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Natureza,
uma prisão para o inimigo, uma proteção para o homem
A natureza
deveria servir de prisão para o inimigo mais do que para o homem,
pois para este ela também serve como proteção. Quando
a natureza não está diante dos olhos do homem, o pensamento
do inimigo está secretamente despertado nele; talvez o inimigo possa
abordá-lo mais facilmente quando este obstáculo está
menos ativo, já que o homem não consegue extrair desta preservação
todo o suporte que poderia, caso a natureza lhe fosse visível. Assim,
neste caso, a presença de qualquer pessoa é tranquilizadora,
porque a combinação de suas forças pode afastar o inimigo.
É este temor secreto do inimigo que persegue os homens nas trevas;
tal temor só pode ser completamente dissipado pelo senso de um poder
espiritual, só encontrado quando o homem renasce verdadeiramente
ou faz uma aliança com o Verbo.
Quando reconhecemos que as trevas agem tão poderosamente sobre nós
e que a visibilidade da natureza proporciona um sentimento de segurança,
como podemos evitar a conclusão de que a natureza foi dada ao homem
muito mais para a sua preservação e segurança do que
para separá-lo da Grande Luz?
Já foi
dito que este medo tem produzido larvas em algumas pessoas. Esta opinião
que foi lançada pelo Dr. Andry em seu "treatise on the Generation
of Worms in the Human Body" corresponde a princípios verdadeiros.
Aqueles que tiveram a oportunidade de considerar e compreender as formas
fundamentais da natureza, estão cientes de que a larva retrata a
raiz da natureza, a degradação pela qual tem passado e o esforço
que faz, em vão, para se livrar da angústia, através
da sua contínua circulação.
O poder salutar que aplicou uma restauração à esta
raiz desordenada, fez com que a natureza se tornasse oculta a nós
durante a existência animal. Ela está, por assim dizer, absorvida
pela influência harmoniosa e beneficente desta restauração.
Mas quando, por qualquer causa que seja, a natureza vem a ser perturbada
e perde seu domínio, então a raiz larval toma as rédeas
naturalmente e aparece. Ora, de todas as nossas paixões, fraquezas
e medos aquilo que mais prontamente nos priva da fala é também
o mais apto a perturbar a restauração e consequentemente o
mais apto a gerar nossa raiz larval com suas produções, uma
preeminência que de outra forma não ocorreria, se, por exemplo,
o homem tivesse a posse de sua fala.
O poder
de cura: mesmerismo, etc.
O poder de
cura que, contudo, deve ser considerado um privilégio secundário,
até mesmo no homem regenerado, se transforma numa das armadilhas
que o inimigo nos prepara quando, ao exercitar este poder, fazemos uso de
algum meio extraordinário; especialmente, se o usarmos por nossa
própria mera vontade humana. Quando o homem usa esta prática
pelo poder e autoridade Divina, ele esta perfeitamente em ordem tanto em
relação a si próprio quanto ao paciente, porque assim
a Vontade Suprema rege os dois. Podemos acrescentar que é só
então que o homem pode ter certeza de atingir algum sucesso. Quando
ele atua através do magnetismo e do sonambulismo, ele pode ferir
seu paciente, mesmo ao curá-lo, pois não sabe se sua doença
pode ter tido um objetivo moral que será neutralizado por uma cura
prematura; desta forma, o operador se expõe enormemente, porque não
sabe se intrometeu-se num ministério mais elevado; ele tem portanto,
sempre razão em duvidar destes resultados.
Quando o homem atua unicamente através da medicina comum, não
peca, mesmo que seja ignorante porque, como usa somente substâncias
de ordem inferior, só atinge o corpo material; então, se a
doença tem uma causa e um objetivo moral, o remédio não
terá efeito já que a ordem moral é superior.
Assim, o médico comum que emprega sua ciência de forma prudente
e modesta, submetendo sempre os resultados ao Grande Governador, está
mais em ordem e seguro do que o magnetizador, que usa meios de uma classe
superior com tanta segurança, leviandade e orgulho.
Deveres
e responsabilidades do homem esclarecido
Destas observações,
aprendemos a ver quão longe o homem está de seu objetivo,
quando abusa do privilégio de uma ordem superior, aquele de curar
uma doença do corpo. Faço alusão ao bálsamo
universal para a cura de nossas doenças espirituais, que deve fluir
continuamente da boca dos homens esclarecidos, das canetas dos escritores
e o qual, da maneira que tem sido utilizado, não traz melhores frutos
do que o Verbo em suas conversas frívolas.
Portanto é para vocês poetas e homens de letras que me dirijo
neste momento: vocês são considerados as luzes das mentes dos
homens; é de se supor que vocês forneçam, com seus dons,
aquilo que está faltando aos simples mortais. Com que precaução
devemos agir em relação a eles se estivermos convencidos de
que estes homens têm o papel de preencher aqui na terra o sublime
ofício de ministros da Verdade?
A má
direção do trabalho literário. Partidários da
forma e do estilo
O único
objetivo dos homens de letras, o charme que os atraem, é o estilo.
Quando eles conseguem que seja dito que suas obras "são bem
escritas", parecem atingir o ápice de seus desejos. Este princípio
formou tamanha raiz entre eles, que um de seus lideres não hesitou
em afirmar que estilo era tudo. Sim, é correto para aqueles que possuem
desenvolvido unicamente seu senso extremo e que se sentem completos quando
este senso é satisfeito; isto pertence ao sistema superficial, que
é o da idade atual...
Para estes clamorosos admiradores do estilo é geralmente verdadeiro
que seu senso extremo seja afetado ou passível de ser afetado devido
à direção que têm dado as suas faculdades. O
homem interno representa muito pouco ou quase nada no que entendem por satisfação.
Suas imaginações estão acima de tudo, quase sempre
baseadas em uma qualidade perceptível e não racional ou imparcial
o que se transforma neles em algo muito mais sensível e convencional
do que a verdade viva. Bons versos e lindas frases não são
suficiente para eleválos, não importa se são resultados
do que é falso ou verdadeiro.
Eu, que rendo sinceras homenagens à verdadeira literatura e que gostaria
de vê-la aplicada ao seu objetivo legítimo; Eu, que acredito
que seus poderes são tão vastos quanto o próprio infinito
e que se supõe servir como um prazer privilegiado, sofro em saber
que seus partidários a colocam num patamar tão inferior, restringindo-a
à harmonia de palavras, quando deveria ser empregada a fim de coletar
grandes pensamentos disseminados e perdidos em nosso deserto desde nossa
infeliz dispersão.
Quando vejo os homens literários, especialmente os poetas, se confinarem
em regras convencionais da versificação e da arte da escrita
e então se glorificarem com alegria, apesar das breves luzes que
ocasionalmente nos apresentam, me parece como um homem forte atando todos
os seus membros com correntes, pensando que tal impedimento o torna honorável,
quando apesar de seu peso, consegue mover um dedo.
O privilégio da verdadeira literatura é ser regida pelas leis
do próprio espírito e participar da fecundidade do Verbo.
Este tipo de literatura esta acima de qualquer impedimento e tem o poder
de ir até ao exato santuário da verdade, a fim de verificar
o que deve ser dito e como deve ser expresso.
