A
alma se tornou sujeita ao universo físico sua primeira lei segue
a este fato.
A
alma humana sabia, em sua glória, que não deveria ter nenhum
outro Deus senão o próprio Deus; e embora ela não pudesse
conhecer a plenitude de sua glória até que completasse sua
obra, ainda assim, por menos que tenha provado das maravilhas e bondade
divina, sabia perfeitamente bem que nada mais se comparava a elas.
No entanto, esta alma sujeita a ser infectada pelo poder de um princípio
inferior, a saber, este mundo físico universal, onde o sol e as estrelas
exercem tão majestoso movimento, se tornou corporeamente sujeita
aos seus preceitos. Mas, embora ela tenha caído sob esta regra inferior,
que foi parte de sua degradação, a Fonte que produziu a alma
humana não permitiu, de forma alguma, perdê-la de vista, transmitindo-lhe,
nesta nova ordem das coisas, o preceito fundamental de sua primeira lei:
"Não terás outros deuses diante de mim".
O
Sol, um símbolo físico da Divindade.
O
sol, no mundo físico, é um órgão material daquela
revelação sublime, que foi muito anterior aos livros; o sol
professou esta revelação no princípio do mundo, e não
irá cessar de professá-la, diante de todos os povos, até
a consumação de todas as coisas.
É na ausência do sol, durante a noite, que as estrelas se tornam
visíveis; é então que o reino daqueles deuses dos Gentios
se manifestam; neste período, apesar do brilho das estrelas, a Terra
está nas trevas, as flores perdem sua fragrância, a vegetação
está protelada, os gritos fúnebres dos animais e dos pássaros
da noite são ouvidos, os crimes e os vícios dos mau feitores
são propícios, os planos iníquos e os feitos da fraqueza
são perpetuados; em resumo, prevalecem aquelas regiões turbulentas
onde todas as pessoas da Terra têm oferecido sacrifícios, primeiro
por mero engano; mas que, rapidamente, se torna uma abominável fraqueza
através das infeções do príncipe das trevas,
como veremos daqui a pouco.
Mas, com a aproximação do dia, as estrelas tornam-se opacas,
e desaparecem totalmente quando o dia se rompe em sua plenitude; o sol,
provocando com sua presença, o desaparecimento da inútil multiplicidade
destes falsos deuses, parece dizer ao universo, como foi dito a alma humana,
quando emanou de sua fonte gloriosa: "Não terás outros
Deuses diante de mim".
A alma humana esqueceu sua lei, quando, de seu estado de esplendor, desencaminhou-se
por causa de uma falsa atração; mas esta lei, que não
pode ser abolida, a segue até mesmo no abismo terrestre; pois o Princípio
de todas as coisas nada pode produzir sem imprimir sua linguagem divina.
A
idolatria do Sol
A
idolatria do fogo vem de uma fonte mais remota; ela só poderia ter
sido engendrada como uma conseqüência dos direitos primitivos
do Homem, por alguns mortais terem conhecido conscientemente a origem do
fogo (que não é um mero raio), pois é uma verdade fundamental
que todas as coisas devem revelar-se a si mesmas; e não há
nada feito no universo que não prove isto.
O
motivo para as calamidades naturais.
Quando
o Amor Supremo te viu perder-te ainda mais, através de inúmeros
meios providenciados para possibilitar que encontrastes novamente o teu
caminho; quando Ele te viu agravar tuas feridas com os objetos perceptíveis
que Ele dispôs diante de teus olhos para aliviar tuas dores, Ele não
poderia ajudar novamente senão proclamando este importante mandamento
em teus ouvidos: "Não terás outros Deuses diante de mim",
usando meios ainda mais potentes que antes.
Como o espetáculo da Natureza em sua harmonia produziu em ti não
mais que um efeito contrário ao pretendido por Ele, então
foi permitido que os poderes da Natureza atuassem sobre ti em desarmonia,
para tentar te trazer, através da turbulência e do sofrimento,
para onde tua inteligência não foi o suficiente para te manter;
e esta é a chave para todas aquelas calamidades relatadas na história
de cada nação da Terra.
Assim uma mãe age com relação a seu filho, um professor
com relação a seu aluno, deixando-os sentir por algum tempo
as conseqüências de suas fraquezas ou leviandades, para que possam
aprender a serem mais cuidadosos no futuro.
