Louis Claude de Saint-Martin
Homem: Sua verdadeira Natureza e Ministério
Sobre o verbo

  1. Natureza, uma prisão para o inimigo, uma proteção para o homem
  2. A raiz larval da natureza
  3. O poder de cura: mesmerismo, etc.
  4. Deveres e responsabilidades do homem esclarecido
  5. A má direção do trabalho literário. Partidários da forma e do estilo
  6. A pérola debaixo de seus pés
  7. Descrições proféticas
  8. Nossas obras tomam as características de nossos sentimentos
  9. O mal de retratar as faltas da humanidade
  10. Uma tolerância afetuosa tenderia a curar estas faltas e os homens estariam saldando seus mestres
  11. A linguagem da inteligência universal é o grande desiderato
  12. Os escritores mal olham para os domínios da Verdade e impedem que nós os adentremos. A Hipocrisia destes escritores
  13. Os escritores não podem ensinar aquilo que não sabem. O segredo do falso sucesso
  14. Sursum corda! Resgate a pérola da lama
  15. A Literatura Religiosa
  16. Cristandade e Catolicismo ou Igrejismo
  17. O Cristianismo e a Arte
  18. A Origem e o espírito da arte e da literatura são pagãos: nem Cristão e nem Católico
  19. O Catolicismo toma a complexidade de cada época e circunstância
  20. A arte literária totalmente desconectada do Cristianismo. A literatura religiosa.
  21. Milton e a Bíblia. As gradações da queda Adâmica
  22. A narrativa sacra não adornada pelos poetas, Racine
  23. A arte literária, inútil até nos palcos
  24. O objetivo da arte literária é dar emoções e receber aplausos. A verdade sofre.
  25. As leis da Verdade são independentes da arte e das formas, assim como dos poetas e críticos

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Natureza, uma prisão para o inimigo, uma proteção para o homem

A natureza deveria servir de prisão para o inimigo mais do que para o homem, pois para este ela também serve como proteção. Quando a natureza não está diante dos olhos do homem, o pensamento do inimigo está secretamente despertado nele; talvez o inimigo possa abordá-lo mais facilmente quando este obstáculo está menos ativo, já que o homem não consegue extrair desta preservação todo o suporte que poderia, caso a natureza lhe fosse visível. Assim, neste caso, a presença de qualquer pessoa é tranquilizadora, porque a combinação de suas forças pode afastar o inimigo. É este temor secreto do inimigo que persegue os homens nas trevas; tal temor só pode ser completamente dissipado pelo senso de um poder espiritual, só encontrado quando o homem renasce verdadeiramente ou faz uma aliança com o Verbo.

Quando reconhecemos que as trevas agem tão poderosamente sobre nós e que a visibilidade da natureza proporciona um sentimento de segurança, como podemos evitar a conclusão de que a natureza foi dada ao homem muito mais para a sua preservação e segurança do que para separá-lo da Grande Luz?

A raiz larval da natureza

Já foi dito que este medo tem produzido larvas em algumas pessoas. Esta opinião que foi lançada pelo Dr. Andry em seu "treatise on the Generation of Worms in the Human Body" corresponde a princípios verdadeiros. Aqueles que tiveram a oportunidade de considerar e compreender as formas fundamentais da natureza, estão cientes de que a larva retrata a raiz da natureza, a degradação pela qual tem passado e o esforço que faz, em vão, para se livrar da angústia, através da sua contínua circulação.

O poder salutar que aplicou uma restauração à esta raiz desordenada, fez com que a natureza se tornasse oculta a nós durante a existência animal. Ela está, por assim dizer, absorvida pela influência harmoniosa e beneficente desta restauração. Mas quando, por qualquer causa que seja, a natureza vem a ser perturbada e perde seu domínio, então a raiz larval toma as rédeas naturalmente e aparece. Ora, de todas as nossas paixões, fraquezas e medos aquilo que mais prontamente nos priva da fala é também o mais apto a perturbar a restauração e consequentemente o mais apto a gerar nossa raiz larval com suas produções, uma preeminência que de outra forma não ocorreria, se, por exemplo, o homem tivesse a posse de sua fala.

O poder de cura: mesmerismo, etc.

O poder de cura que, contudo, deve ser considerado um privilégio secundário, até mesmo no homem regenerado, se transforma numa das armadilhas que o inimigo nos prepara quando, ao exercitar este poder, fazemos uso de algum meio extraordinário; especialmente, se o usarmos por nossa própria mera vontade humana. Quando o homem usa esta prática pelo poder e autoridade Divina, ele esta perfeitamente em ordem tanto em relação a si próprio quanto ao paciente, porque assim a Vontade Suprema rege os dois. Podemos acrescentar que é só então que o homem pode ter certeza de atingir algum sucesso. Quando ele atua através do magnetismo e do sonambulismo, ele pode ferir seu paciente, mesmo ao curá-lo, pois não sabe se sua doença pode ter tido um objetivo moral que será neutralizado por uma cura prematura; desta forma, o operador se expõe enormemente, porque não sabe se intrometeu-se num ministério mais elevado; ele tem portanto, sempre razão em duvidar destes resultados.

Quando o homem atua unicamente através da medicina comum, não peca, mesmo que seja ignorante porque, como usa somente substâncias de ordem inferior, só atinge o corpo material; então, se a doença tem uma causa e um objetivo moral, o remédio não terá efeito já que a ordem moral é superior.

Assim, o médico comum que emprega sua ciência de forma prudente e modesta, submetendo sempre os resultados ao Grande Governador, está mais em ordem e seguro do que o magnetizador, que usa meios de uma classe superior com tanta segurança, leviandade e orgulho.

Deveres e responsabilidades do homem esclarecido

Destas observações, aprendemos a ver quão longe o homem está de seu objetivo, quando abusa do privilégio de uma ordem superior, aquele de curar uma doença do corpo. Faço alusão ao bálsamo universal para a cura de nossas doenças espirituais, que deve fluir continuamente da boca dos homens esclarecidos, das canetas dos escritores e o qual, da maneira que tem sido utilizado, não traz melhores frutos do que o Verbo em suas conversas frívolas.

Portanto é para vocês poetas e homens de letras que me dirijo neste momento: vocês são considerados as luzes das mentes dos homens; é de se supor que vocês forneçam, com seus dons, aquilo que está faltando aos simples mortais. Com que precaução devemos agir em relação a eles se estivermos convencidos de que estes homens têm o papel de preencher aqui na terra o sublime ofício de ministros da Verdade?

A má direção do trabalho literário. Partidários da forma e do estilo

O único objetivo dos homens de letras, o charme que os atraem, é o estilo. Quando eles conseguem que seja dito que suas obras "são bem escritas", parecem atingir o ápice de seus desejos. Este princípio formou tamanha raiz entre eles, que um de seus lideres não hesitou em afirmar que estilo era tudo. Sim, é correto para aqueles que possuem desenvolvido unicamente seu senso extremo e que se sentem completos quando este senso é satisfeito; isto pertence ao sistema superficial, que é o da idade atual...

