Os
elementos da grande obra
A - A Terra dos Filósofos: A Prudência
A Prudência é um princípio de ação moral
que aperfeiçoa a razão prática do Homem, a fim de que
em cada uma de suas ações ele disponha e ordene as coisas como
lhe convém, ordenando a si mesmo (ou a todos cuja ação
lhe seja subordinada e dependente), o que convém fazer a cada instante
para a realização perfeita de cada Virtude. Ela é constituída,
em suas aplicações correntes, de diversos aspectos, a saber:
A - a lembrança de coisas passadas, ou memória;
B - a visão clara de princípios de ação, gerais
ou particulares;
C - a reverência das coisas determinadas pêlos sábios que
nos precederam;
D - a sagacidade para descobrir o que seria impossível de perguntar
subitamente aos outros;
E - o sadio exercício da razão, aplicado a cada ação;
F - a previdência, ou a determinação desejada no momento
da ação, quanto à substância deste ato;
G - a circunspecção com respeito a tudo o que envolve o referido
ato;
H - a precaução contra tudo o que poderia obstaculizar ou comprometer
o resultado.
A Prudência é, apropriadamente falando, a virtude de comando:
.- comando de si próprio, ou prudência individual;
.- comando na família, ou prudência familiar;
.- comando na Sociedade, ou prudência real.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Prudência
e é o Dom de Conselho.
Compreende-se, sob este nome, uma disposição superior e transcendente
que aperfeiçoa a razão prática do Homem. Esta disposição
particular o deixa então pronto e dócil para receber o Espírito
Santo (sem a procura particular), e tudo o que é necessário
à iluminação final. Essa mesma disposição
vem em auxílio da razão humana, cada vez que ela é necessária.
Pois, mesmo provida das virtudes, adquiridas ou infundidas desde o nascimento,
a razão humana está sempre sujeita a erros ou a surpresas (na
infinita complexidade das circunstâncias que podem interessar sua ação),
seja por ela mesma, seja por outrem. E aí reside, na maioria das vezes,
o conjunto das armadilhas que a virtude da Prudência permite evitar!
Como essencial ao desenvolvimento futuro, ela é a primeira a se adquirir,
e antes de tudo o Dom de Conselho.
A Prudência e o Dom de Conselho se obtém pela prática
do Silêncio, que corresponde à Terra Filosófica.
B - A Água dos Filósofos: A Temperança
A Temperança é uma virtude que mantém, em todas as coisas,
a parte afetiva sensível ao comando da razão, a fim de que ela
não se deixe levar pêlos prazeres que interessam mais particularmente
aos cinco sentidos exteriores. Ela se manifesta em diversos aspectos, a saber:
A - a continência, consistindo na escolha de não seguir os movimentos
violentos da paixão;
B - a clemência, consistindo em moderar ou regrar, segundo a virtude
da Caridade, um modo de
corrigir o mal cometido por outros, e que a virtude da Justiça exige
ver judiciosamente corrigido
e expiado, coisas inelutavelmente necessárias;
C - a mansidão, consistindo em descartar o movimento interior de paixão
pela justiça, o qual não
seria nada além da Cólera;
D - a modéstia, consistindo em refrear, moderar ou regrar a parte afetiva
em coisas menos difíceis
que as precedentes (ou seja, o desejo de sua própria excelência,
o desejo de conhecer o que não
nos é imediatamente útil ou que é inútil para
nossos fins, as ações e os movimentos exteriores do
corpo carnal e, enfim, a ordem exterior), quanto à maneira de se comportar
com relação à
Virtude da Temperança. E este é o Dom do Temor.
O Dom do Temor consiste no fato de se ter presente, ante a Revelação
Tradicional, uma imagem mais ou menos exata de Deus, com um santo respeito,
em razão da excelência ou da bondade da Majestade Divina, da
qual se tema afastar-se, por efeito de nossos erros e de nossas faltas. Consiste,
também, no fato de considerar, relativamente à excelência
dos fins últimos que nos propõe a Revelação Tradicional,
todas as coisas baixas vindas dos prazeres dos sentidos, como perfeitamente
inexistentes ou perigosas.
A Temperança e o Dom do Temor se obtém pela prática da
Solidão, que corresponde à Água Filosófica.
