Instruções aos Homens de Desejo
Louis Claude de Saint Martin


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Instrução 01: Da Emanação, Da Criação e dos Números.

Alegria, paz, saúde àquele que me ouve:
Meus irmãos,
Com o auxílio do Eterno, vou procurar vos falar dos princípios que são a base fundamental de nossa Ordem e que, reunidos em um corpo, poderão constituir um curso de física temporal passiva e de física espiritual eterna.

O primeiro princípio da ciência que cultivamos é o desejo. Em nenhuma arte temporal, nenhum operário jamais venceu, sem uma assiduidade, um trabalho e uma continuidade de esforços para chegar a conhecer as diferentes partes da arte que se propõe a abraçar. Seria, portanto, inútil pensar que se pode chegar à sabedoria sem desejo, visto que a base fundamental dessa sabedoria não é senão o desejo de conhecê-la, que faz vencer todos os obstáculos que se apresentam para bloquear a saída, e não deve parecer surpreendente que esse desejo seja necessário, uma vez que é positivamente o pensamento contrário a esse desejo que afasta todos aqueles que procuram entrar para esse conhecimento.

Ora, é necessário, para ali chegar, trilhar o caminho em razão do afastamento de onde nos encontramos. Aquele que crê aí ter chegado está ainda bem longe; e outro crê estar longe mas não tem senão um passo a dar: o que deve fazer ver que o primeiro passo que se deve dar, deve ser na senda da humildade, da paciência e da caridade. As virtudes são tão necessárias em nossa Ordem que não se pode nela fazer nenhum progresso senão quando se avança nessas virtudes.

Mas poder-me-iam, talvez, perguntar que ligação existe entre as virtudes e as ciências? Esta instrução será empregada para demonstrar essa necessidade.
O Ser, existindo necessariamente por si próprio, Eterno criador e conservador de todo ser, emana de sua imensidade Divina, antes do "tempo", seres livres para sua grande glória. Ele lhes deu uma lei, um preceito e um mandamento sobre os quais foi fundamentada sua emanação. Esses espíritos eram livres e não se pode considerá-los de outro modo sem destruir suas personalidades distintas.

Eles vieram a prevaricar. Qual foi a prevaricação? Sem entrar em todos os detalhes, responderei que o primeiro crime foi a desobediência. Sendo livres, conceberam por sua plena e inteira liberdade um pensamento contrário à lei, ao preceito e ao mandamento do Eterno. Para melhor dar uma idéia dessa desobediência, suponha uma sentinela que se coloque de guarda, a quem se diz de observar os diferentes pontos de sua caserna: esse sentinela é livre e não tem necessidade para que ninguém venha lhe forçar a ficar ou a sair. Por sua própria vontade, ela deixa seu posto e desampara todos os pontos de sua caserna, mas a sentinela é tomada e lhe quebram a cabeça. Eis uma idéia da prevaricação dos primeiros espíritos. A prevaricação foi ter desobedecido à lei, ao preceito e mandamento que lhes haviam sido dados desde a emanação, e de ter concebido um pensamento contrário àquele do Eterno.

Desde então, a comunicação que tinham com o Eterno foi rompida. Deus criara o espaço, no qual os precipitou. Mas de que se serviu Ele para expulsá-los de sua corte Divina? Serviu-se dos espíritos de sua natureza que haviam sido emanados no mesmo instante que os outros, e que também conceberam bem o pensamento maldoso, uma vez que receberam a mancha, mas que fizeram uso diferente de seu livre arbítrio, ficando inviolavelmente presos às leis, preceitos e mandamentos do Eterno. O que prova bem demonstrativamente que os primeiros espíritos conceberam seu pensamento de prevaricação por sua plena e inteira liberdade, e é a fidelidade desses últimos que, sem ter nem mais nem menos faculdades que esses prevaricadores, fizeram bom uso de seu livre arbítrio, rejeitando o mau pensamento que lhes foi apresentado pelos prevaricadores e serviram-se de instrumentos da justiça que Deus lançou sobre àqueles desde o instante de sua prevaricação. É desse combate que fala a Escritura quando diz que Miguel, e seus anjos combatiam contra os demônios e seus anjos, e que Miguel tendo sido vencedor, os precipitou fora do paraíso Divino no espaço que acabava de ser criado.

Não existia ainda o tempo, que não é senão a sucessão ou a revolução dos diferentes corpos. Não havia ali então matéria sutil ou grosseira, não existia senão espíritos puros e simples: espíritos bons no paraíso Divino e espíritos maus no espaço. Desde então, Deus concebeu em sua imaginação pensante criar este universo com formas materiais e passivo para servir de limites e de barreira às operações maldosas dos demônios. Ele emancipou por essa causa os espíritos ternários do eixo "fogo central", que vieram fechar o círculo do espaço no qual os espíritos perversos estavam encerrados, e concebeu em Sua imaginação pensante Divina a criação do corpo principal do chefe deste universo, tanto espiritual Divino como temporal passivo, da forma triangular eqüilátera. Esse triângulo eqüilátero e considerado entre todos os povos da terra como contendo em si a imagem aparente que o Eterno havia concebido em sua imaginação para a criação do chefe deste universo; esse triângulo, repito, nos é ainda representado nas igrejas com quatro caracteres inefáveis dos quais darei a explicação na seqüência.

Deus manifestou de seu pensamento criativo os espíritos do eixo fogo central por esse mesmo triângulo eqüilátero, no centro do qual estava contido seu verbo ternário criativo.

Esses espíritos tendo inato em si, desde seu princípio de emanação, a faculdade de extrair de seu seio as três essências espirituais que ali estavam. Saíram, então, deles mesmos essas três essências para operar esse verbo do Eterno. Perguntar-se-á o que era esse verbo? Direi que esse verbo continha em si o plano, a execução e a operação deste universo. Em conseqüência, esses espíritos do eixo começaram a executá-lo, tirando de seu seio essas três essências que ali estavam. Essas três essências eram, em seu princípio, a matéria em sua indiferença, porque não tinham ainda sido trabalhadas por esses mesmos espíritos, mas eram distintas. Elas estavam, pois, segundo a linguagem da Escritura, sem forma, ou em sua indiferença, e vazias porque a vida passiva não havia podido ser inserida nas formas, visto que ela ainda não existia. Esse vazio deve ser compreendido como a privação do princípio de movimento necessário a todos os corpos deste universo.

Antes de ir adiante, devo falar do princípio fundamental de toda emanação e de toda criação, que é o número. Os sábios de todos os tempos reconheceram que não poderia haver nenhum conhecimento seguro, seja da parte espiritual Divina, seja da parte universal geral terrestre, seja das particulares, sem a ciência dos números, uma vez que é por esses números que o Eterno fez todos os seus planos de emanação e de criação. O número, sendo co-eterno à Divindade, já que, por toda a eternidade, Deus é, o número, tem pois estado em toda a eternidade nele, visto que Deus tem seu número. Porque, se Deus havia podido criar o número, pareceria que ele havia podido criar a si mesmo, o que é impossível, porque nada subsiste sem o número. Ora, Deus sendo o Ser necessário, existindo por si mesmo, conteve, pois, toda a eternidade, todo número. Ele dotou todos os espíritos segundo sua infinita sabedoria e ação eterna. Nenhuma de suas obras saiu de suas mãos sem ser marcada com esse selo: tanto os espíritos emanados como a criação deste universo, tudo tem seu número. Ora, segue-se demonstrativamente que o conhecimento de todas as obras de Deus está oculto no conhecimento dos números. Aí está, pois, meus irmãos, onde devemos procurar admirar as obras do Eterno, não no sentido de nossa forma aparente passiva, mas no sentido de nosso entendimento espiritual Divino e eterno.

Por toda a eternidade, Deus foi um, ou I . Essa unidade nos faz ver a Divindade, uma vez que ela é o princípio de toda a criação; e o círculo que o fecha, contendo em si a unidade, contém tudo o que dele precedeu. Os primeiros espíritos emanados tinham, pois, seu número, os superiores 10, os maiores 8, os inferiores 7 e os menores 4. Seu número, antes de sua prevaricação, era mais forte do que aqueles que damos vulgarmente aos querubins, serafins e arcanjos, que não haviam ainda sido emanados.