Para estes clamorosos admiradores do estilo é geralmente verdadeiro que seu senso extremo seja afetado ou passível de ser afetado devido à direção que têm dado as suas faculdades. O homem interno representa muito pouco ou quase nada no que entendem por satisfação. Suas imaginações estão acima de tudo, quase sempre baseadas em uma qualidade perceptível e não racional ou imparcial o que se transforma neles em algo muito mais sensível e convencional do que a verdade viva. Bons versos e lindas frases não são suficiente para eleválos, não importa se são resultados do que é falso ou verdadeiro.

Eu, que rendo sinceras homenagens à verdadeira literatura e que gostaria de vê-la aplicada ao seu objetivo legítimo; Eu, que acredito que seus poderes são tão vastos quanto o próprio infinito e que se supõe servir como um prazer privilegiado, sofro em saber que seus partidários a colocam num patamar tão inferior, restringindo-a à harmonia de palavras, quando deveria ser empregada a fim de coletar grandes pensamentos disseminados e perdidos em nosso deserto desde nossa infeliz dispersão.

Quando vejo os homens literários, especialmente os poetas, se confinarem em regras convencionais da versificação e da arte da escrita e então se glorificarem com alegria, apesar das breves luzes que ocasionalmente nos apresentam, me parece como um homem forte atando todos os seus membros com correntes, pensando que tal impedimento o torna honorável, quando apesar de seu peso, consegue mover um dedo.

O privilégio da verdadeira literatura é ser regida pelas leis do próprio espírito e participar da fecundidade do Verbo. Este tipo de literatura esta acima de qualquer impedimento e tem o poder de ir até ao exato santuário da verdade, a fim de verificar o que deve ser dito e como deve ser expresso.

Contudo, o que acontece com estes ardentes partidários da forma e do estilo? Quando se deparam com uma obra, cuja forma e estilo, fogem à sua convenção preestabelecida, a explicam levando em consideração a localidade e o ambiente em que foram produzidas, isto quando não a condenam aplicando um julgamento ao qual não cabe apelação.

A pérola debaixo de seus pés

Viajando pela terra, freqüentemente caminhamos sobre pedras preciosas, ocultadas a uma pequena profundidade debaixo de nossos pés e não as vemos; isto ocorre com os literários e os homens da torrente que são como eles; quando o literário lê os escritos dos amigos da Verdade, só vê areia e pó, não vê nada da fecunda germinação debaixo da superfície. Oh! quão oculta é a obra de Deus! comece pelo o que está debaixo do véu da natureza, depois pelo que está oculto nas últimas ramificações das relações sociais, das trevas e ignorância dos homens!

Heis o porque das expressões arrojadas, das imagens extraordinárias e eficazes que inundam os livros sagrados e aqueles dos amigos da Verdade; aos olhos vulgares, se justificam somente ao atribuí-las ao estilo Oriental. Por que tais expressões parecem tão estranhas aos homens da torrente? Porque perderam as afeições que produziriam estas expressões no seu interior; porque se prenderam às regiões inferiores, onde os contrastes são mais dóceis, as nuanças quase uniformes e as impressões que produzem quase nulas.

Suspenda seus julgamentos, você que deveria ser nosso guia rumo ao Ministério da Verdade!

Descrições proféticas

Contemple o grande trabalho do espírito e do Verbo; os choques dos mundos agitados caindo um sobre os outros com temeroso impacto; observe os rios de leite e mel que escoam da Jerusalém eterna, a fim de consolar e confortar os fiéis servos da Verdade!

Observe o inimigo desta Verdade tentando incessantemente converter estas correntes salutares em ácido corrosivo e venenoso, para que estes servos não sejam confortados, mas levados à infidelidade. Olhe para a alma humana até mesmo rejeitando estes presentes que lhe são enviados, voltando-se para as festas de Júbilo onde alimentam as serpentes. Olhe a terrível justiça destruindo, em todo lugar, com violência, todos os agentes da desordem, que parecem brotar de baixo da terra!

Olhe o universo da Verdade, desenvolvendo seus maravilhosos poderes, a fim de atestar sua existência ao mundo e obrigá-lo a confessar de que há um Deus! Observe, por outro lado, o universo de Falsidades, declarando suas ilusões e imposturas a fim de atestar que não há Deus algum!

Se você for capaz de se manter frio e imparcial diante de tal espetáculo; se seu pensamento, sua língua não são torturados e não tomam um estilo correspondente, então estará certo ao considerar o estilo das Escrituras como o efeito do ambiente em que fora produzido.

Entretanto, se você se elevar a ponto de ser admitido pelo Espírito aos atos vi-vos que compõem estes quadros; se você estiver presente em espírito, como os profetas, naquelas cenas terríveis de fazer arrepiar, ou aquelas encantadoras que abrem as maravilhas Divinas diante de seus olhos, reconhecerá que os homens de Deus desenharam estes quadros com cores tão vivas e que não podendo usar as mesmas cores ficaram satisfeitos de encontrá-las prontas em suas mãos. Grande será sua consideração com relação a tudo que irá descrever.

Nossas obras tomam as características de nossos sentimentos

A arte de escrever se não for um dom é uma armadilha, talvez a mais perigosa que o inimigo é capaz de nos preparar. É pela escrita que busca nos encher de orgulho ao fazer com que contemplemos a nós mesmos naquilo que escrevemos; ou o que é ainda pior, tenta retardar nosso progresso ao nos fazer esperar, um bom tempo, por o quê e de quê forma escrever.

Se escrevemos levados unicamente por influências inferiores é óbvio que o inimigo estará muito perto para que sua influência não seja sentida.

Nosso próprio sentimento é a substância de que o espírito que nos rege faz uso, seja qual for este espírito. Quando o Espírito puro quer nos ensinar, toma as características dos sentimentos, a fim de comunicar seu desejo. São Pedro estava ansioso quando o Espírito lhe anunciou, figurativamente, que não deveria recusar a se relacionar com os Gentils; o anjo tomou por emblema um pano cheio de todos os tipos de quadrúpedes, bestas, répteis e pássaros.

Vemos então com que cuidado os escritores devem observar seus sentimentos! pois o espírito de mentira pode fazer uso deles, assim como o Espírito da Verdade, este nada nos nega até aos pés de seu altar. Contudo, se tivermos o cuidado de preservar a ordem e a pureza de nossos sentimentos, todos irão cumprir seus objetivos sem prejudicarem uns aos outros, muito pelo contrário, irão zelar e apoiar uns aos outros.

O Redentor também estava ansioso no deserto; o príncipe das mentiras se valeu deste sentimento para tentá-lo; contudo, esta lei da matéria, a qual o Redentor estava sujeito, não obscureceu nele, a luz do Espírito; e a lei de sua inteligência triunfou sobre as emboscadas armadas pelo inimigo segundo sua lei da matéria.

Poetas, homens de letras, reconheçam aqui tudo o que o Espírito pode introduzir em suas mais brilhantes produções.

Todas aquelas imagens e figuras das quais fazemos uso, são quase todas compostas e engendradas pelos hábitos, localidades, modos e sentimentos do povo com quem vivem.

Elas também derivam, com freqüência, de seus próprios hábitos, modos, habitat e sentimentos, pois todo homem é um povo, uma nação, um mundo em si mesmo.
Heis o porque acham tão fácil representar tanto a falsidade quanto a verdade.

