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Se
não houvesse nenhum poder de harmonia e de ordem, poder este que se
engendrou a partir de toda eternidade, nunca veríamos a ordem surgir
e vencer a corrupção que ocorre em tudo o que constitui o círculo
universal, como vemos, a cada momento, diante de nossos olhos. Sim, proclamemos,
em alta voz, que há um Verbo Eterno, depositário da Luz Eterna,
da vida e da medida que equilibram, por causa do homem, a desordem, a angústia
e a infeção em que ele se afunda aqui neste plano. Se o homem
não se mantém constantemente em elevação onde
este suporte habita, ele cai novamente no abismo do mal e do sofrimento, no
extremo oposto. Não há meio termo para ele: se não usa
a força de Hércules, permanece esmagado sob o peso de Atlas.
Sim, toda a Luz Divina é necessária para dissipar as trevas
intensas que circundam o homem. Ele precisa de toda virtude divina para equilibrar
a região do crime a qual está amarrado; em resumo, se o homem
não consegue manter a santidade, permanece afundado na abominação.
É em vão que o homem tenta obter este triunfo através
de meias medidas e de frágeis especulações da sua mente
e de sua razão. Estes supostos esforços só o enganam,
pois são ilusórios.
As distrações fúteis e artificiais as quais o homem prende
sua existência diariamente o engana ainda mais; o caminho vivo é
o único caminho proveitoso; este caminho vivo só pode ser a
própria mão do Altíssimo pois, somente Ele pode manter
e governar todas as coisas; Ele criou uma compensação para todas
as deficiências.
Quando foi dito que o Dirigente Supremo mantinha todas as coisas pelo poder
de seu Verbo, isto não era uma expressão mística planejada
para deixar nossa mente em suspense, era positiva e fisicamente verdade, em
qualquer ordem que possamos imaginar.
Se o Verbo não sustentasse o Universo em sua existência, dirigindo-o
em todos seus movimentos, seu progresso teria um fim imediato e ele retornaria
à não manifestação:
É verdade que, se o Verbo não sustentasse as plantas e os animais,
eles reintegrariam imediatamente seus próprios germes, que seriam absorvidos
pelo espírito temporal do universo.
É verdade que, se o Verbo não sustentasse sua ação
e execução, todos os fenômenos do Universo cessariam de
se manifestar aos nossos olhos.
Também é verdade, na ordem espiritual, que, se o Verbo não
sustentasse o pensamento e a alma do homem, assim como sustenta, diariamente,
todas as coisas no Universo, nossas mentes recuariam, de imediato nas trevas
e nossas almas no abismo, sobre o qual somos capazes de nos sobrepor, apesar
de nossos crimes, unicamente através do inestimável e mais misericordioso
poder do Verbo: assim, a menos que sejamos voluntariamente insanos e coincidentemente
nossos piores inimigos, não cessaríamos nem pôr um momento
a busca pelo Princípio de todas as coisas e pela inclinação
ao Verbo; não agir assim eqüivale a negar nossa existência
e renunciar a tudo o que é útil nas regiões onde o auxílio
advém do Ministério Espiritual do Homem.
Os
metafísicos e especuladores da Divindade. Religião Política
Ai
de Vós, metafísicos insensíveis, que fizeram do Ser Divino
e de tudo o que dele emana um mero tema para suas dicertações
e raciocínio! Ai, de vós especuladores que não deram
fundamento à religião, mas à política. O fundamento
essencial da religião é o Verbo, sem o qual nada pode ser sustentado!
Vós, sem dúvida, nada vêem na religião senão
suas formas obscuras, que se tornaram ainda mais tenebrosas pelos abusos que
as desfiguraram; como eu digo, vós olhais para a religião e
suas correntes misteriosas, apenas como um meio de relacionar o que é
elementar e pensais que ela não serve para mais nada.
Por isto posso te desculpar, tão espessas são as trevas que
cobrem a terra! Mas, não te perdôo quando fazes do Verbo uma
reverência aos seus propósitos políticos. Deus, o Verbo,
e as reverências que lhe são devidas, não são resultados
do cálculo e da reflexão; ainda é pouco relacionar esta
reverência apenas com um dever de acreditar neste Deus Soberano e seu
Verbo Eterno, que possui o direito à veneração de suas
criaturas. Esta crença é mais que uma conseqüência
filosófica; é mais que um direito e uma obrigação;
é uma necessidade constituinte radical de nosso ser; e sua presente
situação é uma prova disto; a destituição
universal em que vive é suficiente para que sintas esta necessidade
a cada instante de sua vida e a partir do momento em que deixas de sustentá-la,
cais novamente no abismo.
Analogia
entre faltas e punições:
Como
descobrir a nossa ofensa
Vamos nos dirigir agora à brilhante luz universal com relação
as faltas e punições em geral e aos princípios aos quais
estas faltas tem ofendido.
Na estrita justiça, assim como na estrita verdade, deve haver uma perfeita
analogia entre punições e faltas. Examinando cuidadosamente
a infeliz condição do homem neste plano, veremos claramente
a natureza de seu erro e crime pois, a punição e o crime são
moldados um pelo outro.
Nesta mesma estrita justiça, deve haver também uma repulsiva
conexão, igualmente marcante, entre a falta e o princípio que
ofendeu, já que a falta só pode ser, em todos os sentidos, o
universo e o contrário do princípio; vamos ser bem entendidos
quando dizemos que a falta pode consistir apenas numa direção
oposta àquela do princípio. consequentemente, ao retroceder
na linha do crime, não deixaremos de chegar ao princípio; da
mesma forma, ao examinar a natureza da penalidade não deixaremos de
reconhecer a natureza da ofensa, da qual são os resultados.
Devemos começar com a punição, já que serve para
nos ensinar qual foi a ofensa. O passo seguinte deve ser o de voltar ao longo
da linha desta ofensa, a fim de chegar ao princípio. Assim, nosso primeiro
dever é acabar com as reclamações e passar pôr
todos os níveis de nossa punição com resignação,
se é que realmente queremos chegar ao verdadeiro conhecimento de nossa
desordem.
Nosso segundo dever consiste numa atividade viva e ardente sem olhar para
a mão direita ou esquerda; só isso pode dissipar nossas trevas
e nos trazer de volta à vida da qual a ofensa nos separou.