Deter-me-ei um pouco a considerar o estado do universo dos espíritos antes de sua prevaricação. Toda a corte da Divindade gozava da mais perfeita paz, nenhuma suspeita de mal existia uma vez que a possibilidade do mal jamais existiu na Divindade: todo ser saiu puro, santo e sem mancha de Seu seio. De onde, pois, veio o mal? O mal não tomou seu princípio senão no pensamento que o chefe demoníaco, que estava livre, concebia dele mesmo, oposto à lei, ao preceito e ao mandamento do Eterno; não que o demônio seja o próprio mal, visto que, se ele mudar desde hoje seu pensamento mau, sua ação mudará também e desde esse instante, não existirá mais o mal em toda a extensão do universo. O mal, repito, não teve seu nascimento senão no pensamento do demônio oposto àquele da Divindade, pensamento que ele concebeu de seu puro livre-arbítrio e pelo qual separou-se da Divindade; o que originou o binário, número da confusão, como tendo desejado existir independentemente da Divindade ou Criador todo-poderoso.

Deus manifestou sua justiça contra esse espírito perverso, precipitando-o com seus aderentes da corte Divina no círculo do universo; o espaço tendo sido primeiramente criado após sua prevaricação, e tendo sido fechado pelos espíritos do eixo do fogo central, que foram emancipados ao mesmo tempo. É o que quer dizer o salmo: "Non accedet ad te malum" o mal não se aproximará de ti", pela barreira que formam esses espíritos do eixo nas operações maldosas dos demônios. Uma vez que os espíritos do eixo do fogo central receberam o verbo do Eterno, saíram de seu seio as três essências espirituais que ali estavam inatas desde a sua emancipação, e eles modificaram essa matéria em sua indiferença, distinguindo essas essências de maneira que pudessem reter a impressão. Esse trabalho dos espíritos do eixo forma uma distinção das três essências que, em seu lugar nas essências, tudo teve forma, e os diferentes corpos foram criados; e desde que os corpos tiveram forma, os espíritos do eixo inseriram em cada um deles um veículo de seu fogo espiritual, que é o princípio da vida de todos os corpos.

Perguntar-me-ão, talvez, onde residiam todas essas matérias antes do ordenamento que se denomina vulgarmente o caos, e que denominamos a matéria. Responderei que essa matéria sem forma e vazia em sua indiferença, residia no matraz filosófico

O trabalho de todos os diferentes espíritos do eixo do fogo central foi conduzido pela sabedoria do Eterno que a Escritura santa nos representa movendo-se sobre as águas. Ora, nada nos representa melhor a matéria em sua indiferença que uma água sem curso e sem movimento. Era sobre esse princípio das essências que o espírito duplamente forte do Eterno conduzia, dirigia e fixava os limites a todos os diferentes seres deste universo, e conduzia toda espécie de operação de trabalho dos espíritos, fatores operantes ou fabricantes do eixo do fogo central, ou fogo incriado. É essa sabedoria que caminhava diante do Eterno e que aplaudia por santos transportes cada pensamento Divino que o Eterno manifestava pela criação deste universo dizendo:

"Estou em ti e em tuas obras, Criador todo-poderoso, como tu estás em mim e nas minhas obras. Aquele que virá após instruirá tua criatura do culto do qual deves ser servido." O trabalho dos diferentes espíritos do eixo se opera ainda sobre esta superfície e se operará até o fim dos séculos, tal como operaram no princípio para a criação de todos os corpos deste universo; o que farei ver claramente na seqüência destas instruções.

No momento, contentar-me-ei em dar a explicação da figura t representando a Divindade. Essa letra hebraica representa um nome inefável da Divindade. É o motivo pelo qual os Judeus jamais pronunciaram, por respeito, esse nome, essa letra; aleph, pronúncia que lhe deram, não sendo a verdadeira. c, beth, segunda característica, representa a ação direta da Divindade; d, guimel, representa o Espírito Santo conduzindo a operação dos espíritos do eixo; s, daleth, representa o verbo ternário do Eterno, pelo qual ele manifesta aos espíritos do eixo seu imenso pensamento pela criação deste universo.

Os três glóbulos que estão no matraz filosófico representam o princípio das essências, ou a matéria em sua indiferença. Ainda que se considere o Mercúrio como sendo o princípio das três essências, não se deve dar a ele, no entanto, uma unidade absoluta, uma vez que não pertencia à Divindade, ou aos espíritos superiores 10, e a nenhuma essência. Assim, essa unidade que se dá a Mercúrio é ternária, e representa as três essências em sua indiferença, em aspecto umas com as outras, sem movimento, sem formas; porque elas não haviam sido trabalhadas, modificadas e operadas pela imensidade dos espíritos agentes, fatores ou operantes do eixo fogo central. Denominamo-os eixo fogo central porque eles são aderentes à corte da Divindade e eternos.

Poder-me-iam, talvez, perguntar porque Deus, tendo previsto o pensamento maldoso dos demônios não os conteve nos limites que lhes estavam prescritos? Responderei a essa objeção dizendo que Deus é imutável em seus decretos, seja a respeito do que aprova ou condena sua criatura e que ele não toma nenhuma parte nas causas segundas, tendo fundamentado todo ser sobre leis invariáveis, e a primeira dessas leis é a liberdade. Ora, Deus não pode destruir, em qualquer espírito que seja, seu pensamento sem destruir sua liberdade; se ele destruísse sua liberdade, destruiria a lei que deu a esse espírito desde sua emanação. Ora, a imutabilidade de Deus sendo irrevogável, ele não pode ter de maneira alguma conhecimento do uso que fará de seu livre-arbítrio todo ser livre. Porque, se a Divindade tivesse tido conhecimento pareceria que ela teria permitido o mal, o que é impossível. Deus, sendo necessariamente bom, não pode emanar senão seres como ele, mas distintos em sua personalidade e livres.

Ora, Deus não teria podido destruir, mesmo quando tivesse tido conhecimento desse pensamento nesses espíritos, sem destruir os atributos e a manifestação de sua glória e de sua justiça: de sua glória para com os espíritos fiéis, e de sua justiça para com os espíritos perversos. Estejamos, pois, bem convencidos, meus irmãos, de que o Eterno não previu jamais o que não existia efetivamente no pensamento de um ser livre. Porque, se ele pudesse prever o uso de seu livre arbítrio, esse espírito, desde esse instante, cessaria de ser livre. Mas o que a Divindade concebe perfeitamente, é o uso que faz qualquer espírito de seu livre arbítrio. Desde o instante em que esse espírito concebe seu pensamento, seja bom, seja ruim, ele é lido e julgado pela Divindade. O que lhe dá o nome de Deus vingador e remunerador: vingador do ultraje feito à sua lei, e remunerador do bom uso dessa lei para sua maior glória.

Vejamos, portanto, bem, meus irmãos, que o princípio ou a origem do mal veio do orgulho. Ora, por uma seqüência necessária, o princípio de todo o bem deve ser a humildade, a paciência e a caridade: a paciência pela necessidade de suportar as fadigas de uma penosa viagem, e a caridade pela necessidade absoluta de suportarmos os erros de nossos semelhantes e de procurarmos corrigi-los tornando-os bons. Essa virtude é tão necessária que uma companhia de perversos não subsistiria vinte e quatro horas se estivesse inteiramente privada dessa virtude. Essa virtude em sua perfeição faz a reunião de todas as outras, visto que é a que mais se aproxima da Divindade. É, pois, meus irmãos, pela prática constante dessas virtudes que nossa união será durável, e que engendrará inúmeros frutos de inteligência, de conhecimento e de sapiência. Estabelecendo uma correspondência mais estreita entre os irmãos uns com os outros, ela tornará comuns os conhecimentos particulares de cada um, e produzirá assim a unidade, que é a base da Ordem.

Felicito-me, meus irmãos, pelo Eterno ter-me dado a graça de vos falar. Estejais bem seguro de meu zelo, de minha afeição e de meu desejo sincero para o bem geral deste oriente.
A graça que vos peço é de aqui colocar cada um o mesmo zelo, e Deus secundará nossos propósitos.