O mal de retratar as faltas da humanidade

Se, do estilo, passamos para a substância, veremos que os escritores, críticos e até mesmo os moralistas, parecem estar muito ocupados em descrever os vícios e defeitos da humanidade; alguns deles poderiam dizer que o único objetivo é nos encher de ódio com relação à nossa espécie; ou, ao menos nos mostrar sua existência ao apontar, na humanidade, somente o que é repulsivo e repreensível. Não pensam o quanto ferem a eles próprios e a nós, agindo desta forma.

Em primeiro lugar, o orgulho destes escritores é tudo o que se consegue com este trabalho, pois é raro que conheçam tão bem as faltas dos outros sem que, secretamente, se glorifiquem, pretendendo mostrar através destas observações, que estão isentos de tais faltas.

Uma tolerância afetuosa tenderia a curar estas faltas e os homens estariam saldando seus mestres

Em segundo lugar, estes escritores não sabem que poderiam contribuir muito mais para sua própria glória e nossa felicidade, se nos mostrassem as características satisfatórias da espécie humana, que sempre podem ser reconhecidas, até mesmo na lama em que está mergulhada.

A faculdade afetiva e a tolerância seriam vantajosas, pois este raio de amor que ascendem em nós talvez seria suficiente para consumir uma boa parte daquelas ervas daninhas tão venenosas e destrutivas que tanto gostam de apontar no domínio do homem.

Escritores ilustres, renomados homens de letras, vocês não têm idéia do quanto poderiam estender seu legítimo império sobre nós, se pensassem mais em direcioná-lo ao nosso verdadeiro benefício.

Poderíamos por conta própria, nos posicionarmos ao seu jugo: não teríamos nada melhor a desejar do que vê-los exercitar e estender suas regras. A descoberta de um único tesouro contido na alma humana, enaltecida por seus ricos detalhes, lhes dariam com certeza direito ao nosso voto de confiança e asseguraria seu triunfo.

A linguagem da inteligência universal é o grande desiderato

Os escritores afirmam que tudo o que desejam é serem compreendidos: Bem! poderiam vocês ter maior sucesso em relação a este objetivo, se tentassem introduzir nossos espíritos nas regiões da inteligência universal?

Vocês poderiam falar através, para e desta inteligência; e como ela é a linguagem natural e eterna de tudo o que respira e pensa, é possível por este intermédio exercitar o verdadeiro Ministério do Verbo, cumprindo as expectativas e satisfazendo as necessidades de todas as criaturas. Agora, tal necessidade está tão profundamente enraizada e é tão imperiosa, que se vocês conseguirem satisfazê-la ao tornarem-se compreendidos, falando a linguagem da inteligência universal, não haverá criatura existente que não irá abençoá-los.

Os escritores mal olham para os domínios da Verdade e impedem que nós os adentremos. A Hipocrisia destes escritores

Contudo, os mestres literários e aqueles em geral que nos alimentam com obras da imaginação, não vão além dos limiares da Verdade; eles ficam rodeando continuamente e parecem ter o cuidado de não adentrá-la e de não permitir que seus leitores a penetrem, com receio que só a glória da Verdade irá brilhar.

De todas as obras consagradas da imaginação dos homens, dificilmente encontramos alguma que não seja feita sobre uma base frágil e desgastada, sem falar daquelas baseadas na blasfêmia ou no irreverente resultado de uma orgulhosa hipocrisia. Pois, escritores que falam de providência, moralidade e até mesmo de religiosidade estão incluídos nesta reprovação, caso não tenham condições de dar conta daqueles grandes temas de suas especulações; se trazem tais temas à tona apenas para servir de ornamentos a suas obras e alimento para o orgulho; se sua moralidade não se baseia, principalmente numa renovação completa e radical de nosso ser que é a única forma que temos de cumprir o verdadeiro objetivo de nossa existência.

Os escritores não podem ensinar aquilo que não sabem. O segredo do falso sucesso

Como pode um autor nos ensinar esta doutrina se ele próprio não a conhece? Desafortunadamente o que o frívolo ou perdido espírito (e onde está o espírito que assim não se encontre?) pede aos escritores é que permitam a ele experimentar os prazeres das virtudes, sem aquele contínuo e doloroso processo de renovação, que sentimos ser tão difícil de realizar; pede para que mostrem a ele as infelicidades do crime, estando secretamente conectadas com as forças do destino, permitindo assim que o espírito descanse em suas faltas dispensando sua lei primitiva e original, a qual poderia até mesmo guiar seu destino.

O encanto que muitos novelistas nos proporcionam surge apenas disto. Eles nos poupam da fadiga de ser virtuoso ao nos entusiasmar com algumas imagens de virtude; eles nos dispensam do dever de nos unirmos ao nosso Princípio permitindo que o coloquemos de lado, de tanto nos identificar com o que não é Princípio. Desta forma, ao favorecer a covardia e ao nos preparar um caminho suave, dentro da obscura ordem material, censuram nosso sufrágio e o próprio sucesso deles.

Por esta razão, a época mais propícia a grandes escritores não é aquela propícia ao maior progresso na sabedoria. Um autor torna uma idéia atrativa dando-lhe uma nova direção: o leitor a capta com grande prazer mas, o primeiro se satisfaz ao ter lançado um bom conceito, e o segundo se satisfaz ao senti-lo, ambos se privam de colocá-lo em prática.

Sursum corda! Resgate a pérola da lama

Quando a marcha da mente humana será direcionada a um final mais sábio e proveitoso? Será esta literatura, nas mãos humanas, sempre uma arte de falsidade dissimulada, vícios e erros sob uma roupagem graciosa ou picante, ao invés de ser uma passagem de virtude e verdade? Como pode a Verdade acompanhar tal curso?

Pergunto uma vez mais, oh! astutos escritores e consagrados homens de letras, quando irão deixar de usar seus preciosos dons de forma tão tola e nociva?

O ouro só serve para ornar as vestes usadas no palco? Os raios que deverão comandar a fim de derrotar os adversários de seu bem estar podem ser desperdiçados como fogos de artifícios para a diversão da multidão desocupada? Em estados bem ordenados o que é supérfluo se presta para este papel, toda produção útil do país, existe para prover abundância e segurança aos cidadãos e meios de defesa ao governo.

Vocês pretendem estimular nossos corações e transportar nossas almas com emoções vivas! Onde poderiam encontrar algo mais vivo senão no grande drama do Homem, que nunca deixou de ser apresentado desde o princípio, naqueles quadros reais de dores e assustadores perigos que atacam a negligente família do Homem, desde sua queda? Neste drama, encontrariam cenas prontas, ainda que sempre novas e que consequentemente teriam maior impacto sobre nós, do que aquelas que vocês compõem com a doçura de sua fronte e que vos alimentam, assim como a nós, apenas com imagens artificiais das verdadeiras emoções que deveriam despertar em nós.

O Verbo aqui, desenvolve todos estes poderes maravilhosos diante de nós e poderia, de fato, torná-los mestres de todas nossas emoções e ao mesmo tempo nossos benfeitores. Mas, como poderiam realizar o prodígio de penetrar nossas almas, não estando vocês familiarizados com elas?