Contudo, o que acontece com estes ardentes partidários da forma e
do estilo? Quando se deparam com uma obra, cuja forma e estilo, fogem à
sua convenção preestabelecida, a explicam levando em consideração
a localidade e o ambiente em que foram produzidas, isto quando não
a condenam aplicando um julgamento ao qual não cabe apelação.
Viajando pela
terra, freqüentemente caminhamos sobre pedras preciosas, ocultadas
a uma pequena profundidade debaixo de nossos pés e não as
vemos; isto ocorre com os literários e os homens da torrente que
são como eles; quando o literário lê os escritos dos
amigos da Verdade, só vê areia e pó, não vê
nada da fecunda germinação debaixo da superfície. Oh!
quão oculta é a obra de Deus! comece pelo o que está
debaixo do véu da natureza, depois pelo que está oculto nas
últimas ramificações das relações sociais,
das trevas e ignorância dos homens!
Heis o porque das expressões arrojadas, das imagens extraordinárias
e eficazes que inundam os livros sagrados e aqueles dos amigos da Verdade;
aos olhos vulgares, se justificam somente ao atribuí-las ao estilo
Oriental. Por que tais expressões parecem tão estranhas aos
homens da torrente? Porque perderam as afeições que produziriam
estas expressões no seu interior; porque se prenderam às regiões
inferiores, onde os contrastes são mais dóceis, as nuanças
quase uniformes e as impressões que produzem quase nulas.
Suspenda seus julgamentos, você que deveria ser nosso guia rumo ao
Ministério da Verdade!
Contemple o
grande trabalho do espírito e do Verbo; os choques dos mundos agitados
caindo um sobre os outros com temeroso impacto; observe os rios de leite
e mel que escoam da Jerusalém eterna, a fim de consolar e confortar
os fiéis servos da Verdade!
Observe o inimigo desta Verdade tentando incessantemente converter estas
correntes salutares em ácido corrosivo e venenoso, para que estes
servos não sejam confortados, mas levados à infidelidade.
Olhe para a alma humana até mesmo rejeitando estes presentes que
lhe são enviados, voltando-se para as festas de Júbilo onde
alimentam as serpentes. Olhe a terrível justiça destruindo,
em todo lugar, com violência, todos os agentes da desordem, que parecem
brotar de baixo da terra!
Olhe o universo da Verdade, desenvolvendo seus maravilhosos poderes, a fim
de atestar sua existência ao mundo e obrigá-lo a confessar
de que há um Deus! Observe, por outro lado, o universo de Falsidades,
declarando suas ilusões e imposturas a fim de atestar que não
há Deus algum!
Se você for capaz de se manter frio e imparcial diante de tal espetáculo;
se seu pensamento, sua língua não são torturados e
não tomam um estilo correspondente, então estará certo
ao considerar o estilo das Escrituras como o efeito do ambiente em que fora
produzido.
Entretanto, se você se elevar a ponto de ser admitido pelo Espírito
aos atos vi-vos que compõem estes quadros; se você estiver
presente em espírito, como os profetas, naquelas cenas terríveis
de fazer arrepiar, ou aquelas encantadoras que abrem as maravilhas Divinas
diante de seus olhos, reconhecerá que os homens de Deus desenharam
estes quadros com cores tão vivas e que não podendo usar as
mesmas cores ficaram satisfeitos de encontrá-las prontas em suas
mãos. Grande será sua consideração com relação
a tudo que irá descrever.
Nossas obras
tomam as características de nossos sentimentos
A arte de escrever
se não for um dom é uma armadilha, talvez a mais perigosa
que o inimigo é capaz de nos preparar. É pela escrita que
busca nos encher de orgulho ao fazer com que contemplemos a nós mesmos
naquilo que escrevemos; ou o que é ainda pior, tenta retardar nosso
progresso ao nos fazer esperar, um bom tempo, por o quê e de quê
forma escrever.
Se escrevemos levados unicamente por influências inferiores é
óbvio que o inimigo estará muito perto para que sua influência
não seja sentida.
Nosso próprio sentimento é a substância de que o espírito
que nos rege faz uso, seja qual for este espírito. Quando o Espírito
puro quer nos ensinar, toma as características dos sentimentos, a
fim de comunicar seu desejo. São Pedro estava ansioso quando o Espírito
lhe anunciou, figurativamente, que não deveria recusar a se relacionar
com os Gentils; o anjo tomou por emblema um pano cheio de todos os tipos
de quadrúpedes, bestas, répteis e pássaros.
Vemos então com que cuidado os escritores devem observar seus sentimentos!
pois o espírito de mentira pode fazer uso deles, assim como o Espírito
da Verdade, este nada nos nega até aos pés de seu altar. Contudo,
se tivermos o cuidado de preservar a ordem e a pureza de nossos sentimentos,
todos irão cumprir seus objetivos sem prejudicarem uns aos outros,
muito pelo contrário, irão zelar e apoiar uns aos outros.
O Redentor também estava ansioso no deserto; o príncipe das
mentiras se valeu deste sentimento para tentá-lo; contudo, esta lei
da matéria, a qual o Redentor estava sujeito, não obscureceu
nele, a luz do Espírito; e a lei de sua inteligência triunfou
sobre as emboscadas armadas pelo inimigo segundo sua lei da matéria.
Poetas, homens de letras, reconheçam aqui tudo o que o Espírito
pode introduzir em suas mais brilhantes produções.
Todas aquelas imagens e figuras das quais fazemos uso, são quase
todas compostas e engendradas pelos hábitos, localidades, modos e
sentimentos do povo com quem vivem.
Elas também derivam, com freqüência, de seus próprios
hábitos, modos, habitat e sentimentos, pois todo homem é um
povo, uma nação, um mundo em si mesmo.
Heis o porque acham tão fácil representar tanto a falsidade
quanto a verdade.
O mal de
retratar as faltas da humanidade
Se, do estilo,
passamos para a substância, veremos que os escritores, críticos
e até mesmo os moralistas, parecem estar muito ocupados em descrever
os vícios e defeitos da humanidade; alguns deles poderiam dizer que
o único objetivo é nos encher de ódio com relação
à nossa espécie; ou, ao menos nos mostrar sua existência
ao apontar, na humanidade, somente o que é repulsivo e repreensível.
Não pensam o quanto ferem a eles próprios e a nós,
agindo desta forma.
Em primeiro lugar, o orgulho destes escritores é tudo o que se consegue
com este trabalho, pois é raro que conheçam tão bem
as faltas dos outros sem que, secretamente, se glorifiquem, pretendendo
mostrar através destas observações, que estão
isentos de tais faltas.
Uma tolerância
afetuosa tenderia a curar estas faltas e
os homens estariam saldando seus mestres
Em segundo
lugar, estes escritores não sabem que poderiam contribuir muito mais
para sua própria glória e nossa felicidade, se nos mostrassem
as características satisfatórias da espécie humana,
que sempre podem ser reconhecidas, até mesmo na lama em que está
mergulhada.
A faculdade afetiva e a tolerância seriam vantajosas, pois este raio
de amor que ascendem em nós talvez seria suficiente para consumir
uma boa parte daquelas ervas daninhas tão venenosas e destrutivas
que tanto gostam de apontar no domínio do homem.