Nosso
confinamento em um mundo mudo mostra que nossa ofensa foi contra o Verbo
Quando
examinamos nossa punição, notamos que seu mais proeminente caráter
é de que somos mantidos calados e amarrados a um universo que, embora
sustentado pelo Verbo, está sem fala; isto representa para nós
uma dupla punição que nos faz sentir, por um lado, a vergonhosa
desproporção que há entre nós e as criaturas mudas
à nossa volta; e de outro lado quão desgastante este universo
deve ser para o próprio Verbo, já que deveria ser manifestado
em todos os lugares e corresponder livremente com tudo o que existe.
Ora, a primeira destas punições é demonstrada não
só pelo atual estado das coisas, mas também pela conduta do
homem com relação ao seu semelhante.
Apesar de a conversação dos homens estar muito longe do verdadeiro
Verbo, não obstante, quando estão juntos, se não estimularem
a atmosfera com seus discursos (uma frágil sombra do Verbo), se não
animam um pouco a sepultura em que se encontram, não conhecerão
nada além do frio tédio da morte.
A segunda punição também nos mostra uma fonte viva, que
busca incessantemente reviver todas as coisas por meio da palavra individual;
pois, sem esta fonte, o homem não desfrutaria desta palavra individual,
da qual faz uso diário de forma tão pueril e da qual pode tirar
pouco proveito enquanto não estiver regenerado.
Assim, podemos dizer, que estamos devidamente esclarecidos sobre as punições
que chegam até nós. Contudo, observando a necessária
analogia que subsiste entre punição e ofensa, podemos concluir
que, se somos punidos com a privação do verdadeiro Verbo, com
certeza é ao Verbo que temos ofendido.
Pela segunda lei, ou, como conseqüência da analogia entre a ofensa
e o princípio, o resultado é que, se, em nossa palavra deveríamos
agir numa direção inversa àquela que tomamos por ocasião
da sua corrupção, onde caminhamos todos os dias, chegamos mais
uma vez ao grande, fixo e luminoso Verbo, com o qual sentimos que devemos
habitar na alegria ao invés dos sofrimentos que nos atormentam.
O
Verbo ou a verdadeira palavra, requer uma prática assim como outras
habilidades; O silêncio
Como
podem os homens manterem a satisfação ativa deste instrumento
universal, este Verbo, que embora tenha tão grande importância
e seja tão desejado, é, ainda, a única habilidade ou,
pôr assim dizer, a única prática que se pode exercer sem
a preparação de um longo aprendizado, como ocorre ao cultivarem
outras habilidades? Pois, repito, qual homem que fala em todo lugar, o dia
todo, não deve estar enganado com relação ao Verbo (palavra,
verdadeira fala)? Com certeza ele é fútil e ignorante o bastante
para não perceber isto.
De fato, o Verbo só é conhecido no silêncio de todas as
coisas deste mundo; só assim pode ser ouvido; quando falamos, seja
com os outros ou com nós mesmos, sobre qualquer coisa que pertença
a este mundo, é certo que agimos contra o verdadeiro Verbo e não
a seu favor; pois, só nos degradamos e nos naturalizamos com o mundo
que, como já dissemos, sendo mudo é, ao mesmo tempo o modo e
o instrumento de nossa punição.
Não vamos esquecer de um outro fato, igualmente verdadeiro, e muito
mais confortante: o sentimento de que se o pecado nos priva de todas as coisas
e nos deixa num estado de absoluta destituição, é necessário
para nossa cura, que tudo nos seja dado novamente pelo Infinito Amor Universal;
de outra forma nossa cura nunca será absoluta.
Ora, este auxílio universal, em que o Amor novamente se presta ao mundo,
é comprimido nas maravilhas do Verbo; a perda dessas riquezas é
que nos coloca em privação.
Mas agora, podemos conhecer esta palavra (Verbo) do Espírito, apenas
de forma lenta, assim como vemos as crianças aprenderem a linguagem
humana. Devemos também, aprender de forma natural, de forma insensível,
como as crianças. Assim diz o preceito do Evangelho: "A menos
que sejais como as criancinhas, não entrarás no reino dos céus".
O
Verbo mostra a aliança de Deus com o Homem e a Natureza
Vamos
olhar com admiração, dentro desse espírito, tudo o que
o Verbo trouxe ao nosso conhecimento; segue-se um extrato daquilo que devemos
apreender:
Foi através do Verbo que Deus fez Seu pacto divino da aliança
universal, com tudo o que existe na imensidão.
Foi através do Verbo que Deus, em Seu processo restaurador, formou
sua aliança espiritual temporal geral, nas diferentes épocas
de sua obra graciosa, manifestada na origem e criação da natureza,
na promessa feita ao pecador Adão, em seus diferentes lideres eleitos
que proclamaram suas leis e mandamentos sobre a terra, tanto antes da idade
média e a partir dela e naqueles que irá enviar até o
final dos tempos e no fim de tudo.
É também através do Verbo, que Deus faz uma aliança
espiritual especial com o homem individual, plantando nele os germes dos diferentes
dons e virtudes que se atraem uns aos outros e se agregam através desta
atração até adquirirem, pôr sua força e
atividade harmônica, tamanha afinidade com a Unidade, que esta Unidade
vem e se junta a elas concentrando-as com sua aprovação.
Pelo Verbo, Deus rege o curso de sua aliança espiritual temporal geral:
quando esta aliança adquirir força suficiente, pela atração
de seus poderosos elementos divinos, o Verbo permite que exploda e Ele próprio
passe na torrente desta explosão, a fim de que suas substâncias
salutares possam ser melhor infiltradas nas regiões que as esperam;
esta é uma das maravilhas dos números ativos que, embora não
sejam nada em si, como já foi dito anteriormente, representa fielmente
o curso oculto do Verbo, e suas inestimáveis propriedades. É
pelo Verbo, também, que Deus faz uma aliança contínua
e particular com a vegetação e a natureza terrestre, onde cada
produção é sempre precedida pelas gradações
da atividade, germinação e crescimento, atraindo umas as outras
reciprocamente, até culminar na explosão, seja pela florescência
ou pelo nascimento, quando o botão, ou o centro da vida em cada uma,
tenha dissipado os obstáculos que as circundam, sendo capaz de tomar
posse de seus direitos.
