A SENDA JOANITA
Por: Frater Zelator


SIMBOLISMO

Todos os mitos relacionados aos deuses, santos, mártires ou mesmo aos grandes líderes de povos ou Manus, como diz a Teosofia, mostram personagens que marcaram a história de forma grandiosa e inequívoca. São João, Batista ou Evangelista, não fogem à regra descrita.


Um fato inquestionável liga todos os deuses ou deusas do passado ao entendimento e à simbologia mítica dos fenômenos celestes. A Astronomia, longe de ser fantasiosa ou sem importância, era uma ciência marcante e necessária aos povos antigos. Todos os povos mais adiantados, sem exceção, foram buscar nos mistérios solares ou lunares explicações para os ciclos humanos e os da natureza. O movimento do sol era muito importante em muitas culturas, especialmente para os primeiros cristãos e para a maioria das religiões e cultos modernos. O movimento aparente de nosso astro-rei durante os dias e o ano pelos céus inspiraram os sábios antigos e muitas das vezes trouxeram conhecimentos que revolucionaram o desenvolvimento da humanidade. Por exemplo, se nossa humanidade atual teve sua origem na mãe África, todas as fases humanas marcaram um degrau a ser cumprido: a era da pedra lascada, do bronze, do ferro, porém a mais abrangente seja a do cultivo dos próprios alimentos, ou seja, o desenvolvimento da agricultura. Esta possibilitou ao homem deixar de ser nômade para ter a condição de se estabelecer em determinados lugares e ali florescer como grandes povos do passado. [3]


Os egípcios à beira do Nilo talvez sejam os mais famosos dependentes dos recursos naturais para entenderem e dependerem das estações do ano para a própria sobrevivência. Existem ainda os calendários astronômicos de Stonehenge, provavelmente de origem celta, no norte da Europa. Logo, conhecer e dominar o estudo dos astros, principalmente a lua e o sol, deram uma espécie de "poder" e "magia" àqueles povos, governados de maneira geral por uma teocracia, possibilitando o florescimento excepcional que tiveram.
Os egípcios associaram a luz e o calor à vida e ao sol, através do deus Rá. E a escuridão e o frio à morte. A relação entre as duas estações mais extremadas levaram ao conhecimento de certas revoluções cósmicas que perduram até os nossos dias, mesmo que veladamente nas religiões em geral.


O verão é associado até hoje ao sol, calor, luz, vida, dinamismo, atividade, o triunfo da luz sobre a obscuridade do inverno, que por oposição significa o frio, a vida numa semente ou hibernando à espera do sol salvador que a fará irromper para o crescimento e para a vida. Quando uma energia ascende, a semente da sua oposição já nasceu possibilitando um ciclo eterno do nascer e morrer de tudo o que temos dentro ou fora de nós. Os orientais associam esta idéia ao ciclo do Yin/Yang.


Os antigos povos também perceberam que quatro estações básicas dominavam o cenário celeste, marcando também quatro épocas do ano que se repetiam periodicamente e conhecidas hoje pelas estações: verão, inverno, outono e primavera. A questão do tempo contado em trimestres não era relevante para os povos antigos, pois não utilizavam o mesmo calendário que o nosso, contando o tempo como cíclico e não linear. Mesmo povos com culturas milenares e que se utilizavam de calendários lunares - como os orientais - tinham que adaptar suas agriculturas e criações animais para as estações solares. [1]


O dia 21 de junho, ou aproximadamente, coincide com o solstício de inverno no hemisfério sul, pois é quando o sol passa pelo trópico de Câncer, sendo o solstício de verão no hemisfério norte. E o dia 21 de dezembro, ou aproximadamente, marca a passagem do sol pelo primeiro ponto do trópico de Capricórnio, sendo o solstício de verão no sul da Terra e o solstício de inverno para o norte.
Tanto no oriente quanto no ocidente o solstício de Câncer, ou da Esperança, é a porta cruzada pelas almas mortais e é chamada de Porta dos Homens, ligado a São João Batista e às suas pregações aos homens sobre o advento do Cristo. O solstício de Capricórnio ou do Reconhecimento é a porta cruzada pelas almas imortais e por isso chamada de Porta dos Deuses. Para os antigos egípcios o solstício de Câncer era dedicado ao Deus Anúbis. Já os gregos o consagravam ao Deus Hermes. Ambos os Deuses eram encarregados de conduzir as almas ao mundo extraterreno. [1]


As festas do dois “São João” estão em relação direta com os dois solstícios. Esta é uma informação antiga acompanhada por quase todas as Tradições, em especial os Templários, pois lembremos que o Cristo é o “Sol Renovador” que veio a este mundo para trazer a Boa Nova e expurgar com seu fogo místico os pecados deste mundo.
Os Cavaleiros de Cristo são, também, Cavaleiros do Sol (ou solares), que buscam queimar suas mazelas internas. Os Cavaleiros de ontem e de hoje são constantemente remetidos ao deus romano Janus com suas duas faces opostas: o futuro e o passado. O mês de janeiro, em homenagem à Janus, marca justamente essa dualidade entre um ano que se finda e outro ano cósmico que se inicia marcado pelo nascimento da Luz, ou seja, de Jesus para os cristãos. O primeiro São João do tempo linear, São João Batista, anuncia a vinda do Vencedor. E o Evangelista propagará a sua palavra. [1]


Muitas corporações de ofício medievais, com a proteção dos Templários, acabaram por adotar os dois São João como Patronos, o que em muitos casos permanece até os nossos dias. Mesmo as muitas das antigas corporações de construtores dos exércitos romanos anteriores à Cristo, denominadas "Collegiatti", adotavam Janus como Deus protetor.
Simbolismo também expresso pelo duplo sentido incluso no nome João. "HANAN" em hebraico possui o significado de "louvor", "benevolência", ou mesmo "misericórdia". Já o nome "JOHANAN" (ou IEHO-HANNAM) possui relação com o significado de "misericórdia de Deus", "graça de Deus", ou "louvor a Deus". O primeiro desses dois sentidos parece relacionar-se a São João Batista, e o segundo a São João Evangelista. Segundo Rene Guénon, pode-se dizer que a misericórdia é mais "descendente" e que o louvor mais "ascendente", justamente como no movimento anual do sol pelos céus. No verão nossa estrela é vista no zênite, no máximo de sua altura no céu, onde se pede misericórdia para suportar os dias frios que chegarão. E no inverno o sol encontra-se na posição mais baixa possível em relação ao seu ápice, onde depois só é possível ascender novamente e por isso é louvado na época hoje conhecida como o Natal. As variações dependem da posição da Terra em relação sol durante o ano. [1] - [2]


Muito mais se poderia dizer da obra e da vida deste ícone humano. Tomos inteiros não dariam conta do que se poderia abarcar da gnose joanina. A Igreja interna, eso, tomou para si o símbolo e o exemplo perene de São João Evangelista. A Igreja de Pedro e de Paulo, exo, buscou a temporalidade e o arrebatamento social e político dos povos. João buscou levar a Palavra a todos de seu tempo e deixar para as gerações do porvir, em especial aos Iniciados de sempre, a mensagem mais pura possível do Mestre.
A cada um de nós caberá, doravante, configurar em nossos corações o Templo Interior que João pregava.


BIBLIOGRAFIA

[1] Por que São João, nosso Padroeiro?; José Castelani; artigo.
[2] O Evangelho Esotérico de São João; Paul Le Cour; Ed. Pensamento.
[3] Símbolos Antigos e Sagrados; Ralph M. Lewis; Ed. Renes.