Comunicações
Espirituais Diretas, os mandamentos divinos.
Mas
quando estas punições não ocorrem, quando o perigo
é ainda mais insistente, e aquele que é negligente, ao invés
de sair do perigo, afunda-se cada vez mais, a ponto de arriscar a perder
sua própria vida, então o professor, ou a mãe, vai
pessoalmente, com autoridade, reforçar os importantes preceitos que
havia apontado antes, afim de produzir pelo respeito, o que a bondade falhou
em efetuar; esta é uma explicação positiva e natural
de todos aquelas manifestações divinas e espirituais, das
quais a história religiosa do Homem escrita ou não está
repleta.
Sim, Oh, alma humana! este foi seguramente o caminho do Amor Supremo em
direção a ti, quando viu que as grandes calamidades da natureza,
que teu descuido havia provocado, não te tornaram mais sábia.
Ele veio até a ti com afeições alteradas e assumindo
um tom assustador, te lembrou daqueles antigos mandamentos ou regulamentos,
onde tua própria origem e o convênio divino estavam baseados;
regulamentos que Ele anunciou diante de ti quando lhe deu existência;
regulamentos que Ele fez com que a Natureza proclamasse mais uma vez quando
te sujeitastes a seus preceitos figurativos; regulamentos que podem, a qualquer
momento, ressonar no mais íntimo de teu ser, pois tu ainda és,
desde tua origem, o órgão da divina Fonte Eterna, e aquilo
que o Eterno pronunciou uma vez, nunca pode deixar de ser pronunciado por
toda a eternidade.
As tradições de todas as nações oferecem traços
deste visível procedimento do Amor Supremo em nós; desde o
princípio, Seu caminho tem sido o mesmo, tanto para com as nações
como para os indivíduos, todos os dias, movendo-se através
de movimentos secretos violentos, para despertá-los de sua letargia,
e tirá-los dos perigos aos quais a insensatez os tem exposto; em
resumo, foi neste e por este espírito que Moisés representa
a voz do Supremo, anunciando em meio a relâmpagos e trovões,
aos Hebreus, este imperativo e exclusivo mandamento divino, que as nações
têm se esquecido tanto: "Não terás outros Deuses
diante de mim".
Todas
as coisas devem fazer sua própria revelação.
Independentemente
de inúmeras outras lições instrutivas que a Natureza
está encarregada, pelo Amor Supremo, a transmitir diária e
fisicamente à alma humana, estamos intimamente convencidos de que
todas as coisas devem provocar sua própria revelação,
por nenhuma outra razão senão a de ter uma denominação
entre os homens. Assim, as práticas religiosas tão universais
entre os homens não permitem que nenhuma dúvida permaneça
de que um caminho foi aberto pelo Amor Supremo através delas, para
a cura da alma humana; embora estas águas curativas tenham se tornado
tão sufocadas pelos danos, a ponto de dificilmente serem reconhecidas.
Todas
as instituições humanas derivam de um modelo superior: o poder
do Homem.
Estando
completamente convencido da rigorosa verdade de que todas as coisas devem
revelar-se a si mesma sem o que nunca poderia ser conhecida, repetida ou
comunicada, é preciso perceber que não há nada, nem
mesmo nas políticas humanas e instituições civis, que
não seja um modelo que se encontre independente e acima de nós.
Se não houvesse legiões acima de nós, nenhuma diferença
com relação aos níveis de superioridade, chefes e governos,
nas alturas, não teríamos nenhuma destas instituições
aqui embaixo. O próprio homem, neste plano, caminha sob os olhos
e proteção dos poderes invisíveis, a quem ele deve
todas as coisas, embora raramente procura conhecê-los; mesmo quando
o homem fica intoxicado com seu próprio poder, isto mostra que ele
deve realmente ter poder; ele deve ter um império, além de
servos sinceros e obedientes.
Quando um superior, por exemplo, ou um general, se vê rodeado por
seu exército, faz a revista e sente uma secreta satisfação
e glória de ter à sua frente tantos soldados fortemente equipados
e devotados as suas ordens; quando ele parece dizer a todos os espectadores:
"Estas forças que comando não só dependem de mim,
mas foram criadas para mim, e a mim devem tudo o que tem", ele meramente
repete, numa ordem aparentemente convencional, que o Homem primitivo deve
ter sido real, positivo e permanente.