A
necessidade de uma linguagem espiritual
Assim
como estes níveis de ação estão disseminados pela
Natureza, os germes da ciência estão disseminados pôr todos
os homens: só precisamos de uma linguagem análoga ou palavras
para comunicar uma com a outra. Se cultivássemos estes germes cuidadosamente,
produziriam uma linguagem capaz de transmitir seus frutos a nós; mas
somos levados pela impaciência; ao invés de esperar pela frutificação
desta linguagem, temos pressa em compor diferentes linguagens para nós
mesmos, de acordo com as ciências que praticamos.
Ao mesmo tempo, como estas linguagens são estéreis, diferentes
daquela cujo lugar usurparam, não trazem nenhum proveito a nós;
elas não tocam os germes dos quais o fruto pode brotar.
Os resultados científicos dos homens terminam, na maior parte, em nossas
linguagens faccionais compostas; as ciências humanas geralmente residem
na forma externa, não na virtude das palavras; as linguagens científicas
não tendo vida em si mesmas, não podem vivificar umas as outras
e como não podem vivificar, dão início a disputa e a
oposição e acabam destruindo umas as outras.
Desta forma, as ciências propagam a morte que, desde a queda, tem espalhado
seu império pôr todos os lados; ao invés disto, deveriam
dar continuidade a vida, ou ao Verbo, que desde a grande transformação,
não pode dar um passo sem ter que lutar pôr isso. De fato, toda
geração, toda vegetação, todo ato restaurador
ou operação e até mesmo todo pensamento em direção
a região da luz, formam muitas ressurreições e reais
conquistas sobre a morte. Aquele que for capaz de penetrar tão longe
quanto possível de conceber e sentir a contínua ressurreição
do Grande Verbo, irá dar graças, e ficarei surpreso se não
se esternecer e perder a fala de tanta admiração. Portanto,
qual não será a alegria dos poderes divino, espiritual e celeste,
quando conseguirem gerar, no mundo da Verdade e da Luz, um homem semelhante
a eles próprios, seu Filho bem-amado!
O
Verbo na angústia; todas as coisas nascem na angústia, até
mesmo a própria vida
O
verdadeiro Verbo esta universalmente na angústia; não podemos
realizar ou receber coisa alguma senão através da angústia;
tudo o que existe de forma visível é uma perpétua demonstração
física do Verbo na angústia; portanto, não se deve evitar
a angústia interna; portanto, só as palavras da angústia
podem beneficiar; elas semeiam a si próprias e geram, porque são
a expressão da vida e do amor.
Oh, homem! esta lei severa é evidente no pranto de sua mãe quando
te dá à luz e nas tuas próprias lágrimas quando
a recebe. Imagine, então, o quanto não custou, à Fonte
de todo repouso, se reproduzir em tua forma espiritual corrupta e se tornar
semelhante a ti. Compara tua vida temporal, livre e ativa, com aquela que
tinhas no ventre de tua mãe e vê se as alegrias de tua existência
não te fazem esquecer suas primeiras lágrimas; imagina, então,
o que podes esperar das menores impressões que a angústia real
pode fazer nascer em ti.
Prepara, portanto, teus olhos para ver e tua compreensão para admirar,
aquilo que vem diariamente da angústia particular do Reparador ou do
Verbo e que irá, daqui para frente, proceder de sua angústia
geral; pois, o resultado de todas estas angústias são tão
certas quanto imensuráveis.
Acontece que, como nenhuma palavra viva e salutar pode nascer em nós,
senão na angústia; com certeza os homens a quem ouvimos diariamente
não pronunciam nenhuma palavra e mesmo assim nos convencem quando fingem
proclamar a verdade; eles falam sem o poder e a intervenção
da angústia.
Além do mais, as palavras de angústia são sempre novas,
já que nesse ponto reside o princípio da linguagem. Ora, as
palavras daqueles que ouvimos todos os dias não são novas e
não dizem nada além de reminiscências e repetições
que já foram ditas várias vezes.
É possível perceber qual é o sublime objetivo desta angústia
do Verbo? Quando o homem escuta atentamente, a Verdade parece lhe dizer: Oh,
homem, não posso dar vazão as minhas lágrimas em lugar
algum senão em teu seio".
Assim, então, o coração do Homem é escolhido para
ser o depositário da angústia de Deus, o amigo de sua escolha,
o confidente de todos os seus segredos e desejos, visto que nenhum deles pode
ter expansão ou ser emitido exceto através da angústia.
Depois disto, tão doce e amigável proclamação
é feita ao Homem, ele percebe e pôr sua vez exclama: "Torrentes
de dor inundem minhas veias e todo meu ser se elevará com amargor".
Da graças então, pois neste momento a vida tem início.
Como
manter vivo o fogo da vida Espiritual
A
seguir um caminho seguro para evitar que estes primeiros elementos de tua
vida sejam extintos. Tem cuidado ao te afastar, mesmo pôr um instante,
do fogo central fundamental, no qual repousas e nunca deves deixar de te exercitar
na dor, a fim de que esta dor se estenda a todas as suas faculdades e façam
sair seus frutos.
É este fogo que deve te preparar incessantemente e mantê-lo no
medo; sem esta preparação contínua o Verbo vivo da angústia
não irá te penetrar; irás te tornar um objeto repulsivo
e quando o Verbo vier te envolver terás que virar sua cabeça
pôr causa de teu hálito infectado; pois, se o Homem Espírito
é ofendido tão freqüentemente pelo hálito que sai
da boca do homem, como Deus poderia suportá-lo?
Permanece, então, constantemente neste fogo central fundamental, como
uma criança permanece no ventre de sua mãe, até ficar
forte o bastante para suportar a Luz do dia, ou, se é que uma comparação
menos digna pode ser feita, como um alimento que permanece no fogo até
estar pronto.
Atrás de tudo isto há grandes verdades e princípios experimentais.
O mais importante é que deveríamos saber e sentir qual é
a grande angústia de Deus. É aquela que se origina de sua contínua
tentativa de se revelar através do coração do Homem,
e dos tenebrosos obstáculos que o coração do Homem opõe
a Ele.
