Louis Claude de Saint-Martin
Homem: Sua verdadeira Natureza e Ministério
Sobre o verbo

  1. O Espírito de Sabedoria e o Espírito de Caridade que deveriam animar os homens
  2. Os perigos e horrores ocultos pela bondade Divina, devem ser superados e dispersados pela caridade
  3. As maravilhosas revelações da Sabedoria, apesar da insensibilidade do Homem
  4. Ter conhecimento destas coisas não é nada: só o agente do Verbo pode realizá-las
  5. Embalsamando corpos para a ressurreição
  6. Quem está encarregado de ensinar as profundas coisas de Deus
  7. O Verbo deve habitar os homens: Prepare-se para receber seu convidado
  8. O declínio da Luz no mundo ocorre porque seus ministros esquecem a promessa do Reparador de estar com eles
  9. Significado espiritual dos festivais religiosos
  10. Funções do ministério Divino
  11. Os caminhos do Homem de Desejo
  12. A sublimidade das posições do Homem; sua oração
  13. Faça tudo de acordo com Deus; subjugue toda faculdade numa oração incessante
  14. O julgamento das palavras dos homens
  15. Os sofrimentos do homem de desejo, devido aos abusos da fala
  16. A felicidade do homem, no tempo e na eternidade, depende do santo uso de sua fala
  17. A eternidade está num ponto do tempo: o presente
  18. Como o presente está perdido no passado e o futuro é incerto!
  19. Uma eternidade ternária
  20. O Homem é um foco do milagre perpétuo
  21. O Universo é um obstáculo para a oração; O homem precisa purificá-lo
  22. A oração deve produzir tudo, pois a obra está com ela
  23. Não tenha medo: apenas acredite
  24. Deixe que um sinal ainda seja ouvido no meio de seu triunfo. Conclusão

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O Espírito de Sabedoria e o Espírito de Caridade que deveriam animar os homens

Vimos mais de uma vez, que o espírito da operação Divina, tanto no homem como no Universo, é um perpétuo sacrifício, uma contínua devoção do Verbo, que se sacrifica incessantemente a fim de substituir a substância Divina em todas as criaturas, por aquela que é o tormento e a inquietação destas criaturas. Como procedemos de Deus, este espírito nos deve animar a cada momento de nossas vidas se é que pretendemos ser Sua imagem e semelhança e reviver em nós o pacto Divino. É preciso ser sábio, não só na virtude mas também na eqüidade, tendo consideração pela posição que sustentamos, assim como pela Sua honra já que Ele a confiou a nós e somos encarregados de representá-lo.

Se tudo isto foi insuficiente para nos tornar sábios, significa que somos totalmente desprovidos de caridade para com outras criaturas e regiões relacionadas a nós, já que nunca deixamos de ser sábios sem fazermos com que morram, ao invés de darmos-lhe a vida que esperam de nossas mãos. Ora, se não somos suficientemente elevados para dar vida as criaturas, vamos ao menos, deixar de nos rebaixar por causar-lhes a morte. Felizes seremos quando formos capazes de ascender um grau; a partir de então, todas as virtudes irão fluir de nós e por conseqüência promoveremos a felicidade de todas as criaturas.

O sábio trabalha para seu próprio repouso, quando limpa diariamente as manchas que obscurecem o Homem desde seu pecado; ele procura fazer com que a fonte da vida brote nele, pois só ela pode lhe dar a paz. Este é o termo ao qual deve tender todo homem justo. O homem da Caridade vai mais longe; não se contenta com sua própria felicidade, ele quer a felicidade também do que não seja ele; neste caso o espírito de caridade tem duas características distintas, uma espiritual e outra Divina. Pela primeira, o homem busca a paz de seus semelhantes; pela segunda busca fazer com que o próprio Verbo mantenha o seu sabat; é aqui que muitos são chamados e poucos são escolhidos.

Oh, ministros das coisas sagradas! não cabia a vocês ensinar ao homem tais verdades tão importantes e tão pouco conhecidas? Quem acredita, aqui neste plano, que somos os grandes supervisores dos domínios de Deus, empregados a fim de trabalhar para o Seu repouso? Pode-se dizer, até mesmo, que o homem trabalha exatamente para o contrário como se buscasse o repouso do inimigo; todos devemos nos ocupar em aliviar as feridas que o inimigo provoca incessantemente tanto nas regiões como nas coisas; todas as evidências comprovam que podemos manter esta elevada ocupação nos ligando em espírito e em verdade ao ministério do Verbo, pois se por um lado há uma progressão de abominações do homem e seu inimigo no sentido descendente desde o princípio do mundo, há também uma progressão ascendente das riquezas Divinas desenvolvida diante de nós desde a mesma época e que não deixará de se desenvolver até o fim dos tempos.

Os perigos e horrores ocultos pela bondade Divina, devem ser superados e dispersados pela caridade

Se pensássemos em tudo o que está oculto sob o mundo universal material, iremos agradecer a manifestação da bondade Divina por ser tão ativa a ponto de ocultar esta horrível imagem de nossos olhos.
Se refletíssemos sobre a infeliz condição da família humana, visível ou invisível, agradeceríamos os poderes da natureza por ter poupado nossas vistas destas cenas dilacerantes; deveríamos agradecer à Sabedoria Suprema por permitir que o homem e a mulher possam agora ter a condição de incorporar o amor e a Luz em si, sob o véu da Eterna SOPHIA; todo casamento santo que se realiza é celebrado através da família humana que se enche de satisfação, assim como nossos casamentos terrestres satisfazem as famílias deste mundo.

Se imaginássemos qual é a angústia do Verbo, agradeceríamos sua caridade generosa em se devotar ao nosso repouso; por nossa vez, também nos devotaríamos ao seu repouso.

Trilhando este caminho do amor e da caridade deveríamos, enfim, banir toda dor e todo mal em todos os lugares, reconhecendo a imensurável preponderância do bem. É verdade que o demônio é tão perverso que, apenas pelo fundamento ou pela bondade Divina que surge no homem, nunca nem ao menos saberíamos da existência de um Deus; contudo, também é verdade que os homens são tão rodeados pela bondade Divina que, sem a fraqueza do homem, não perceberíamos a existência de demônio algum.

As maravilhosas revelações da Sabedoria, apesar da insensibilidade do Homem

Há enormes manifestações do Verbo no mundo, independentemente de tradições e das magníficas cenas da natureza; quando olho para estas grandes aberturas que a Sabedoria em sua generosidade tem revelado a alguns de Seus servos, não posso conter minha admiração diante de tamanha prodigalidade! Fico tentado a acreditar que Ela não conhece o estado de brutalidade, ignorância e total insensibilidade no qual o homem está mergulhado, com relação ao progresso da verdade e a fecundidade do espírito.

De fato, apesar de Sua supervisão universal, acredito que Ela não perceba os lapsos e fraquezas dos homens, até que completem suas falsas e profundas proporções; é que, a partir de então, este extremo desvio do correto penetra a ordem do Altíssimo estimulando a Justiça, que de outra forma repousaria eternamente em sua proteção de Amor.

A tendência natural de Deus e dos espíritos, com relação aos homens, é acreditar serem menos maus do que são; isto porque como Deus e os espíritos habitam a morada da ordem, paz, virtude e bondade, carregam esta característica de perfeição, que é seu elemento perpétuo, a tudo o que existe. Embora sejam, de certa forma, continuamente iludidos pelos repetitivos abusos da humanidade, eles ainda espalham novos auxílios sobre os homens no instante seguinte; esta é uma verdade da qual os dois Testamentos, Judeu e Cristão, apresentam uma ininterrupta corrente de evidências; verdade que deixa de surpreender quando adquirimos uma idéia da Raiz eterna e generativa, que nunca deixa de se renovar.