Escritores ilustres, renomados homens de letras, vocês não
têm idéia do quanto poderiam estender seu legítimo império
sobre nós, se pensassem mais em direcioná-lo ao nosso verdadeiro
benefício.
Poderíamos por conta própria, nos posicionarmos ao seu jugo:
não teríamos nada melhor a desejar do que vê-los exercitar
e estender suas regras. A descoberta de um único tesouro contido
na alma humana, enaltecida por seus ricos detalhes, lhes dariam com certeza
direito ao nosso voto de confiança e asseguraria seu triunfo.
A linguagem
da inteligência universal é o grande desiderato
Os escritores
afirmam que tudo o que desejam é serem compreendidos: Bem! poderiam
vocês ter maior sucesso em relação a este objetivo,
se tentassem introduzir nossos espíritos nas regiões da inteligência
universal?
Vocês poderiam falar através, para e desta inteligência;
e como ela é a linguagem natural e eterna de tudo o que respira e
pensa, é possível por este intermédio exercitar o verdadeiro
Ministério do Verbo, cumprindo as expectativas e satisfazendo as
necessidades de todas as criaturas. Agora, tal necessidade está tão
profundamente enraizada e é tão imperiosa, que se vocês
conseguirem satisfazê-la ao tornarem-se compreendidos, falando a linguagem
da inteligência universal, não haverá criatura existente
que não irá abençoá-los.
Os escritores
mal olham para os domínios da Verdade e impedem que nós os
adentremos. A Hipocrisia destes escritores
Contudo, os
mestres literários e aqueles em geral que nos alimentam com obras
da imaginação, não vão além dos limiares
da Verdade; eles ficam rodeando continuamente e parecem ter o cuidado de
não adentrá-la e de não permitir que seus leitores
a penetrem, com receio que só a glória da Verdade irá
brilhar.
De todas as obras consagradas da imaginação dos homens, dificilmente
encontramos alguma que não seja feita sobre uma base frágil
e desgastada, sem falar daquelas baseadas na blasfêmia ou no irreverente
resultado de uma orgulhosa hipocrisia. Pois, escritores que falam de providência,
moralidade e até mesmo de religiosidade estão incluídos
nesta reprovação, caso não tenham condições
de dar conta daqueles grandes temas de suas especulações;
se trazem tais temas à tona apenas para servir de ornamentos a suas
obras e alimento para o orgulho; se sua moralidade não se baseia,
principalmente numa renovação completa e radical de nosso
ser que é a única forma que temos de cumprir o verdadeiro
objetivo de nossa existência.
Os escritores
não podem ensinar aquilo que não sabem. O segredo do falso
sucesso
Como pode um
autor nos ensinar esta doutrina se ele próprio não a conhece?
Desafortunadamente o que o frívolo ou perdido espírito (e
onde está o espírito que assim não se encontre?) pede
aos escritores é que permitam a ele experimentar os prazeres das
virtudes, sem aquele contínuo e doloroso processo de renovação,
que sentimos ser tão difícil de realizar; pede para que mostrem
a ele as infelicidades do crime, estando secretamente conectadas com as
forças do destino, permitindo assim que o espírito descanse
em suas faltas dispensando sua lei primitiva e original, a qual poderia
até mesmo guiar seu destino.
O encanto que muitos novelistas nos proporcionam surge apenas disto. Eles
nos poupam da fadiga de ser virtuoso ao nos entusiasmar com algumas imagens
de virtude; eles nos dispensam do dever de nos unirmos ao nosso Princípio
permitindo que o coloquemos de lado, de tanto nos identificar com o que
não é Princípio. Desta forma, ao favorecer a covardia
e ao nos preparar um caminho suave, dentro da obscura ordem material, censuram
nosso sufrágio e o próprio sucesso deles.
Por esta razão, a época mais propícia a grandes escritores
não é aquela propícia ao maior progresso na sabedoria.
Um autor torna uma idéia atrativa dando-lhe uma nova direção:
o leitor a capta com grande prazer mas, o primeiro se satisfaz ao ter lançado
um bom conceito, e o segundo se satisfaz ao senti-lo, ambos se privam de
colocá-lo em prática.
Sursum corda!
Resgate a pérola da lama
Quando a marcha
da mente humana será direcionada a um final mais sábio e proveitoso?
Será esta literatura, nas mãos humanas, sempre uma arte de
falsidade dissimulada, vícios e erros sob uma roupagem graciosa ou
picante, ao invés de ser uma passagem de virtude e verdade? Como
pode a Verdade acompanhar tal curso?
Pergunto uma vez mais, oh! astutos escritores e consagrados homens de letras,
quando irão deixar de usar seus preciosos dons de forma tão
tola e nociva?
O ouro só serve para ornar as vestes usadas no palco? Os raios que
deverão comandar a fim de derrotar os adversários de seu bem
estar podem ser desperdiçados como fogos de artifícios para
a diversão da multidão desocupada? Em estados bem ordenados
o que é supérfluo se presta para este papel, toda produção
útil do país, existe para prover abundância e segurança
aos cidadãos e meios de defesa ao governo.
Vocês pretendem estimular nossos corações e transportar
nossas almas com emoções vivas! Onde poderiam encontrar algo
mais vivo senão no grande drama do Homem, que nunca deixou de ser
apresentado desde o princípio, naqueles quadros reais de dores e
assustadores perigos que atacam a negligente família do Homem, desde
sua queda? Neste drama, encontrariam cenas prontas, ainda que sempre novas
e que consequentemente teriam maior impacto sobre nós, do que aquelas
que vocês compõem com a doçura de sua fronte e que vos
alimentam, assim como a nós, apenas com imagens artificiais das verdadeiras
emoções que deveriam despertar em nós.
O Verbo aqui, desenvolve todos estes poderes maravilhosos diante de nós
e poderia, de fato, torná-los mestres de todas nossas emoções
e ao mesmo tempo nossos benfeitores. Mas, como poderiam realizar o prodígio
de penetrar nossas almas, não estando vocês familiarizados
com elas?
É verdade que Deus, algumas vezes, nos empresta nossos próprios
pensamentos, ou seja, Ele nos deixa conosco, como um mestre que dá
alguns momentos de relaxamento e liberdade aos seus servos, após
terem feito seu trabalho. Pode-se supor que isto ocorra com a grande maioria
de pensadores no mundo que, realmente, parecem escolares em férias.
Contudo, estes escolares estão brincando, de férias, sem primeiro
terem freqüentado suas aulas ou feito o trabalho do mestre; eles consomem
seus momentos de liberdade, com disputas, discussões e lutas um com
os outros; freqüentemente até falam mal do instrutor ou fazem
intrigas contra ele.
Imaginem se eu fosse falar aqui da classe científica de escritores,
que insistem em dirigir nossas mentes a nada além de resultados superficiais
ao invés de dirigi-las ao Centro e ao Princípio. Já
disse o bastante sobre eles em várias passagens desta obra.
Como o Homem deve ser o sinal de seu Princípio, que é Deus,
tudo em sua existência e em seus caminhos deve ser Divino; tudo deve
ser DEO-crático em seu progresso, em todas as suas medidas, sociais,
políticas, especulativas, científicas, literárias ou
outra qualquer.
