      é nada sem ser conduzido na eleição da ação 
      e da operação; e mesmo esta última eleição 
      ainda não pode ser levada em conta até que se torne como o 
      ETERNO.
      
      Pois o ETERNO é a expressão que tem caracterizado Aquele que 
      É, uma vez que O descreve na sua existência. 
      
A 
      ação de Deus, um foco vivificante no Homem.
      
Ora, 
      Sua existência está mais longe de nós do que Sua ação; 
      e Sua ação é o que serve como Seu intermediário. 
      E nós não somos nada, caímos na anulação 
      se a ação e o movimento divino não são constantes 
      e universais em nós. 
      
      Não vemos nosso sangue dissolver, purificar e sutilizar continuamente 
      toda a matéria bruta com a qual o saturamos? e que sem isto o peso 
      desta matéria bruta e sua corrupção colocariam um fim 
      em nossa existência? Não vemos que se a natureza não 
      tivesse, em si, um princípio vivificante que executasse por ela as 
      funções de nosso sangue, ela já teria sucumbido às 
      forças corrosivas que agem contra ela e a contaminam?
      
      Portanto, em nossa região espiritual, deve haver um Foco vivificante 
      ativo para decompor e retificar, sem cessar, todas as substâncias 
      falsas e venenosas com as quais somos preenchidos diariamente, senão 
      por nós mesmos, pelo contato com nossos semelhantes. Se assim não 
      fosse, estaríamos todos na completa morte espiritual.
      
      Este foco é aquele princípio universal da vida eterna e real 
      no Homem, que renova continuamente o pacto divino em nós; Ele nunca 
      nos deixa órfãos se aceitamos Seus presentes: mas é 
      também aquele poder vivificante que negligenciamos e ignoramos a 
      cada minuto, embora ele nunca deixe de estar bem perto de nós. E 
      se poderia dizer de nós o que foi dito em São João 
      (XIII.18): "Aquele que come o meu pão, levantou contra mim o 
      seu calcanhar".
      
O 
      Foco da ação cria espelhos da Sabedoria ao nosso redor.
      
A 
      nossa junção com esta ação vital e vivificante 
      é uma necessidade fundamental de nosso ser; mais que isto, só 
      ela pode satisfazer esta necessidade urgente; é ela também 
      que mais contribui para nossas verdadeiras satisfações ao 
      nos colocar em condições de fazer com que tanta sabedoria 
      desabroche à nossa volta, a qual reflete o fruto de nossas obras; 
      e, assim como a Sabedoria Eterna faz com Deus, ela nos dá a felicidade 
      de ver que são boas.
      
      Pois todos os seres divinos e espirituais necessitam destas sabedorias, 
      para servirem como espelhos aos seus próprios espíritos, assim 
      como eles mesmos servem ao Espírito da Divindade; e somente a classe 
      material animal não tem necessidade destes espelhos, pois esta classe 
      não tem obras de sabedoria a produzir.
      O poder da ação de Deus sobre nossos irmãos e todas 
      as coisas.
      
      Ora, o poder da ação vivificante divina em nós se estende 
      a nada menos do que nos fazer abrir o centro mais íntimo das almas 
      de nossos irmãos, passados, presentes e futuros, a fim de que todos 
      possam assinar juntos o pacto divino; ele nos capacita a abrir o centro 
      interior de todos os tesouros naturais e espirituais, dissimilados por todas 
      as regiões; ele restitui a nós aquilo que é, ou seja, 
      a ação de todas as coisas. Esta é a razão pela 
      qual há tantos homens desprovidos de inteligência neste mundo; 
      pois não há nenhum que realmente trabalhe para se tornar a 
      ação das coisas: "Não há nenhum que faz 
      o bem; não, nenhum".
      
Como 
      podemos atingir esta ação: através do Espírito, 
      e da voz espiritual do Homem.
       
É 
      pela invasão do Espírito em nós, e da ardente aspiração 
      de nosso próprio espírito, que podemos chegar a ser a ação 
      das coisas; porque através desta aspiração livramos 
      cada princípio de seu revestimento, e damo-lhe a possibilidade de 
      manifestar suas propriedades; uma aspiração que causa em nós, 
      o que a respiração causa nos animais, ou o ar causa na Natureza.
      