A
autoridade primitiva do Homem; no que consiste sua glória.
Este
Homem primitivo teria tido também legiões, sobre as quais
teria tido autoridade absoluta, comunicando a elas o seu espírito,
como um general, por assim dizer, transmite sua vontade a milhares de homens
sob seu comando, tornando-os um consigo mesmo, e tirando deles, de certa
forma, suas próprias vontades, para dar-lhes somente a sua; de outra
forma, seu controle sobre os soldados seria impossível e inexplicável.
Este Homem primitivo teria, igualmente, contemplado a si mesmo em sua legião,
e assim teria obtido a verdadeira glória, porque poderia valer por
algo que possuía, a beleza de seus exércitos, sua coragem
ao defender a causa da justiça, ou seja, todas as maravilhas que
poderia, de fato, fazer brotar de si mesmo e florescer em todos os seus
subordinados à vontade. Ao invés disto, neste plano, suas
legiões aparecem diante dele já vestida, armada e treinada;
aqui, não é sempre ele próprio quem semeia aquilo que
colhe, já que a maioria nunca tenha visto, e nem ao menos saiba o
seu nome; uma espécie de conhecimento deveria ter constituído
a verdadeira força do Homem primitivo, assim como venerar suas cortes.
Ora, o que dizemos aqui a respeito da ordem militar, pode ser dito de todas
as nossas outras instituições, políticas e sociais;
poderíamos dizer também em relação à
Natureza, pois o Homem poderia ter cooperado com toda região e com
todos os poderes, em cada ordem, para produzir aquelas imagens maravilhosas,
aqueles sinais arrebatadores, que teriam enchido seus olhos, por todos os
lugares, e preenchido seu coração com uma glória meritória
e justamente adquirida, enquanto que, sem seu presente e limitado estado,
o homem freqüentemente vale muito pouco em tudo aquilo que está
a sua volta, e em tudo o que ele escala.
Mas se é do alto que o homem recebeu e ainda recebe tudo de melhor
para o governo de seus semelhantes, quanto mais ele decifrar as alturas,
mais boas coisas irá descobrir para seu próprio benefício,
e da natureza humana; já que é das alturas que vem o processo
de cura, enviado pelo Amor Supremo para a sua recuperação.
"Mysterium Magnum", de Jacob Boehme: A respeito de uma membrana
religiosa aberta ao homem pelo Amor Supremo, convido o leitor a extrair,
se puder, algo apropriado da obra de Jacob Boehme, Mysterium Magnum, o "Grande
Mistério".
O leitor encontrará ali numerosas ramificações da árvore
do convênio que o Amor Supremo tem renovado com o Homem desde a sua
degradação. Verá ali a seiva desta árvore, manifestando-se,
antes de tudo nas raízes, e então desenvolvendo-se nos diferentes
brotos, na medida em que crescem e, finalmente, nas flores e frutos da árvore,
desenvolvendo todas as propriedades contidas em seus gérmens, e trazendo-as
à luz através de seus canais. Verá ali a verdadeira
linhagem sob o manto daquela que é simbólica e, mesmo assim,
uma só seiva corre através destas duas linhagens, simultaneamente
e de forma distinguível, apesar das diversidades de características
que possuem; assim, há uma harmonia entre todas as épocas
que ela abarca em seu curso. Mas, o leitor verá também, uma
seiva contrária, circulando da mesma forma pela terra, desde o momento
em que fomos aprisionados nela e apresentamos, desde aquela primeira época,
até os dias atuais, um santuário de abominações,
ao lado do santuário da santidade. As descrições que
encontrará neste autor, irão instruí-lo completamente,
sobre o curso daquelas diferentes instituições religiosas
que se espalharam pela terra; e fico satisfeito ao indicar tal obra, senão
deveria transcrevê-la ou traduzi-la quase que inteiramente.
Instituições
Religiosas: Sacrifícios.
Entre
as instituições religiosas de modo geral, já estabelecidas
sobre a terra, mas das quais nós quase perdemos os traços,
o sacrifício de animais e outras produções da natureza
tem um lugar proeminente, e merece ser considerado de forma detalhada, visto
que nenhuma tradição ou observação nos tem oferecido
qualquer coisa satisfatória, e mesmo Boehme é incompleto,
embora tenha levantado alguns aspectos muito interessante sobre este ponto.