Esta conduta de Deus e espíritos para com o homem não é contrária àquela supervisão que exercitam continuamente sobre ele, nos caminhos que a Sabedoria pode lhe abrir; tudo isto é obra do amor, beneficência e de Seu elemento natural.

É sempre este o início da relação entre eles, longe de suspeitar que há o mal no homem; é preciso que o homem se ligue completamente ás desordens para que a Sabedoria possa enxergar e deixá-lo por sua conta e por conta das conseqüências de suas faltas; mesmo assim isto ocorre apenas pouco depois de ter enviado a este homem recentes sinais de atenção e comprometimento.

Ter conhecimento destas coisas não é nada: só o agente do Verbo pode realizá-las

As duas progressões, do bem e do mal, estão em nosso ser e por este intermédio nos relacionamos com todos os mundos, onde podemos exercer o Ministério Espiritual do Homem. Saber tudo isto não basta; realizá-las é o essencial. O servo não é nada diante dos olhos de Deus; o operário é quem Ele valoriza e recompensa. A cada passo que avançamos em nossa obra adquirimos novas forças e o homem que segue a senda viva de sua regeneração pode atingir o Monte santo, para aprender os comandos do Senhor.

Mas lá a impaciência da Justiça o surpreende, quando mantém as abominações a que as crianças de Israel tem se viciado.

Ele quebra as tábuas da lei, porque este povo não merece ouvi-la. Em sua fúria, extermina os pecadores que induzem a alma humana a se prostituir aos Gentis e estão em guerra contra o Verbo.

Ele lança seus raios contra os gigantes que assaltariam o céu, tornando-se seus mestres:
"Oh! meu povo, o que tem feito o teu Deus a ti para que te exasperes contra Ele? Que iniquidade seus pais encontraram em mim, para terem se afastado em busca da vaidade e para terem se tornado fúteis?"

Na medida em que ascendemos esta montanha colocamos o manto de Elias, que herdaremos durante esta vida e através do qual poderemos atrair o fogo dos céus, dividir as águas do rio, curar doenças e levantar os mortos; pois, nada além deste manto de Elias ou nosso traje puro e primitivo, pode preservar o Verbo em nós, assim como uma veste terrestre mantém nosso corpo aquecido. Nosso ser animal não pode conter este Verbo vivo; só nossos corpos virgens pode contê-lo.

Embalsamando corpos para a ressurreição

O costume de embalsamar os corpos dos mortos, enchendo-os com valiosas substâncias aromáticas, é uma transposição daquele princípio que implica em nossa ressurreição corporal e espiritual. Se fossemos sábios, é certo que não teríamos outra ocupação neste mundo do que trabalhar continuamente a fim de reviver o corpo puro e o espírito da verdade em nós, que ali estão, por assim dizer, extintos, mortos; portanto, em nossa morte física, devemos nos encontrar perfeitamente embalsamados em todas as partes corporais de nossa forma primitiva; nunca como múmias terrestres, que não tem vida ou movimento e que ao final volta ao pó, mas levando conosco o bálsamo vivo e incorruptivo que irá restaurar a atividade primitiva daqueles corpos e a agilidade de todos os nossos membros numa progressão sem fim, como a infinidade e a eternidade.

Ora, para isto não precisamos esperar por nossa morte física. O profeta Ahijah não podia ver, já que seus olhos se tornaram turvos devido à sua avançada idade; ainda assim, foi capaz de reconhecer a esposa de Jeroboam e sua missão, quando veio até ele disfarçada com o propósito de consultar sobre a enfermidade de seu filho, pois tinha medo de perdê-lo.

Sim, se não estamos perdidos e atados por nosso inimigo, podemos abrir os poros de nossos espíritos, corações e almas, para que a vida Divina penetre em todos eles, nos impregnando com o puro elemento. Com isto, apesar da deterioração pelo tempo, a que nossos órgãos estão sujeitos, podemos exalar os perfumes do mundo que está por vir e assim sermos órgãos vivos da Luz e da glória de nosso Soberano Original; tal era nosso destino primitivo, já que deveríamos estar unidos e animados pelo Espírito e pelo Verbo que por si só produz todas estas coisas.

Seguindo os passos do grande operário do Senhor, deveríamos adornar nossos verdadeiros corpos com todas as obras das quais participamos ou que realizamos por nossa conta. Da mesma forma, o Redentor adornou seu corpo glorioso com todas as obras que manifestou seja pessoalmente ou através de patriarcas e profetas. Assim cooperamos na adornação daquele corpo glorioso no qual o Redentor se revelará no final dos tempos; "quando ele vier, naquele Dia, para ser glorificado na pessoa dos seus santos, e para ser admirado na pessoa de todos aqueles que creram" (2 Tess. I.10); desta forma, contribuímos para a destruição daquele homem de pecado que tem sido elaborado há muito tempo, e que é composto dos pecados dos homens.

O inimigo não está satisfeito por termos roubado de nosso corpo primitivo; ele pretende também roubar de nossos corpos elementares a fim de revestir sua própria nudez, porque não recebe ajuda alguma desta natureza física onde está confinado; ela não lhe proporciona nada além da avidez e da dureza; estas são as primeiras qualidades que ele consegue despertar na natureza; só quando conseguir se fechar utilizando-se de nossos corpos elementares é que poderá atingir o máximo de suas abominações, decepções e ilusões naqueles que não confiam plenamente na verdade.

Quem está encarregado de ensinar as profundas coisas de Deus

Vocês, os ministros das coisas santas, é quem devem nos ensinar estas coisas profundas. Vocês sabem o que o Senhor disse ao profeta Jeremias (Jer XXVI.2)?: "Coloca-te no átrio da Casa de Iahweh e diz a todos os habitantes das cidades de Judá, que vêm prostrar-se na Casa de Iahweh, todas as palavras que te ordenei; Assim disse Iahweh. Se não me escutardes para seguir a minha Lei que vos dei, para atender às palavras de meus servos, os profetas, que vos envio sem cessar, mas vós não escutais, eu tratarei esta Casa como a Silo e farei desta cidade uma maldição para todas as nações da terra".

Bem, ministros das coisas santas, o Senhor os colocou na entrada das almas dos homens e ordenou que tornassem conhecidas suas leis e mandamentos.

Vocês devem, portanto, colocar-se na entrada das almas dos homens e proclamar todas as palavras que o Senhor ordenou que falassem; pois se Ele escolheu um homem para ser o profeta de Deus, por que não escolheria homens para serem profetas dos homens? O profeta dos homens é o servo dos servos de Deus.

Coloca-te então, na entrada da alma dos homens e diga-lhe tudo o que o Senhor dirá a ti: "Não omitas palavra alguma. Talvez eles escutem e se convertam cada um de seu caminho perverso: então me arrependerei do mal que pensava fazer-lhes por causa da perversidade de seus atos". (Jer XXVI.2)

O Verbo deve habitar os homens: Prepare-se para receber seu convidado

É seu dever ensinar aos homens que, não se tornando todos orgulhosos, o Verbo propriamente dito deve habitar neles; é seu dever torná-los atentos sobre o que devem fazer para que isto ocorra efetivamente. Quando algum amigo querido é esperado em uma mansão, todos os que ali habitam sejam mestres ou servos, se movimentam; quando algum comandante ou soberano chega à uma cidade de guarnição ou algum outro grande lugar, que vivacidade cada um não manifesta a fim de melhor desempenhar o seu papel na recepção!