      Estritamente falando, podemos dizer que todas as coisas em todas as minúcias 
      de cada ordem das coisas são feitas pelo espírito e pelo ar; 
      na natureza elementar, só o ar está livre e libera todas as 
      coisas, assim como na natureza espiritual, aqui embaixo, só o espírito 
      do Homem tem este duplo privilégio; é justamente pelo ar estar 
      livre, que a voz do Homem Espírito possui tais direitos extensivos 
      a todas as regiões.
      
      Pois, em seus concertos musicais, onde o homem tenta desenvolver todas as 
      maravilhas da música, os acompanhamentos representam a atuação 
      das correspondências, natural, espiritual, celestial e infernal à 
      voz do Homem, que tem o direito da mudar todas as regiões à 
      vontade, e fazê-las tomar parte de seus relacionamentos.
      
Magia 
      Divina, o princípio desta ação.
       
Mas 
      como o Espírito do Homem penetra até o Centro Universal, não 
      devemos nos surpreender, ao vermos os homens tão fascinados e levados 
      por seus respectivos dons, talentos e ocupações, a ponto de 
      se devotarem a si próprios. Tudo isto aponta a um único termo, 
      o de que a Magia Divina envolve, preenche e penetra todas as coisas.
      
      Se os homens dirigissem suas aspirações, nunca com tão 
      pouca constância, a qualquer das direções onde esta 
      magia pode, provavelmente, ser encontrada (a propósito, a fecundidade 
      das fontes divinas esta quase que em todo lugar, tanto na ordem espiritual 
      como na ordem natural), não estariam longe de chegar a uma destas 
      origens, das quais todas possuem a mesma magia como princípio, e 
      eles rapidamente se intoxicariam com deleites, que embora venham de diferentes 
      canais, todos têm o mesmo fundamento em Deus.
      
Os 
      homens deveriam se emanar em satisfação com tudo o que tem 
      senão uma base. 
       
Desta 
      forma, os homens seriam todos um em seu entusiasmo, se olhassem para a unidade 
      desta base e termo de todas as suas satisfações, o que nada 
      mais é do que o movimento da Vida e da Luz eterna dentro deles, e 
      assim, baniriam, rapidamente, todas aquelas rivalidades, ciúmes e 
      preferências, que se reportam meramente a forma ou modo como estes 
      prazeres os afetam.
      
      Os eruditos têm procurado submeter as Belas Artes a este princípio, 
      sem saberem; e ao mesmo princípio devem ser submetidas todas as ciências, 
      descobertas, invenções e segredos, assim como todas as sublimidades 
      dos homens de gênio, e todo o charme e o divertimento que comunicam 
      a nós, aqui neste plano; pois, se o Espírito do Senhor preenche 
      a Terra, não podemos nos movimentar sem entrar em contato com ele.
      
      Ora, não extraímos a felicidade até mesmo da menor 
      aproximação do Espírito do Senhor? E, como há 
      senão um Espírito do Senhor, não deve repousar no mesmo 
      fundamento todas as nossas bem-aventuranças, e serem radicalmente 
      uma só?
      
A 
      respiração ou o Espírito do inimigo.
       
O 
      inimigo também possui uma certa aspiração de seu próprio 
      espírito, uma respiração pela qual, ao invés 
      de nos fazer triunfar, tenta nos submeter a seu falso domínio. Mas 
      a respiração do inimigo, seu espírito, em resumo, não 
      está livre como aquela do Homem. Portanto, enquanto somos vigilantes, 
      ele não pode fazer nada, tanto na ordem espiritual, como na ordem 
      da Natureza, pois não tem acesso ao ar, que, embora livre em si, 
      esta fechado para ele.
      
      Assim, os falsos e figurativos meios que ele emprega, podem representar 
      projetos e princípios a serem exibidos a nós; mas não 
      nos podem ser dados já que o inimigo não os possuem; ele não 
      pode realizá-los, pois só tem poder para destruir e não 
      para gerar.
      
      O inimigo, desta forma, prova que seu crime primitivo foi o de ter desejado 
      dominar a raiz das coisas e o pensamento de Deus; já que deseja, 
      continuamente, dominar a alma do homem, que é o pensamento de Deus.
      