Não, não se pode negar, os sacrifícios são praticados
de um modo geral, por todo o globo; eles devem, apesar do abuso, e talvez
mesmo através deste abuso, ser colocados entre os nossos privilégios,
e incluídos entre os auxílios concedidos a nós desde
a Queda, pela Sabedoria Divina, para a renovação, tanto quanto
possível, de nosso pacto divino; e, como tal, eles chegam com o consentimento
do Homem Espírito.
Homem, um Rei subjugado pelos seus próprios súditos; a escravidão
da natureza animal, como meio de sua recuperação. O Espírito
de sacrifício.
Apesar dos esforços incessantes da falsa filosofia para extinguir
a sublime natureza do homem, é tarde demais para questionar se ele
nasce ou não para um grande destino; e o inestimável valor
dos presentes que o homem ainda pode descobrir em si, mesmo em sua miséria,
é uma indicação daquilo que pode formalmente ter possuído
na liberdade e abundância.
Não devemos temer o erro, se considerarmos o Homem, no seio do Universo,
como um Rei culpado, sujeito ao poder de seus próprios súditos,
os quais ele próprio levou a desordem e anarquia, através
da injustiça de seu governo; mas acima deste mar agitado, podemos
discernir a eterna razão das coisas, tendendo através do imutável
peso de sua sabedoria, fazer com que todas as nossas faculdades desarmonizadas
recuperem sua calma e equilíbrio.
Talvez, possamos até mesmo reconhecer que, em seu estado primitivo,
antes da Queda, o homem possa ter tido também um ministério
de sacrifício a completar; não expiatório, pois ele
era puro, mas sacrifícios de glória a seu Princípio;
não sacrifícios sangrentos, mas sacrifícios de admirações
divinas que estão encerradas em todas as criaturas e as quais o homem
teria tido o poder de desenvolver diante de Deus, que o incumbiu deste ministério;
é o Homem sendo, por assim dizer, estabelecido no centro da criação
universal.
Mas enquanto estamos ocupados com os sacrifícios em uso sobre a Terra
e seu significado particular, seja físico ou espiritual, veremos
o Homem fortemente preso ao sangue, que parece ser o órgão
e um recurso, ou domicílio, de todos os seus inimigos aqui embaixo,
o sepulcro da escravidão, no qual este Rei idolatro está sepultado
vivo por ter tentado contrapor os decretos da Providência, e cultivado
deuses estranhos.
A lei que condena o homem à escravidão tem por objetivo mantê-lo
em privação, para que esta privação o leve ao
arrependimento e, do arrependimento à confissão de suas faltas;
esta confissão pode colocá-lo no caminho que leva ao perdão;
e, como o zeloso cuidado da Sabedoria Suprema, com este infeliz exílio,
é incansável, ela o provê de meios para curar os males
a que esta exposto diariamente pelas mãos de seus inimigos, e para
preservá-lo de seus ataques; finalmente, ela o provê de meios
de consolo em meio à sua miséria; e iremos nos esforçar
aqui para mostrar que este foi o espírito da instituição
dos sacrifícios, por mais absurda ou impiedosa que aquelas cerimônias
possam ter se tornado ao passarem pelas mãos dos homens, e ao caírem
sob o controle do mesmo inimigo que pretendiam expulsar.
Unidades
de ação no Universo e na Natureza.
Uma
positiva e bem conhecida lei, que retrato aqui aos amigos da sabedoria,
como uma das mais úteis luzes em sua senda, é que, apesar
das inumeráveis diversidades das criaturas e classes que compõem
o universo, há certas unidades de ação que abarcam
todas as classes, e agem sobre os indivíduos destas classes, por
uma analogia natural.
É por isso que, em todas as produções da natureza,
há gêneros, espécies, famílias, todas carregando
a marca desta unidade de ação, cada uma de acordo com sua
classe.
Os poderes e faculdades de nossas mentes, apresentam a mesma lei, mostrando
uma espécie de uniformidade nos movimentos dos pensamentos dos homens,
e reduzindo todo os seus sistemas a um número limitado de teoremas
e axiomas, e todas as suas instituições a fórmulas
fundamentais, que dificilmente variam uma das outras. A arte medicinal,
a moral, a política, assembléias científicas e deliberativas,
coisas pertencentes à ordem religiosa, e, se posso assim dizer, até
mesmo as coisas pertencentes à ordem infernal, tudo testemunha a
favor deste princípio.