Quem não percebe as trevas espalhadas por toda a terra através
das obscuras especulações do homem, quando é deixado
ao seu próprio espírito? Nestas variações da
literatura e das ciências, o que restou do Verbo? o que restou, ao
menos da linguagem dos homens?
As palavras tem se tornado, nas linguagens humanas, o que os pensamentos
tem se tornado nas mentes dos homens. Se tornaram como mortos enterrando
mortos ou vivos talvez, ao menos, muitos que desejavam viver. Muitos homens
se enterram a cada dia com suas próprias palavras pervertidas que
perderam completamente seu sentido. Eles, desta forma enterram o Verbo.
Até
aqui considerei apenas a literatura beletrística e seu principal
objetivo que é o de divertir; Mal me aludi ao que se pode chamar
de literatura religiosa. Vamos agora nos devotar mais particularmente a
ela que ainda está mais intimamente ligada ao Ministério Espiritual
do Homem e ao Verbo.
Escritores de grande talento tem tentado descrever os gloriosos resultados
do Cristianismo. Contudo, embora leia freqüentemente suas obras com
admiração, não encontro o que considero ser requerido
por tal tema e vejo que freqüentemente nos fornecem eloqüências
no lugar de princípios; leio suas obras com cautela. No entanto,
se faço alguns comentários sobre seus escritos, certamente
não são com um espírito ateístico ou desacreditado.
Tenho lutado contra o mesmo inimigo que eles atacam tão corajosamente;
meus princípios, a este respeito, têm somente se fortificado
com o passar do tempo.
Não será como um homem de letras ou um escolar que farei meus
comentários; Deixo esta área a eles, com tudo que ali puderem
adquirir. Mas como um apreciador da Filosofia Divina, argumento e eles não
podem maltratar um colega que, sob este título, ama, assim como eles
próprios, a verdade sobre todas as coisas.
Cristandade
e Catolicismo ou Igrejismo
A principal
reprovação que apresento contra eles é que a cada passo,
confundem Cristianismo com a Igreja (Catolicismo). Vejo freqüentemente,
célebres mestres literários atribuírem à religião
obras de famosos Bispos que muitas vezes se desviam enormemente do espírito
do Cristianismo.
Vejo outros num momento, sustentarem a necessidade dos mistérios
(sacramentos, etc.) em outro, tentarem explicá-los afirmando, mais
uma vez que a demonstração de Tertuliano sobre a trindade
pode ser compreendida até pelos mais simples. Vejo como se vangloriam
da influência do Cristianismo na poesia, ainda que concordem em alguns
casos, que a poesia se alimente do erro!
Vejo como se desorientam com relação aos números rejeitando,
com razão, as especulações fúteis que emergiram
do abuso desta ciência, afirmando que o três não é
engendrado, que segundo a expressão atribuída à Pitágoras,
este número deve existir sem uma mãe, enquanto que a geração
de nenhum número é mais evidente que a geração
do número três; o dois é claramente sua mãe,
em todas as ordens, natural, intelectual ou Divina; a diferença é
que na ordem natural, esta mãe engendra a corrupção,
assim como o pecado engendrou a morte; na ordem intelectual, engendra variabilidade,
como podemos observar pela instabilidade de nossos pensamentos; na ordem
Divina, engendra a fixidez, com é reconhecida na Unidade Universal.
Em resumo, apesar do brilhante efeito que suas obras possam produzir, não
consigo encontrar aquele alimento substancial que a inteligência exige,
a saber, o verdadeiro espírito do Cristianismo, encontro, sim, o
espírito do Catolicismo.
Ora, o verdadeiro Cristianismo é anterior, não só ao
Catolicismo, mas ao próprio nome Cristianismo que não é
encontrado nos Evangelhos, embora o espírito deste nome esteja bem
claramente expressado e consiste, de acordo com João (I.12) no poder
de se tornarem filhos de Deus ; o espírito dos filhos de Deus, ou
dos Apóstolos de Cristo, que acreditaram nele, é mostrado,
segundo Marcos (XVI. 20) pelo Senhor agindo com eles e confirmando a Palavra
por meio dos sinais que a acompanhavam.
Neste ponto de vista, estar verdadeiramente no Cristianismo, seria estar
unido com o Espírito do Senhor e ter completado ou consumado nossa
aliança com Ele.
A este respeito, o verdadeiro caráter do Cristianismo não
seria tanto o de se tornar uma religião e sim o de ser um termo e
ponto de repouso de todas as religiões e de todos aqueles laboriosos
caminhos pelos quais a fé dos homens e suas necessidades de serem
purificados de suas manchas, os obrigam a caminhar diariamente.
É notável que, em todos os quatro Evangelhos, fundados no
Espírito do verdadeiro Cristianismo, a palavra religião não
é encontrada nem uma só vez; e nos escritos dos Apóstolos,
que completaram o Novo Testamento é encontrada somente cinco vezes.
A primeira vez que a palavra religião aparece é em "Atos
dos Apóstolos" (XXVI.5 [da versão inglesa; também,
Gl.I.13,14]) quando se fala da religião judaica.
A segunda vez é em Colossenses (II.18) quando o Apóstolo casualmente
condena o culto aos anjos.
Na terceira e quarta vez, aparece em São Tiago (I.26,27) onde ele
diz simplesmente: "Se alguém pensa ser religioso, mas não
refreia a sua língua, antes se engana a si mesmo, saiba que a sua
religião é vã", e "A religião pura
e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: em assistir
os órfãos e as viúvas em suas tribulações
e em guardar-se livre da corrupção do mundo"; estes são
exemplos em que o Cristianismo parece se inclinar mais à sua sublimidade
Divina ou condição de repouso, do que se revestir daquilo
que costumamos chamar de religião. Portanto, há diferenças
entre Cristianismo e Catolicismo:
Cristianismo nada mais é do que o espírito de Jesus Cristo
em sua amplitude, depois que este terapeuta Divino escalou todos os passos
de sua missão, que teve início com a queda do homem, quando
prometeu que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente.
O Cristianismo é o complemento da pregação de Melchisedek;
é a alma do Evangelho; o Cristianismo faz com que as águas
vivas, de que as nações têm tanta sede, circulem no
Evangelho.
O Catolicismo (a Igreja), ao qual pertence o título de religião,
é uma espécie de esforço e tentativa de se chegar ao
Cristianismo.
O Cristianismo é a região da emancipação e da
liberdade, o Catolicismo é apenas o seminário do Cristianismo,
a região das regras e disciplina para o neófito.
O Cristianismo enche toda a terra com o Espírito de Deus. O Catolicismo
enche apenas uma parte do globo embora se intitule universal.
O Cristianismo eleva nossa fé à luminosa região do
Verbo Divino e Eterno; O Catolicismo limita esta fé à palavra
escrita ou tradição.
O Cristianismo nos mostra Deus abertamente, no centro de nosso ser, sem
o auxílio de formas e fórmulas. O Catolicismo nos deixa em
conflito com nós mesmos, pois quer que encontremos Deus oculto nas
cerimônias.
O Cristianismo não tem mistérios; esta palavra é repugnante
para ele pois, essencialmente, o Cristianismo é a própria
evidência, a nitidez universal. O Catolicismo é repleto de
mistérios e seu fundamento é velado. A esfinge pode ser colocada
na entrada dos templos, tendo sido feita pelas mãos dos homens; não
pode ser posicionada no coração, que é a real entrada
do Cristianismo.