Instrução 02: Da Extração das Essências e da Matéria na Indiferença.

Meus irmãos,
Vimos no discurso precedente o motivo da criação deste universo, ou do tempo, que não deve se compreender senão na duração sucessiva dos diferentes corpos que o compõe, que por seu curso de correspondência formam intervalos iguais cuja medida é o que se denomina vulgarmente o tempo. (Mostrarei, na continuação, como a alma está sujeita ao tempo enquanto está em sua prisão, ou no corpo do homem.) Porque não é necessário pensar que a Divindade possa ser encerrada por algum limite: sua imensidade sendo infinita, nenhuma criação pode contê-la; nem restringi-la. É, ao contrário, a Divindade que contém toda espécie de emanação concernente ao espírito, à criação e ao que diz respeito às formas aparentes. Isso é tão verdadeiro que um espírito puro e simples não poderia estar sujeito ao tempo, uma vez que estando sem corpo de matéria, nenhum corpo dessa matéria aparente pode lhe servir de limite, pois sua lei sendo superior à das formas, ele penetra através de todas as diferentes leis que formam a aparência das formas e ele as comanda e dirige segundo a vontade do Eterno. Eis porque nenhuma parte da criação pode ter sua existência senão pela operação desses mesmos espíritos; o que explicarei ainda melhor na seqüência deste trabalho, quando falarei dos corpos planetários. Continuemos a criação.

A matéria em sua indiferença residia no matraz filosófico, assim como explica a figura precedente. O Nada não possuía forma. As essências espirituais, sendo um aspecto umas das outras sem movimento, estavam nesse estado que se denomina vulgarmente caos. O que rompeu esse estado de indiferença e deu princípio à formação dos diferentes corpos? Foi a operação dos espíritos do eixo fogo central, ou fogo incriado, que haviam emanado de seu seio essas mesmas essências. Qual foi sua operação? Sua operação foi modificar as essências, de maneira a reter a impressão e de formar distinção entre às essências. É essa distinção que dá princípio às formas, adaptando as diferentes divisões e subdivisões do número ternário nas modificações que os espíritos do eixo haviam feito nas essências, isto é, que sua operação tornou a essência de mercúrio mais sólida que as do enxofre e do sal, a do enxofre mais móvel que as do mercúrio e do sal, e a do sal mais fluida que as do mercúrio e do enxofre.

Essa primeira distinção dá primeiramente nascimento ao número senário, uma vez que no primeiro princípio da matéria em sua indiferença, o misto ternário residindo em sua indiferença no matraz filosófico não formava nenhum corpo aparente, nem suscetível de reter nenhuma impressão. Foram, pois os espíritos do eixo fogo central aqueles que, conforme o pensamento do Eterno, que lhes havia sido anunciado por seu verbo ternário, engendraram por sua operação o número senário, dando a distinção às essências: mercúrio, 1; enxofre, sendo a segunda distinção, 2; o sal, sendo a terceira, 3. Ora, adicionando misteriosamente 1 e 2 fazem 3, e 3 mais 3 fazem 6. Eis, pois, a manifestação dos seis pensamentos do Eterno; e não dos seis dias que a Escritura atribui emblematicamente ao Eterno, uma vez que, como já disse acima, o Eterno sendo infinito em sua imensidade não pode ter nenhum limite de duração sucessiva, que não é senão a mudança de sucessão ou de relação, dos corpos uns com os outros. Mas o Eterno manifesta pensamentos como os diferentes espíritos executam segundo o plano que lhes é dado. Vemos, pois, que do número ternário veio o senário, uma vez que o verbo ternário do Eterno, estando toda eternidade nele, não pode ter princípio, visto que emanou do Eterno, mas o número senário foi engendrado pela operação dos espíritos do eixo; assim, provo por demonstração a necessidade do fim deste universo uma vez que ele não existe em princípio senão pela operação dos espíritos do eixo, e que a operação de qualquer espírito qualquer sendo finita, não pode durar senão todo o tempo que o Ser infinito o comanda; o que faz cair por terra a objeção da eternidade da matéria, visto que é impossível que tudo o que teve um princípio possa durar sempre, diante de toda necessidade ter fim.

Vemos, pois, o nascimento do número senário quanto às formas. É necessário não confundir os números com os corpos. O número, como já disse anteriormente, é co-eterno, pois, de toda eternidade, o número tem estado em Deus. Mas os corpos não sendo puramente senão aparentes, e não subsistindo senão pela operação dos espíritos, não podem se considerar senão como passivos. Desde que a operação dos diferentes espíritos será infinita, eles cessarão, e não será mais discutido sobre este universo como era antes de sua formação. Denomino a divisão das essências - mercúrio, 1, enxofre, 2 e sal 3 - o nascimento do número senário, uma vez que a operação dos espíritos do eixo que lhe deu nascimento. O princípio de todos os corpos foi, pois, o número ternário; a formação desses mesmos corpos o número senário, que realizou os seis pensamentos que Deus havia tido para a criação deste universo, manifestados aos espíritos agentes, fatores ou fabricantes do eixo fogo central. A partir do momento em que o número senário teve sua realização, as formas tiveram seu nascimento; e para melhor prová-lo, não se tem senão que observar o que segue sobre os três números 3, 6 e 9. O número é a subdivisão das essências em todos os corpos. O princípio de mercúrio é um misto ternário que contém nele enxofre e sal, 3; o enxofre contém sal e mercúrio, 3; o sal contém mercúrio e enxofre, 3. A subdivisão dá, pois, 9; porque a unidade propriamente dita não poderia pertencer aos corpos, ela não pertence senão à Divindade. A unidade atribuída na divisão simples à mercúrio não é considerada senão relativamente ao misto de mercúrio, que é a base das duas outras. O número 9 é, pois, a subdivisão das três essências, ou dos diferentes corpos, assim como segue: 3 à mercúrio, 3 ao enxofre e 3 ao sal fazem 9. Assim, 3 para as essências consideradas em sua particularidade, 6 para a divisão e 9 para a subdivisão; 3, 6. 9/18/9. Eis a origem da matéria.

Resta-nos falar do triângulo, o que faremos na seqüência. No momento, contentar-me-ei em considerá-lo por seu número 1 D 1: 1 a oeste, 1 ao sul e 1 ao norte dão o número 3, ou ternário, de modo que, acrescentando-o ao produto acima, temos: 3, 6/18/9, 3/12/3. Obtém-se o produto de 3, que nos faz ver claramente que o complemento da operação dos espíritos do eixo nos dá o número ternário após ter passado pela divisão e subdivisão, sempre para realizar a lei que o Eterno havia manifestado aos espíritos do eixo. O verbo do Eterno era ternário, e a operação dos espíritos do eixo também o era. Adicionemos o verbo 3 à operação dos espíritos do eixo, teremos o número 6. Ora, verbo ternário tendo vindo de Deus, deve retornar a ele, mas o produto ternário dos espíritos tendo vindo de Deus, deve retornar a ele, mas o produto ternário dos espíritos do eixo tendo tido início é passivo, ou deve terminar. Não havia ali senão o pensamento do Eterno, que forma a lei do universo, e que sustenta toda a criação. As leis de aparência dos diferentes corpos não podem durar uma vez que esta lei subsistirá, pois é ela quem sustenta essa mesma operação. O Homem de desejo que segue as leis do Eterno não poderia mais conhecer privação, visto que, unindo-se intimamente à lei eterna, a lei passiva das formas não poderia ser um limite para ele.

Vede, pois meus irmãos, um princípio da necessidade que temos todos de seguir essas santas leis, pois à medida que nos aproximamos do Eterno, a Luz se aproxima de nós. Se nós nos separamos dele, as trevas se apoderam de nós. Darei a explicação seguinte às diferentes dimensões do triângulo; no momento, continuarei ainda sobre a criação dos diferentes corpos.