Através desta lei de unidade de ação, a mesma ação
física que rege o sangue do homem, rege também o sangue dos
animais, pois os corpos de ambos são da mesma ordem.
Mas, se a mesma ação física governa o sangue dos homens
e dos animais, esta ação está, sem dúvida, exposta
as contradições e desordens a que os dois estão sujeitos;
e esta lei física, embora não esteja baseada na liberdade,
como estão as leis morais, pode contudo sofrer desordens, pelos obstáculos
e oposições que envolvem e ameaçam tudo o que existe
na Natureza.
Se estes diferentes indivíduos, homens e animais, estão sujeitos
as mesmas leis, dentro das desordens a que estão expostos, por outro
lado, eles também participam nas perfeições da unidade
da ação regular que os governa; e, se a desordem é
comum a ambos, a restauração deve ser também, assim
tanto o espírito como o uso de sacrifícios podem ser compreendidos;
mas isto não seria suficiente, se não pudéssemos descobrir,
como estes sacrifícios operam neles próprio, e como seus resultados
podem afetar o homem.
A
operação espiritual e a causa dos sacrifícios.
A
lei hebraica nos diz que há animais puros e impuros. Jacob Boehme
nos dá um motivo real para isto, com as duas tinturas, que se encontravam
em harmonia antes do crime e que foram subdivididas com a grande alteração.
A Natureza não se opõe a isto, uma vez que reconhecemos uma
distinção entre os animais, alguns sendo úteis, outros
nocivos. Desta forma, até mesmo num mero sentido físico, o
significado das Escrituras pode ser confirmado.
Mas e se isto tivesse um significado espiritual? Na verdade, a matéria
possui uma vida unicamente de dependência e sua existência,
virtudes e propriedades só existem através das diferentes
ações ou influências espirituais, pelas quais são
engendradas, combinadas, constituídas e caracterizadas; a matéria
é, além do mais, o contínuo receptáculo dos
poderes opostos à ordem, que só tendem à estampar a
marca da irregularidade e da confusão em todo lugar; por este motivo,
não é de se surpreender que esta matéria apresente
todo tipo e atuações destas ações ou influências
diversas e opostas, das quais vemos melancólicas evidências
em nós mesmos.
Assim, quando o homem caiu sob o domínio de algumas influências
desordenadas, o animal puro representou um meio de livrá-lo destas
influências; a ação desordenada seria atraída
pelo fundamento que ele representa e sobre o qual deve ter certos direitos
e poderes.
Mas para esta atração não prolongar as conseqüências
e efeitos das influências desordenadas, é necessário,
em primeiro lugar, que o sangue do animal seja derramado; depois este animal,
embora limpo pela Natureza, deve receber algumas influências preservativas
extras, pois é composto de elementos mistos e exposto a influências
desorganizadoras do inimigo, como tudo o mais que seja matéria. Ora
a ação preservativa, neste caso, era representada, entre os
Hebreus, pela imposição das mãos do sacerdote, sobre
a cabeça da vítima, o sacerdote representa o Homem restabelecido
em seus direitos primitivos; e tal é o espírito destas duas
leis.
Pelo derramamento do sangue do animal, a ação desordenada
unida a matéria do homem, é mais fortemente atraída
para fora do que pela simples presença corpórea do animal,
porque, quanto mais perto chegarmos do princípio, mais energética
e eficaz são todas as suas relações, em qualquer ordem
que seja.
Pela preparação sacerdotal, ou da preparação
do Homem, que desfruta da virtualidade de seus direitos, este sangue, e
esta vítima, são colocados além do alcance desta ação
desordenada; que assim abandona a matéria do homem, sugada pela atração
dos sangue animal; mas sendo repelida pela poderosa virtude que o sacerdote
comunicou ao sangue, ela é forçada a banir a si mesma, para
ser mergulhada nas regiões da desordem, de onde veio.