Bem, então, preparar os homens para receber o importante Convidado, que não deseja nada melhor do que visitá-los, significa que cada faculdade de seu ser deve mostrar sua intenção de desempenhar sua parte com ainda maior vivacidade, com objetivo de manifestar seu amor e respeito. Tudo o que consiste no seu ser e toda região de sua existência deve se submeter a uma combustão ou atividade ininterrupta, para que tudo o que estiver ali possa se tornar um canal, um órgão e um agente do Verbo; aquele majestoso e inefável Convidado, pode fazer de ti a Sua morada, onde virá até mesmo para celebrar Seus santos mistérios.

Celebrar os santos mistérios! Feliz é o homem que já sentiu em si o menor sinal desta obra maravilhosa e incompreensível, ou teve a menor percepção deste milagre vivo e magnífico; feliz é aquele que compreende que o ócio pode provocar o fracasso por causa de nossa intensa absorção na dor e no prazer; isto pertence exclusivamente ao Ministério do Verbo!

O declínio da Luz no mundo ocorre porque seus ministros esquecem a promessa do Reparador de estar com eles

Infelizmente o Redentor, o Verbo visível, mal havia desaparecido da terra, quando a Luz começou a declinar e os ministros das coisas santas, caindo em discussões sobre leis terrestres, saíram atrás de votos; além deste Verbo, não há outra Luz fixa e os ministros esqueceram a Sua promessa de estar com eles até o fim do mundo.

Eu ficaria muito desapontado se Paulo tivesse fraquejado em sua fé, após sua eleição, já que esta ocorreu depois do templo terrestre ter sido fechado e o Divino ter sido aberto. Não em afeto pela negação de Pedro ocorrida anteriormente; nem tampouco pela fúria do tranqüilo João que proibiu outros de expulsarem demônios em nome de seu Mestre, porque eles não o seguiam e queriam trazer o fogo do céu para destruir a aldeia Samaritana que não o recebera, já que estava a caminho de Jerusalém.
O Mestre nos ensina o que foi a ignorância de seus discípulos; eles "não sabiam a que espírito pertenciam". Não vamos perder de vista as progressões e as épocas temporais e espirituais as quais o Redentor estava sujeito.

Contudo, você que ingressou na administração do Verbo, apenas após cada porta, espiritual e Divina, ter sido aberta, não acha que, algumas vezes, colaborou para que elas se fechassem? Por que, em suas cerimônias, você tem prestado apenas uma homenagem enquanto deveria prestar unicamente uma obra interior real e sempre crescente? Para que estas cerimônias se tornassem verdadeiros festivais religiosos, o espírito que as presidem deveria, com certeza nos elevar em cada período, ao mesmo grau de virtualidade que as coisas Divinas atingiram na época correspondente no mundo.

Significado espiritual dos festivais religiosos

Na época dos Judeus, durante a festa do Tabernáculo, o homem interno invisível deveria se elevar, com o auxílio do ministro consagrado, à região dos tabernáculos eterno e espiritual; todos devem ter este objetivo aqui neste mundo.

Desta forma, durante os sacrifícios de sangue, o homem deveria se elevar ao sacrifício interno de todo o seu ser terrestre, a fim de que a combustão surgisse através deste sacrifício, onde a vítima é o próprio homem; ele deveria se unir ao desejo santo e ao amor sagrado da Sabedoria Suprema, que busca renovar sua velha aliança ou primeiro pacto conosco.

Ao celebrar o sabat, deveria se elevar, em espírito, acima das seis ações ou poderes elementares que agora aprisionam o homem; deveria unir seu mais íntimo ser com as sete fontes universais que dão origem a este ser, que é sua virtual representação e da qual nunca deveria terse separado.

As crianças da nova lei, durante a festa de nascimento do Cristo, deveriam, através de seu ministério e exemplo, fazer com que o Redentor nascesse em cada uma delas, a fim de que abrissem as portas a Ele para realizar, ali, individualmente, a obra que realizou para todo o mundo.

Na festa da Páscoa, deveriam se empenhar para que Ele pudesse se erguer novamente do sepulcro que há dentro deles; ali, nossos elementos corruptos, poluição e trevas O mantém enterrado.

Na festa de Pentecostes, deveriam trabalhar para reviver em si a compreensão de todas as línguas que o Espírito fala incessantemente a todos os homens, mas que nossa densa matéria nos impede de ouvir. Todo retorno anual de cada um destes festivais deveria produzir firmemente um novo desenvolvimento, até que o grau da regeneração fosse atingido, pois este pode ser concedido ao homem neste mundo inferior.

Funções do ministério Divino

Vocês não temem que o uso daquilo que ensinam sobre estas épocas salutares e memoráveis possam deixar nada além do que uma impressão estéril na memória e atrasar o homem que pode, sob suas asas, buscar ser o operário do Senhor? Ainda, onde será encontrado o consolo e o repouso, se os servos não forem treinados pelo Senhor? O Verbo espera que os homens sejam restaurados ao ministério Divino, para que exerçam Suas funções, cada um de acordo com o seu nível e posição.

O ministério consiste em ser preenchido pelas fontes Divinas, que engendram a si próprias de toda eternidade; assim, o homem poderá lançar todos os seus inimigos ao abismo, em nome de seu Mestre; livrar a Natureza das correntes que a restringem e a mantém na escravidão; limpar a atmosfera terrestre dos venenos que o infectam; preservar os corpos dos homens das influências corruptivas que os perseguem e das doenças que os cercam; preservar, ainda mais, suas almas das influências malignas que as afetam; preservar suas mentes das obscuras imagens que as envolve; trazer repouso ao Verbo, cujas falsas palavras dos homens mantêm em luto e tristeza; satisfazer os desejos dos anjos que olham para ele a fim de que abra as maravilhas da Natureza; finalmente, tornar o universo repleto de Deus, como a Eternidade.

Isto é o que se pode chamar de breviário natural do homem ou oração diária; uma verdade profunda que a Igreja externa talvez não pensou ser seu dever ensinar, mas que preserva ao menos figurativamente, ao fazer de seu breviário um dos deveres mais imperativos de um sacerdote; este é o emprego que o homem deve esperar ao elevar-se em direção a seu Princípio e ousar a implorar a Ele que saia de Sua própria contemplação a fim de auxiliar a Natureza, o Homem e o Verbo. O Espírito aguarda esta época com gemidos inefáveis.

Os caminhos do Homem de Desejo

Oh, Homem de Desejo! Estes são os caminhos reservados a ti; tu não só percebes traços reais de seu destino positivo, como sabes por experiência, que todo o momento que não gastamos com Deus, é gasto contra Ele; isto porque o único objetivo de nossa existência é ajudar a Deus, afim de que retorne ao Seu reino e se estabeleça universalmente em seu trono. Portanto, tu irás chamar continuamente:
"Chorem, profetas! Deixem correr suas lágrimas, almas de desejo, pois não é chegado o tempo em que o Verbo poderá derramar suas riquezas sobre a terra: Ele chora ainda mais do que tu, pois se vê tão contrariado em seu amor".

"Minha mente está determinada por uma santa e firme resolução, a de se dedicar inteiramente ao progresso de sua obra; ela se fixa nisto e jura nunca se afastar de tal propósito; meu pensamento aplicará seu fogo a tudo o que é combustível e estranho à minha essência".