      Oh, monstro! repleto de sangue, como pudestes tornar o inimigo do pensamento 
      de Deus? Mas, tu, Oh, Homem! não eras também um pensamento 
      do Senhor? E mesmo assim pecastes! Aqui o Homem de Desejo exclama: Oh, arrependimento! 
      Deixe-me ser inundado pelas lágrimas; cubra-me, esconda-me da face 
      do Senhor, até que eu possa ver o Homem, o pensamento do Senhor, 
      limpo de suas máculas.
      
Deus, 
      o purificador de Seu pensamento, a alma humana.
       
Nossa 
      mente (espírito) está selada por sete selos; e os homens ao 
      influenciarem uns aos outros, usam, de fato, as chaves, reciprocamente, 
      com as quais podem abrir os selos uns dos outros: mas, para nosso pensamento 
      ser puro, o próprio Deus deve purificá-lo, uma vez que só 
      podemos viver por causa de nossa matriz.
      
      E, quando Deus admite um homem na primeira posição, do Ministério 
      Espiritual do Homem, é para transformá-lo num agente perspicaz 
      e vivificante, cuja ação deverá ser universal e permanente; 
      assim, os caminhos de Deus não são manifestados para fins 
      levianos e transitórios. Portanto todo o Universo deveria ser o mesmo 
      que nada aos nossos olhos, em termos de valor, se comparado com uma eleição 
      como esta, se é que fôssemos felizes o bastante para que ela 
      nos fosse oferecida; já que, a partir de então, poderíamos 
      trabalhar com sucesso para o alívio da alma humana.
      
As 
      aflições terrestres.
       
Tudo 
      é Espírito na obra divina. Portanto as aflições 
      deste mundo, guerras, catástrofes da natureza, que não são 
      enviadas diretamente de Deus, não ocupam Sua atenção 
      como a preocupação com as almas; e quando os homens massacram 
      uns aos outros, ou seus corpos são vítimas de grandes calamidades, 
      Ele sente essencialmente os males que suas almas sofrem; pois a alma é 
      Seu pensamento, ela lhe é querida, e requer Seu zelo e ação. 
      
      
      As aflições servem somente para amadurecer o Homem, o Homem 
      Espírito; em resumo, é dito a seus ministros e eleitos: todos 
      os fios de cabelos de suas cabeças foram numerados, e que nem um 
      deve cair ao chão sem Sua permissão. 
      
      Ele deixa aqueles que estão nas regiões dos poderes espirituais 
      inferiores, serem comandados por aqueles poderes mais baixos.
      
      Aqueles que estão ainda mais baixo, nas regiões da matéria 
      pura, caem sob a classe dos bois; e, de acordo com Paulo (1 Cor. IX.9), 
      Deus não se preocupa com os bois; embora o Espírito se preocupasse 
      com eles no tempo dos Levitas, e com referência aos Judeus, que foram 
      os apóstolos figurativos, mas não com referência a outras 
      nações que buscaram os espíritos da abominação 
      em seus sacrifícios.
      
      Acrescentaremos ainda que Deus normalmente não faz nenhuma mudança 
      no doloroso e desastroso curso das coisas, mesmo para Seus eleitos, aqui 
      embaixo, mas apenas lhes dá força para resistirem: o que não 
      impede Sua preocupação com suas almas e espíritos, 
      em todos os casos, e sob qualquer circunstância, uma preocupação 
      que nossas fracas compreensões não podem, conceber, e nem 
      nossas línguas expressar, o objetivo é que Ele nos preserve 
      somente dos verdadeiros perigos que nos rodeiam e que devem, unicamente, 
      ser temidos, tão grande o Seu desejo de nos ver realizar o convênio 
      divino presente em nossa origem, como poderemos observar daqui a pouco.
      
O 
      Homem na infância. 
       
Faço 
      aqui uma pausa para considerar o Homem numa idade em que ele ainda não 
      apresenta nenhuma daquelas lamentáveis características que 
      temos observado, ou qualquer daqueles raios luminosos que temos anunciado 
      como sendo o recipiente e o órgão.
      