O Cristianismo é a fruta da árvore, enquanto que o Catolicismo
só pode ser o adubo.
O Cristianismo não faz nem monastérios e nem eremitas, porque
não pode se isolar mais do que pode a luz do sol e porque, como o
sol, procura brilhar em todo lugar. O Catolicismo povoou os desertos com
solitários e encheu as cidades com comunidades religiosas; no primeiro
caso, para que pudessem se dedicar com mais facilidade à sua própria
salvação, no segundo caso, para apresentar ao mundo corrupto
algumas imagens de virtude e piedade a fim de despertá-lo de sua
letargia.
O Cristianismo não tem secto, já que embarca a unidade e esta
sendo única, não pode ser dividida. O Catolicismo tem presenciado
uma multiplicidade de cismas e sectos brotando em seu seio, o que propiciou
o reino da divisão ao invés do reino da concórdia;
o Catolicismo, mesmo acreditando ocupar o mais alto degrau de pureza, dificilmente
encontra dois de seus membros que pensam da mesma forma.
O Cristianismo nunca deveria ter realizado as Cruzadas: a cruz invisível
que carrega em seu seio não tem outro objetivo senão o alívio
e felicidade de todas as criaturas.
Foi uma imitação falsa do Cristianismo, para não dizer
outra coisa, que inventou as Cruzadas; o Catolicismo a adotou posteriormente:
mas, o fanatismo as comandaram: o Jacobinismo as compuseram, a anarquia
as dirigiram e o banditismo as executaram.
O Cristianismo só declarou guerra contra o pecado; O Catolicismo
declarou guerra contra os homens.
O Cristianismo só marcha pela experiência segura e contínua;
O Catolicismo marcha apenas pela autoridade e pelas instituições
; O Cristianismo é a lei da fé; O Catolicismo é a fé
da lei.
O Cristianismo é a completa instalação da alma do homem
no rangue de ministros ou servos do Senhor; O Catolicismo limita o homem
ao cuidado de sua própria saúde espiritual.
O Cristianismo contínuo une o homem a Deus, já que são,
por natureza, dois seres inseparáveis; o Catolicismo, ainda que use
a mesma linguagem, alimenta o homem unicamente com meras formas e isto faz
com que ele perca de vista o seu real objetivo e adquira muitos hábitos
que nem sempre contribuem para seu benefício ou para um real progresso.
O Cristianismo baseia-se no Verbo oral, não escrito, o Catolicismo
baseia-se no Verbo escrito ou Evangelho em geral e na massa em particular.
O Cristianismo é um ativo e perpétuo sacrifício espiritual
e Divino, tanto da alma de Jesus Cristo como da nossa própria alma;
o Catolicismo que se baseia particularmente na massa, apresenta unicamente
um sacrifício ostensivo do corpo e do sangue do Redentor.
O Cristianismo pode ser composto apenas pela raça santa do homem
primitivo, a verdadeira raça sacerdotal. O Catolicismo, baseando-se
particularmente na massa, foi como a última Páscoa do Cristo,
um mero degrau iniciador deste sacerdócio, pois quando Ele disse
a seus discípulos "Façam isto em minha memória"
eles já haviam recebido o poder de expulsar os espíritos malignos,
curar doentes e ressuscitar os mortos; mas ainda não tinham recebido
o que era mais importante para o cumprimento do sacerdócio já
que a consagração de um padre consiste na transmissão
do Espírito Santo e o Espírito Santo ainda não havia
sido dado porque o Redentor ainda não havia sido glorificado (João
VII.39).
O Cristianismo se torna uma contínua luz crescente a partir do momento
em que a alma do homem é nele admitida; o Catolicismo que fez da
Santa Ceia o ponto mais alto e sublime de seu culto, permitiu que um véu
fosse jogado sobre esta cerimônia introduzindo até mesmo, como
disse anteriormente, na liturgia da missa, as palavras mysterium fidei,
que não estão no evangelho e são contrárias
à luz universal do Cristianismo.
O Cristianismo pertence à eternidade; o Catolicismo pertence ao tempo.
O Cristianismo é o termo; o Catolicismo, com toda a majestosa imposição
de suas solenidades e a sagrada grandiosidade de suas orações
é apenas o meio.
Finalmente, é possível que haja muitos católicos, que
ainda, sejam incapazes de julgar o que é o Cristianismo; mas é
impossível para um verdadeiro cristão não ser capaz
de julgar o que o Catolicismo é e o que deve ser.
Quando se leva
o Cristianismo em conta no progresso das artes, particularmente no aperfeiçoamento
da literatura e da poesia, ele fica longe de qualquer crítica. O
Verbo não penetra o mundo para ensinar os homens a fazerem poesia
ou para se destacarem na composição literária; Ele
não vem para que o espírito do homem seja exaltado diante
de seus semelhantes, mas para que o Espírito Eterno e Universal possa
brilhar por todo o infinito.
O que significa a afirmação de que o Cristianismo não
necessita de todos esses talentos dos homens? Porque ele habita entre as
maravilhas Divinas e para proclamar esta verdade, não há a
necessidade de buscar um meio de expressão. O Cristianismo por si
só é capaz de responder aquilo que os eloqüentes escritores
têm afirmado: "Não sabemos onde a mente humana encontrou
tal coisa; não se conhece caminho algum para tal sublimidade! "É
que, neste nível a mente humana nada pensa; o Espírito do
Cristianismo fornece tudo.
A Origem
e o espírito da arte e da literatura são pagãos: nem
Cristão e nem Católico
O catolicismo,
que tem recebido o nome de Cristianismo, não é o responsável
pelo desenvolvimento da literatura e da arte; A formação dos
poetas e artistas não se apoia nem mesmo no Catolicismo ou na sua
congregação: eles estudaram as obras primas da antigüidade,
que eram pagãs e tentaram copiá-las; mas, como viviam em meio
a instituições católicas, era natural que suas obras
abordassem, de forma geral, assuntos religiosos. Não é de
se surpreender que, ao tocarem nestes temas religiosos, descobrissem algumas
daquelas belezas reais, as quais estão indiretamente conectadas,
além de alguns tesouros do Verbo, dos quais a Bíblia está
repleta; eles, é claro, tentaram aplicar estes tesouros e belezas
ao tipo de arte que cultivavam, esperando com isto acrescentar algo a glória
da arte; de fato, toda arte tem sido enriquecida por eles.
Contudo, não é verdadeiro afirmar que o Catolicismo foi o
princípio e a causa do enriquecimento das artes e da literatura;
ao contrário, foram estas que tiveram a idéia de serem empregadas
no sentido de enriquecer o Catolicismo. Este ao admirar, com razão,
aquelas obras primas da arte e da literatura, logo buscou se apropriar delas;
uma para ornamentar seus templos, a outra para nutrir a eloquência
e a glória de seus oradores e escritores.