Por esta razão, todo fogo abismal que é aceso abaixo de nós
através da vida, não é o bastante para dissolver as espessas
coagulações que sufocam.
Se este fogo abismal não preparar o caminho, os Verbos da angústia
divina nunca irão penetrar em nós; se o Verbo da angústia
não nos penetrar, nunca compreenderemos a angústia universal
de todas as coisas e nunca poderemos ser aquele que irá confortá-las.
Sim, se não tivermos a substância da vida em atividade dentro
de nós, como seremos capazes de julgar, ou mesmo de ser sensíveis
ao que está morto à nossa volta?
Assim, não é apenas o sabat da natureza ou aquele da alma humana
que requerem nossos cuidados urgentemente, temos também de fazer com
que o Verbo propriamente dito, desfrute de seu sabat, já que não
se pode negar, em nome do uso falso, fútil ou perverso que o homem
faz do Verbo Divino, que o Verbo esteja em seu leito de sofrimento, para não
dizer em seu leito de morte; o homem não pode trazer-lhe alívio
algum até que sinta cada angústia do Verbo nascer em seu interior.
Vemos
os homens darem o nome de "cruzes de expiação" aos
desapontamentos da vida temporal, as aflições mundanas, as enfermidades
humanas, etc.; este nome em seu verdadeiro significado se aplica unicamente
as dores espirituais dos homens devotados à obra do senhor, chamados
a trabalharem nesta obra, segundo suas habilidades e dons.
Esta classe de homens é geralmente presa a circunstâncias bem
opostas a obra divina a qual almejam, para a qual foram feitos e da qual são
tão pouco capazes de falar, pois freqüentemente permitem serem
cobertos de escárnio e desdém para então abrirem suas
bocas sobre tal obra. É para estes homens que o preceito Evangélico
se aplica: "Aquele que não me seguir, não é digno
de mim". Pois, se eles não tomarem a determinação
de suportar a cruz que lhes é mostrada e irem em frente, apesar da
angústia que lhes esperam correm o risco de perderem sua obra e serem
tratados como maus servos.
O espírito do mundo mascarou os mais belos significados das Escrituras
ao dar-lhes as aplicações mais ordinárias e vulgares.
Não temo em dizer que, até mesmo muitos grandes santos falharam
em dar a esta grande passagem todo o significado que lhe pertence; a famosa
frase de Santa Teresa "Deixe-me sofrer ou morrer" nos dá
apenas metade do verdadeiro significado. A cruz é de longe anterior
ao mal e quando se faz sentir em nós, atuando no confinamento de nossos
presentes obstáculos espirituais, é para nos conduzir à
sua própria ação livre e nos instruir, em sua própria
generosidade infinita, apesar de nossa obscuridade, o que é a cruz
anterior ao mal.
Não, não! a cruz não é um sofrimento; é
a Raiz Eterna da Luz Eterna. Não é menos verdade que se o eleito
deve suportar, corajosamente os esforços dolorosos que esta cruz realizam
nele, a fim de chegar à região da liberdade, com muito mais
razão devemos todos suportar as tribulações deste mundo,
tanto corporais como espirituais, as quais damos o nome de cruzes; esta resignação
será a mais meritória, pois mesmo no estado de desordem e discordância
em que a queda nos lançou, não somos todos impedidos de sentir,
ao menos no mesmo nível, a angústia da cruz superior.
Não diria que os homens não podem tirar proveito de sua maneira
inferior de ver os preceitos evangélicos com referência à
cruz; gostaria apenas que os homens de desejo soubessem que podem tirar muito
mais vantagens disto de outra forma; pois, é em seus desapontamentos
e contrariedades, nas coisas divinas, que sua fé é ao mesmo
tempo testada e alimentada; é aqui que começa, pela primeira
vez a apreender o que é o sofrimento do Verbo e é daqui que
tiram conforto e se sentem satisfeitos ao invés de reclamarem; porque
o Verbo não avança em suas dores, sem avançar também
rumo à grande época de sua libertação.
Ao avançar, sua angústia e tribulação aumentam
cada vez mais; os Salmos seriam bem diferentes do que são, se fossem
escritos agora. Pois, o Verbo é o desejo divino, personificado e em
ação no homem. Na medida em que ele penetra e se descobre na
atmosfera humana se vê obrigado a alimentar a amargura e o desespero.
Mas qual não será sua satisfação quando encontrar
uma alma cheia de fé e desejo que realmente procura se regenerar de
acordo com a nova lei do espírito e da verdade!
Considere, então, oh homem de Deus, que nenhum sofrimento vale a pena
senão aquele que tem o bem comum como objetivo. Pode o soldado que
adoece por intemperança ou por sua própria negligência,
ser considerado como servidor do estado quando segue precisamente as prescrições
do médico? Não, ele serve unicamente a si próprio, busca
sua própria recuperação; ele só irá servir
novamente seu país quando voltar à luta.
Esta é nossa situação aqui neste plano: estamos todos
sob tratamento médico, pôr conseqüência da grande
desordem ou de nossos próprios erros; quando observarmos e seguirmos
tudo o que é prescrito para nossa saúde espiritual, seremos
úteis somente a nós mesmos. É errado chamar isto de servir
a Deus, pois isto não é servir a Deus.
Quando formos regenerados e capazes de cumprir os diferentes ministérios
de nosso Mestre, então poderemos realmente servir a Deus; então
poderemos, pôr meio de nossas próprias penas, sentir e conhecer
pôr experiência própria, as dores do Verbo: até
então, sentimos apenas as nossas. Vamos então, fechar os portões
do mal e da futilidade em nós, a fim de que as regiões da vida
possam entrar.
Quando
a mão do Senhor está sobre o homem, a fim de puni-lo, este fica
preso com relação as suas faculdades. Ele é atormentado
pela inquietação, pela necessidade de ação e movimento,
além da intolerante tortura (Geena, inferno) que mantém todo
o seu ser numa violenta contração; o homem permanece inativo,
tudo é incerteza.