Perguntar-me-ão, talvez, como os espíritos do eixo puderam emanar de seu seio as 3 essências, e como puderam através delas formar todos os corpos deste universo sem nenhuma matéria? Responderei que, desde o princípio de sua emanação, esses seres tinham inatos em seu seio essas três essências, que não devem ser consideradas senão como um produto de sua operação. É, pois, dessa operação única, segundo o pensamento do Eterno, que todas as formas tiveram lugar. Ora, direi que a prova física que esta operação dos diferentes espíritos é a única coisa que dá existência às formas, é que os espíritos que comandam os diferentes corpos deste universo não poderiam ser limitados por esses mesmos corpos, assim como se pode observar que existem homens que vêem no corpo de um homem a circulação do sangue, outros no corpo geral da terra a circulação das águas, outros que vêem, em um altar, ou em uma distância prodigiosa, corpos que os outros homens não poderiam perceber. As virtudes particulares a esses homens nos fazem ver bem que as leis da privação não são as mesmas entre todos os homens, uma vez que a maior parte dos outros homens estão privados de ver as coisas do qual acabo de falar. Se a matéria fosse real, todos os homens veriam da mesma maneira, não haveria para eles todos senão a mesma lei, assim como se pode se convencer pelo pensamento, que é o mesmo entre todos os homens nos objetos eternos como ele, tais como os números. O triângulo D , apresentado a todos os homens do universo, dá o pensamento distinto do número ternário, uma vez que um ângulo não é o outro, ainda que as propriedades dessa figura sejam imensas. Mas, no momento em que cada homem o considera, o pensamento que daí resulta pelos números é o mesmo. A superioridade dos homens vem pois, mais ou menos da pureza que lhes faz observar um maior número de propriedades. Ora, a particularidade distinta de cada homem no que se relaciona aos espíritos vem do pensamento, que é mais ou menos variado em suas propriedades sempre relativas à operação desses mesmos espíritos. A matéria não é, pois, senão aparente, e não subsiste senão pelo trabalho que os diferentes espíritos fazem para nós fazê-la parecer tal como é; não há nenhum dos espíritos que a operando não seja infinitamente superior a ela, uma vez que sua operação sendo finita, e sendo todos eternos, comandam a todos seus trabalhos, que não subsistem senão pela lei do Eterno e que não terão fim senão quando essa lei for realizada. É pois, meus irmãos, do número ternário que toda produção de forma se fez, assim como segue: 1 à Divindade, 2 ao demônio, e 3 às formas que vieram para conter esses mesmos demônios.

Os espíritos do eixo fogo central tiveram toda espécie de faculdade para a produção, a conservação e a reintegração dos diferentes corpos. Não é surpreendente que sua operação tenha produzido este universo, que foi criado para conter os primeiros espíritos perversos, e para servir de barreira a suas operações más, que não prevalecerão jamais contra as leis inalteráveis que o Eterno destinou a cada parte deste universo. O número ternário, como vimos, é a operação que os diferentes espíritos realizaram para conter a confusão. Igualmente, todos os esforços desses espíritos jamais destruirão algum gênero ou alguma espécie dos corpos que compõe essa criação, nem irão alterar em nada sua durabilidade, uma vez que os sustentáculos desses mesmos corpos são espíritos superiores a todos seus antagonistas e tendo Deus em sua mente, enquanto os espíritos maus são continuamente limitados em seus trabalhos de destruição, porque a destruição não podendo ter senão uma força limitada pela desunião que daí resulta, se encontra forçada a ceder à união indissolúvel das partes constitutivas do todo, operantes pelo apoio da Natureza, como se pode comprovar lançando uma olhada sobre as reproduções da vegetação. Se o semeador que semeia um campo semeasse trigo ou outro grão, e a metade da produção da vegetação de sua semeadura fosse boa e a outra estragada, não se poderia jamais tirar trigo da terra, visto que a podridão sendo igual à boa vegetação produziria uma mistura desigual que não daria jamais farinha. Ora, está demonstrado que se retira das diferentes sementes que semeamos sobre o corpo geral, ou a terra, mais bom grão do que grãos ruins, pois todos os seres de forma aparente que estão sobre a superfície da terra deles se alimentam. Essa indução pode nos levar a observar que o mesmo acontece para todos os diferentes corpos que são sem cessar atacados e que subsistem a todas as doenças. Entretanto, após o início deste universo, nenhum gênero dos diferentes corpos foi destruído. O que deve nos convencer da superioridade da operação dos espíritos operando para o bem sobre àqueles que operam para o mal: uma é benigna e pura, santa e durável; e a outra é impura e passiva, pois desde que o universo tiver feito sua reintegração, a operação dos maus espíritos contra ele terminará, ou, ainda, que aquela de todos os espíritos contra ele terminará, ou, ainda, que aquela de todos os espíritos bons que contribuíram com sua produção, sua manutenção e sua reintegração, começará um novo gênero de ações seguindo as leis santíssimas que agradará ao Eterno traçá-las. Eis, meus irmãos, pelo número ternário.

No discurso seguinte falaremos das diferentes propriedades do triângulo e da emanação do homem.

Convido a todos a uma união eterna e indissolúvel que nada possa alterar. Vossa constância em vos unir será o selo de vossa felicidade. Uni-vos a mim para rogar ao Eterno que nos dê a todos a graça de caminhar cada vez mais na Luz. A Ordem que abraçastes é a depositária da Luz que deve vos conduzir. Vossa exatidão, vosso zelo e vossa perseverança em segui-lo serão amplamente recompensados, e, enquanto tudo conspira para afastar o homem de seu princípio, sereis o depositário do rumo que deve ali conduzir o homem para não mais dele se afastar. Que a caridade esteja eternamente em todos nós.
Amém!

Instrução 03: Da Modificação das Essências e das Diversas Propriedades do Triângulo.

Meus Irmãos,
Vimos pelos discursos precedentes a matéria em sua indiferença residente no matraz filosófico; seguiremos agora os diferentes trabalhos dos espíritos do eixo fogo central que darão forma a essa quantidade informe de essências espirituais.

O Eterno tendo concebido criar este universo para ser o asilo dos primeiros espíritos perversos e para conter a sua operação ruim que não prevalecerá jamais contra suas santas leis, apareceu-lhes, em sua imaginação pensante Divina, a forma do triângulo eqüilátero, para ser a do regente deste universo, ou do homem, e do corpo geral, ou da terra, e por ser a da operação de todos os corpos imensos deste universo. Ora, como nenhum pensamento pode ficar no Eterno sem ação, ele lançou fora de seu seio seu verbo de criação que estava no centro do triângulo eqüilátero, e o fez descer entre os espíritos do eixo fogo central para que eles o executassem conforme seu conteúdo. A seqüência deste discurso fará ver que o triângulo eqüilátero contém não somente todos os números de forma deste universo, mas ainda todos os números co-eternos.