      Quando contemplamos as alegrias simples das crianças, como é 
      possível imaginar os extremos da virtude e do vício dos quais 
      o homem adulto é capaz, e que podem estar oculto e encerrados neste 
      invólucro infantil?
      
      Esta criatura, carregada como uma boneca, que explode em risos diante de 
      uma bolha de ar, ou que cai na aflição quando perde um brinquedo; 
      este ser pode, repito, algum dia estar tão desenvolvido a ponto de 
      elevar seus pensamentos ao céu ou de olhar o abismo e compreender 
      a correta execução dos decretos supremos sobre o secto dos 
      fracos; ela pode se tornar um exemplo vivo do modelo divino para o mundo; 
      ela pode exibir a grande penetração na ciência, e o 
      maior heroísmo na virtude; em resumo, ela pode ser, de todas as maneiras, 
      um modelo por excelência.
      
      Mas esta mesma criatura pode vir a ser um modelo do contrário, e 
      imergir na ignorância e no crime; ela pode se tornar a inimiga do 
      Princípio que a gerou, o foco ativo da depravação e 
      de toda abominação.
      
      O contraste é tão dilacerante que é impossível 
      observar, sem dor, que o pensamento destas ternas e inocentes criaturas 
      podem, sobre este interessante exterior, conter as sementes de todas as 
      doenças, e terminar numa vergonhosa degradação do coração, 
      da alma e do espírito; seus frágeis galhos podem nutrir uma 
      seiva pestilenta, a explosão daquilo que será somente a mais 
      mortal, porque está atrasada e adiada para uma outra ocasião; 
      ou seja, talvez estas criaturas contenham em suas essências um suco, 
      doce e benigno no presente, mas que um dia pode se transformar no mais amargo 
      e corrosivo dos venenos. 
      
      Como se pode imaginar que a ingenuidade desta criança, para quem 
      o menor doce proporciona uma inocente alegria, possa ser transformada, algum 
      dia, na ferocidade de um tigre; que ela possa se tornar uma perseguidora 
      de seus semelhantes, e ser a vítima e o instrumento daquele inimigo, 
      de quem somos todos escravos, como já afirmei, aqui neste plano.
      
A 
      esperança na Promessa Divina.
       
Mas 
      o que pode amenizar, se não remover as angústias do Homem 
      de Desejo, desta lamentável perspectiva, e dar-lhe consolo e esperança 
      para o futuro, é que o pacto divino tem sido também rescrito 
      nas essências desta planta tenra, e traz consigo um remédio 
      específico que não só pode reprimir os germens desordenados, 
      que talvez já a tenha infectado, mas que provoca o florescimento 
      dos germens divinos, dos quais também é depositária 
      por direito de origem.
      
      Sim, não podemos venerar demasiadamente a Sabedoria Suprema, quando 
      vemos a suave progressão com a qual Ela procura nos guiar continuamente 
      ao ponto mais alto, pois é para isto que recebemos vida e existência; 
      e se os olhos inteligentes, amantes do que é bom, observassem cuidadosamente 
      a infância do homem e procurassem, com os altos poderes, trazer os 
      tesouros com os quais o pacto divino tem enriquecido a planta jovem, até 
      a maturidade, não haveria nenhuma espécie de êxtase 
      ou deleite que não se esperasse, em qualquer estágio de sua 
      existência.
      
      Todos estes passos do Homem poderiam ser pacíficos, todos os seus 
      movimentos conectados, todos os seus níveis de progresso poderiam 
      ser unidos insensivelmente uns aos outros, e a satisfação 
      divina acompanharia todos, pois esta satisfação seria o objetivo 
      do progresso, assim como foi o princípio; em poucas palavras, o Homem 
      chegaria, quase que sem dor, problemas ou esforço, a uma alta perspicácia, 
      inteligência, sabedoria, virtude e poder, da qual parece estar tão 
      longe, em sua tenra idade, a ponto de não acreditarmos que isto possa 
      ser possível algum dia.
      
A 
      instrução do jovem.
       