Quando a mão do Senhor está sobre o Homem a fim de acelerar
a obra e o progresso do Verbo, o peso da mão de Deus também
o atormenta, mas com a ânsia do reino de justiça; a geena que
ele experimenta o faz avançar diariamente na região da vida,
iluminado pela atividade espiritual.
O traiçoeiro prestígio da região das aparências
o circunda com suas ilusões; ele passa pôr elas e não
lhes dá atenção. As trevas e as paixões terrestres
o perseguem em vão, ele passa pôr elas e deixa tudo para trás.
Pode-se preparar a ele qualquer armadilha dos desejos desta vida, a mão
do Senhor o atrai e sua ânsia de justiça é mais forte
que seus desejos. Pode-se martirizá-lo ele irá aceitar, não
irá sentir nada senão o peso da mão do Senhor que o atormenta
com a ânsia de justiça.
Quando uma veia estoura pode algum débil laço evitar seu declínio?
Ela estoura e mergulha no oculto. Poderão alguns pequenos obstáculos
impedir seu caminho? ela os reduz a pó, ou os arremessa ao fogo e mergulha
no oculto.
Isto é o que o homem deve se tornar quando for feliz o bastante para
sentir o peso da mão do Senhor e se sentir atormentado pela ânsia
de justiça.
Busca
e encontrarás a mão do Senhor sobre ti
Oh,
Homem de Desejo! como conseguirás sentir o peso da mão do Senhor
e ser atormentado pela ânsia de justiça? Fazendo um compromisso
contigo mesmo, dizendo "nunca vou parar de orar até sentir que
Deus propriamente dito ore em mim".
"Se for fiel a este compromisso, não terei que esperar pela lentidão
de minha própria oração para que Deus possa orar comigo,
pois Ele irá orar comigo desde o início de minha oração".
"Ele logo irá até mesmo orar comigo quando eu não
orar!" "Não se fatigarão inutilmente, nem gerarão
filhos para a desgraça; porque constituirão a raça dos
benditos de Iahveh, juntamente com seus descendentes".
Acontecerá então que antes de me invocarem, já lhes terei
respondido; enquanto ainda estiveres falando, já os terei atendido".
(Is. LXV. 23, 24).
"Sim, toda minha vida será a partir de então uma oração
ininterrupta; já que não será mais eu quem busca Deus,
com súplicas isoladas, proveniente da fraqueza humana, mas será
Deus a me buscar, na continuidade de sua ação infalível".
"Não devemos um dia nos tornar como tantas torrentes flamejantes,
disparando sem cessar, de cada ponto de todas nossas substâncias constituintes,
luzes vivas e ardentes?"
Então poderás dizer: "minha alma encontrou o amigo de sua
vida, eles se beijaram e não irão mais se separar. Ela não
foi ao mercado ou aos subúrbios da cidade, buscar este amigo; ela não
precisou perguntar-lhe sobre os vigias de Jerusalém;
"Este amigo veio pessoalmente encontrá-la num acesso de seu amor;
eles se beijaram e não irão mais se separar".
"Estas são as riquezas que ele me trouxe e que emanaram em meu
coração, no acesso de seu amor".
"Eu era uma alma curvada com o peso de sua própria miséria;
o desespero quase tomou conta de mim mas quando vi a abordagem do Consolador,
ouvi estas doces palavras saírem de sua boca: Por que estais deprimido?
Não disse o teu Deus para perdoar teu irmão sete vezes setenta?
Se Deus te julga capaz de tanta clemência para com teu irmão,
O crês incapaz da mesma clemência com relação a
ti?"
Portanto, suplica para que te perdoe, não somente sete vezes setenta,
mas de acordo com o número eterno de sua infinidade; não descanses
até sentires que Ele tenha selado teu perdão e que Ele próprio
tenha tomado a lei, o preceito e o mandamento que te deu.
Quando Ele assim tiver te perdoado, diga-lhe: "Senhor, a cidade não
mais será destruída; tu exigistes ao menos dez equidades para
impedir o fogo que aproximava-se de Sodoma e Gomorra e estas dez equidades
não foram encontradas.
"Tu exigistes não mais que uma equidade para salvar Jerusalém,
nos dias de Jeremias, e nem uma foi encontrada (vi 13)".
"Mas agora a cidade não será destruída, se tu exigires
esta única equidade, pois ela é encontrada; esta única
equidade entrou na cidade; foi ela própria que fez uma aliança
comigo".
"Esta única equidade irá salvar a cidade e todos os seus
habitantes, porque esta única equidade é tua divina Unidade
que irá se espalhar pôr todos os habitantes de Jerusalém".
"Dissestes ao profeta Jeremias: mesmo que Moisés e Samuel estivessem
diante de mim, eu não teria piedade deste povo (XV 1)".
"Mas eles não eram sacerdotes da ordem de Melquisedek, eram apenas
ministros da lei simbólica e desta forma, não podiam abrir o
portão sagrado da misericórdia eterna".
"Agora este portão vivo está aberto, este portão
és tu mesmo; portanto, tu não podes mais ajudar a salvar o homem
que os segue; tu és o profeta que estás diante de ti mesmo,
a quem deves implorar auxílio a este povo e tu tens sido levado a libertar
minha alma quando ela derrama sua desgraça e miséria diante
de mim".
Contudo, o homem de Desejo ainda irá estremecer: Por que choras, Oh!
minha alma? Por que choras? Qual é o novo motivo de dor?
"Se estremeço, é porque o homem se tornou o assassino do
Verbo e da Verdade; é porque as regiões vitais não encontram
nada nele senão a morte, e são obrigadas a se retirarem; é
porque seus próprios infortúnios, negligências, dores
e ainda suas próprias ilusões impedem que sinta as dores do
Verbo".
"O que posso fazer senão Chorar! Já que as dores do Verbo
estão sempre diante de meus olhos e toda minha substância é
aflição!"
"Além do homem, correntes de infeção correm dele
como rios de água lamacentas; desta forma, minha única tarefa
deve ser a de impedir que se aproximem do Verbo para que não transmitam
sua infeção!"
"Vou me dedicar inteiramente a esta tarefa; vou me devotar a isto com
um ardor intermitente. É a única coisa recomendada como necessária;
tudo o que não se refira a este santo e indispensável dever
vou fazer como se não fizesse".