Essa figura, famosa entre os antigos e considerada com muita veneração, nos anuncia bem que ela encerra grandes coisas. Com efeito, é pelo triângulo que nós elevamos a todos os conhecimentos, seja espirituais Divinos, seja espirituais temporais. O triângulo eqüilátero continha, em seu verbo ternário, a lei, o plano e a operação de todos os corpos deste universo. Isto foi aos espíritos do eixo fogo central o que representa o plano de um soberbo palácio aos maçons que o executam: tendo inatos neles os materiais convenientes a essa execução, não é surpreendente que eles o tenham executado com muita regularidade, ordem e proporção, pois a própria sabedoria do Pai dirigia a execução desse plano e presidia os diferentes trabalhos necessários e fixava em todo ser o limite que deveria ter. O aspecto da figura do triângulo inscrito no círculo nos dá claramente a idéia de um número ternário por seus três ângulos: damos a oeste ao ângulo saliente inferior, o sul ao segundo e o norte ao terceiro. Esses três ângulos nos dão a idéia da divisão que os espíritos do eixo deram à matéria da universalidade das formas, modificando as essências segundo a forma triangular, isto é, dando a parte sólida ao oeste, que denominamos mercúrio, a parte fogosa ao sul dado ao enxofre, e a parte salina ao norte dada ao sal, ou a parte aquática. É positivamente essa distinção que dá forma a todo universo. Mas, para melhor fazer sentir, darei uma imagem palpável na formação de uma criança no seio de sua mãe.
Se observamos o seminal reprodutivo, não somente do corpo do homem, mas da maior parte dos animais, ele nos representa a matéria em sua indiferença. Não se dirá que ele dá os indícios de um misto modificado, visto que não tem positivamente forma; do mesmo modo foi a primeira essência que os espíritos do eixo central extraíram de seu seio. Esse seminal inserido na matriz, que serve de forno para o cozimento do embrião, é primeiramente trabalhado pelos espíritos do eixo e os espíritos elementares, que modificam o mercúrio e formam uma distinção. A partir do momento em que a distinção está formada, o embrião tomou forma, isto é, desde que a essência de mercúrio, que constitui a parte óssea, ficou distinta da parte sulfurosa que forma o sangue, e da parte salina que forma a carne. Desde então, o embrião tomou corpo, o que acontece no término de quarenta dias. Como todos os sábios do universo sabem fisicamente que o ser espiritual Divino desce no corpo da criança residindo no centro da matriz e nadando no fluído, coberto por um véu ou envelope, não duvidemos, meus irmãos, que esse trabalho que se faz para a formação da criança não seja realmente o mesmo que se faz para a criação deste universo. Os espíritos do eixo possuíam desde sua emanação uma essência espiritual que podemos considerar como seminal produtivo das formas. Do mesmo modo que esse seminal é operado da matriz, igualmente eles o operam no matraz filosófico, que se pode ainda considerar como a matriz do universo.

Mas qual foi o plano que seguiram os espíritos do eixo? Esse foi, como já disse, o triângulo eqüilátero (veja a figura). Damos 1 a mercúrio no oeste, formando o sólido; 2, ao enxofre no sul, formando o fogoso; e 3, ao sal, no norte, ou fluído. A unidade é ainda dada a mercúrio, como tendo sido o primeiro misto; 2 ao enxofre como tendo sido o segundo; e 3 ao sal, como tendo sido o terceiro, o que nos dá claramente o número da fatura, 6, como diz a Escritura emblematicamente que Deus emprega 6 dias para a formação do universo. Ora, sabemos que Deus é um ser infinito, todo-poderoso e sem limites. O que é sem limites não pode estar sujeito ao tempo. Assim, os seis dias significam que Deus empregou seis pensamentos para a formação deste universo, e a prova disso é palpável, porque todos os corpos trazem consigo a imagem.

Qual é agora o plano que esses mesmos espíritos seguem para a formação do corpo da criança? A imagem deste universo, que não é outra coisa senão a repetição daquela do triângulo. O corpo do homem tem uma figura triangular eqüilátera perfeita e contém resumidamente tudo o que o universo contém em sua imensidão, o que fez com que os sábios denominassem o corpo do homem o microcosmo, ou o pequeno mundo. Vemos, pois, uma semelhança perfeita da operação dos espíritos do eixo para a formação do universo, com aquelas que fazem ainda todos os dias para a formação do corpo de uma criança. Em uma, eles seguiram o plano que o Eterno lhes enviou, que é o triângulo eqüilátero no centro do qual estava o verbo ternário da criação. Os mesmos espíritos empregam, na outra, para a formação do corpo da criança, o plano de todo este universo: o que farei ver em detalhe na seqüência, demonstrando, na enumeração de todas as partes do corpo do homem sua similitude com aquelas do grande mundo ou o universo, que distinguiremos em três partes, a saber o universal, que é dado no círculo do eixo fogo central, o geral dado à terra, e o particular dado a todos os seres espirituais Divinos e animais espirituais deste universo.

Os diferentes espíritos do eixo executaram, pois, o plano que o Eterno lhes havia manifestado por seu verbo de criação no centro do triângulo eqüilátero. No primeiro princípio, o misto de mercúrio em sua indiferença era ternário, visto que a unidade propriamente dita é puramente espiritual e não poderia pertencer às formas; mas se considera as essências no matraz filosófico como sendo sem movimento, em aspecto umas das outras. O trabalho que fizeram os espíritos foi de distingui-los; de onde vemos nascer os diferentes números de criação, saber 3 a essas três essências, 6 a subdivisão simples, como o dissemos acima, e 9 à subdivisão, porque essas três essências sendo mistas, contém, ainda que distintas, cada uma, uma parte umas das outras. Adicionai os três números: 3, 6, 9/18/9. Dão 18 que adicionado a ele mesmo, dá 9. Adicionai ainda a esse 9 os três ângulos do triângulo eqüilátero: 9 e 3 fazem 12/3. Vemos, pois, que o plano que apareceu na imaginação do Eterno era ternário, visto que era um triângulo eqüilátero. Assim, os espíritos do eixo operaram na criação deste universo o número ternário, pois todos os corpos deste universo, tanto celestes como terrestres, contêm esse número, após as quatro operações de produção, divisão, subdivisão e de figura: o que se pode observar em toda a natureza, uma vez que não se vê senão da terra dada ao sólido mercúrio do fogo dado ao enxofre, e da água dada ao sal. É necessário evitar fazer quatro princípios, como os homens de trevas deste século, que distinguem a parte aérea. Não há aqui positivamente senão três princípios. O ar não é senão uma água rarefeita e, se quisessem dividi-la, encontrar-se-ia ainda o número ternário: a água, o ar e o éter que qualificamos cristalino e que a Escritura Santa denomina as águas superiores. Toda a diferença que existe entre essas águas com aquelas que rodeiam o corpo geral, ou a terra, é que quanto mais elas descem, mais elas têm peso, o que se pode verificar pela diferença do ar de uma parte baixa com o que se respira sobre uma parte elevada; um é espesso e o outro é rarefeito, e o é em razão da elevação. Todas as formas tomaram seus princípios dessas três essências e é por elas que são alimentadas durante sua fase de produção, de vegetação e de reintegração, o que forma a duração sucessiva dos diferentes corpos deste universo, que não podem durar, em razão da vida, da forma e da figura na medida em que são alimentados pelo misto de sua natureza.

De onde demonstro fisicamente que nenhum ser espiritual Divino pode ter a vida espiritual Divina sem estar unido ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, porque os corpos mais brutos deste universo, como os mais ornados e os mais perfeitos, foram criados por ordem do Eterno para ver uma imagem palpável do que se passa na parte espiritual Divina.

Vemos, pois, a similitude que há em razão da semelhança do ser espiritual Divino: um é eterno e outro é passivo. Entretanto, como o passivo foi criado para servir de prisão ao ser menor eterno, ele contém não somente em si sua existência particular, mas serve ainda de livro de lei a esse ser espiritual Divino. Eis as tábuas famosas que Moisés portava em suas mãos, descendo da montanha! Uma, na mão direita, figurava a lei que o Eterno animou no ser menor espiritual Divino, e aquela da mão esquerda figurava a lei que ele animou na forma, para constitui-la em força durante o tempo de seu curso temporal.

Do que se trata, pois, meus irmãos? Trata-se de fazer descobertas imensas e de passar sua vida na meditação? Absolutamente não. Trata-se de seguir, cada um de nós, essa lei inefável que Deus gravou em cada um de nós e que fala sem cessar a nós mesmos. É escutando a voz daquele que nos a apresenta sem cessar, que chegaremos a descobrir as coisas que nos foram ocultas pelo véu que deixamos colocar sobre as tábuas da Lei, de forma que Israel força Moisés a colocar um véu sobre sua cabeça ao lhe ler a Lei, porque suas almas não estavam suficientemente puras para suportar o aspecto de fogo que saíam da cabeça de Moisés. Ora, todos os homens têm esse véu enquanto fazem o mal e o rasgam ao fazer o bem. Aquele que o tem nas mãos é o ser mais perfeito. É, pois, em direção dessa luz Divina que devem se dirigir todas as nossas pesquisas na medida em que aquele que trabalha para aí chegar, emprega sua vontade.