É verdade que Deus, algumas vezes, nos empresta nossos próprios pensamentos, ou seja, Ele nos deixa conosco, como um mestre que dá alguns momentos de relaxamento e liberdade aos seus servos, após terem feito seu trabalho. Pode-se supor que isto ocorra com a grande maioria de pensadores no mundo que, realmente, parecem escolares em férias. Contudo, estes escolares estão brincando, de férias, sem primeiro terem freqüentado suas aulas ou feito o trabalho do mestre; eles consomem seus momentos de liberdade, com disputas, discussões e lutas um com os outros; freqüentemente até falam mal do instrutor ou fazem intrigas contra ele.

Imaginem se eu fosse falar aqui da classe científica de escritores, que insistem em dirigir nossas mentes a nada além de resultados superficiais ao invés de dirigi-las ao Centro e ao Princípio. Já disse o bastante sobre eles em várias passagens desta obra.

Como o Homem deve ser o sinal de seu Princípio, que é Deus, tudo em sua existência e em seus caminhos deve ser Divino; tudo deve ser DEO-crático em seu progresso, em todas as suas medidas, sociais, políticas, especulativas, científicas, literárias ou outra qualquer.

Quem não percebe as trevas espalhadas por toda a terra através das obscuras especulações do homem, quando é deixado ao seu próprio espírito? Nestas variações da literatura e das ciências, o que restou do Verbo? o que restou, ao menos da linguagem dos homens?

As palavras tem se tornado, nas linguagens humanas, o que os pensamentos tem se tornado nas mentes dos homens. Se tornaram como mortos enterrando mortos ou vivos talvez, ao menos, muitos que desejavam viver. Muitos homens se enterram a cada dia com suas próprias palavras pervertidas que perderam completamente seu sentido. Eles, desta forma enterram o Verbo.

A Literatura Religiosa

Até aqui considerei apenas a literatura beletrística e seu principal objetivo que é o de divertir; Mal me aludi ao que se pode chamar de literatura religiosa. Vamos agora nos devotar mais particularmente a ela que ainda está mais intimamente ligada ao Ministério Espiritual do Homem e ao Verbo.

Escritores de grande talento tem tentado descrever os gloriosos resultados do Cristianismo. Contudo, embora leia freqüentemente suas obras com admiração, não encontro o que considero ser requerido por tal tema e vejo que freqüentemente nos fornecem eloqüências no lugar de princípios; leio suas obras com cautela. No entanto, se faço alguns comentários sobre seus escritos, certamente não são com um espírito ateístico ou desacreditado. Tenho lutado contra o mesmo inimigo que eles atacam tão corajosamente; meus princípios, a este respeito, têm somente se fortificado com o passar do tempo.

Não será como um homem de letras ou um escolar que farei meus comentários; Deixo esta área a eles, com tudo que ali puderem adquirir. Mas como um apreciador da Filosofia Divina, argumento e eles não podem maltratar um colega que, sob este título, ama, assim como eles próprios, a verdade sobre todas as coisas.

Cristandade e Catolicismo ou Igrejismo

A principal reprovação que apresento contra eles é que a cada passo, confundem Cristianismo com a Igreja (Catolicismo). Vejo freqüentemente, célebres mestres literários atribuírem à religião obras de famosos Bispos que muitas vezes se desviam enormemente do espírito do Cristianismo.

Vejo outros num momento, sustentarem a necessidade dos mistérios (sacramentos, etc.) em outro, tentarem explicá-los afirmando, mais uma vez que a demonstração de Tertuliano sobre a trindade pode ser compreendida até pelos mais simples. Vejo como se vangloriam da influência do Cristianismo na poesia, ainda que concordem em alguns casos, que a poesia se alimente do erro!

Vejo como se desorientam com relação aos números rejeitando, com razão, as especulações fúteis que emergiram do abuso desta ciência, afirmando que o três não é engendrado, que segundo a expressão atribuída à Pitágoras, este número deve existir sem uma mãe, enquanto que a geração de nenhum número é mais evidente que a geração do número três; o dois é claramente sua mãe, em todas as ordens, natural, intelectual ou Divina; a diferença é que na ordem natural, esta mãe engendra a corrupção, assim como o pecado engendrou a morte; na ordem intelectual, engendra variabilidade, como podemos observar pela instabilidade de nossos pensamentos; na ordem Divina, engendra a fixidez, com é reconhecida na Unidade Universal.

Em resumo, apesar do brilhante efeito que suas obras possam produzir, não consigo encontrar aquele alimento substancial que a inteligência exige, a saber, o verdadeiro espírito do Cristianismo, encontro, sim, o espírito do Catolicismo.

Ora, o verdadeiro Cristianismo é anterior, não só ao Catolicismo, mas ao próprio nome Cristianismo que não é encontrado nos Evangelhos, embora o espírito deste nome esteja bem claramente expressado e consiste, de acordo com João (I.12) no poder de se tornarem filhos de Deus ; o espírito dos filhos de Deus, ou dos Apóstolos de Cristo, que acreditaram nele, é mostrado, segundo Marcos (XVI. 20) pelo Senhor agindo com eles e confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.
Neste ponto de vista, estar verdadeiramente no Cristianismo, seria estar unido com o Espírito do Senhor e ter completado ou consumado nossa aliança com Ele.

A este respeito, o verdadeiro caráter do Cristianismo não seria tanto o de se tornar uma religião e sim o de ser um termo e ponto de repouso de todas as religiões e de todos aqueles laboriosos caminhos pelos quais a fé dos homens e suas necessidades de serem purificados de suas manchas, os obrigam a caminhar diariamente.
É notável que, em todos os quatro Evangelhos, fundados no Espírito do verdadeiro Cristianismo, a palavra religião não é encontrada nem uma só vez; e nos escritos dos Apóstolos, que completaram o Novo Testamento é encontrada somente cinco vezes.

A primeira vez que a palavra religião aparece é em "Atos dos Apóstolos" (XXVI.5 [da versão inglesa; também, Gl.I.13,14]) quando se fala da religião judaica.
A segunda vez é em Colossenses (II.18) quando o Apóstolo casualmente condena o culto aos anjos.

Na terceira e quarta vez, aparece em São Tiago (I.26,27) onde ele diz simplesmente: "Se alguém pensa ser religioso, mas não refreia a sua língua, antes se engana a si mesmo, saiba que a sua religião é vã", e "A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: em assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e em guardar-se livre da corrupção do mundo"; estes são exemplos em que o Cristianismo parece se inclinar mais à sua sublimidade Divina ou condição de repouso, do que se revestir daquilo que costumamos chamar de religião. Portanto, há diferenças entre Cristianismo e Catolicismo:
Cristianismo nada mais é do que o espírito de Jesus Cristo em sua amplitude, depois que este terapeuta Divino escalou todos os passos de sua missão, que teve início com a queda do homem, quando prometeu que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente. O Cristianismo é o complemento da pregação de Melchisedek; é a alma do Evangelho; o Cristianismo faz com que as águas vivas, de que as nações têm tanta sede, circulem no Evangelho.

O Catolicismo (a Igreja), ao qual pertence o título de religião, é uma espécie de esforço e tentativa de se chegar ao Cristianismo.