"E tu, oh! Espírito de Oração, serás o companheiro
de meu trabalho, ou melhor, serás o mestre, o agente e o princípio;
irás me ensinar a ser como tu, o mestre, o agente e o princípio
de minha obra, porque irás me ajudar a ser um orador como tu".
"Como não poderia me tornar um orador, já que o Verbo fora
invocado sobre mim, afugentando todos os inimigos da Verdade, a fim de que
todos os homens de Deus se originem de mim e ali celebrem a alegria de ter
encontrado uma morada de paz?"
"Oh! como irão regozijar-se quando encontrarem esta morada de
paz! Irão realizar festivais de júbilo e cantar hinos sagrados
de vida, levantarão suas vozes, para que seus companheiros possam ouvi-los
e se apressem para compartilhar desta felicidade".
O
homem é um administrador e não um legislador, tanto na política
como nas coisas divinas
Há
alguns anos, quando falava de política, disse que o homem não
deve ser um legislador e sim um administrador no posto confiado a ele. Mostrei
que, estritamente falando, um homem legislador é contrário a
razão; que não é um bom exemplo enviar uma criatura a
um lugar onde ela tenha que fazer leis para ela própria seguir; disse
ainda, que como conseqüência deste princípio fundamental
e inquestionável, o poder administrativo tinha absorvido o legislativo,
em todos os governos do mundo; isto pode ser facilmente verificado com referência
aos fatos, especialmente na história religiosa.
Agora, posso estender este princípio ao Homem considerado em seu posto
divino, onde, longe de ter que estabelecer qualquer lei, não tem outra
função senão a de ser, sem intermissão, o órgão
e ministro de seu Mestre. É pôr conta da urgência da obra
do Mestre e da vigilância e atividade universal que ela requer, que
os homens que alcançaram a ser nela empregados não tem tempo
de falar sobre seus próprios direitos.
Por esta razão, o conhecimento espiritual deve ser o único pagamento
da ação constante; a luz brilhante comunicada através
dos escolhidos, como Jacob Böehme parece pertencer a próxima era;
que se segue a este mundo e de ser o preço único da ação
universal (influência) que irá nos conclamar, na qualidade de
administradores, a fim de renovarmos a face do mundo atraindo os novos céus
e a nova terra, onde devemos contemplar as maravilhas do Verbo natural, espiritual
e divino.
Não penses então, oh!, Homem de Desejo, que tens algum dia,
qualquer lei a promulgar, a não ser aquelas de teu Mestre.
Alegrias
espirituais, como recebê-las para a extensão do Reino de Deus
Quando
as alegrias descerem sobre ti durante os exercícios espirituais, não
penses que te são enviadas apenas pôr tua causa. Não,
elas não tem outro objetivo senão a obra de teu Mestre, nutrir
suas forças e sustentar sua coragem. Quando o próprio Verbo
descer sobre ti não esqueças a importante intimação
que acabas de ler e diz:
É pôr minha causa que tu me visitas? Eu que nada tenho feito
para que tu chegues perto de mim, mas, ao contrário, tenho feito tudo
para mantê-lo afastado?
"Não irei me entregar a esta alegria até sentir aquele
desejo universal que anima e cria a ti eternamente".
"Não irei me entregar a ela, até que perceba o objetivo
particular que tu tens e o tipo de tarefa que queres que eu faça, na
obra do progresso geral".
"Sem esta precaução não só a minha alegria
seria vã, como meu curso seria incerto, como aquele do neófito.
Eu ainda posso, a qualquer momento, cair novamente na obscura região
dos homens da torrente".
Assim então, Oh, Homem de Desejo, quando o Verbo Divino descer sobre
ti, pense apenas em permitir que ele penetre todo o seu ser e faça
com que os gérmens que lá estão depositados, frutifiquem,
ao visitá-los com o poder de sua própria geração
eterna.
O Verbo Divino é tão poderoso, que uma mera lembrança
dos auxílios que tu deves ter recebido dele, irá capacitá-lo
a afugentar o inimigo, assim como a mera sombra dos Apóstolos curava
os doentes; pois este Verbo Divino não pode aparecer em lugar algum
sem deixar sinais indeléveis: só temos que observar estes sinais
mais cuidadosamente e seguí-los com mais segurança; nada mais
é exigido dos homens além de que façam todo esforço
para serem constantes numa oração eficiente para a recuperação
universal; ou seja, constante no estado de exercitar o Ministério Espiritual
do Homem.
Quando o Verbo ordena ao homem que esteja pronto, isto significa que deve
estar sempre preparado para responder ao impulso, quando quer que ele o convide
para a obra de recuperação; pois o Verbo é a própria
medida correta; ele tende a restaurar os homens as suas próprias proporções
originais, a fim de que possa, mais tarde, fazer com que as medidas divinas
revivam, em todas as regiões onde se perderam; esta é a verdadeira
extensão do reino de Deus; o reino de Deus existe primeiro para ele
e depois para nós.
Como
os homens menosprezam o Verbo que tudo governa: a conversação
morta
Se
tivermos a felicidade de conhecer, experimentalmente, uma parte do imenso
poder do Verbo, a exclusiva universalidade de seu governo, a vivacidade de
sua ação e a suavidade de seu espírito isto nos afetará
profundamente; não só pôr ver o homem privado de seu suporte
inefável durante sua jornada diária, mas principalmente de nem
ao menos suspeitar de sua existência eterna e imortal, silenciando a
natureza, que está vazia (néant).
Este doloroso sentimento é seguido pela surpresa pois, vendo que este
Verbo é o único suporte de toda ordem, de tudo o que vive, de
toda harmonia e vendo o homem dispensar, todos os dias, seu suporte indispensável,
ou até mesmo se declarar seu inimigo, só podemos ficar atônitos
de que os homens não sejam ainda piores do que são e que devem,
no mínimo, manter algum traço, mesmo que só em pensamento,
ou alguma idéia de justiça e perfeição.
Como pode o homem avançar, no caminho da regularidade e da vida, com
esta imensa massa de conversações tão inúteis,
vazias, falsas, terrestres e avarentas que dia a dia preenchem todo o mundo?
Desde a grande corrupção, os homens tem caído sob a autoridade
de palavras mortas (conversas) que os governam tiranicamente e não
permitem que escapem, nem pôr um momento, de seu controle.