Todas essas verdades estão demonstradas a cada dia sob nossos olhos pelos diferentes seres que nos cercam e que não alcançam êxito em nenhum empreendimento de qualquer natureza que seja, senão pela constância que têm a seguir. Ora, essa constância parte de um grande desejo de conhecer a fundo o que se procura. Citarei a esse respeito o exemplo de um homem que caiu em um poço bem profundo, e que se encontra só. É preciso, para que ele saia dali, que dê o impulso necessário. Se, quando está quase no meio começa a se impacientar por não chegar em cima, corre o risco de tornar a cair, e se sua impaciência continua, corre grande risco de perder as forças necessárias para dali sair, mesmo com todos os socorros humanos.

Acabamos de ver como o triângulo contém em si as diferentes dimensões das formas aparentes e que é por ele, segundo a lei do Eterno inserida no centro do dito triângulo, que a imensidade dos espíritos do eixo fogo central operou todas as formas deste universo. Farei ver no discurso seguinte como se fez a explosão das formas contidas no matraz filosófico. Resta-me recomendar-me a vossas preces e de vos rogar que vossas reuniões adquiram a maior regularidade e que sejam seguidas sem nenhuma interrupção; o que peço de toda minha alma ao Eterno e que ele esteja sempre com todos nós. Amém. Amém. Amém. Amém.

Instrução 04: Da Explosão das Formas e da Necessidade do Quaternário

Meus irmãos,
Desde que a imensidade dos espíritos do eixo foi modificada, as essências que haviam extraído fora de seu seio no ponto de reter impressão, isto é, que distinguiram os três princípios em sólido dado ao mercúrio, em móvel dado ao enxofre e ao fluído dado ao sal. A partir desse momento, tudo toma vida pelo veículo eixo central, que os espíritos inseriram em cada corpo para servir de ponto de reunião à operação desses mesmos espíritos para a produção, vegetação e reintegração; desde então, o vazio de que fala a Escritura cessa. Não se pode entender o vazio senão pela privação desse veículo em todos os corpos, de forma que o que ela diz, que tudo era sem forma, deve se compreender a indiferença da matéria de seu princípio, pela ausência da modificação e da distinção que dá forma ao que era informe, e vida ao que estava privado dela. A matéria residindo no matraz filosófico conforme os espíritos do eixo o haviam emanado fora si mesmos, era em sua indiferença, 1. Os espíritos do eixo a modificaram, e, desde que seus princípios foram distintos em seus mistos, tudo teve forma, 2. Após tudo ter forma, eles deram, para formar a vida ou o movimento de todos os corpos, seu veículo eixo central em todos esses corpos, 3.

Paremos aqui. Os espíritos do eixo, tendo feito todo esse trabalho, realizaram a lei, o preceito e a ordem, que estavam inatos neles desde sua emanação, executando seis pensamentos do Eterno contidos no triângulo eqüilátero, imagem que o Eterno havia concebido para a criação deste universo e daquele que devia ali presidir, e no verbo ternário residindo no centro do triângulo tal como a figura do discurso precedente o representa, e dá claramente a idéia do número ternário, visto que qualquer homem que seja do universo não poderá refutar que o ângulo do oeste não é o ângulo do sul, o ângulo do sul não é o ângulo do norte e o ângulo do norte nada tem dos dois outros, o que dá claramente a idéia do número ternário.

O verbo que estava no centro é também ternário, como o demonstrarei pela figura apresentada abaixo.

Considerai o triângulo inscrito nos três círculos. Não é necessário ser matemático; a natureza age mais simplesmente que seus procedimentos fatídicos e puramente materiais. Não é preciso senão dois olhos para ver que o centro é o gerador do triângulo; e não somente dele, mas de toda a figura. Para se convencer disso, não temos senão que observar a dificuldade que temos em descrever um triângulo eqüilátero sem seu centro, que se descreve com facilidade desde que se parta desse triângulo. A natureza escolhe sempre a mais simples via, e tudo que não está marcado nesse selo deve ser observado como apócrifo. Não somente o centro é o gerador do triângulo, mas ele é também sua vida: as três linhas que partem do centro nos fazem ver sua relação íntima com os três ângulos. Se essa relação cessasse, o triângulo eqüilátero estaria morto, isto é, ele teria uma outra figura que não seria mais a sua. Ora, a figura do triângulo eqüilátero contendo todos os números co-eternos, não pode pois morrer, uma vez que ela foi produzida pelo pensamento direto do Eterno.

Ora, o que sai dessa fonte inefável e imprevisível como ela, é positivamente o plano dos espíritos do eixo, como farei sentir bem claramente. Não é verdade que uma vez que os três princípios, mercúrio, enxofre e sal, tendo sido distintos, formaram todos os corpos deste universo? Atenho-me àquele princípio do corpo geral, ou a terra, que é um triângulo eqüilátero. Não é verdadeiro que esses três ângulos terrestres, ou de toda forma qualquer, não poderiam ter aqui movimento, nem vegetação, nem produção alguma, sem esse veículo que é a vida de todos os corpos? Ora, vejamos bem, fisicamente, que esse veículo é ternário: por uma de suas modificações ele opera sobre mercúrio, por outra ele opera sobre enxofre, e pela terceira opera sobre o sal. Se ele não tinha o número ternário, não poderia acionar sobre os três princípios dos diferentes corpos, por uma lei imutável que o Eterno estabeleceu no universo dos espíritos como na dos corpos, que nenhum ser pode se unir a um outro se ele não tem princípios da natureza desse ser. Ora, todos os corpos do universo se unem uns aos outros, o que prova bem claramente que todos eles têm os mesmos princípios. Vemos, pois que a vida de todos os corpos é necessariamente ternária, para poder manter os três princípios do misto que os compõe. Isto é tão verdadeiro que a retirada desse veículo produz o que se denomina vulgarmente a morte do corpo, e que nós chamamos reintegração.

Se existe algum incrédulo sobre o acima citado, eis uma experiência para convencê-los. Quando tu procuras bem longe no universo, oh! homem, minhas obras, tu ignoras que elas estão junto a ti; procura-as, não nos livros, compilação da imaginação orgulhosa de tuas semelhanças, mas em minhas obras mais simples. Observa tua fornalha, para te convencer que a reintegração do corpo vem da retirada do veículo. Observa que tu tens necessidade de sair desse veículo, primeiramente do fogo, 1, que se comunica com aquele de uma pedra, 2, e que dá, enfim a explosão a um fogo mais sutil, que é aquele do enxofre contido no de um fósforo, 3. Pode-se considerar o fogo desse fósforo como o gerador daquele da lenha. O fósforo, 1, ocasiona o fogo da lenha, 2, e o da lenha aquele do aéreo, que é a chama, 3. Vejamos agora sua reintegração e comecemos pelo aéreo dado ao sal. A fumaça, 1, começa a se reintegrar em seu princípio, o ar ou o sal; o fogoso, 2, se reintegra em seu princípio solar, ou enxofre; e, enfim, mercúrio, corpo sólido, fica sobre a superfície terrestre compondo a cinza, 3.

Vemos, por todos esses exemplos, que a matéria tomou forma pela disposição das três essências, e que as formas tiveram vida através do veículo. Da mesma forma ocorre com a ruptura do matraz filosófico, que se fez pela retirada do espírito duplamente forte do Criador, que continha em privação do movimento todas as formas contidas do matraz. Mas, uma vez que ele viu que elas haviam sido formadas pelos espíritos do eixo, e que eles tinham operado segundo o pensamento de seu Pai eterno, esse Verbo do Pai rompeu a barreira que havia colocado em todos os corpos e lhes traça, assim como aos diferentes seres espirituais Divinos que os conduziam, as diferentes operações que deveriam seguir, tanto foram ações espirituais Divinas como leis de curso para os diferentes seres corporificados. Ora, a ruptura do matraz filosófico, ou o que denominamos vulgarmente, o caos, começa a se fazer no lugar que o corpo geral, dirigido nessa atividade pela Sabedoria, vem tomar no centro do círculo universal, o corpo geral devendo ser por sua forma triangular, o ponto central da operação dos diferentes corpos de todo o universo; o que demonstrarei ainda melhor na seqüência quando falarei dos corpos celestes.