De fato, se não houvesse nenhum Phidias e Praxiteles, será
que teríamos tido Raphael e Michelangelo, e suas obras primas? Se
não houvesse Demosthenes e Cícero, quem sabe se teríamos
tido um Bossuet e um Massillon? Se não houvesse Homero e Virgílio,
Dante, Tarso, Milton ou um Klopstock, provavelmente nunca se pensaria em
revestir os eventos religiosos que celebravam com características
de ficção poética; porque o mais puro gênio do
Catolicismo haveria se oposto a estas obras e ficções da imaginação.
Porém, se o império de Constantinopla não tivesse sido
superado, teria o Catolicismo despertado tantos tipos de maravilhas e geniosidades,
dos quais se tornou o centro e o foco após este evento? E, se a Itália
não tivesse recebido a brilhante herança, teria a França,
que em matéria de escritores e oradores, tem sido a mais brilhante
coroa do Catolicismo, alcançado tão alto degrau de glória?
Podemos, confidencialmente, dizer que não e afirmar que sem a era
de Julius II e León X, o Catolicismo não teria desenvolvido
nenhum talento e nem colhido os louros que o distinguiu na época
de Luiz XVI. Mas, como todos estes adventos coadjuvantes, estas artes e
modelos da antigüidade, tanto na eloquência como na literatura,
contribuíram apenas com uma luz ou vida emprestada ao Catolicismo,
inclinando-o mais para a glória humana do que para a glória
sólida e substancial da qual nada conhecem; eles não são
capazes de acrescentar nenhuma vantagem duradoura à real glória.
Considerando as frágeis e precárias relações
destes artistas com o Catolicismo vemos que logo deixaram este para traz
carregando a coroa para si próprios. Quanto mais progresso faziam,
mais o Catolicismo retrocedia; vimos o quanto cresceu seu império
no século dezoito e o quanto o Catolicismo declinou; mesmo agora,
apesar dos esforços governamentais no sentido de restabelecer a Igreja
ainda estão longe de recuperar o campo perdido; contudo, este é
um triunfo não conquistado com muita facilidade sobre o Cristianismo
ou o Verbo.
Se voltarmos os olhos ao passado, veremos que as artes e a literatura sempre
foram subsidiárias do Catolicismo e nunca suas protegidas ou amparadas.
Durante os primeiros séculos de nossa era, os padres, que já
possuíam apenas um pouco mais do que reflexões e a mera história
do verdadeiro Cristianismo, viviam entre os monumentos literários
da Grécia e Alexandria e dai extraíram o caráter impressivo
ainda que desigual de seus escritos.
Extraíram ainda de filósofos consagrados da antigüidade
muitas particularidades de uma doutrina oculta, que explicaram apenas através
da letra, uma vez que não possuíam mais a chave do verdadeiro
Cristianismo. Assim, foram, na maioria dos casos, discípulos dos
filósofos enquanto que deveriam ter sido seus mestres.
O Catolicismo
toma a complexidade de cada época
e circunstância
Quando a idade
das trevas chegou, destruindo as belas artes e a beletrística, além
de numerosos monumentos da mente humana, o catolicismo também perdeu
as belezas provenientes destas artes; não tendo fixidez nela própria,
sendo sempre móvel e dependente de impressões externas, foi
impossível resistir as torrentes.
Após ter sido erudita com Platão, Aristóteles e Cícero,
se tornou arrogante e agressiva, características das nações
que inundaram a Europa. Se tornou bárbara e selvagem com os povos
que tinham este caráter. Não tendo, por um lado, a luz suave
ou o poder resistente do Cristianismo e nem, por outro lado, a restrição
das letras e o exemplo das nações cultas, se tornou notável
apenas pelo furor de seu fanatismo e pelo delírio de seu despotismo.
Pode-se dizer que assim foi sua existência por cerca de dez séculos.
A arte literária
totalmente desconectada do Cristianismo. A literatura religiosa.
A partir de
todos estes fatores, se tivermos a impressão de que o Catolicismo
nunca teve nenhuma relação com as artes e a literatura sem
ser aquela da dependência, o que diremos do Cristianismo que nunca
teve nenhuma relação com as artes e a literatura sem ser aquela
da dependência, o que diremos do Cristianismo que nunca teve nenhuma
relação direta e muito menos de dependência com estas
artes? Para compreender a imensa distância que há entre artes,
literatura e Cristianismo, basta repetir que, nestas obras do homem, é
o seu espírito, e ás vezes menos do que isto, que tudo faz;
além disso, no Cristianismo o Verbo Eterno governa por si só.
Sei o quanto esta idéia será pouco aceita pelos literários
religiosos e até mesmo pelos que crêem, apesar do esforço
que fazem no intuito de glorificarem o que chamam de Cristianismo; porém,
o caminho que a maioria destes notáveis eruditos religiosos tem tomado,
me obriga a insistir mais e mais nisto, porque, enquanto parecem acreditar
no Cristianismo, talvez acreditem unicamente no Catolicismo.
Um desses eloqüentes escritores diz, com terna sensibilidade, que ele
chorou e então acreditou! Meu Deus! ainda bem que ele não
teve a felicidade de ter começado por ter a certeza! Como poderia
chorar depois?!
No entanto, ele parece estar mais à frente do que a maioria de seus
companheiros, que são devotos, de mente e coração,
ao Cristianismo literal ou Catolicismo que é a mesma coisa.
Em meio ao êxtase em que vivem os famosos poetas, este escritor faz
críticas à emoção para este tipo de literato,
flashes de verdade e sinceridade lhe escapam, o que demonstra que naturalmente,
ele concorda inteiramente comigo; só que às vezes se desvia
de meu sistema. Por exemplo, quando faz referência à história
da humanidade, segundo o Gênesis. Ele não se privou de exclamar:
"Encontramos algo tão grandioso e extraordinário nestas
cenas do Gênesis que dispensa qualquer explicação crítica;
a admiração não requer palavras e a arte volta ao pó".
Vou acrescentar, sobre a questão da arte, que se dependesse de Deus
ela nunca surgiria do pó; pois, não teria nenhum outro lugar
a ocupar e deveria deixar sempre o campo livre ao Verbo. Vamos ver o que
a arte realmente tem feito ao abordar estas supremas verdades.
Milton e
a Bíblia. As gradações da queda Adâmica
O eloqüente
escritor em questão faz referência ao despertar de Adão
dizendo, que Milton nunca teria alcançado esta elevação
se não conhecesse a verdadeira religião: eu respondo que,
se Milton conhecesse o verdadeiro Cristianismo, o Verbo, teria retratado
Adão de outra forma.
A arte não tem outros segredos senão o de fazer comparações
entre assuntos que conhece. A arte ensina que a criança é
uma criatura que "desperta para a vida, abre seus olhos e não
sabe de onde vem". Milton fez um quadro de Adão: o retratou
apenas como uma grande criança, com a diferença de que deu
a ele um sublime senso de sua própria natureza e poderes eminentes
para dar nome as coisas, o que uma criança não possui; além
do mais, tendo o Pai possuído tais poderes, seria difícil
explicar porque o filho não, já que o fruto deveria ser como
a árvore.
Ora, a partir da criança e do selvagem os materialistas assim como
os ideologistas tem traçado seus sistemas de percepção,
origem da linguagem, etc.; ao não irem além deste ponto, acabaram
animalizando todo o nosso ser. Contudo, a Bíblia (pois é dela
que falamos aqui) que se supõe ter sido o guia de Milton, mostra
Adão sob outro aspecto.