Olhe em todas as classes, pegue todas as palavras que pronunciam desde que
acordam até quando vão dormir outra vez; irás encontrar
uma palavra relacionada ao progresso na verdadeira retidão ou em relação
ao destino original do homem?
Não vamos falar aqui do homem de trabalho que, enquanto cultiva a terra
em silêncio, faz correr o suor de sua fronte cumprindo a sentença
promulgada à família humana; pelo menos, ele realiza, por sua
resignação e por aquela espécie de palavra silenciosa,
num plano inferior aquilo que nossa palavra virtual deve realizar no plano
espiritual; não vamos considerar nem mesmo aquelas palavras extorquidas
de nossas carências, misérias terrestres e sofrimentos temporais,
mas nos referimos àquela torrente de palavras estúpidas e pestilentas
que sacrificamos diariamente à preguiça, à vaidade, as
ocupações frívolas, as paixões, à defesa
de nossos falsos sistemas, pretensões, fantasias, à injustiça,
ao crime e à abominação.
Desde que o Verbo vivo foi retirado do homem, ele tem sido envolvido por uma
atmosfera de morte. Ele não é mais ativo o suficiente para unir
o seu Verbo com o fogo vivo. Ao invés de agüentar esta privação
corajosamente e esperar pacientemente o aparecimento nas alturas, ele substitui
a falta do Verbo por aquela enxurrada de palavras destrutivas que emanam do
delírio de seus pensamentos. O homem se contaminou neste caminho e
ao mesmo tempo, contaminou seus semelhantes e então com toda docilidade
e humildade permite que o Verbo infernal atue sobre si, aquele Verbo que procura
unicamente vivificar a ele, já que vivifica, continuamente, todas as
criaturas as quais deu existência.
A
substância das palavras dos homens se levantarão em julgamento
contra eles
O
homem esquece que, quando a substância de suas palavras se dispersa
no ar, ela não é destruída; portanto, não se evapora,
formando uma massa que corrompe a atmosfera espiritual, assim como nossas
exalações fétidas corrompem a atmosfera em nossas moradas;
o homem esquece que cada palavra que sua língua pronuncia será
um dia pronunciada novamente diante dele e o ar que nossa boca se utiliza
para formar nossas palavras irá restaurá-las assim que as receber,
da mesma forma que cada elemento irá restaurar o que está semeado
nele, de acordo com o seu modelo; o homem esquece que até mesmo nossa
fala silenciosa, pronunciada tacitamente no segredo de nosso ser, irá
da mesma maneira reaparecer e ressonar em nossos ouvidos; pois o silêncio
também tem seu eco; o homem não pode produzir um só pensamento,
uma palavra, um ato, que não seja implantado no espelho eterno no qual
todas as coisas estão gravadas, e do qual nada é jamais apagado.
O santo pavor de um juramento se deriva, originalmente, de um profundo sentimento
destes princípios pois, quando penetramos o plano de nosso ser, descobrimos
que podemos nos unir com a fonte inefável da verdade, através
de nosso Verbo; contudo, também podemos nos unir com o terrível
abismo de mentiras e trevas, pelo uso criminoso de nosso Verbo.
Há povos incultos, que, embora sem a nossa ciência, tem se perdido
menos do que nós, pois consideram enormemente seus juramentos, enquanto
que entre as nações civilizadas, o uso de juramentos é
somente uma formalidade, conseqüências morais daquilo que parece
ser de pouca importância.
Contudo, deixando de lado estes falsos juramentos e perjúrios: quando
vemos os grandes males que resultam diariamente, do mal emprego de nossas
palavras, isto não é suficiente para nos dar uma lição
de sabedoria?
Oh, homem! se o cuidado de tua própria saúde espiritual não
é suficiente para te fazer dignar a prestar atenção nas
palavras para teu próprio bem, presta atenção pelo menos
pelo bem de teus semelhantes; não fique satisfeito ao encher-lhes,
como fazes todos os dias, de palavras vazias que não trazem benefício
algum, que os levam a todo tipo de dúvidas e ilusões; faça
com que suas palavras sejam ao mesmo tempo uma tocha que guia o seu irmão
e uma âncora que firme e o segure durante as tempestades.
Leis
essenciais para a administração da fala
Quais
são, então, as leis para a conduta ou administração
de nossa fala, para com nossos semelhantes?
É, pensar de forma elevada sobre a inteligência humana, fazendo
com que a conversação seja desta ordem e que possamos apresentar
nada além do que seja melhor e possa acrescentar riquezas a inteligência;
É, se convencer que a inteligência do homem deve ser tratada
como seres elevados, como ocorre no Oriente, que não podem ser abordados
sem que uma oferenda lhes sejam oferecida.
É, tentar sempre acrescentar algo, à luz e as virtudes daqueles
que conversam conosco, a fim de que suas palavras possam mostrar sempre um
benefício àqueles que as ouvem.
É, conversar somente sobre o que é certo e verdadeiro, sem alimentar
os homens com meros recitais e narrativas frias, já que estes são
compostos de tempo que possui apenas passado e futuro, enquanto que as grandes
verdades são sempre presente, como os axiomas; elas não pertencem
ao tempo, mas à permanente região eterna.
É, distribuir suas palavras sobriamente, com moderação;
pois somente as más causas necessitam muitas palavras para defendê-las.
É, nunca esquecer que a fala ou o Verbo, é a luz da infinidade,
que deve estar sempre crescendo.
É, sempre examinar, antes de falar, se aquilo que irás dizer
corresponde a estes importantes objetivos.
Se você se manter apenas no nível daqueles com quem conversa,
a obra não irá avançar. Se manter abaixo, a obra retrocede.
Se, observares todas estas leis, o avanço da obra será sua principal
meta; cada respiração de sua vida deve ser empregada neste trabalho.
O
Verbo irá dirigir seu próprio ministério
Eu
sei que, nas sociedades não operativas, estas leis da fala não
podem ser observadas, porque o Verbo não pode exercitar ali seu ministério,
de forma conveniente; não é para elas que eu me reporto. Isto
é para você que conduz a ti próprio, para quem o Verbo
dará um ministério a realizar, onde quer que esteja pois, se
tentar fazer isto por si próprio, irá apenas acrescentar extravagâncias
à profanação.