No 
      entanto, seria bom ensinar a esta jovem planta uma lição muito 
      útil e de um caráter sombrio. Por Deus! a Sabedoria, que deve, 
      trazer de si mesma tanta satisfação a nós, é 
      obrigada a se fechar para nós, com trajes de luto e tristeza; nossa 
      sabedoria deve ser agora o sofrimento, ao invés do júbilo, 
      pois o crime dividiu todas as coisas e fez duas sabedorias. A segunda, ou 
      a posterior destas sabedorias, não é vida, mas concentra a 
      vida em nós, e nos prepara para receber vida, ou a primeira sabedoria, 
      a fonte de toda satisfação; é esta sublime primeira 
      Sabedoria que cria e mantém todas as coisas. É por esta razão 
      que ela é sempre jovem.
      
      Esta jovem planta também deveria ser ensinada, na medida em que cresce, 
      que se a Sabedoria Suprema não pode nos permitir, neste plano, olhar 
      a Jerusalém celeste propriamente dita, tal como existia primeiramente 
      na alma do Homem, Ela nos permite, ao menos que observemos, algumas vezes, 
      seus planos, o que basta para nos preencher com o mais doce consolo.
      
      Seria aconselhável ensiná-lo e fazê-lo se convencer, 
      através de sua própria experiência, que a oração 
      deve ser uma companheira espiritual contínua; pois devemos orar somente 
      com Deus, e nossa oração não merece nem mesmo este 
      nome, enquanto Deus não orar em nós, pois só assim 
      faremos nossas orações no reino de Deus.
      
      Seria bom ensiná-lo que os médicos supostamente conhecem a 
      natureza e propriedades da medicina, e que têm apurado todas as virtudes 
      de seus remédios, sendo capazes de curar qualquer doença; 
      que esta simples observação pode esclarecê-lo a respeito 
      do destino original do Homem, o que deve, sem dúvida, capacitá-lo 
      a curar todas as desordens, e conhecer cada substância da Natureza, 
      pois todas estão sujeitas ao Homem. É preciso depreender disto 
      quão vergonhosa é a degradação a que o Homem 
      tem se submetido.
      
      Seria bom dizer-lhe que o homem da verdade deve ser separado dos Homens 
      da Torrente; que ele teria muito a perder ao misturar-se com eles e, acima 
      de tudo, que aquilo que coloca em risco não lhe pertence, mas ao 
      seu mestre.
      
      Seria bom alertá-lo que não há perigo maior para um 
      homem em sua guarda, entre homens que estão perdidos, do que haveria 
      entre os espíritos maus; porque agora, os homens combinam dois poderes, 
      dos quais abusam à vontade, ao encobrirem um sob o outro, enquanto 
      que o diabo só possui um; além disso, ele não tem forma 
      de si mesmo, e é obrigado a criar uma a cada instante, para servir 
      como receptáculo de seu poder; mas o homem carrega consigo, em todo 
      lugar, uma forma que é, ao mesmo tempo, o receptáculo e o 
      instrumento de seu duplo poder.
      
      Sobre este assunto seria bom dizer-lhe que há muitos espíritos 
      errantes que procuram revestir-se de nós, enquanto estamos quase 
      nus, apesar de nossos corpos, e que o Homem não tem nada para fazer 
      aqui embaixo senão buscar revestir-se com seu primeiro corpo, no 
      qual a Divindade pode habitar.
      
      Seria bom dizer-lhe que a castidade encerra, ao mesmo tempo, a pureza do 
      corpo, a Justiça do espírito, o fervor do coração 
      e a atividade da alma e do amor; pois ela abarca, geralmente, todas as virtudes 
      e é a ausência de qualquer vício. 
      
      Seria bom dizer-lhe que as virtudes nós cultivamos e a inteligência 
      nós adquirimos, há tantas lâmpadas que acendemos à 
      nossa volta que se queimam quando dormimos. 
      Seria bom dizer-lhe que quase todas as criaturas na Natureza são 
      uma espécie de humilhação para o Homem; pois são 
      ativas, vigilantes, ordenadas, e só o Homem é passivo, indiferente, 
      covarde e em alguns aspectos uma monstruosidade.
      