"Irá manter este fogo no meio de todos estes combustíveis até que se aqueçam e se inflamem, dando lugar a uma explosão universal, o som que será ouvido a todo momento, enquanto eu viver".

"Porque o fogo de meu pensamento não causaria esta explosão, como o fogo evanescente que vejo nas nuvens as fazem explodir?"

"Será o pensamento do homem, um raio vivo, procedente de um fogo ainda mais vital que ele próprio, menos privilegiado do que este fogo natural que deixará de existir quando a Divindade desviar seus olhos dele?"

Não! não! Tenha consciência de sua dignidade e de sua grandeza; entregue-se inteiramente à sua obra e ao seu progresso. Os inimigos de ambos estão por perto; se não se identificam com você neste momento, a verdade é que apoderaram-se do posto feito para ti e fazem de tudo a fim de evitar que você chegue até ele.

"Não se desvie até conseguir purificar este posto, para que só você tenha autoridade ali e os últimos traços dos passos do inimigo sejam apagados".

"Tenha o cuidado de acender fogos, em todos os lugares que ele possa ter habitado e por onde quer que ele tenha passado, a fim de purificá-lo; pois, após ter sido um campo de assassínio e massacre, este posto pode se tornar um templo de paz e santidade".

"A SANTIDADE do VERBO é o fogo que você deve acender em todos os lugares em que o inimigo possa ter habitado; de fato, só esta palavra fará com que fuja e com que seja banido de seu posto".

"Não fale outra palavra pelo resto de seus dias; não se prenda mais nas sombras das opiniões dos homens; separa-se de seus estudos de trevas. Você tem a certeza de estar no caminho da vida, no instante em que seu coração pronuncia A SANTIDADE do VERBO".

"As opiniões de trevas e os estudos obscuros dos homens irão te impregnar com sua confusão e ignorância; contudo, não olhe para traz uma vez que tenha posto as mãos à obra".

"Deixe a paz reinar entre você e todos aqueles que acreditam na Santidade do Verbo, e deixe que todas as diversidades de opiniões terminem. Naamam, o General do exército do Rei da Síria, acreditava na SANTIDADE do VERBO, e quando pediu a Elisha, que o curou de sua lepra, se poderia ter a permissão de acompanhar o rei à cerimônia no templo de Rimmon, o profeta lhe respondeu: "Vá em paz".

"Deixe os fantasmas e ilusões de todos os mundos, permita que os poderes livres do abismo, se apresentem diante de ti; a partir de então eles irão encontrar em seu posto, sempre, e saberão que pretendes estar ali eternamente".

A sublimidade das posições do Homem; sua oração

Oh, Homem, assegure a sublimidade e a extensão de seus privilégios! O universo sofre; a alma do homem esta no leito do sofrimento. O coração de Deus espera que você dê acesso ao Seu Verbo no Universo e na Alma do Homem. Logo, você tem o poder de dar repouso ao Universo, a Alma do Homem e ao Coração de Deus.

Oh, Homem, você não escuta como todos pedem a ti o repouso; como imploram a ti para que não negue este repouso; como dirigem a ti esta tocante suplica:
"Diga uma só palavra e minha alma será curada!" Uma oração que você deveria ter continuamente em sua boca, dirigida a Ele que foi o primeiro a estender seus braços para te ajudar em tua aflição.

Oh, Homem, diga então esta palavra! Você não terá o seu próprio repouso enquanto não pronunciá-la. Não deixe mais que o coração do homem permaneça fechado em seu frio confinamento; faça com que o centro da alma humana se abra. Tal é a sua grandeza, que o repouso de todas as regiões está ligado com o próprio repouso e glória da alma. Por este intermédio, o homem não só é colocado como o soberano e administrador das obras de Deus, mas também constituído e estabelecido pela eterna caridade Divina; o seu ardor e o seu amor podem se tornar o compasso do amor e ardor do Poder Eterno; que seu coração possa, de alguma forma, se tornar o Deus de teu Deus.

Porém, se seu coração pode, de certa forma, ser aqui em baixo o Deus de teu Deus, imagine as conseqüências caso você pare! O Homem não pode parar um instante a sua obra sublime, sem que tudo o mais sofra com a sua preguiça e indolência!

Oh, Homem, respeite o seu trabalho! Deixe o seu Ministério sagrado ser a tua glória; mas estremeça! Você é encarregado pela harmonia da natureza, pelo repouso das almas de seus semelhantes e pelas inefáveis alegrias Daquele que É, e cujo nome é SEMPRE.

É verdade que a oração do homem não é menos necessária para a felicidade das criaturas do que o movimento é necessário para a existência do universo. Contudo, esta oração possui dois momentos: um deve ser empregado em atingir nossos postos, o outro em cumprir seus deveres: nenhum deles deve conhecer um só momento de suspensão.

O Homem não deve repousar mais do que o Próprio Deus. O repouso do Homem se torna até mesmo uma oração, quando tem o cuidado de orar virtualmente antes de repousar. A ação de Deus e a ação do Homem, estão unidas e devem sempre ser simultânea. O Homem é espírito, Deus é espírito; O Homem tem o poder de dizer a Deus: Nós dois somos espírito: permita que nossa ação seja coordenada! O Homem pode, sob os olhos de Deus, influir na oscilação do pêndulo que regula os movimentos das diferentes regiões do ser; ele é designado a dirigi-lo.

Faça tudo de acordo com Deus; subjugue toda faculdade numa oração incessante

Que o homem descubra aqui que pode se permitir a tudo desde que esteja em conformidade com Deus. Jacob Böehme disse que mesmo o desejo era um pecado. Se um desejo não compartilhado por Deus é um pecado, um pensamento que não é de Deus é uma armadilha, um projeto que não vem de Deus, é uma usurpação de Seus direitos; uma ação que não é de Deus, é um roubo cometido sobre Sua atividade universal; um único movimento que não é de Deus é um crime de ambição impensada.

Antes de tudo, o Homem deve dizer a todas as suas faculdades, propriedades e formas: "Eu, na qualidade de Pai e chefe da família, ordeno a cada uma que cumpra sua função em mim, para que quando a Ordem Universal vier, me encontre pronto. Não deixe, nem por um instante, de contribuir com sua vigilância e atividade, a fim de manter a ordem em mim; use seus poderes constantemente nesta obra especial; vocês são criaturas de ação; quanto a mim, devo unicamente empregar a vontade, pois sou a imagem de meu Princípio".

Oh, Homem! sua degradação não te dispensa até mesmo da perpetuidade da oração. Em primeiro lugar, suas mãos deveriam estar perpetuamente erguidas ao céu. O decreto Divino te condenou a abaixá-las a fim de trabalhar a terra e dali tirar o seu sustento; contudo, enquanto estiver empregado nesta tarefa dolorosa, o homem ainda deve levantar as mãos de sua alma em direção à Fonte de Luz; apenas as tuas mãos corporais estão condenadas ao trabalho terrestre. Acima de tudo, cuidado para não usá-las numa injustiça. O homem da torrente não só não levanta suas mãos ao céu; não só não as abaixam à terra a fim de cumprir sua sentença; mas também rouba, foge desta sentença e através deste crime social, viola de uma só vez, as leis do céu, da terra e aquelas da irmandade ou da família.