A
fala é o fruto de um contrato ou aliança; e nada somos sem algum
tipo de contrato
Toda
fala nada mais pode ser senão o fruto de um pensamento, e todo pensamento
é fruto de uma aliança; porém, como as alianças
que fazemos são tão diferentes umas das outras, não é
de se surpreender que nossa fala tenha, da mesma forma, tantos aspectos variados.
De fato, somente através de nossa aliança ou, se preferir, de
nosso contato com Deus é que podemos ter algum pensamento Divino.
O contato com o Espírito nos proporciona pensamentos espirituais; os
pensamentos siderais ou astrais surgem de nosso contato com o Espírito
astral, que é chamado de Espírito do Grande Mundo; os pensamentos
materiais e terrestres surgem de nosso contato com as trevas terrestres; os
pensamentos criminosos surgem do contato com o Espírito de mentiras
e de fraquezas. Temos o poder e a liberdade de fazer qualquer uma destas alianças,
basta escolher.
O que deve nos manter constantemente ativos e atentos é que, de cada
natureza de nosso ser, o fogo que não pode ser extinto, somos a cada
instante pressionados a contatar uma ou outra destas alianças. E mais:
não podemos ficar sem contratar uma, seja de um tipo, seja de outro.
Em resumo, nunca ficamos sem engendrar algum tipo de fruto, já que
estamos sempre em contato com um destes centros, Divino, espiritual, sideral,
terrestre ou infernal que nos rodeiam.
Os
frutos Divinos comparados com os naturais
A
tarefa do Homem, particularmente do Homem da Verdade, que aspira se tornar
um ministro de Deus e um servo do Senhor, consiste em examinar cuidadosamente
as palavras que correspondem a estes frutos, pensamentos ou alianças;
isto é o que ocorreria ao homem se estivesse restaurado em suas Divinas
proporções, através do processo de regeneração:
Nenhum desejo, senão em obediência;
Nenhuma idéia, que não seja uma comunicação sacra;
Nenhuma palavra, que não seja um decreto soberano;
Nenhum ato, que não seja uma extensão e um desenvolvimento da
regra vivificante do Verbo.
Ao invés disto, nossos desejos são falsos, pois surgem apenas
de nós mesmos.
Nossos pensamentos são vagos e corruptos, pois formamos constantemente
alianças adulteras.
Nossa fala ou palavras não tem virtude ou eficácia, pois permitimos
que fiquem embotadas, todos os dias, pelo rancor, substâncias heterogêneas
que empregamos nas palavras.
Nossos atos são estéreis e insignificantes, pois não
podem ser outra coisa senão o resultado de nossas palavras.
Nesta relação melancólica, nada serve para a obra. Não
há nada para a glória e a consolidação do Verbo,
desde que não há nada para o real Ministério Espiritual
do Homem.
O
poder do inimigo durante a noite, na ausência da fala. Homens bravos
temem as trevas
O
poder de expulsar o inimigo, através da virtude de nossa fala, um de
nossos direitos primitivos, não só permanece em suspenso, mas
por ter caído em desuso há tanto tempo, tem sido considerado
algo imaginário; aqui, independentemente da inatividade, que une as
pessoas, mundialmente, compreendemos a razão pela qual amam as altas
horas, trocando o dia pela noite; eles estão longe de suspeitarem que
esta inclinação tem uma profunda raiz.
Se o homem estivesse em sua verdadeira posição de combate, ele
teria muito mais cuidado à noite, para afugentar o inimigo, do que
de dia: este era o objetivo original das preces noturnas das aflições
religiosas; este cuidado ainda é praticado materialmente em nossos
acampamentos militares, pois nas duas ordens, é durante a noite que
os inimigos cometem seus grandes ataques como, de fato, ocorreu durante o
sono do primeiro homem, que se tornou a presa de seu adversário esquecendo
o pacto Divino.
O homem não precisaria despertar para esta lei espiritual de combate
se estivesse em sua lei natural, pura; poderia dormir pacificamente durante
a noite e tirar de seu descanso uma renovação de forças
para o seu trabalho. Este é o caso do homem de trabalho pesado e do
agricultor; eles são pouco incomodados pelo inimigo durante seu sono.
Porém, o homem do mundo que se alimenta unicamente de estupidez e corrupção
e não trabalha, não desfruta de tais noites tranqüilas;
enquanto ele seguir aquelas falsas substâncias das quais permite ser
continuamente impregnado e sobre as quais se estende os direitos do inimigo,
(direitos que são reforçados muito mais durante o dia) as pessoas
mundanas que não possuem o Verbo (verdadeira fala) e fogem de si mesmas,
ainda buscam uns aos outros tão avidamente, durante a noite, porque
assim, inconscientemente, diminuem a força de ataque do inimigo.
Além do mais, sabe-se que alguns homens de coragem que continuamente
enfrentam a morte e o perigo com firmeza, não entram numa igreja ou
num cemitério sozinhos à noite. Sem dúvida, estes homens
bravos não possuem todos os seus princípios racionais desenvolvidos;
o desenvolvimento de sua razão, por si só, não o torna
capaz de triunfar nestes casos, se houver um traço real de timidez
inspirado pelas trevas; além disso, aquilo que os sábios chamam
de desenvolvimento da razão, a este respeito, consiste, não
na superação de obstáculos, mas no convencer a si mesmo
de que isto não existe.
Para falar a verdade, devemos dizer que este temor tem fundamento e o que
nos coloca acima dele é nos voltarmos para o ponto de vista luminoso
do Verbo ou do Espírito que é desenvolvido e nutrido com toda
a luz que lhe pertence. É aprender que a natureza foi dada ao homem
para servir como um modelo ou figura da suprema verdade que ele não
pode mais ver; quando o homem se encontra privado deste modelo, pelas trevas
e não recupera sua fala, ele está duplamente separado da verdade;
não tendo nem a cópia nem o original perto de si, ele está
em completa privação e repleto de estupidez com todos os seus
horrores. Mas esta solução, embora correta, ainda não
é a mais profunda. A que se segue é mais profunda e não
menos verdadeira.
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