O Cristianismo é a região da emancipação e da liberdade, o Catolicismo é apenas o seminário do Cristianismo, a região das regras e disciplina para o neófito.

O Cristianismo enche toda a terra com o Espírito de Deus. O Catolicismo enche apenas uma parte do globo embora se intitule universal.

O Cristianismo eleva nossa fé à luminosa região do Verbo Divino e Eterno; O Catolicismo limita esta fé à palavra escrita ou tradição.

O Cristianismo nos mostra Deus abertamente, no centro de nosso ser, sem o auxílio de formas e fórmulas. O Catolicismo nos deixa em conflito com nós mesmos, pois quer que encontremos Deus oculto nas cerimônias.

O Cristianismo não tem mistérios; esta palavra é repugnante para ele pois, essencialmente, o Cristianismo é a própria evidência, a nitidez universal. O Catolicismo é repleto de mistérios e seu fundamento é velado. A esfinge pode ser colocada na entrada dos templos, tendo sido feita pelas mãos dos homens; não pode ser posicionada no coração, que é a real entrada do Cristianismo.

O Cristianismo é a fruta da árvore, enquanto que o Catolicismo só pode ser o adubo.

O Cristianismo não faz nem monastérios e nem eremitas, porque não pode se isolar mais do que pode a luz do sol e porque, como o sol, procura brilhar em todo lugar. O Catolicismo povoou os desertos com solitários e encheu as cidades com comunidades religiosas; no primeiro caso, para que pudessem se dedicar com mais facilidade à sua própria salvação, no segundo caso, para apresentar ao mundo corrupto algumas imagens de virtude e piedade a fim de despertá-lo de sua letargia.

O Cristianismo não tem secto, já que embarca a unidade e esta sendo única, não pode ser dividida. O Catolicismo tem presenciado uma multiplicidade de cismas e sectos brotando em seu seio, o que propiciou o reino da divisão ao invés do reino da concórdia; o Catolicismo, mesmo acreditando ocupar o mais alto degrau de pureza, dificilmente encontra dois de seus membros que pensam da mesma forma.

O Cristianismo nunca deveria ter realizado as Cruzadas: a cruz invisível que carrega em seu seio não tem outro objetivo senão o alívio e felicidade de todas as criaturas.

Foi uma imitação falsa do Cristianismo, para não dizer outra coisa, que inventou as Cruzadas; o Catolicismo a adotou posteriormente: mas, o fanatismo as comandaram: o Jacobinismo as compuseram, a anarquia as dirigiram e o banditismo as executaram.

O Cristianismo só declarou guerra contra o pecado; O Catolicismo declarou guerra contra os homens.

O Cristianismo só marcha pela experiência segura e contínua; O Catolicismo marcha apenas pela autoridade e pelas instituições ; O Cristianismo é a lei da fé; O Catolicismo é a fé da lei.

O Cristianismo é a completa instalação da alma do homem no rangue de ministros ou servos do Senhor; O Catolicismo limita o homem ao cuidado de sua própria saúde espiritual.

O Cristianismo contínuo une o homem a Deus, já que são, por natureza, dois seres inseparáveis; o Catolicismo, ainda que use a mesma linguagem, alimenta o homem unicamente com meras formas e isto faz com que ele perca de vista o seu real objetivo e adquira muitos hábitos que nem sempre contribuem para seu benefício ou para um real progresso.

O Cristianismo baseia-se no Verbo oral, não escrito, o Catolicismo baseia-se no Verbo escrito ou Evangelho em geral e na massa em particular.

O Cristianismo é um ativo e perpétuo sacrifício espiritual e Divino, tanto da alma de Jesus Cristo como da nossa própria alma; o Catolicismo que se baseia particularmente na massa, apresenta unicamente um sacrifício ostensivo do corpo e do sangue do Redentor.

O Cristianismo pode ser composto apenas pela raça santa do homem primitivo, a verdadeira raça sacerdotal. O Catolicismo, baseando-se particularmente na massa, foi como a última Páscoa do Cristo, um mero degrau iniciador deste sacerdócio, pois quando Ele disse a seus discípulos "Façam isto em minha memória" eles já haviam recebido o poder de expulsar os espíritos malignos, curar doentes e ressuscitar os mortos; mas ainda não tinham recebido o que era mais importante para o cumprimento do sacerdócio já que a consagração de um padre consiste na transmissão do Espírito Santo e o Espírito Santo ainda não havia sido dado porque o Redentor ainda não havia sido glorificado (João VII.39).

O Cristianismo se torna uma contínua luz crescente a partir do momento em que a alma do homem é nele admitida; o Catolicismo que fez da Santa Ceia o ponto mais alto e sublime de seu culto, permitiu que um véu fosse jogado sobre esta cerimônia introduzindo até mesmo, como disse anteriormente, na liturgia da missa, as palavras mysterium fidei, que não estão no evangelho e são contrárias à luz universal do Cristianismo.

O Cristianismo pertence à eternidade; o Catolicismo pertence ao tempo.

O Cristianismo é o termo; o Catolicismo, com toda a majestosa imposição de suas solenidades e a sagrada grandiosidade de suas orações é apenas o meio.

Finalmente, é possível que haja muitos católicos, que ainda, sejam incapazes de julgar o que é o Cristianismo; mas é impossível para um verdadeiro cristão não ser capaz de julgar o que o Catolicismo é e o que deve ser.

O Cristianismo e a Arte

Quando se leva o Cristianismo em conta no progresso das artes, particularmente no aperfeiçoamento da literatura e da poesia, ele fica longe de qualquer crítica. O Verbo não penetra o mundo para ensinar os homens a fazerem poesia ou para se destacarem na composição literária; Ele não vem para que o espírito do homem seja exaltado diante de seus semelhantes, mas para que o Espírito Eterno e Universal possa brilhar por todo o infinito.

O que significa a afirmação de que o Cristianismo não necessita de todos esses talentos dos homens? Porque ele habita entre as maravilhas Divinas e para proclamar esta verdade, não há a necessidade de buscar um meio de expressão. O Cristianismo por si só é capaz de responder aquilo que os eloqüentes escritores têm afirmado: "Não sabemos onde a mente humana encontrou tal coisa; não se conhece caminho algum para tal sublimidade! "É que, neste nível a mente humana nada pensa; o Espírito do Cristianismo fornece tudo.

A Origem e o espírito da arte e da literatura são pagãos: nem Cristão e nem Católico

O catolicismo, que tem recebido o nome de Cristianismo, não é o responsável pelo desenvolvimento da literatura e da arte; A formação dos poetas e artistas não se apoia nem mesmo no Catolicismo ou na sua congregação: eles estudaram as obras primas da antigüidade, que eram pagãs e tentaram copiá-las; mas, como viviam em meio a instituições católicas, era natural que suas obras abordassem, de forma geral, assuntos religiosos. Não é de se surpreender que, ao tocarem nestes temas religiosos, descobrissem algumas daquelas belezas reais, as quais estão indiretamente conectadas, além de alguns tesouros do Verbo, dos quais a Bíblia está repleta; eles, é claro, tentaram aplicar estes tesouros e belezas ao tipo de arte que cultivavam, esperando com isto acrescentar algo a glória da arte; de fato, toda arte tem sido enriquecida por eles.