Oh! que injuria a cobiça não cometeu e ainda comete ao céu, ao homem e à terra! Ao céu porque destroe toda confiança no Princípio Supremo, o único Poderoso de quem se pode esperar riquezas vivas, ao invés dos mortos e desvirtuosos tesouros que o homem rouba e acumula com tanto cuidado; ao Homem, porque além de destruir sua confiança em seu Princípio, o priva do empenho e da atividade de realizar sua grande sentença que condenou toda a humanidade ao suor de sua fronte; à terra, porque pela cobiça se vê privada do cultivo.

O julgamento das palavras dos homens

Se a fala foi dada ao Homem com os mais sublimes objetivos, qual será, um dia, o destino de sua palavra, tendo em vista os abusos que comete diariamente?

Toda palavra que não tem contribuído para a evolução universal terá que ser reformulada.

Toda palavra que tem se prestado a aumentar a desordem será destituída.

Toda palavra que tem sido usada por escárnio e blasfêmia será lançada num poço corrosivo, onde se tornará ainda mais venenosa e corrupta.

O Verbo Eterno terá que ser novamente emitido e levar de volta ao seu seio todas as falsas, vãs e infectadas palavras do homem, fazendo com que passem através do fogo de seu inefável julgamento; o Verbo irá reformular aquelas que ainda são possíveis, colocar aparte aquelas contaminadas e lançar ao poço corrosivo aquelas que já se encontrem completamente infectadas.

Os sofrimentos do homem de desejo, devido aos abusos da fala

"Senhor de todas as Coisas", exclama o homem de desejo, "que dor pode ser comparada à minha, quando vejo que a palavra que tu tens oferecido ao homem, torna-se um instrumento mortífero, apontado contra ti e teu Verbo?

"Oh! a dor é muito grande para mim! Não suporto a prova que me é imposta; ela excede a resistência da natureza! O que deve, ser então, a inexaurível infinidade de tua eterna alma Divina, oh! Supremo Poder, se a alma humana, que é apenas o seu reflexo, pode sentir uma similitude de tais dores!"

"Porque tu expõe a alma humana a tal sofrimento, pois assim ela mal pode falar aos seus semelhantes sobre sua infeliz condição? Ela é obrigada a ficar quase que em silêncio com relação a suas doenças; a alma deve guardar sua terrível angústia para si, assim como tu guardastes em teu inefável coração a angústia causada pelas falsas e duras palavras de toda humanidade".

"Teu amor deve ser tomado à força: não te darei sossego até que tu restaure o sopro à minha palavra, a fim de que possa gemer livremente pela desarmonia da Natureza, pelas misérias do homem e pela angústia de tua própria alma Divina".

"Contudo, o único caminho verdadeiro para obter esta graça é trabalhar incessantemente para restaurar em mim a harmonia que tu engendrastes e mantinhas em todas as regiões. Sim! Devo trabalhar incessantemente para tornar minha palavra o Deus de meu égo e de meu círculo, como tu és o Deus do círculo infinito, como tu és, irei deixar de ser um estranho a ti; iremos nos reconhecer um ao outro como espíritos; tu não terás mais medo de aproximar-te de mim e manter um diálogo comigo.

"Só então estarei vivo; só então minha palavra poderá se fazer ouvida no desertos do Espírito do Homem. Para fazer uso próprio e verdadeiro de minha fala, não devo pronunciar nenhuma palavra que não crie aperfeiçoamento ao meu redor; não pronunciar nenhuma palavra senão aquelas que irão criar vida e melhorias à minha volta; não devo pronunciar nenhuma palavra que não seja sugerida, proposta, comunicada, comandada".

A felicidade do homem, no tempo e na eternidade, depende do santo uso de sua fala

Quão fecundo é o Autor Supremo da paz e da ordem, e quão inexaurível em sabedoria e tesouros de bondade! Ele fundou o ministério do homem e sua felicidade na mesma base, e o designou a falar e agir, apenas para fazer o bem, assim como Ele; o homem não pode fazer o bem sem que o Verbo o torne feliz ou vivificado.

O homem está destinado a desfrutar uma felicidade permanente como a Sua; e para tanto bastaria que nunca se separasse do Verbo, e nunca interrompesse sua correspondência com Ele. Porque Deus não faz nada além do bem? Porque Ele não permite que nada proceda de Si senão o Verbo vivo.

Porque Ele é feliz sem interrupção? Porque Ele nunca deixa de ouvir falar e sentir o Verbo da Vida. Porque Ele está sempre sereno e em repouso? ou porque Ele está vivo?

Porque Ele fala sempre, e o Verbo que pronuncia internamente, em Seu próprio centro, nunca deixa de engendrar ali ordem e paz, porque nunca deixa de engendrar a vida.

E você, oh Homem! destinado a ser a fala ou palavra ativa, de acordo com sua proporção, através da eternidade, assim como é Deus universalmente? Não demore nem mais um instante, trabalhe com toda sua força a fim de tornar a fala ou a palavra ativa, ainda neste mundo: isto não deve lhe parecer impossível, mas considerado uma obrigação; será simplesmente recuperar o que é privilégio seu, já que és destinado a ser uma palavra ativa, eternamente.

Sim, o homem que se une à sua Fonte, pode adquirir tal grau de atividade e sabedoria, que cada sopro que provir de sua boca será capaz de produzir e espalhar uma influência gloriosa, a quintessência do bálsamo universal da purificação.

O Homem é uma criatura indigna do nome, injusta ao mais alto nível e um criminoso assustador, quando permanece um só instante sem disseminar o Verbo ativo e santo sobre a Natureza ou o Homem ou a Verdade, em aflição.

Ora! por que é possível esta assustadora, infrutífera e cega perda de palavras, da qual os homens são continuamente culpados? Os Salmos dizem, a boca é um sepulcro aberto: o que, então, dever ser esta região terrestre, que recebe incessantemente, em seu seio as palavras mortas e cadavéricas que procedem, sem parar, da boca do homem e flutuam na atmosfera? Que temerosas trevas são estas em que a família humana quase inteira passa seus dias de vida.

A eternidade está num ponto do tempo: o presente

Dizem que o tempo é curto demais! Ora! se pegassem o problema e o medissem iriam ver quão imensa é a sua extensão; ficariam surpresos com a abundância de tempo que Deus nos tem ofertado tão prodigamente! É tanto que se pudéssemos fazer uso de uma infinitamente pequena parte do que nos é dado, logo seríamos colocados acima do tempo. De fato, não há um homem que não tenha tido, durante seu tempo de vida, um momento suficiente para se aderir e abarcar a eternidade; pois não há um ponto do tempo em que esta eternidade, não esteja contida em sua integralidade. Como podemos então, ser tão ignorantes com relação à vasta extensão do tempo, já que o podemos medir com a própria eternidade, que é a sua escala: ao invés disto, o medimos apenas pelos resultados parciais do próprio tempo, que são sempre variáveis, indefinidos, corrosivos ou vagos!

Desta forma, tudo o que percebemos é o seu vazio e temos a sensação de que é tão curto e estéril. Ah! Se pudéssemos sentir do que ele é cheio, quão vasto e fértil nos pareceria! A universalidade das coisas é uma grande balança; a eternidade é seu vértice e regulador o tempo, seus dois pratos. A eternidade, o pivô do tempo: ela está somente neste ponto universal fixo em que o tempo se move e repousa.