Em primeiro lugar, podemos crer que, surgindo das mãos de seu Criador,
Adão não estava sujeito ao sono, já que foi apenas
após ele ter dado nome as coisas que o Criador fez cair um sono sobre
ele, durante o qual a mulher fora, retirada de suas costelas ou de suas
essências poderosas.
Segundo, é provável que este sono e a separação
da mulher já fora a conseqüência de alguma mudança
iniciada em Adão; já que o Criador havia dito (no primeiro
capítulo) quando terminou a criação que "tudo
o que havia feito era muito bom" e então Ele diz (no segundo
capítulo) que "não era bom para o homem estar sozinho".
Em terceiro lugar, se este "dar nomes" fora executado por Adão
ao deixar as mãos de seu criador ou somente após esta mudança
ter tido início não importa, o certo é que, de acordo
com o texto, foi antes de seu sono.
Sendo este caso, então Adão desfrutava de grande luz e vasto
conhecimento já que o Criador o havia colocado acima de todas as
obras feitas por Suas mãos, o havia instalado no jardim dos deleites,
encarregando-o de cuida-lo, confiando todas as plantas ao seus cuidados,
até mesmo a árvore do conhecimento do bem e do mal, da qual
Ele o proibiu de comer.
Assim, Adão não tinha necessidade de despertar para a vida,
mas, ao contrário, ele é quem despertou a vida nas criaturas;
isto é bem diferente do que ocorre com as crianças; mas a
arte oculta estas coisas de Milton e o entrega à sua imaginação.
Também, de acordo com a arte, Milton descreve os amores de Adão
e Eva, supondo que estivessem em seu primeiro estado celestial mas eles
não estavam, pois ele reconhece seus sexos e comemora a consumação
de seus casamento, que produziu fruto tão ruim na pessoa de Caim;
isto só poderia ocorrer segundo a lei animal.
Ora, como poderiam conhecer o puro amor, se já estavam sob a lei
animal? E como poderiam conhecer o amor animal, se não conhecessem
seus órgãos bestiais, já que vemos, no homem, que a
idade do amor é aquela em que sua bestialidade fala mais alto? Além
disso, como poderiam conhecer esta bestialidade se não tivessem sido
culpados, já que, segundo o texto, foi só a partir deste momento
que souberam que estavam nus? Se foram culpados, no que se transformaram
seus sentimentos celestiais, sua pureza e inocência, tão brilhantemente
traçados pelo poeta?
Sem dúvida, eles não possuíam aquela falsa modéstia,
que é um sentimento secundário derivado da educação;
eles tinham sim, um profundo senso de vergonha que surgiu da comparação
de seu estado bestial presente, com aquele que acabavam de perder, pois
seus olhos se abriram para o atual estado vil e degradante e se fecharam
para as maravilhas divinas.
Milton nada sabia sobre as gradações do pecado de nossos primeiros
pais. Uma destas gradações pode, de fato, ter permitido o
desfrutar de alguns deliciosos momentos no jardim do Éden, após
a mudança ter tido início; neste momento, estavam mais preocupados
com os mandamentos do Soberano e com a proibição que Ele havia
lhes imposto do que com seus próprios amores e encantos; quando este
estado passou, estavam demasiadamente ocupados com a árdua e dolorosa
situação de conviverem juntos de forma bastante tranqüila
e suave; isto cabe apenas aos amantes cegos e idólatras de nosso
mundo, que não tem mais nada para fazer.
Milton copiou aquelas formas de amor, dos amores terrestres, embora os tenha
adornado de forma magnífica. Sim, sua longa descrição
dos amores de Adão e Eva prova que o poeta tinha apenas pincelado
a verdade. As Escrituras são mais concisas nos detalhes desta natureza.
Com relação a este assunto, é dito apenas que Adão
conheceu Eva, que ela concebeu e deu à luz Caim, dizendo "Adquiri
um homem com a ajuda do Senhor". Repito que o Cristianismo ou o Verbo
não pode se glorificar de ter contribuído para o surgimento
de todas estas ficções de Milton, e está longe de reivindicá-las.
Não é que, como apreciador da beletrística, eu não
admire o talento poético de Milton e as magníficas cenas que
produz; Fico até satisfeito em nome da religião, que ele nos
trace algumas sombras da felicidade celestial e do puro amor, que é
sua base; por causa destas doces pinturas, perdoou seus anacronismos: mas,
como amante da verdade, sinto que ele e todos os seus companheiros, não
descrevam as coisas de forma mais exata, já que se supõe que
os poetas falem a língua dos deuses. A licença poética
o permite preencher, à sua maneira, as telas da história dos
homens; isto não é permitido na história do homem,
onde somente a Verdade tem o direito de falar.
Estes poucos exemplos são suficientes para mostrar a imensa distância
existente entre Cristianismo e a arte da literatura religiosa e para fixar
os limites da influência do Cristianismo na poesia. Nossas observações
irão se aplicar a qualquer uma das grandes obras ou eloqüentes
críticas; para não dizer nada do fato de que muitos de seus
autores, apesar do esplêndido caráter religioso de seus escritos,
não só não acreditam no Cristianismo, ou seja no Verbo
Eterno, como não acreditam também no Catolicismo, que deveria
ser a sua representação na terra.
A narrativa
sacra não adornada pelos poetas, Racine
De forma geral,
penso que quando os poetas e literários manuseiam os tesouros da
Sagrada Escritura, eles os alteram sem adorná-las e ainda lhes agregam
falsas feições ou os enfraquecem com difusões; isto
tudo ocorre por não serem guiados pelo verdadeiro espírito
do Cristianismo; na verdade, eles nunca se sobressaíram tanto do
que nas vezes em que ficaram satisfeitos em mostrar estes tesouros na sua
original simplicidade e integridade literal. Por que "Athalie"
é considerada a obra prima da perfeição? Porque nesta
obra Racine nada fez além de copiar a Escritura.
Críticos eruditos podem exaltar a arte que permita construir seus
poemas como quiserem, o leigo nada sabe sobre estes segredos, mas reconhece
as simples e supremas belezas contidas nas Escrituras; quanto mais nuas
nos forem apresentadas mais certamente serão obstruídas por
eles. Basta verificar o efeito que estas palavras, que deveriam ser encontradas
em cada página da Bíblia não produziram no palco: "Eu
temo a Deus, não temo a mais nada!"
A arte literária,
inútil até nos palcos
Para julgar
o pouco proveito que estas riquezas, nas mãos da literatura, trazem
ao Cristianismo, basta verificar o pequeno efeito que os melhores pensamentos
e máximas, na maioria das vezes adequados as necessidades de nosso
ser, produzem no palco. Os pecadores que escutam, mas que, como o poeta,
só têm aceso ao homem material, experimentam uma suave impressão,
uma espécie de emoção sentimental que o afeta naquele
momento; mas como esta emoção não tem raízes
profundas e se assemelha a uma sensação muscular, termina
nas extremidades de seus nervos com o bater de suas palmas, evaporando-se
no ar. Assim, quando a peça termina, os espectadores se dispersam
para mergulharem novamente em suas futilidades rotineiras com, no máximo,
uma lembrança do que sentiram e não com algum enriquecimento
interior.