Contudo, não é verdadeiro afirmar que o Catolicismo foi o princípio e a causa do enriquecimento das artes e da literatura; ao contrário, foram estas que tiveram a idéia de serem empregadas no sentido de enriquecer o Catolicismo. Este ao admirar, com razão, aquelas obras primas da arte e da literatura, logo buscou se apropriar delas; uma para ornamentar seus templos, a outra para nutrir a eloquência e a glória de seus oradores e escritores.

De fato, se não houvesse nenhum Phidias e Praxiteles, será que teríamos tido Raphael e Michelangelo, e suas obras primas? Se não houvesse Demosthenes e Cícero, quem sabe se teríamos tido um Bossuet e um Massillon? Se não houvesse Homero e Virgílio, Dante, Tarso, Milton ou um Klopstock, provavelmente nunca se pensaria em revestir os eventos religiosos que celebravam com características de ficção poética; porque o mais puro gênio do Catolicismo haveria se oposto a estas obras e ficções da imaginação.

Porém, se o império de Constantinopla não tivesse sido superado, teria o Catolicismo despertado tantos tipos de maravilhas e geniosidades, dos quais se tornou o centro e o foco após este evento? E, se a Itália não tivesse recebido a brilhante herança, teria a França, que em matéria de escritores e oradores, tem sido a mais brilhante coroa do Catolicismo, alcançado tão alto degrau de glória?

Podemos, confidencialmente, dizer que não e afirmar que sem a era de Julius II e León X, o Catolicismo não teria desenvolvido nenhum talento e nem colhido os louros que o distinguiu na época de Luiz XVI. Mas, como todos estes adventos coadjuvantes, estas artes e modelos da antigüidade, tanto na eloquência como na literatura, contribuíram apenas com uma luz ou vida emprestada ao Catolicismo, inclinando-o mais para a glória humana do que para a glória sólida e substancial da qual nada conhecem; eles não são capazes de acrescentar nenhuma vantagem duradoura à real glória.

Considerando as frágeis e precárias relações destes artistas com o Catolicismo vemos que logo deixaram este para traz carregando a coroa para si próprios. Quanto mais progresso faziam, mais o Catolicismo retrocedia; vimos o quanto cresceu seu império no século dezoito e o quanto o Catolicismo declinou; mesmo agora, apesar dos esforços governamentais no sentido de restabelecer a Igreja ainda estão longe de recuperar o campo perdido; contudo, este é um triunfo não conquistado com muita facilidade sobre o Cristianismo ou o Verbo.

Se voltarmos os olhos ao passado, veremos que as artes e a literatura sempre foram subsidiárias do Catolicismo e nunca suas protegidas ou amparadas. Durante os primeiros séculos de nossa era, os padres, que já possuíam apenas um pouco mais do que reflexões e a mera história do verdadeiro Cristianismo, viviam entre os monumentos literários da Grécia e Alexandria e dai extraíram o caráter impressivo ainda que desigual de seus escritos.

Extraíram ainda de filósofos consagrados da antigüidade muitas particularidades de uma doutrina oculta, que explicaram apenas através da letra, uma vez que não possuíam mais a chave do verdadeiro Cristianismo. Assim, foram, na maioria dos casos, discípulos dos filósofos enquanto que deveriam ter sido seus mestres.

O Catolicismo toma a complexidade de cada época e circunstância

Quando a idade das trevas chegou, destruindo as belas artes e a beletrística, além de numerosos monumentos da mente humana, o catolicismo também perdeu as belezas provenientes destas artes; não tendo fixidez nela própria, sendo sempre móvel e dependente de impressões externas, foi impossível resistir as torrentes.

Após ter sido erudita com Platão, Aristóteles e Cícero, se tornou arrogante e agressiva, características das nações que inundaram a Europa. Se tornou bárbara e selvagem com os povos que tinham este caráter. Não tendo, por um lado, a luz suave ou o poder resistente do Cristianismo e nem, por outro lado, a restrição das letras e o exemplo das nações cultas, se tornou notável apenas pelo furor de seu fanatismo e pelo delírio de seu despotismo. Pode-se dizer que assim foi sua existência por cerca de dez séculos.

A arte literária totalmente desconectada do Cristianismo. A literatura religiosa.

A partir de todos estes fatores, se tivermos a impressão de que o Catolicismo nunca teve nenhuma relação com as artes e a literatura sem ser aquela da dependência, o que diremos do Cristianismo que nunca teve nenhuma relação com as artes e a literatura sem ser aquela da dependência, o que diremos do Cristianismo que nunca teve nenhuma relação direta e muito menos de dependência com estas artes? Para compreender a imensa distância que há entre artes, literatura e Cristianismo, basta repetir que, nestas obras do homem, é o seu espírito, e ás vezes menos do que isto, que tudo faz; além disso, no Cristianismo o Verbo Eterno governa por si só.

Sei o quanto esta idéia será pouco aceita pelos literários religiosos e até mesmo pelos que crêem, apesar do esforço que fazem no intuito de glorificarem o que chamam de Cristianismo; porém, o caminho que a maioria destes notáveis eruditos religiosos tem tomado, me obriga a insistir mais e mais nisto, porque, enquanto parecem acreditar no Cristianismo, talvez acreditem unicamente no Catolicismo.

Um desses eloqüentes escritores diz, com terna sensibilidade, que ele chorou e então acreditou! Meu Deus! ainda bem que ele não teve a felicidade de ter começado por ter a certeza! Como poderia chorar depois?!

No entanto, ele parece estar mais à frente do que a maioria de seus companheiros, que são devotos, de mente e coração, ao Cristianismo literal ou Catolicismo que é a mesma coisa.

Em meio ao êxtase em que vivem os famosos poetas, este escritor faz críticas à emoção para este tipo de literato, flashes de verdade e sinceridade lhe escapam, o que demonstra que naturalmente, ele concorda inteiramente comigo; só que às vezes se desvia de meu sistema. Por exemplo, quando faz referência à história da humanidade, segundo o Gênesis. Ele não se privou de exclamar: "Encontramos algo tão grandioso e extraordinário nestas cenas do Gênesis que dispensa qualquer explicação crítica; a admiração não requer palavras e a arte volta ao pó". Vou acrescentar, sobre a questão da arte, que se dependesse de Deus ela nunca surgiria do pó; pois, não teria nenhum outro lugar a ocupar e deveria deixar sempre o campo livre ao Verbo. Vamos ver o que a arte realmente tem feito ao abordar estas supremas verdades.

Milton e a Bíblia. As gradações da queda Adâmica

O eloqüente escritor em questão faz referência ao despertar de Adão dizendo, que Milton nunca teria alcançado esta elevação se não conhecesse a verdadeira religião: eu respondo que, se Milton conhecesse o verdadeiro Cristianismo, o Verbo, teria retratado Adão de outra forma.

A arte não tem outros segredos senão o de fazer comparações entre assuntos que conhece. A arte ensina que a criança é uma criatura que "desperta para a vida, abre seus olhos e não sabe de onde vem". Milton fez um quadro de Adão: o retratou apenas como uma grande criança, com a diferença de que deu a ele um sublime senso de sua própria natureza e poderes eminentes para dar nome as coisas, o que uma criança não possui; além do mais, tendo o Pai possuído tais poderes, seria difícil explicar porque o filho não, já que o fruto deveria ser como a árvore.