Por outro lado, dizem que o tempo é muito longo e lutam para encurtá-lo: fazem isto, não extraindo o que há nele, mas permitindo que corra sem que os preencha com a vida que contém; quando o tempo passa, pensam ter atingido seu objetivo, enquanto que apenas se esgotaram com projetos inócuos e ocupações fúteis, para não dizer com sua cobiça criminosa, tão ultrajante ao Princípio do homem.

Como o presente está perdido no passado e o futuro é incerto!

De fato, os homens não sabem como fixar o presente, pois este não está mais perto deles; o presente sempre espera que encontrem o que desejam aqui e agora; eles se apoderam avidamente de tudo o que é apresentado diariamente a seus olhos nas ordens terrestre, política, científica ou meramente social, que estão repletas de ocorrências pueris, como testemunhamos. Isto é o que faz a multidão buscar espetáculos de todos os tipos, desde o teatro aos menores incidentes em nossas ruas e as conversas superficiais da frívola sociedade.

Mas, ao invés de fixar o presente agindo desta forma, toda esta incessante curiosidade junta é transportada ao passado. Como só acumulam coisas do tempo, tudo isto se transforma em coisas do passado; o único uso que fazem destes fatos é relatá-los posteriormente, motivo pelo qual há tantos narradores no mundo. Se os homens se ocupassem com o real presente, que não está no tempo, voltariam seus olhos ao futuro e ao invés de serem meros narradores, talvez poderiam se transformar em profetas.

Uma eternidade ternária

Os homens nem sonham haver três eternidades - a sofredora, a militante e a triunfante; expressões que tem sido aplicada à Igreja externa, através da transposição. Contudo, estas três eternidades podem se fazer uma para o homem e acompanhá-lo a cada passo.

Acontece que, se a eternidade ternária acompanha o homem a cada passo, e o homem é a imagem de Deus, este homem não cumpre sua obra, e não repousa, se não participa, habitualmente, dos tesouros desta eternidade ternária; este tesouro existe para libertá-lo continuamente da morte, assim como todas as criaturas. É somente este tipo de milagres que ele tem que realizar no tempo: quando o tempo não mais existir, ele pode se devotar de outra forma, se é que adquiriu este privilégio, através de seu ardor e estudo no cultivo dos milagres precedentes; este novo tipo de milagre será manifestar, eternamente, as maravilhas da vida.

O Homem é um foco do milagre perpétuo

Quando o homem de Deus instrui seus semelhantes nenhuma de suas palavras deixa de ser confirmada por sinais vivos de sua eleição e da presença virtual do espírito da vida em si. Assim, este homem deve, por assim dizer, não ser nada menos do que um perpétuo e inexaurível foco de milagres, que procede incessantemente de todas as suas faculdades e órgãos; esta era sua prioridade em seu primeiro estado, e tal será seu destino final quando estiver reintegrado na Fonte Universal, onde prodígios e milagres terão meros deleites a produzir e distribuir; não haverá mais desordem ou iniqüidade a ser vista ou combatida.

Agora não precisamos mais perguntar, porque o homem deveria ser um pequeno foco inexaurível do milagre perpétuo: é porque a vida Divina deve habitar perpetuamente nele, e abrir ali uma entrada para as obras a ele confiadas; estas são tão inumeráveis, que todos os esforços combinados, de todos os homens, mal seria suficiente para realizá-las. A realidade é que muito poucos conhecem o importante ofício do Espírito Santo, que os homens deveriam realizar aqui embaixo!

Sim! a vida Divina busca continuamente arrombar as portas de nossas trevas e nos adentrar com seus planos, para a restauração da Luz: ela vem até nós tremendo, chorando e, por assim dizer, implorando para que nos juntemos a ela nesta grande obra; a cada solicitação ela deposita um gérmen em nós, um gérmen concentrado; é nosso dever desenvolvê-lo posteriormente. Ora, para nos auxiliar neste empreendimento Divino, a vida Divina não deposita nenhum daqueles gérmens em nós, sem que, ao mesmo tempo, deposite um extrato da substância sacramental onde possa repousar nossa confiança, com uma jubilosa convicção de que estes gérmens não deixarão de crescer, se nos aplicarmos, em espírito e em verdade, ao seu cultivo.

Estes sinais não tardariam a se revelar; se déssemos o devido valor a esta substância sacramental e se atribuíssemos a esta vida Divina todo o ardor que merece e exige de nós.

Ela faria com que todas as coisas se tornassem o centro e a palavra, como a própria vida Divina; no entanto, busca continuamente fazer de nós o centro e a palavra, universalmente, para que através de nós, todas as regiões possam se tornar a mesma. Ela nunca chega até nós sem ter dissolvido algumas porções das heterogêneas substâncias, que são opostas à nossa comunhão livre e universal.

O Universo é um obstáculo para a oração; O homem precisa purificá-lo

Esta é nossa condição terrestre, oh Homem! este é o mundo, um obstáculo contra a manifestação destes gloriosos sinais, deste testemunho solene; a condição terrestre é um obstáculo para a oração; Isaías estava certo em pedir ao mundo para escutá-lo, pois o universo faz barulho demais e o Verbo não pode ser ouvido.

Seja ardoso, tenha uma fúria santa; tome o senso de purificação, vá e disperse as nuvens que te circundam; vá e dissolva as substâncias coaguladas que causam a opacidade deste universo e formam os obstáculos para a sua oração, impedindo-o de penetrar o santuário Divino, afim de forçar o Regente Supremo a sair de Sua própria admiração e auxiliar as regiões.

Tome a tocha viva que, podendo produzir todas as coisas, é capaz de tudo consumir; vá e ponha fogo naquelas essências corruptas do universo que o transformam num obstáculo à oração. Não és tu, oh Homem, a causa pela qual estas essências corruptas estão tão acumuladas a ponto de pesarem tanto sobre ti? Portanto não cabe a ti auxiliar em sua purificação?

O que devo dizer? Não és tu quem deve fazê-lo? Não és tu, a causa destas substâncias terem se espargido diante de ti como um fantasma, escondendo o templo de oração da tua vista? Não cabe a ti, portanto, reduzi-las ao pó e disperçá-las até os últimos traços?

Que glória, que consolo será o seu, oh! Homem de desejo, se, por suas lágrimas e esforços, for capaz de contribuir para esta grande vitória e assim garantir o repouso da alma humana e do Verbo! Todos que, como tu, tem cooperado nestes trabalhos sublimes, irão, algum dia, ser posicionados, como notáveis e terríveis espadas no arsenal do Senhor; serão pendurados para sempre nos arcos eternos de Seu templo; e sobre cada uma destas lâminas será escrito um nome imortal, proclamando seus serviços e triunfos através da eternidade.

A oração deve produzir tudo, pois a obra está com ela

Este então, é o caminho que te conduzirá à morada da oração, que o investirá destes poderes. Comece por expelir do universo o inimigo que procura unicamente corrompê-lo, assim como um prisioneiro busca surpreender e se esconder de seu carcereiro. Haverá então, um grande obstáculo a menos opondo-se à sua oração; o universo se revelará a ti em suas simples proporções, embora terrivelmente enfraquecido.

O que terás que combater a seguir? Será aquela pungente fermentação que mantém as bases fundamentais da natureza neste estado de violência e confusão. Trabalhe para conter e deter esta fermentação; e o espírito do universo, liberado deste assustador impedimento, ficará mais acessível aos seus esforços; tens também este espírito do universo para atenuar e subjugar: um operário cego diante do bem e do mal não está nas mesmas condições?