Ao que me parece, isto dá uma visão geral do espírito
da instituição dos sacrifícios. Esta visão sobre
o assunto pode nos ajudar a descobrir o espírito particular que ordenou
os detalhes de todos os sacrifícios hebreus; aqueles, por exemplo,
para o pecado e expiação; aqueles chamados oferendas de paz;
e até mesmo aqueles da redenção ou reconciliação
e da união do homem com Deus, confirmada pelos visíveis sinais
de sua aliança.
Sacrifício para o pecado.
Esta simples lei da transposição, da qual temos falado, é
suficiente para nos dar uma idéia do espírito de sacrifício
para o pecado, banir a profanação para as regiões da
desordem e sobre o inimigo que a causou.
Oferenda
de paz.
O
objetivo do sacrifício para paz, seria o de dar forças ao
homem para resistir a este inimigo e até mesmo prevenir seus ataques.
A preparação da vítima, pela imposição
das mãos do sacerdote, torna isto inteligível, já que
coloca um sangue puro que está em conjunção com influências
regulares, em proximidade de um sangue cercado por influências destrutivas
e maleficente e é ainda assim capaz de recuperar a calma e o repouso.
Um grande número de detalhes sobre cerimônia de sacrifícios
justificam nossa confiança nestas conjecturas. O sangue vertido ao
redor do altar e consagrado aos quatro cantos, os combatentes do sangue,
o consumir da vítima etc., tudo se refere estritamente a um trabalho
de paz e preservação.
Os
sacrifícios perpétuos e aqueles de consagração.
As
Leis dos sacrifícios perpétuos, e daqueles ordenados para
a consagração dos sacerdotes (cujo objetivo espiritual era
unir o pontífice a Deus) nos levarão a seu próprio
significado; este tipo de sacrifício não foi instituído
a todos os homens, mas somente àqueles chamados por Deus, através
de uma eleição particular, a seu serviço.
Tais homens, preparados, exatamente através da eleição
de cada um, estavam em conecção com as mais altas virtudes,
que, abarcando todas as coisas, estão sempre unidas àquelas
ações regulares que cuidam de afastar nosso sangue da desordem.
A vítima imolada, após estas preparações, apresenta
um sangue onde estas influências desenvolve seus poderes, e permitem
que as altas virtudes, por sua vez, também se desenvolvam, pois tudo
o que é harmonioso participa mais ou menos das propriedades do pacto
divino, mesmo que se encontre entre os animais.
Não é de se surpreender, então, que estas mesmas altas
virtudes devam agir sobre o homem escolhido, e produzam para ele todas aquelas
manifestações perceptíveis tão necessárias
para direcioná-lo em suas trevas; o homem só pode receber
as evidências da verdade através de um intermediário.
Tudo isto ocorreu com Abraão, quando sacrificou os animais divididos
em dois; com Araão, nos oito dias de sua consagração;
com Davi, na eira de Ornan; o que ocorreu no templo, após os sacrifícios
dos altos sacerdotes, o que indica, de forma clara, o objetivo e o poder
que realmente possuíam os sacrifícios sagrados, quando executados
pelos eleitos do Senhor, que exerciam, de uma forma adequada à época,
o Ministério espiritual do Homem.
Destas poucas observações sobre os sacrifícios de sangue
em geral, segue-se que seu objetivo era o de desenvolver certas influências
puras e regulares (ações) que unidas ao homem poderiam auxiliá-lo
a elevar-se de seu abismo, às regiões de ordem e regularidade.
As causas e operações das excomunhões e exterminações.
Numa direção oposta, mas tendendo ao mesmo fim, a interdição
ou excomunhão operada é mencionada no último capítulo
dos Levitas. O que foi consignado por este tipo de consagração,
à justiça do Senhor, era, aparentemente, o domicílio
do mais irregular e abominável e portanto o que havia de mais fatal
aos escolhidos. Assim, todos aqueles sujeitos à excomunhão
haviam de ser exterminados, a fim de que a ação ou influência
irregular que estavam neles, não encontrando mais apoio, fosse obrigada
a partir e a se tornar incapaz de injuriar as pessoas.
Temos aqui a oportunidade de não apontar erro na punição
de Achan, na execução de Agag por Samuel e na rejeição
de Saul que desejou salvar este rei impiedoso e condenado; e até
mesmo em todos os massacres autorizados de cidades inteiras com seus habitantes,
relatados nas Escrituras, tão revoltante para aqueles que não
estão preparados, ou estão pouco familiarizados com as verdades
profundas, e especialmente para aqueles cujo o corpo material é tudo
enquanto Deus só pertence as almas.