Ora, a partir da criança e do selvagem os materialistas assim como os ideologistas tem traçado seus sistemas de percepção, origem da linguagem, etc.; ao não irem além deste ponto, acabaram animalizando todo o nosso ser. Contudo, a Bíblia (pois é dela que falamos aqui) que se supõe ter sido o guia de Milton, mostra Adão sob outro aspecto.

Em primeiro lugar, podemos crer que, surgindo das mãos de seu Criador, Adão não estava sujeito ao sono, já que foi apenas após ele ter dado nome as coisas que o Criador fez cair um sono sobre ele, durante o qual a mulher fora, retirada de suas costelas ou de suas essências poderosas.

Segundo, é provável que este sono e a separação da mulher já fora a conseqüência de alguma mudança iniciada em Adão; já que o Criador havia dito (no primeiro capítulo) quando terminou a criação que "tudo o que havia feito era muito bom" e então Ele diz (no segundo capítulo) que "não era bom para o homem estar sozinho".

Em terceiro lugar, se este "dar nomes" fora executado por Adão ao deixar as mãos de seu criador ou somente após esta mudança ter tido início não importa, o certo é que, de acordo com o texto, foi antes de seu sono.

Sendo este caso, então Adão desfrutava de grande luz e vasto conhecimento já que o Criador o havia colocado acima de todas as obras feitas por Suas mãos, o havia instalado no jardim dos deleites, encarregando-o de cuida-lo, confiando todas as plantas ao seus cuidados, até mesmo a árvore do conhecimento do bem e do mal, da qual Ele o proibiu de comer.

Assim, Adão não tinha necessidade de despertar para a vida, mas, ao contrário, ele é quem despertou a vida nas criaturas; isto é bem diferente do que ocorre com as crianças; mas a arte oculta estas coisas de Milton e o entrega à sua imaginação.

Também, de acordo com a arte, Milton descreve os amores de Adão e Eva, supondo que estivessem em seu primeiro estado celestial mas eles não estavam, pois ele reconhece seus sexos e comemora a consumação de seus casamento, que produziu fruto tão ruim na pessoa de Caim; isto só poderia ocorrer segundo a lei animal.
Ora, como poderiam conhecer o puro amor, se já estavam sob a lei animal? E como poderiam conhecer o amor animal, se não conhecessem seus órgãos bestiais, já que vemos, no homem, que a idade do amor é aquela em que sua bestialidade fala mais alto? Além disso, como poderiam conhecer esta bestialidade se não tivessem sido culpados, já que, segundo o texto, foi só a partir deste momento que souberam que estavam nus? Se foram culpados, no que se transformaram seus sentimentos celestiais, sua pureza e inocência, tão brilhantemente traçados pelo poeta?

Sem dúvida, eles não possuíam aquela falsa modéstia, que é um sentimento secundário derivado da educação; eles tinham sim, um profundo senso de vergonha que surgiu da comparação de seu estado bestial presente, com aquele que acabavam de perder, pois seus olhos se abriram para o atual estado vil e degradante e se fecharam para as maravilhas divinas.

Milton nada sabia sobre as gradações do pecado de nossos primeiros pais. Uma destas gradações pode, de fato, ter permitido o desfrutar de alguns deliciosos momentos no jardim do Éden, após a mudança ter tido início; neste momento, estavam mais preocupados com os mandamentos do Soberano e com a proibição que Ele havia lhes imposto do que com seus próprios amores e encantos; quando este estado passou, estavam demasiadamente ocupados com a árdua e dolorosa situação de conviverem juntos de forma bastante tranqüila e suave; isto cabe apenas aos amantes cegos e idólatras de nosso mundo, que não tem mais nada para fazer.

Milton copiou aquelas formas de amor, dos amores terrestres, embora os tenha adornado de forma magnífica. Sim, sua longa descrição dos amores de Adão e Eva prova que o poeta tinha apenas pincelado a verdade. As Escrituras são mais concisas nos detalhes desta natureza. Com relação a este assunto, é dito apenas que Adão conheceu Eva, que ela concebeu e deu à luz Caim, dizendo "Adquiri um homem com a ajuda do Senhor". Repito que o Cristianismo ou o Verbo não pode se glorificar de ter contribuído para o surgimento de todas estas ficções de Milton, e está longe de reivindicá-las.

Não é que, como apreciador da beletrística, eu não admire o talento poético de Milton e as magníficas cenas que produz; Fico até satisfeito em nome da religião, que ele nos trace algumas sombras da felicidade celestial e do puro amor, que é sua base; por causa destas doces pinturas, perdoou seus anacronismos: mas, como amante da verdade, sinto que ele e todos os seus companheiros, não descrevam as coisas de forma mais exata, já que se supõe que os poetas falem a língua dos deuses. A licença poética o permite preencher, à sua maneira, as telas da história dos homens; isto não é permitido na história do homem, onde somente a Verdade tem o direito de falar.

Estes poucos exemplos são suficientes para mostrar a imensa distância existente entre Cristianismo e a arte da literatura religiosa e para fixar os limites da influência do Cristianismo na poesia. Nossas observações irão se aplicar a qualquer uma das grandes obras ou eloqüentes críticas; para não dizer nada do fato de que muitos de seus autores, apesar do esplêndido caráter religioso de seus escritos, não só não acreditam no Cristianismo, ou seja no Verbo Eterno, como não acreditam também no Catolicismo, que deveria ser a sua representação na terra.

A narrativa sacra não adornada pelos poetas, Racine

De forma geral, penso que quando os poetas e literários manuseiam os tesouros da Sagrada Escritura, eles os alteram sem adorná-las e ainda lhes agregam falsas feições ou os enfraquecem com difusões; isto tudo ocorre por não serem guiados pelo verdadeiro espírito do Cristianismo; na verdade, eles nunca se sobressaíram tanto do que nas vezes em que ficaram satisfeitos em mostrar estes tesouros na sua original simplicidade e integridade literal. Por que "Athalie" é considerada a obra prima da perfeição? Porque nesta obra Racine nada fez além de copiar a Escritura.

Críticos eruditos podem exaltar a arte que permita construir seus poemas como quiserem, o leigo nada sabe sobre estes segredos, mas reconhece as simples e supremas belezas contidas nas Escrituras; quanto mais nuas nos forem apresentadas mais certamente serão obstruídas por eles. Basta verificar o efeito que estas palavras, que deveriam ser encontradas em cada página da Bíblia não produziram no palco: "Eu temo a Deus, não temo a mais nada!"

A arte literária, inútil até nos palcos

Para julgar o pouco proveito que estas riquezas, nas mãos da literatura, trazem ao Cristianismo, basta verificar o pequeno efeito que os melhores pensamentos e máximas, na maioria das vezes adequados as necessidades de nosso ser, produzem no palco. Os pecadores que escutam, mas que, como o poeta, só têm aceso ao homem material, experimentam uma suave impressão, uma espécie de emoção sentimental que o afeta naquele momento; mas como esta emoção não tem raízes profundas e se assemelha a uma sensação muscular, termina nas extremidades de seus nervos com o bater de suas palmas, evaporando-se no ar. Assim, quando a peça termina, os espectadores se dispersam para mergulharem novamente em suas futilidades rotineiras com, no máximo, uma lembrança do que sentiram e não com algum enriquecimento interior.