      Seria bom dizer-lhe que, embora Deus governe todas as coisas sensíveis, 
      Ele está tão distante delas que nossa natureza terrestre e 
      nossa parte material não pode compreender como podemos tornar Seu 
      reino conhecido entre os Gentios, já que nossas palavras espirituais 
      são ininteligíveis até mesmo aos nossos próprios 
      sentidos. E que devemos estar completamente renovados e exaltados de nossos 
      sentidos e de todas as coisas figurativas, antes de nos tornarmos as testemunhas 
      espirituais do Verbo, e entramos no Ministério Espiritual do Homem. 
      
      
      Seria bom dizer-lhe que os rios fluem, de seu princípio ao seu destino, 
      sem saberem quando atravessam opulentas cidades, ou pobres aldeias, áridos 
      desertos ou terras férteis embelezadas pela Natureza e pelo esforço 
      do homem; e que, tal deve ser o ardor do Homem de Desejo, que ele deve, 
      de toda maneira, tender ao fim que lhe esperava, sem indagar o que há 
      nas margens de sua rota terrestre.
      
      Seria bom dizer-lhe que quando um Homem de Desejo trabalha em si mesmo, 
      ele realmente trabalha por todos os homens, uma vez que ele se empenha, 
      e desta forma contribui, em mostrar-lhes a imagem e semelhança de 
      Deus na pureza; e conhecer esta imagem e semelhança é tudo 
      o que querem os homens. 
      
      Seria bom dizer-lhe que quando os Deístas reconhecem a existência 
      de um Ser Supremo, e ainda assim não permitem que Ele encarregue-se 
      do governo deste mundo, e nem dos homens que nele habitam, pode-se dizer 
      que o erro vem do fato de terem se tornado materiais e selvagens; que, de 
      fato, Deus não se intromete com a matéria e muito menos com 
      os selvagens, mas os tem governado através de Seus poderes; que, 
      desta forma, os Deístas enfraquecem suas almas, que Deus não 
      mais Se aproxima deles para guiá-los, pois Ele não pode se 
      satisfazer com nada além de Sua própria imagem e nem Se preocupa 
      com nada mais, é por isto que afirmam que Deus não se envolve 
      com o governo da humanidade; pois, de fato, no estado de degradação 
      e trevas em que os Deístas permitiram-se afundar, Deus não 
      mais se envolve com eles. 
      
      Seria bom dizer-lhe que a prova de que verdadeiros pensamentos não 
      vêm de nós mesmos é que se os criássemos, não 
      mais seríamos dependentes de Deus; que nem mesmo os falsos pensamentos 
      vêm de nós; mas que somos meramente colocados entre os dois 
      para distinguirmos entre suas origens divina e infernal; que os homens não 
      podem comunicar nada entre eles, senão ao tornarem seus pensamentos 
      perceptíveis através das palavras ou sinais equivalentes; 
      como conseqüência todo pensamento que chega até nós 
      não vem do que é externamente sensível, apesar de sua 
      comunicação e expressão, embora nem sempre os ouvimos 
      materialmente; os bebês são um exemplo disto: não podemos 
      negar que possuem percepção, mas seria em vão tentar 
      exprimir nossos pensamentos a eles através de palavras, sabemos que 
      não ouvirão os sons; numa idade um pouco mais avançada 
      as crianças distinguem os sons, mas não compreendem os significados; 
      por fim, num estado mais perfeito elas tanto escutam os sons como compreendem 
      seus significados, recebendo, assim, a comunicação interna 
      de nossos pensamentos; de fato, agimos diante dos bebês ao invés 
      de falarmos com eles, mas certamente eles não enxergam e nem compreendem; 
      em princípio, eles só se afetam através dos sentidos 
      mais grosseiros, o tato, o cheiro, o sabor; a este incipiente estado e idade 
      segue-se o uso de sinais e da audição; por fim, vem a fala, 
      que, contudo, está sujeita a uma progressão bastante lenta, 
      pois seu início são os gritos, e isto é uma lição 
      para que o Homem se torne humilde.
      
      Seria bom dizer-lhe que os grandes pensamentos que Deus freqüentemente 
      nos envia durante o doloroso curso de nossa expiação, são 
      inúmeras testemunhas que podemos trazer diante Dele quando oramos: 
      e nada lhe dará maior alegria do que aquele pensamento de que devemos 
      fazer uso deles, e lembrá-lo de Suas promessas e consolos.
      Seria bom dizer-lhe que assim como Deus estava só quando fez o Homem, 
      da mesma forma, estará só ao instrui-lo e guiá-lo em 
      Suas profundezas divinas.
      