Por
que o inocente cai com o culpado; a exterminação de animais.
Esta
classe de pessoas, a que nos referimos anteriormente, está longe
de suspeitar do grande segredo, comentado no "O Espírito das
Coisas", através do qual a Divindade permite, freqüentemente,
que o inocente caia com o culpado nas pragas ou catástrofes da Natureza,
para que possam, pela pureza que possuem, se preservarem de uma corrupção
maior, assim como cobrimos com sal as carnes que preservamos e que de outra
forma putrefariam.
Em resumo, é com este intento, de remover os princípios fundamentais
do veneno, que encontramos a razão pela qual, na conquista da terra
Prometida, os judeus eram tão freqüentemente ordenados a exterminar,
mesmo entre os animais, porque, neste caso, a morte de animais infectados
com as influências impuras daquelas nações, preservavam
os escolhidos dos veneno; enquanto que, nos sacrifícios, a morte
de animais puros atraíam influências preservadoras e salutares.
A destruição rápida daquelas nações teria
exposto as crianças de Israel às influências impuras
daquelas bestas da Terra, pois tais nações eram seus receptáculos
e bases de ação; é por isso que Moisés disse
ao povo: "Iahweh, teu Deus, pouco a pouco irá expulsando estas
nações da tua frente; não poderás exterminá-las
rapidamente: as feras do campo se multiplicariam contra ti." (Dt. VII,22).
O
sangue dos animais puros, a morada das boas influências na escravidão.
Isto
não significa que as virtudes puras e regulares estejam encerradas
e sepultadas no sangue dos animais como pensam alguns, entre eles os Hindus
que acreditam que todos os tipos de espíritos habitam e se sustentam
ali; isto leva a crer simplesmente que aquelas influências puras e
regulares estão ligadas a certas classes e elementos distintos entre
os animais, e que, ao romper as bases nas quais estão fixadas, elas
podem se tornar úteis ao homem; é neste sentido que devemos
ler a passagem: "É o sangue que faz expiação pela
vida" (Lev.XVII.11); pois não devemos confundir a alma humana
e, portanto, a alma dos animais, com as ações regulares externas
que as governam.
Desta espécie de escravidão ou confinamento, onde se encontra
este tipo de ação ou influência, surge uma outra conseqüência,
justificada anteriormente pelo doloroso estado ou espécie de reprovação
em que se encontra o homem e que o denuncia como um criminoso. Esta conseqüência
é que se o homem exige que todas estas ações sejam
liberadas, antes que possa dar início a recuperação
de sua própria liberdade, se, em resumo, ele é colocada em
operação, ele deve ter sido também o objetivo de algo
que as subjugou, durante a revolução.
O
Homem causou a escravidão destas virtudes ou influências.
O
conhecimento que o leitor terá adquirido, a esta altura, irá
fazer com que isto pareça um tanto natural. Se o consideramos como
um Rei; se teve sua origem exatamente na Fonte de Luz; se o reconhecemos
como tendo sido feito à imagem e semelhança da Divindade e
sua finalidade era ser o seu representante no universo, ele deve ter sido
superior a todas estas ações que agora são empregadas
na preservação da Natureza.
Ora, se estas ações diversas procuram o homem para mantê-las
em sua ordem e em seu emprego primitivo, ou seja, se ele deve ter desenvolvido
e manifestado nelas as maravilhas divinas das quais eram depositárias
e as quais deveriam servir como sacrifícios de glória, fica
claro que, quando o homem se perdeu, sua queda deve ter colocado estas ações
e poderes num estado de sujeição e violência, para o
qual não foram feitos e que representa para eles uma espécie
de morte.
Assim, vemos nas tradições hebraicas, os judeus como sendo,
por assim dizer, os primogênitos de um povo; as prevaricações
do faraó e a dureza de coração induziu a Justiça
a atingir não só a ele, mas a todos os primogênitos
de seu reino, dos animais aos homens; do filho do escravo ao filho daquele
que sentou no trono.
A
oferta do primogênito.
Após
esta terrível vingança, aplicada sobre o Egito, verificamos
os hebreus ordenados a consagrar todos os seus primogênitos à
Deus, desde o primogênito do homem até aquele dos animais.