Ora, o que ocorre com o espectador no teatro, se repete com o leitor das melhores obras da poesia e da eloquência, encontradas nas riquezas da Bíblia ou nos sacramentos do Catolicismo. Seria ainda pior se falassem do verdadeiro Cristianismo ou do Verbo Eterno e da liberdade Eterna pois, com certeza, nenhuma palavra de seus discursos seria compreendida. Sobre o Verbo, faço referência, mais uma vez, ao autor alemão de quem tenho falado freqüentemente nesta obra.

O objetivo da arte literária é dar emoções e receber aplausos. A verdade sofre.

Os homens literários, em geral, quer escrevam para o palco ou por prazer, parecem objetivar a nada além do que a arte de comover, sem que pensemos na razão pela qual somos seres dotados de emoção. Como buscam agradar, fazendo com que os elogiemos ao mesmo tempo, eles têm o cuidado de nos conduzir as emoções que atendam aos seus propósitos. O espectador e o leitor os compreendem; afinal, se forem conduzidos a emoções mais sérias, estas poderiam constranger os poetas que correriam o risco de não serem escutados; os escritores, por sua vez, não têm objeção ao divertir os leitores com traços da verdade, mas temem levá-los à própria verdade, pois não teriam mais nada a fazer, visto que a verdade tudo faria.

Desta forma, a Verdade estremece continuamente ao menor benefício que recebe dos maravilhosos talentos de grandes escritores e poetas; se, algumas vezes, chegam a abordar os limites da Verdade, é apenas para absorvê-la e sepultá-la na região das vãs aparências, que não é o seu lugar; o que aqui digo da literatura em geral se aplica, infelizmente de forma perfeita, aos escritores religiosos; portanto, em suas mãos, as ciências têm se tornado meramente uma arte. Com esta arte, suas formas e preceitos e mais seus estoques de regras e fórmulas, podemos produzir algumas obras que se não forem sólidas e graciosas, podem ser ao menos corretas; contudo, verdadeiros gênios não se prendem a fórmulas. Em resumo, eles estudaram como nos emocionar, nos divertir, assim como os gourmets estudam a arte de produzirem sensações em nosso paladar: ambos temeriam usar qualquer coisa que pudesse provocar sensações muito fortes e que provocasse uma purificação e uma renovação de nossos órgãos digestivos; deixam estes cuidados àqueles encarregados de nossa saúde; além disso, da maneira que vivemos neste mundo inferior, com certeza médicos são muito mais necessários do que gourmets.

A razão pela qual a literatura e a poesia, mesmo de caráter religioso, contribuíram tão pouco para a causa da Verdade, é que aqueles que as cultivam e professam não fazem mais do que imaginar que esta Verdade deveria ser realmente o guia e que eles próprios deveriam ser nada menos que os órgãos e ministros da Verdade; concebendo nada maior do que um bom poema, realmente acreditam que o homem não tem mais nada glorioso a fazer na terra do que carregar as palmas de todos os competidores desta raça.

As leis da Verdade são independentes da arte e das formas, assim como dos poetas e críticos

Os poetas e críticos se empenham na persuasão e redobram seus esforços a fim de fixar regras e leis, no entanto tudo o que precisavam era simplesmente seguir aquelas ditadas pela Verdade, desde toda eternidade. Eles trabalham duro tentando colocar suas próprias atividades e propósitos em ação; a primeira coisa que deveriam fazer é esquecer a obscura mente do homem e muito humildemente implorar o auxílio da Verdade, a fim de que permita a sua admissão a Seu serviço.

Reconheço ser duvidoso que a verdade os empregaria para fazer poemas, mas se isto acontecesse, seria somente após terem trabalhado efetivamente em Sua obra; a Verdade os ordenariam a celebrar fatos unicamente relacionados a Ela; fatos dos quais os fez agentes e esta deve ser a função destes homens; nenhum trovador pode cantar fatos tão bem quanto aqueles que os executam. Por essa razão, um amante da poesia religiosa afirmara que um poeta,

Qui du Suprême Agent serait vraiment l'Oracle,
Ne ferait pas un vers qu'il n'eût fait un miracle!

Quando vejo nosso eloqüente escritor exaltar a maneira com que Milton se apoderou do primeiro mistério das Escrituras, quando o Supremo permitindo ser tornado pela compaixão, garante a salvação da humanidade; quando o vejo falar dos grandes mecanismos do Cristianismo e dizer que a Tarso faltou coragem, pois tocou as coisas sagradas de forma trêmula; quando o vejo observar que todos os poetas cristãos falharam em descrever o céu, uns pela timidez como Tarso e Milton, outros pelo cansaço como Dante, ou pela filosofia como Voltaire, ou ainda pela superficialidade como Klopstock, não posso evitar de dizer:
A verdade requer discursos? Pode a Verdade falhar? pode estar errada? Se o Cristianismo tivesse inspirado todos estes poetas, seríamos capazes de apontar tantas falhas em suas obras?

Eu os reprovo com suas faltas, da mesma forma que vós: por fim, chego à conclusão de que eles não tiveram nenhuma experiência positiva de qualquer daqueles sublimes assuntos que tentaram descrever; concluo que seus próprios pensamentos os preenchem tanto com realidades como falsidades; o Cristianismo não foi o guia destes poetas ou eles não aprenderam a lição e ainda a copiaram de forma mal feita; o Cristianismo não conhece misturas e não afirma nada senão de acordo com fatos reais e com a ciência experimental, fora do alcance da falsidade e de todos os fantasmas da imaginação humana; além disso, seja qual for o mecanismo do qual a Verdade se utilize, Ela só confia naqueles que realmente acreditam e estejam em condições de valorizá-la e colocá-la em movimento.

"Portanto, não faça comparações entre coisas tão remotas entre si quanto o Cristianismo e as produções poéticas, pois seria uma ofensa ao primeiro, torná-Lo propício à fabricação de mentiras. Será que você não tem várias oportunidades para desenvolver sua bela descrição dos benefícios concedidos pela religião ao mundo? Na moral, estes benefícios se introduziram em todas as camadas da sociedade e até mesmo na política; nas admiráveis e úteis instituições, fundou hospitais e estabelecimentos de caridade de todos os gêneros, assim como as ordens de cavalheiros; nas esplêndidas comparações que se pode fazer entre Cristãos e não Cristãos ou nas tocantes causas de nossos missionários.

Tudo isto são situações em que a religião se mostra em atos sem nada a dissimular ou inventar; enquanto poetas dissimulam ou inventam tudo, sem a necessidade de demonstrarem nada ou externarem virtude alguma, já que se esforçam unicamente para nos maravilhar.

"Quanto a falha dos poetas cristãos em suas descrições do céu, concordo com as razões dadas; em geral, é muito mais fácil traçar cenas de miséria; contudo, São Paulo nos dá uma razão muito melhor, quando se refere as inefáveis coisas que ouviu no terceiro céu e mantêm silêncio daí para frente; isto é, as linguagens humanas não poderiam expressá-las.

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