      Seria bom alertá-lo sobre a grande prudência que deveria ter 
      na administração das riquezas divinas que possam ser confiadas 
      a ele pela generosidade Suprema, uma vez que não caminhará 
      muito longe na senda da Verdade antes de sentir que há certas coisas 
      que não podem ser ditas, mesmo ao Espírito, já que 
      são mais elevados do que o Espírito.
      
      Seria bom dizer-lhe que há uma linha e uma ordem de instrução, 
      da qual nunca deve se desviar ao tentar direcionar a compreensão 
      de seus semelhantes, que é a seguinte:
      nosso pensamento, um espelho divino; 
      existência de um Ser superior, provada por este espelho quando está 
      puro e limpo; 
      nossas privações, provam que há uma Justiça; 
      
      esta Justiça prova que tem havido uma corrupção livre 
      e voluntária (alteração); 
      Amor Supremo, despertar; 
      leis de geração, dadas sob forma de diferentes pactos (alianças); 
      
      tempo de retorno; 
      vida espiritual; 
      Luz; 
      fala (palavra); 
      união; 
      entrada em repouso.
      Tal deveria ser o curso de ensino, se o professor não enganar, nem 
      adiar ou extraviar suas disciplinas. 
      
      Seria bom dizer-lhe que não se faça a ilusão de que 
      pode sempre ter sabedoria em sua memória, ou adquiri-la pelo mero 
      cultivo de sua inteligência; a sabedoria é como o amor materno, 
      que só pode ser sentido após as fadigas da gestação 
      e as dores do parto.
      
      Finalmente, seria bom dizer-lhe que não é suficiente para 
      um homem adquirir a luz da sabedoria; ele deve mantê-la quando alcançá-la, 
      o que é incomparavelmente mais difícil.
      
A 
      queda.
       
Quando 
      caímos de uma certa altura, ficamos tão atordoados que perdemos 
      a consciência; é somente no instante do choque, que o agudo 
      sentido da dor toma conta de nós, depois normalmente ficamos sem 
      movimentos e insensíveis. Tal foi a história da alma humana 
      quando pecou: ela perdeu a vista da região gloriosa de onde caiu, 
      e o Homem permaneceu morto, em sua totalidade, e privado do uso de qualquer 
      faculdade de seu ser.
      
O 
      tratamento.
       
Mas 
      o processo curativo de tratamento também foi similar à nossa 
      prática humana. Da mesma forma que quando o homem sofre um grave 
      acidente, o médico o sangra profundamente, para prevenir inflamações, 
      assim, após a terrível queda da raça humana, a Sabedoria 
      Divina tirou do Homem quase que todo o seu sangue, ou seja, sua força 
      e seus poderes; de outra forma, este sangue, não encontrando mais 
      os órgãos em condição de cooperar em sua ação, 
      os teria destruído completamente. 
      
      É certo que esta precaução indispensável por 
      parte do médico, pode reduzir a vida futura do paciente, que talvez 
      pudesse ter sido maior. Pela mesma razão, Deus tem encurtado nossos 
      dias, como encurta a duração do Mundo, em favor daqueles chamados 
      de eleitos, sem os quais nenhum homem poderia ser salvo.
      
      Conforme o regime médico, líquidos espirituais também 
      são ministrados para nos reviver; após isto, ungüentos 
      curativos são aplicados; e, finalmente, alimento substancial nos 
      é permitido para restaurar nossas forças.
      
      Quando, na branda efusão do Amor Supremo, os primeiros tratamentos 
      foram aplicados à alma humana, ela recuperou seu movimento, o que 
      a possibilitou progredir no caminho da instrução através 
      do movimento que rege o universo; pois estes dois movimentos deveriam ser 
      coordenados. Nós, de fato, buscamos, a cada dia, sintonizar nossos 
      pensamentos com tudo o que se move no universo; este foi um favor especial 
      à alma humana, que proporcionou meios para que pudesse contemplar 
      a verdade nas imagens do mundo, depois de ser banida da realidade.