Quando tiver atenuado e subjugado este espírito do universo, chegarás àquela natureza eterna que não conhece o bem e o mal e nem a pungente fermentação; ainda menor será a perseguição do inimigo; adentre a clausura desta Natureza eterna, encontrarás ali, seu lugar de repouso e o altar sob o qual deve depositar suas oferendas; a Natureza Eterna é habitada pelo Espírito Puro, pela Inteligência, pelo Amor, pelo Verbo e pela Majestade Sagrada; a partir de então irás perceber o que é uma oração: é só destas fontes Divinas que ela pode vir, fluindo de tal forma em teu seio, que tu poderás espalhá-la sobre o mundo.

Esta é a obra que cada indivíduo da espécie humana é encarregado a realizar em si próprio; esta é a Obra que a Sabedoria Suprema luta por completar universalmente; os operários do Senhor em verdade e justiça são chamados a juntar-se a este imenso empreendimento. Trabalhe, oh operário do Senhor; não relaxe em seus esforços, nesta magnífica realização; gloriosas recompensas te aguardam.

O universo se desintegra afinal! Queima! Está prestes a ser demolido em suas próprias bases, e dissolvido! Tu escutas a santa e eterna oração ascendendo através das ruínas do mundo? Como comprime suas barreiras; quão penetrantes são seus melancólicos e murmurantes sons!
Oh, Homem, ore então, e irás escutar a oração eterna acompanhada de sons de júbilo e consolo.

Deixe as sagradas regiões se regozijarem; observe! as harpas puras se adiantam, os cânticos sagrados estão prontos; regozije-se, pois os hinos Divinos estão por começar; regozijese, há tanto tempo não são ouvidos! O cantor escolhido está restaurado afinal; o homem está prestes a cantar as canções de júbilo; não há mais obstáculos que o impeça; ele dissolveu, demoliu e queimou tudo o que obstruía sua oração! Bendito seja o Deus da Paz, para todo o sempre. Amém!

Não tenha medo: apenas acredite

Como é encorajador estes quadros que o homem de desejo tem contemplado; quadros que te chamam a nada menos do que te aproximar do santuário Divino e implorar à própria Sabedoria Eterna que saía de seu estado de repouso e de sua própria contemplação, afim de olhar e consolar tudo o que sofre. Ouço este homem de desejo, restrito por sua própria humilhação, dizer a si mesmo, internamente:
"Oh, Altíssimo Criador Eterno de todas as coisas, cabe à tua criatura, paralisada e desfigurada pelo crime universal, ousar a estimular o Princípio generativo da ordem e da harmonia? É para coisa alguma que iremos evocar o Ser dos seres fora de Sua própria contemplação? É para a morte que iremos despertar a Vida? Não! Não serei tão audacioso!"

Contudo, o vejo perseguido pelo sentimento de grandiosidade do mal, pelas dores de tudo o que sofre e pela imperiosa falta de justiça. O vejo então reviver sua coragem; o vejo então confiar novamente no Verbo que prometera lhe proporcionar todas as coisas, fortalecido ele poderia pedir em Seu nome. O vejo abordar os portais Divinos e ouço oferecer estas humildes súplicas:
"Oh, Altíssimo e Criador Eterno de todas as coisas, se Ele a quem chamo de Eleito de Seu próprio Amor tivesse olhado para mim com olhos de compaixão, se dignado a fazer Sua morada em mim, com certeza recorreria a Ele, afim de que me guiasse e me sustentasse em meu empreendimento santo; a Ele remeteria todos os direitos que Tu, em Tua inexaurível magnificência, tem me dado como homem; teria então a certeza de que não há profundezas em ti que eu não possa alcançar; nenhuma Luz em ti que eu não possa ascender; nenhum sentimento de amor ou beneficência em ti que eu não possa fazer germinar, já que este Eleito não é senão um contigo, tu e Ele estão ligados por uma aliança eterna e indissolúvel.

"Oh, Altíssimo e Criador Eterno de todas as coisas, em nome deste Eleito de Seu próprio Amor, ouso me apresentar diante de ti; Ele me ensinou a conhecê-lo, ele que tu enviastes; me ensinou a conhecer a ti que O enviou; em Seu nome irei solicitar teu amor e ardor beneficentes, por tudo o que é, e que fora banido da ordem e da harmonia. Através Dele procuro interromper o êxtase de paz e a admiração íntima e inefável de teu próprio Ser que tu produzes continuamente; através Dele devo orar a ti afim de que suspendas os deleites de tua própria contemplação.

"Em Seu nome, irei implorar a ti a trocar aqueles dias de alegrias por dias de tristezas, a fim de permitir que a radiante passagem de tua glória seja coberta de lamentações, que venha e mergulhe teu olhar repleto de fogo, num clima árido e frio; na região da morte, penetre Tua fonte de Amor que porta consigo eternamente a Fonte de Vida universal.

"O que pode ser mais urgente do que os motivos que me impelem a clamar Tua atenção? A questão é, será que Tu virás em auxílio da natureza, do homem e do Verbo?".
Quem irá me auxiliar aqui, a burilar profundamente a figura que o homem de desejo deve se tornar, afim de ser capaz de despertar a Majestade Suprema fora da intoxicação Divina que Sua própria grandiosidade e o brilho de Suas próprias maravilhas, produzem continuamente? Ele que participa desta intoxicação Divina e que está sentado no meio daquelas maravilhas eternas.

Os impulsos de nossa vontade são dados para evitar a abordagem do inimigo.

Os princípios de nossa vida elementar são dados, não só para mantermos nossos postos, mas também para efetuar uma abertura nas defesas da muralha e abrir o caminho para atacarmos o inimigo em sua fortaleza.

Os poderes ativos da Natureza são colocados à nossa disposição, para consolidar nossa força e renovar continuamente nossos meios de luta contra o inimigo quando a abertura é realizada.

As virtudes poderosas dos homens de Deus de todas as épocas nos são oferecidas para nos fortalecer e apoiar, afim de que nossa própria virtude espiritual possa tomar coragem e confiança na luta, assim como nos instruir nas maravilhas e grandezas que enchem o reino de Deus, que começam a conhecer, mesmo enquanto estão em seus corpos terrestres.

O virtual apoio sagrado do Redentor nos é garantido e revive em nós todas as regiões e poderes anteriores, sobre a qual Ele está sentado e aos quais Ele comunica Sua vida universal.

Não perca um só momento, oh alma humana, em reviver em ti todas estas proporções, se permitistes que morressem. Faça estes poderes, cada um em sua classe, evoluírem sempre, sem olhar para a mão direita ou esquerda; este é o caminho da justiça.

Faça os poderes harmônicos da Natureza abrirem um caminho para as virtudes vivificantes dos homens de Deus de todas as épocas, nos quais manifestaram ou ao menos proclamaram, as maravilhas do reino da Vida.

Faça as virtudes vivificantes dos homens de Deus, de todas as épocas, abrirem um caminho livre para a voz soberana e regente do Divino Chefe e Redentor, que rege no céu, na terra e nos infernos; pois tu és um membro morto, e logo será mortífero, se Ele deixar, por um único instante, de comunicar Suas ordens efetivamente, através de Seu Verbo, para todo o seu ser.

Oh! homem de desejo, seja ágil, santificado e harmonizado em todo o seu ser; universalmente, irás, em sua unidade parcial, ser uma imagem da Unidade Universal; então, através da analogia santa que existirá entre o Regente supremo e tu, sua alma entrará naturalmente no santuário deste Deus Supremo; e quando Ele ver que tua alma adentra este santuário, não poderá deixar de recebê-la, e beber do amor por sua beleza; pois tu serás, da mesma forma, uma de Suas maravilhas.