Desde que o corpo geral tomou seu lugar, os corpos particulares tomaram os seus, que lhes foi da mesma forma fixado pela Sabedoria Divina do Pai. Veremos ainda o número ternário pelo círculo universal, o corpo geral e os corpos particulares. É da reunião de ação dessas três classes de seres deste universo que toda a vida passiva, e que a lei das formas aparentes subsiste durante seu curso de vegetação, produção e até o momento de sua reintegração; aquilo que se vê com os olhos da forma, que, sem a ação espiritual dos espíritos do eixo fogo central que acionam sem cessar sobre todos os corpos, sobre o veículo eixo central que eles ali tem inserido, sem a reação do astro solar, nada, não tendo vivificação nessa superfície, nada poderia produzir.

Observai bem, meus irmãos, que, desde que o universo teve seu lugar, conforme o Eterno o concebeu em seu pensamento, ele foi apresentado por nosso Divino mestre, que lhe mostrou sua obra realizada, para que ele se dignasse lhe conceder o selo de sua bênção. É esta bênção, ou essa dedicação do templo universal feita ao Eterno, que nos faz conceber o princípio do número quaternário feito de corpos e do número setenário. Farei ver, por tudo o que foi precedido, que o universo, sendo senário por seu duplo ternário de forma aparente e de vida de forma, foi feito sobre o plano como o Eterno havia enviado aos diferentes espíritos do eixo, por seu verbo ternário ao centro do triângulo, porque as três essências são para seu veículo o que o triângulo é para o verbo do Eterno. É esse verbo que Deus concebeu e manifestou, no centro de seu triângulo, aos espíritos do eixo fogo central, que sustenta todo este universo, da mesma forma que o veículo faz a sustentação de todas as formas. O veículo termina em sua reintegração entre os espíritos do eixo que o produziram, no lugar que o verbo do Pai, sendo eterno, subsistirá para sempre no Ser todo poderoso que o emanou, após ele ter reintegrado dentro de si mesmo.

O número quaternário teve seu início na união que o Eterno fez de todo seu universo em lhe dedicando e formando a vivificação de todos os espíritos, de todas as vidas e de todas as formas, e servindo de centro vivificante, vivo e de vida eterna para os seres espirituais Divinos e de vida de produção, vegetação e reintegração, durante o período de duração de todas as formas deste universo.

Deus é tão essencialmente essencial à duração de todo ser deste universo como um grão de areia não pode ter forma senão quando estiver unido a ele. O grão de areia contém as três essências e o veículo, 6. Ora, o próprio veículo não pode ter vida senão quando está vivificado. Ora, a vivificação pertence necessariamente a Deus, que mantém sem cessar todo o universo dos seres, o que forma o número quaternário: as essências, 1: a forma, 2: a vida, 3; e a vivificação, 4. Igualmente, dividindo as três essências, 3, a vida das formas, 3, dá o número senário, 6.

A vivificação não pode ter lugar senão pelo setenário: é o raio dividido seis vezes, que é engendrado pelo centro, e que forma seis triângulos eqüiláteros, para mostrar que a lei do Eterno é universal, uma vez que é impossível descrever um círculo sem partir do centro. O centro está para o círculo assim como o veículo está para todos os corpos. A ignorância dês-se centro torna o círculo inútil para todo homem que quer operar sobre ele, e a retirada do veículo torna toda forma sem movimento, em putrefação, e faz cessar definitivamente sua lei de aparência para sua reintegração.

Façamos melhor sentir a necessidade do número quaternário. O eixo central, 1, produz e mantém todos os corpos deste universo, 2; o sol os vivifica, 3. Ora, como o círculo eixo central está em comunicação direta com os sobreceleste, ele tira a vivificação, que as comunica, da Divindade, 4; o que nos faz ver que, desde o cedro até o hissopo, desde o inseto até ao elefante, desde a baleia até ao icnêumon, tudo subsiste neste universo pelo número formidável quaternário, como sendo aquele da Divindade, e que completa sua quatriple (em francês quatriple, expressão criada por Martinez de Pasqually, significando o quaternário criador que deriva da Trindade Divina) essência indivisível, imutável, infinita e inalterável. Indivisível, porque nada pode subsistir senão por sua união e que, fora dele, tudo deixa de ser, mesmo enquanto vida espiritual Divina, uma vez que ele cai na morte da privação eterna; imutável, porque ele não muda jamais, sua natureza sendo inesgotável; infinito, visto que ele é co-eterno à Divindade, sem princípio nem fim; e inalterável, porque é através dele que a Divindade opera toda emanação, toda criação, toda reintegração. É enfim por ele que toda lei Divina opera, tanto sobre os seres mais perfeitos dos espíritos eternos como sobre os seres mais brutos de forma aparente dessa superfície, visto que nada pode ter forma, movimento e via senão por ele, e que nada pode existir senão por sua união. É, enfim, ele que nos faz ver o Pai, o Filho, o Espírito Santo e o menor.

No discurso seguinte, falaremos das diferentes produções da natureza das diferentes formas deste universo. Pelo presente, observemos, meus irmãos, que tudo o que disse nos discursos precedentes, e que acabei de dizer, nos prova que este universo teve forma e já começa a operar, antes que o homem houvesse saído do seio do criador. Esse assunto será tratado na sexta instrução, onde abordarei, com o amparo do Eterno, de sua emanação.
Amém!

Instrução 05: Das Diferentes Produções da Natureza e das Diferentes Formas deste Universo.

Meus Irmãos,
Este vasto universo, criado pelo pensamento todo-poderoso do Eterno, oferece muitas belezas que se pode contemplar em detalhe. Os três círculos da figura acima são as três principais partes que vivificam a superfície do corpo geral terrestre. O primeiro desses círculos, denominado círculo universal, é composto de um número imenso de espíritos fogosos eixo fogo central, que acionam sem cessar sobretudo o que tem vida neste universo, como contendo um de seus veículos. A ação desses espíritos é tão prodigiosa que ela consumiria logo todos os corpos celestes e terrestres; mas a Sabedoria eterna ali providenciou o segundo círculo que chamamos cristalino, que é composto também de um número prodigioso de espíritos, cuja ação benigna aquática, úmida, acalma o grande fogo dos primeiros. O terceiro círculo é composto por espíritos elementares que nos rodeiam. É através desses três círculos que toda a natureza se mantém.

A prova física do que digo desses círculos se encontra nos três ângulos do triângulo eqüilátero de nossa terra, que nos mostra a ação desses três círculos sobre ela. O ângulo do oeste contém todos os sólidos; é nele que se encontram todas as rochas; corresponde também a mercúrio. A ângulo do sul corresponde ao enxofre; também notamos que esse ângulo da terra está repleto de fogo, todos os vulcões ali parecem reunidos. O ângulo do norte, que corresponde ao sal, reúne todos os gelos que, como todos sabem, não é senão um sal congelado, uma vez que se faz gelo através do sal, etc. A reunião desses três ângulos e desses três círculos nos dá o número senário, que nos faz ver os seis pensamentos do Eterno.

A parte superior alimenta a inferior, da mesma forma que a boca, que não é senão por onde passam os alimentos, nutre o resto do corpo: da mesma forma ocorre com toda a superfície terrestre. Uma prova palpável de que não há ali senão três elementos, a terra, o fogo e a água - e não o ar, que não é senão uma água mais rarefeita, que corresponde aos três reinos: não há seguramente nenhum reino na parte aérea. Tudo o que aqui é nasceu sobre o corpo geral, ou a terra, e ela mesma está contida nesses três reinos. Toda a espécie volátil nasceu sobre a superfície terrestre e não pode mesmo se sustentar sobre o aéreo senão por um movimento contínuo que lhe faz bem sentir, pela fadiga que lhe dá, que ela não é feita para viver no ar, como o peixe, por exemplo, que põe seus ovos e se reproduz na água. Não ocorre o mesmo no aéreo: todos os insetos que aparecem nessa parte começaram a nascer aqui embaixo, e a prova disso está bem clara, porque não existe nenhuma espécie que não se alimentasse dos alimentos que estão sobre essa superfície.