Ora, o que ocorre com o espectador no teatro, se repete com o leitor das
melhores obras da poesia e da eloquência, encontradas nas riquezas
da Bíblia ou nos sacramentos do Catolicismo. Seria ainda pior se
falassem do verdadeiro Cristianismo ou do Verbo Eterno e da liberdade Eterna
pois, com certeza, nenhuma palavra de seus discursos seria compreendida.
Sobre o Verbo, faço referência, mais uma vez, ao autor alemão
de quem tenho falado freqüentemente nesta obra.
O objetivo
da arte literária é dar emoções e receber aplausos.
A verdade sofre.
Os homens literários,
em geral, quer escrevam para o palco ou por prazer, parecem objetivar a
nada além do que a arte de comover, sem que pensemos na razão
pela qual somos seres dotados de emoção. Como buscam agradar,
fazendo com que os elogiemos ao mesmo tempo, eles têm o cuidado de
nos conduzir as emoções que atendam aos seus propósitos.
O espectador e o leitor os compreendem; afinal, se forem conduzidos a emoções
mais sérias, estas poderiam constranger os poetas que correriam o
risco de não serem escutados; os escritores, por sua vez, não
têm objeção ao divertir os leitores com traços
da verdade, mas temem levá-los à própria verdade, pois
não teriam mais nada a fazer, visto que a verdade tudo faria.
Desta forma, a Verdade estremece continuamente ao menor benefício
que recebe dos maravilhosos talentos de grandes escritores e poetas; se,
algumas vezes, chegam a abordar os limites da Verdade, é apenas para
absorvê-la e sepultá-la na região das vãs aparências,
que não é o seu lugar; o que aqui digo da literatura em geral
se aplica, infelizmente de forma perfeita, aos escritores religiosos; portanto,
em suas mãos, as ciências têm se tornado meramente uma
arte. Com esta arte, suas formas e preceitos e mais seus estoques de regras
e fórmulas, podemos produzir algumas obras que se não forem
sólidas e graciosas, podem ser ao menos corretas; contudo, verdadeiros
gênios não se prendem a fórmulas. Em resumo, eles estudaram
como nos emocionar, nos divertir, assim como os gourmets estudam a arte
de produzirem sensações em nosso paladar: ambos temeriam usar
qualquer coisa que pudesse provocar sensações muito fortes
e que provocasse uma purificação e uma renovação
de nossos órgãos digestivos; deixam estes cuidados àqueles
encarregados de nossa saúde; além disso, da maneira que vivemos
neste mundo inferior, com certeza médicos são muito mais necessários
do que gourmets.
A razão pela qual a literatura e a poesia, mesmo de caráter
religioso, contribuíram tão pouco para a causa da Verdade,
é que aqueles que as cultivam e professam não fazem mais do
que imaginar que esta Verdade deveria ser realmente o guia e que eles próprios
deveriam ser nada menos que os órgãos e ministros da Verdade;
concebendo nada maior do que um bom poema, realmente acreditam que o homem
não tem mais nada glorioso a fazer na terra do que carregar as palmas
de todos os competidores desta raça.
As leis
da Verdade são independentes da arte e das formas, assim como dos
poetas e críticos
Os poetas e
críticos se empenham na persuasão e redobram seus esforços
a fim de fixar regras e leis, no entanto tudo o que precisavam era simplesmente
seguir aquelas ditadas pela Verdade, desde toda eternidade. Eles trabalham
duro tentando colocar suas próprias atividades e propósitos
em ação; a primeira coisa que deveriam fazer é esquecer
a obscura mente do homem e muito humildemente implorar o auxílio
da Verdade, a fim de que permita a sua admissão a Seu serviço.
Reconheço ser duvidoso que a verdade os empregaria para fazer poemas,
mas se isto acontecesse, seria somente após terem trabalhado efetivamente
em Sua obra; a Verdade os ordenariam a celebrar fatos unicamente relacionados
a Ela; fatos dos quais os fez agentes e esta deve ser a função
destes homens; nenhum trovador pode cantar fatos tão bem quanto aqueles
que os executam. Por essa razão, um amante da poesia religiosa afirmara
que um poeta,
Qui du Suprême Agent serait vraiment l'Oracle,
Ne ferait pas un vers qu'il n'eût fait un miracle!
Quando vejo nosso eloqüente escritor exaltar a maneira com que Milton
se apoderou do primeiro mistério das Escrituras, quando o Supremo
permitindo ser tornado pela compaixão, garante a salvação
da humanidade; quando o vejo falar dos grandes mecanismos do Cristianismo
e dizer que a Tarso faltou coragem, pois tocou as coisas sagradas de forma
trêmula; quando o vejo observar que todos os poetas cristãos
falharam em descrever o céu, uns pela timidez como Tarso e Milton,
outros pelo cansaço como Dante, ou pela filosofia como Voltaire,
ou ainda pela superficialidade como Klopstock, não posso evitar de
dizer:
A verdade requer discursos? Pode a Verdade falhar? pode estar errada? Se
o Cristianismo tivesse inspirado todos estes poetas, seríamos capazes
de apontar tantas falhas em suas obras?
Eu os reprovo com suas faltas, da mesma forma que vós: por fim, chego
à conclusão de que eles não tiveram nenhuma experiência
positiva de qualquer daqueles sublimes assuntos que tentaram descrever;
concluo que seus próprios pensamentos os preenchem tanto com realidades
como falsidades; o Cristianismo não foi o guia destes poetas ou eles
não aprenderam a lição e ainda a copiaram de forma
mal feita; o Cristianismo não conhece misturas e não afirma
nada senão de acordo com fatos reais e com a ciência experimental,
fora do alcance da falsidade e de todos os fantasmas da imaginação
humana; além disso, seja qual for o mecanismo do qual a Verdade se
utilize, Ela só confia naqueles que realmente acreditam e estejam
em condições de valorizá-la e colocá-la em movimento.
"Portanto, não faça comparações entre coisas
tão remotas entre si quanto o Cristianismo e as produções
poéticas, pois seria uma ofensa ao primeiro, torná-Lo propício
à fabricação de mentiras. Será que você
não tem várias oportunidades para desenvolver sua bela descrição
dos benefícios concedidos pela religião ao mundo? Na moral,
estes benefícios se introduziram em todas as camadas da sociedade
e até mesmo na política; nas admiráveis e úteis
instituições, fundou hospitais e estabelecimentos de caridade
de todos os gêneros, assim como as ordens de cavalheiros; nas esplêndidas
comparações que se pode fazer entre Cristãos e não
Cristãos ou nas tocantes causas de nossos missionários.
Tudo isto são situações em que a religião se
mostra em atos sem nada a dissimular ou inventar; enquanto poetas dissimulam
ou inventam tudo, sem a necessidade de demonstrarem nada ou externarem virtude
alguma, já que se esforçam unicamente para nos maravilhar.
"Quanto a falha dos poetas cristãos em suas descrições
do céu, concordo com as razões dadas; em geral, é muito
mais fácil traçar cenas de miséria; contudo, São
Paulo nos dá uma razão muito melhor, quando se refere as inefáveis
coisas que ouviu no terceiro céu e mantêm silêncio daí
para frente; isto é, as linguagens humanas não poderiam expressá-las.
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