O
processo de recomeço abolido pela queda.
Saint martin
Tenho descrito o Homem até aqui somente em relação
ao seu estado original; ao descrevê-lo de acordo com o que tem feito
de si mesmo pelo uso falso e criminoso de seus privilégios, este
alto privilégio que ele possuía de recomeçar a Deus,
desaparece; e somos compelidos a dizer que, desde esta época fatal,
Deus tem tido, ao contrário, que recomeçar o Homem; Deus recomeça
o Homem diariamente.
Pois, não só no momento de sua queda, Deus foi obrigado a
recomeçar o Homem, ou renovar seu contrato divino com ele, mas em
todas as épocas, nas quais Ele enviou leis para nossa restauração;
épocas que renderam inutilidades pela nossa falta de respeito por
seus presentes, e o pequeno fruto que retiramos delas, teve que ser sucedido
por outro, sempre mais importante que seu predecessor; mas que, por sua
vez, fora igualmente profanado por nós, o que só nos prejudica,
ao invés de nos auxiliar; isto requer que o Amor Divino nos recomece
novamente.
Se assim não fosse, este universo visível, onde estamos aprisionados,
teria sido, há muito tempo, lançado novamente no abismo, fora
do alcance do Amor supremo.
O Processo de libertação do Homem: do crime, através
da lei, para a ação vital.
O Homem passou do crime para as trevas. Ao deixar as trevas a Divindade
Suprema o fez passar pela Natureza. Ao deixar a Natureza, Ele o fez passar
pelo ministério da Lei. Fora do ministério da Lei passou por
aquele das orações, ou a Lei da graça que deveria ter
restaurado todas as coisas para ele.
Mas, como o sacerdócio humano tem corrompido esta lei da graça
tornando-a vã, ela teve que ser suspensa, por sua vez, e substituída
por uma ação vital violenta, assim como a oração,
ou a lei da graça havia substituído a lei que fora mal usada
pelos judeus; tal é o Espírito de sabedoria e a terna benevolência,
com que o Amor Supremo conduz ou admite que aconteça todos estes
lamentáveis eventos dos quais o homem terrestre reclamam, esquecendo
que seus próprios crimes os produziram, deixando a terra em completa
desordem, enquanto que ele nasceu no mundo para pacificar e melhorar todas
as coisas.
A Revolução Francesa foi provavelmente designada pela Providência
para expurgar, se não suspender, este ministério das orações;
uma vez que este, em sua origem, fora designado a suspender o ministério
da Lei. Com isto, o povo Francês pode ser considerado o povo da nova
Lei, assim como o Hebreu foi o da antiga Lei. Não precisamos nos
espantar com tal eleição, apesar de nossos crimes e banditismos.
Os judeus eleitos não foram, em seu tempo, melhores do que os Franceses.
Contudo, há uma coincidência ainda pior; o templo de Jerusalém
foi destruído e queimado duas vezes, uma por Nabucodonozor, outra
por Tito; e aqueles dias em que tais eventos ocorreram, são os mesmos
em que a autoridade temporal da França fora arruinado; i. e., o "10
de Agosto". "Quando Tito se recuou em Antonia, ele resolveu atacar
o Templo, no dia seguinte, 10 de Agosto, com todo o seu exército;
eles estavam na véspera daquele dia fatal no qual Deus havia, há
muito tempo, condenado este santo lugar a ser queimado, assim como havia
sido anteriormente, no mesmo dia, por Nabucodonozor, Rei da Babilônia."
(Fl. Josephus, 'Roman ----', LVI. Q XXVI)
Esta ação vital que, de acordo com todas as aparências,
tem que substituir o ministério das orações, irá
alcançar ainda senão uma conquista parcial entre os Homens,
se comparado com a grande maioria, que não se beneficiará
dela; haja vista a propensão ao mal uso de todas as coisas, que o
Homem tem exibido desde o princípio.
O processo consumado no último julgamento.
Desta forma, Deus será novamente obrigado a recomeçar o Homem
através do último julgamento, ou o fim dos tempos; mas como
nesta ocasião, todo o círculo terá sido rodado, a obra
será consumada sem volta; ou seja, sem o temor de qualquer nova delinqüência
por parte do Homem, e conseqüentemente sem que Deus seja mais obrigado
a recomeçar o Homem.
Ao contrário, o Homem irá, então, ter recuperado o
sublime privilégio de recomeçar Deus, como deveria ter feito
desde o princípio.
Contudo, há uma diferença: no princípio o Homem estava
somente sob os olhos do pacto (aliança) e ele podia se comportar
como quisesse: no final, ele estará na aliança; desta forma,
ele não será mais capaz de escolher, pois ele será
eternamente um impulso propulsor na corrente divina.