Porém, não deixe seu coração esquecer seu propósito: terás ascendido ao trono da Divina Majestade apenas para trazê-la, de certa forma, fora da exata intoxicação a qual contribuiu para proporcionar com a tua presença!

Deixe que um sinal ainda seja ouvido no meio de seu triunfo. Conclusão

Busque, então, este momento feliz, quando tudo será Divino, tanto para ti como para tudo à sua volta; faça com que um sinal seja ouvido no meio deste circuito de felicidade e júbilo. A este sinal, o Regente Supremo irá voltar Seus olhos a ti, com interesse. Quando Deus olha para uma alma, é para ver em sua profundidade e convidá-la a expressar tudo o que sente através de uma tenra providência. Aproxima-te, então, ainda mais perto Dele, neste momento e diga:

"Senhor, trago apenas lamentos ao meio de teus deleites celestiais; minha voz só pode emitir prantos de dor, no seio da alegria Divina. Permita, Senhor, suspender teu êxtase e júbilos, para ouvir as causas de meus sofrimentos!"

"As riquezas que tens depositado na Natureza são desperdiçadas pelo Homem, que tu colocastes no mundo afim de que desenvolvesse estas maravilhas aos olhos da compreensão humana; através da negligência deste administrador descuidado e descrente, tuas riquezas tornaram-se presas do inimigo, que as dissipou, ou então as envenenou com seu veneno corrosivo; desta forma o homem não mais pode se aproximar de tuas maravilhas sem o perigo de infeção por parte dos vapores pestilentos do inimigo".

"Os rios do universo, ao invés de circularem livremente; e disseminarem em todos os cantos, suas águas fertilizantes, estão transformados em massas congeladas".
"Aquelas produções magnificentes que tu criastes como inúmeros instrumentos para transmitir os sons da pura harmonia a nós, estão em silêncio, porque o ar e o espírito deixaram de penetrá-las. Roucos e repulsivos sons, que criam o medo onde quer que sejam ouvidos, é tudo o que compõe o concerto da Natureza agora. O Homem a chama em vão, e exige que demonstre Tua glória, ao manifestar as maravilhas que depositastes em seu seio; ela nada responde; Tuas maravilhas permanecem ocultas, como numa caverna impenetrável; e Tuas promessas não mais são ouvidas pelo homem".

"Se eu falar a ti sobre as doenças da família humana, minhas lamentações serão aumentadas ainda mais. O seu Homem, a bem amada e radiante imagem de teu próprio esplendor, permitiu que todas suas cores se ofuscassem. Ele não só esqueceu de seus títulos originais, mas têm até agora se afastado de seu destino primitivo; ao invés de manifestar a ti, como era o propósito e privilégio de sua natureza constituinte essencial fazer, ele está armado contra ti; ele não mais é considerado vivo, por aqueles que se dizem soberanos nos domínios do pensamento, exceto quando notam que toma posições entre teus adversários, e serve neste exército".

"Se não vêm este sinal no homem, de acordo com estes mestres imperiosos, é considerado morto: consideram este o único sinal pelo qual pode ser reconhecido e admitido como verdadeiro homem; sem ele irão olhá-lo como um aborto, cuja existência certamente não possuem".

"A boca do homem, que deveria proclamar Tua glória, pronunciar Tuas maravilhas em todo lugar, é agora um sepulcro aberto, como teu Verbo expressou; mas a própria morte se tornou viva nos homens. Não são mais ossos de homens mortos em sepulcros imaculados; os ossos são ativos, e saíram de suas tumbas, com toda sua corrupção, espalhando infeção; pois, energizando-se no centro da iniquidade, fizeram com que a própria corrupção adquirisse movimento neles".

"As almas humanas se tornaram corpos andantes, buscando liberdade por toda a terra, com seu hálito pestilento, fazendo com que todo ser que tenha uma idéia da vida fuja de sua presença".

"Sim: deixe agora que o homem de desejo busque a ti nos corações de seus semelhantes; deixe que olhe naquele espelho único, em que Tuas feições podem ser vistas, por toda terra, ele não irá reconhecer sequer um traço; irá se afastar cheio de aflição, quando descobrir que não sabe mais onde procurar pelo templo de seu Deus: e tu, oh! Autor Soberano de todos os seres, a menos que expresse algum novo sinal de teu amor e teu poder, logo não terás mais uma testemunha sequer no mundo".

"Se estes quadros não são suficientes para despertar glória, irei falar a ti sobre Ele em quem a amplitude de Tua Divindade habita, em quem tens depositado Teu próprio coração, por assim dizer, afim de que Ele possa vir ao mundo, transmitir e distribuir este amor a esta mesma família que se encontrava tão longe de Ti".

"Ao invés de receber sua porção desta graça inefável, esta luz inextinguível, o último raio que teria revivido todo o seu ser, os homens tentam proscrever este bálsamo sagrado e fazê-lo parecer um veneno".

"O último corrupto entre eles mantém este Ser Divino em temerosas agonias, oferecendo refúgio algum dentre eles; permitindo que vagueie por aí, exposto a todas as inclemências do ar corrosivo de sua morada de falsidade e as agudas flechas de todos os operários da iniquidade. Outros, infinitamente mais fracos, tentam penetrar este coração, esperando assim aniquilar Sua própria existência".

"Oh! Deus Altíssimo, em nome das maravilhas eternas que tens semeado na Natureza perecível; em nome da felicidade dons homens em quem Te dignastes a gravar Tua imagem; pelo teu amor e por tua glória, volte tua atenção, por um instante, do esplendor que enche sua morada celeste e dirige-a as tuas criações".

"Venha e faça com que a Natureza recupere seus ornamentos; venha e arranque a alma humana de sua morte, evitando que se envenene".

"Deus! venha em auxílio de Teu próprio coração, Teu próprio Verbo, e tenha piedade de ti. próprio, salve o homem de um Deicídio; pois este que querem perpetrar é mil vezes mais criminoso do que aquele que os judeus perpetraram no corpo material de Teu Cristo".

"No tempo de Moisés, vistes as aflições de Teu povo e viestes libertá-lo das mãos do egípcios; olhe agora para as aflições de toda a Natureza, de toda a família humana e Daquele que enviastes ao mundo para proclamar as boas novas e o reino do júbilo; tu não irás deixar de vir e fazer, para o alívio de tanto sofrimento, o que fizeste para uma única nação".

"Desde que tu permitiste que minha alma penetrasse no Teu santuário e depositasse ali os lamentos do mundo, as fraquezas do Homem e as angústias de Teu Divino Messias, está assegurado não só o desejo de fixar Tua atenção neste abismo de desolação; há, sem dúvidas, muitos outros pontos a cumprir Tuas ordens soberanas e se devotarem à administração de Teus dons, e voar onde quer que Tu os chamem, para uma obra tão vasta e tão urgente".

"Se desconfiarem de sua própria força e da realidade de seu chamado, Tu irás dizer a eles o que dissestes a Moisés: "Eu estarei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei".

"Então, oh homem de desejo, espere em paz pelos frutos de tua oração: logo sentirás o coração de Deus penetrar todas as tuas essências e preenchê-las com Seus sofrimentos; e quando se sentires crucificado nas mesmas agonias deste Divino Coração, voltarás no tempo, para cumprir, de acordo com tuas proporções e sua missão, o Ministério Espiritual do Homem".

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