Esta coincidência é mais uma indicação do que
já adiantamos a respeito do objetivo e espírito dos sacrifícios;
pois a consagração do sacerdote, que parece reunir em si o
significado de todas as outras consagrações, não foi
feita sem o sacrifício de um carneiro.
Se seguirmos estas comparações, verificaremos que, através
do crime do homem, todos os primogênitos, todos os princípios
produzidos de cada espécie, foram mergulhados com ele em seu abismo;
mas que através do amor perfeito da Sabedoria Suprema, o Homem recebe
o poder de restaurá-los sucessivamente às suas posições
e depois deles os seus semelhantes, por sua vez; e fazer com que as almas
desfrutem os seus sabath, assim como teve o poder de fazer a natureza desfrutar
dos seus.
Veremos, em resumo, que os sacrifícios de sangue tendiam a dois objetivos,
seja para restaurar a liberdade original a todas as ações
puras e regulares, cujo pecado atacou nas diferentes classes de animais
e coisas criadas, seja para permitir que tragam alívio ao homem e
o liberte da servidão onde definha.
O
Êxodo, a dualidade fundamentada na natureza do Homem.
No
exemplo que acabamos de dar, devemos sempre considerar que seu objetivo
era o Homem, e que sua dualidade se aplica as duas nações
distintas, a Egípcia e a Hebraica, uma representa o Homem em sua
queda e estado de reprovação, e a outra sob sua lei de libertação
e retorno em direção ao posto sublime do qual descende.
Nós, contudo, não tomamos as leis e os costumes hebraicos
como base e fundamento sobre o qual repousa esta teoria.
Ela repousa, em primeiro lugar, na natureza do Homem, na forma em que ele
estava, em sua origem, e como ele está no momento, ou seja, em nossa
grandeza e em nossa miséria; e quando, mais tarde, esta teoria encontra
sobre a terra testemunhos que a sustente e a confirme ela se utiliza deles,
não como provas, mas como confirmações.
Portanto, não precisamos nos referir aos escritos sagrados para descobrir
a época em que os sacrifícios tiveram origem. Os sacrifícios
de glória datam de uma época anterior à queda do homem:
assim como os sacrifícios de sangue e expiação tiveram
início tão logo o homem começou a ver o caminho da
libertação diante de si, e isto ocorreu quando ele teve a
permissão de vir habitar a Terra; já que sendo, previamente,
tragado como uma criança num abismo, não teria matéria
alguma à sua disposição para sacrificar, não
tendo o uso de suas faculdades.
As
relações do Homem (conformidades) com a Natureza e os Animais.
O
destino primitivo do Homem era estar conectado com toda a Natureza, até
que a obra a qual tinha que realizar, se tivesse mantido seu posto, estivesse
acabada. Apesar de sua queda, ele ainda se encontrava conectado com esta
Natureza da qual não podia sair e cujo peso opressivo era ainda maior,
pelo domínio que o homem permitiu que seu inimigo adquirisse sobre
ela e sobre ele próprio. Assim, a conecção do homem
com a Natureza não era outra senão o sofrimento, e seu ser
propriamente dito estava identificado com o poder das trevas. Aos poucos,
quando o caminho de volta lhe foi aberto, estes meios salutares (sacrifícios)
podiam operar somente através do órgão ou canal que
é a natureza, lugar onde o Homem estava sepultado ao invés
de ser seu comandante. Desta forma, as relações (conformidades)
que o homem tem com os animais não terá fim até que
a Natureza tenha completado seu curso; contudo, estas relações
variam em suas características, de acordo com as diferentes épocas
em que o homem está situado. Em seu tempo de glória, ele reinava
como um soberano sobre os animais; e se supomos que haviam sacrifícios
naquela época, seu objetivo não podia ser a restauração
do Homem, já que não era culpado.
Quando caiu, o Homem se tornou a vítima destes animais e de toda
a Natureza. Na ocasião de sua libertação, ele foi capaz
e teve a permissão de empregar tais animais para o seu desenvolvimento:
isto não pode ser duvidado, depois de tudo o que foi dito. Ora, sendo
estes fundamentos apoiados em bases firmes, nada mais satisfatório
do que encontrá-los plenamente confirmados nos escritos sagrados.