Os diferentes reinos que estão sobre a terra nos provam ainda a virtude do número ternário: o vegetal, o mineral e o animal são considerados cada um em seu particular como particularidades distintas dos outros. Entretanto, que número prodigioso de seres de forma aparente não contém cada um particularidades em seu particular? O que nos dá ainda uma confirmação do que digo nesses discursos precedentes sobre o misto ternário que compõe todos os corpos, mercúrio, enxofre e sal; eles estão, com efeito, em todas as formas do universo como os três reinos estão em todos os corpos da terra. Da mesma forma que esses três reinos encerram uma prodigiosa quantidade de seres de formas diferentes, que vem habitar em cada um desses três reinos, igualmente a modificação prodigiosa de todas as formas universais se acomodar sob o misto ternário de mercúrio, enxofre e sal, como sendo o gerador, o sustentáculo e o alimento de todos os corpos. Assim que eles cessam sua união, não há mais formas; o que se pode ver pela reintegração do enxofre, que se opera sobre o corpo da madeira de uma lareira: logo que a essência sulfurosa reintegrou, não existe ali mais forma; enquanto ela ali estiver, o corpo não está destruído. Como no carvão: existe ali uma forma, mas no momento que o carvão recebeu uma nova ação fogosa que reintegrou o que lhe restava de sua parte sulfurosa, não resta mais forma senão a cinza; se colocamos novamente esta cinza em um grande fogo, ela se reintegra também.

Perguntarei agora: o que dá a forma a essa madeira? Que são as leis essenciais que a compõe? E o que deu o número de sua figura? Responderei que a forma está inteiramente dissipada, uma vez que dela não se tem mais nenhum vestígio; que essas essências estão reintegradas na parte elementar, mas que ali sempre resta o número, e eis como eu o provo. O número é co-eterno, assim como o fiz ver nos discursos precedentes; as formas, por mais que variem, não possuem senão uma pura aparência, os espíritos que as formaram produziram e lhes comunicaram seu número. Eles não podem pois perdê-lo; é absolutamente necessário que ele retorne a eles, tal como eles o deram. Os espíritos do eixo receberam desde sua emanação o número ternário. É preciso que o que se opera porte o número de seus fatores, agentes ou fabricantes, visto que é por esse número de seus fatores, agentes ou fabricantes, visto que é por esse mesmo número que operam sobre todos os corpos que saíram de seu seio. Eles ali operam por seu número ternário: é preciso, pois, que esse mesmo número do corpo qualquer retorne à sua fonte primeira, visto que o número não tem seguramente nem figura nem forma alguma, ainda que nós não possamos concebê-lo sem tal. Mas sentimos bem, por exemplo, que um espírito não tem forma; e o mesmo ocorre com o número. Vemos, pois, por isso, que toda a matéria não subsiste, não tem forma e duração, senão pela operação contínua dos espíritos dos eixo fogo central que produzem, senão através dos espíritos cristalinos que a modificam, e através dos espíritos elementares que lhes dão seu sustento pela parte de influência que lhes comunicam segundo a receberam pela supra-celeste Divindade.

Não é preciso crer que o número prodigioso de espíritos que mantém todos os corpos deste vasto universo, tenham eles próprios necessidade de receber uma matéria real subsistente para mantê-lo. Realmente não. Esses espíritos têm inato em seu seio, desde sua emanação, a faculdade de extrair essências espirituais e de mantê-las, como um pai alimenta seu filho, porque ele tem o que lhe fornecer para comer: o mesmo acontece com os espíritos. Eles têm tudo o que pode manter a produção, a vegetação e a reintegração de todos os corpos deste universo, sem que ele necessite de um veículo de matéria real existente, visto que a matéria não tem realidade senão por sua aparência, e que sua aparência não subsiste senão pela operação desses mesmos espíritos, que é puramente espiritual, distinta desses espíritos puros e simples, em que os espíritos ternários são dotados de toda espécie de faculdade, de movimento e de correspondência para a manutenção de todos os corpos, mas eles não têm a inteligência nem o pensamento que são dados aos espíritos puros, tais como o homem, etc. Eis o que significa a ação espiritual, e pode-se qualificar de movimento, visto que a ação propriamente dita pertence a seres superiores àqueles dos quais falamos e é puramente espiritual, o que se pode conceber pela diferença imensa e incomparável do pensamento como toda espécie de movimento dos corpos. Pode-se fazer muitas vezes a volta no universo através dele em um instante; enquanto que para deslocar o mais pequeno ser da superfície a uma distância qualquer é necessário um tempo sensível, o que não se refere de modo algum ao pensamento, que não tem limite e que não está sujeito ao tempo.

Os corpos não são pois o que as crianças nos fazem ver sobre o vidro onde colocam água e sabão e com um canudinho formam um corpo aparente que tem seu cheio ou seu peso, sua medida ou sua figura, e seu número que é a operação dos agentes das formas. Assopra-se esse corpo aéreo a uma altura acima daquela onde se formou: a reação que ele opera caindo lhe faz romper sua união, ele se reintegra no aéreo, sem que reste dele o menor vestígio aos olhos daqueles que o vêem. O mesmo ocorre em todas as formas: tudo o que tem princípio deve ter um fim. Esse corpo, cuja duração nasceu em um instante, é a imagem real dos corpos sólidos da terra, tais como os diamantes, as pedras, as rochas mais duras. Sua reintegração se dará pelas mesmas leis que as das bolhas de sabão, cada um seguindo a modificação do que a compõe.
Também não podemos mais conceber uma matéria real existente que não podemos conceber o uso contínuo de um hábito sem usá-lo. Um hábito forma todos os dias sua reintegração e tem necessidade de ser renovado; o que nos faz ver a duração sucessiva dos diferentes corpos que não subsistem senão pela operação contínua dos diferentes seres que os acionam, que podemos ver no fim contínuo desses mesmos corpos no final deste universo aparente. Apressemo-nos a considerar o instante em que todos os seres não terão mais limites senão aqueles que eles mesmos se derem, pelo uso de seu livre arbítrio que terão conquistado aqui em baixo.

O Ser todo poderoso que preside a tudo e cuja bondade infinita se faz sentir em todos os seres, não contente de ter gravado com características inefáveis as santas leis em nossas almas e em nossos corações, quis ele próprio dar o exemplo daquilo que devíamos seguir para participar da felicidade de seus eleitos. Suas três santas manifestações de glória começam com Adam, 1; são renovadas sob a posteridade de Adão pelo santo homem Enoch, 2; continuam em Noé, 3, à reconciliação da terra; assinalaram enfim sua potência sob Abraão, 4; depois sob Moisés, 5, na libertação do povo eleito. A mesma libertação se fez ver sob Zorobabel, 6, pelo retorno do cativeiro da Babilônia, vindo a formar o centro de suas operações espirituais Divinas; pela regeneração do menor, pelo nascimento de nosso Divino mestre Jesus Cristo, que veio colocar o selo nos menores que se tornaram, se tornam e tornar-se-ão dignos pela 7ª eleição que fez no centro de seu receptáculo, que deveria ser o ponto de reunião de todos os espíritos que uniram sua vontade à sua, participando das promessas do Eterno, do fruto de tantos eleitos, da ação do Espírito Santo, da operação de tantas graças, da destruição da barreira que nos separava da comunicação Divina pelo pecado de nosso primeiro Pai, da operação dos apóstolos, dos profetas e dos patriarcas, dos dons inefáveis do Espírito Santo, e mais que tudo isso, do sangue precioso de Jesus Cristo ofertado ao Eterno para nossa santificação e aspergido sobre o ser espiritual Divino e sobre a forma aparente de cada um de nós que desejamos seguir as santas leis que ele nos traçou durante sua vida.

Unamo-nos todos com um só pensamento, vontade e ação para chegar ao altar de suas compaixões no santo tempo da semana santa, onde o universo inteiro celebra a morte de nosso Divino Salvador; morramos todos com ele ao mundo, a seu orgulho e a suas cobiças, para ressuscitar com ele, com o hábito da santificação, ou com o hábito de uma nova vida toda espiritual Divina, inteiramente devotada a seguir em tudo às santas leis, preceitos e mandamentos do Eterno. Deus nos faça a graça.
Amém!

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