C - O Ar dos Filósofos: A Justiça
A Justiça é uma virtude que tem por objetivo fazer reinar entre
os Seres uma harmonia de relações, embaçada no respeito
dos Seres entre si, e daquilo que constitui em diversos graus seus próprios
bens, morais ou físicos, espirituais ou materiais.
Ela tem por objetivo principal regular nosso deveres em relação
aos outros Seres. Como tal, ela se distingue da Caridade, que é de
um espírito diferente e menos submisso a normas limitadoras. Ela faz
reinar a paz e a ordem, tanto na vida individual, quanto na vida coletiva.
Aplica-se tanto aos bens corporais, quanto à dignidade espiritual e
reputação do próximo.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à Virtude da Justiça,
e é o Dom da Piedade.
A Piedade consiste numa disposição habitual da vontade, que
faz com que o Homem esteja apto a receber a ação direta e pessoal
do Espírito Santo, levando-o a tratar Deus, Causa Primeira, considerado
nos mais longínquos mistérios de sua vida divina, como um "pai"
ou um "chefe" terna e filialmente reverenciado, servido e obedecido.
Igualmente, a tratar todos os homens da mesma forma com que trata outras Criaturas
racionais (Anjos, Espíritos, Demônios), em suas relações
exteriores com elas, de acordo com o Bem Divino e Superior que as une em diversos
graus, à Causa Primeira como ao pai da grande família divina.
O Dom da Piedade é seguramente aquele que coloca o selo mais perfeito
nas relações exteriores que os homens podem ou devem ter, seja
entre eles, seja com Deus. É o coroamento da virtude da Justiça
e de todos os seus anexos.
A Justiça e o Dom da Piedade se obtêm pela prática do
Jejum, que corresponde ao Ar Filosófico.
D - O Fogo dos Filósofos: A Força
A Força é uma virtude que tem por objetivo a perfeição,
de ordem moral, da parte afetiva sensível no Homem. Ela consiste em
lutar contra os maiores temores, e, também, moderar os movimentos de
audácia mais atrevidos, a fim de que o Homem, nestas ocasiões,
não se desvie jamais de seu dever. Ela se manifesta em diversos aspectos,
que são:
A - a magnanimidade, consistindo em fortalecer a esperança, no sentido
das obras grandes e belas,
que desejaria concluir;
B - a magnificência, consistindo em uma disposição da
parte afetiva, que fortalece ou regra o
mecanismo da esperança, em relação ao que é árduo
e custoso de concluir;
C - a paciência, que é apropriada para suportar com estoicismo,
em vista da Reintegração final, todas
as tristezas que possam nos vir na vida presente, e também, suportar
mais particularmente a
intervenção hostil dos outros homens em suas relações
conosco, ou ocasionalmente, aquelas do
Espírito do Mal;
D - a perseverança, que consiste em combater o medo da duração
de um esforço em direção ao
Bem, ou seu fracasso.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Força
é o Dom de mesmo nome, também denominado Coragem.
Mas ainda que a virtude deste nome não lembre senão os obstáculos
e os perigos que estão ao alcance do Homem sobrepujar ou a eles sucumbir,
o dom correspondente do Espírito Santo se endereça aos perigos
e às maldades, cujo sobrepujar não está em poder apenas
do Homem.
Assim, o Dom da Força (ou da Coragem) permite-lhe suplantar a dor que
acompanha a separação, própria da Morte, de todos os
bens e alegrias da vida presente, sem dar, por ele mesmo, o único bem
superior que as compensaria e preencheria sua ausência ad infinitum,
saber da Reintegração e da Vida eterna que dela decorre.
Esta substituição efetiva, fácil e desejada, da Reintegração
em lugar de todos os males e misérias da vida terrestre, apesar das
dificuldades e dos perigos que possam se por no caminho do Homem que marcha
em direção ao Objetivo Supremo (aí compreendida a própria
Morte, que resume a todos), é obra exclusiva do Espírito Santo,
de sua ação própria. E segundo o Dom da Força
(ou da Coragem), que o Homem é, então, amadurecido pelo Espírito
Santo. Se bem que o objetivo essencial desse dom seja, de fato, a vitória
do Homem sobre a Morte e sobre todos os terrores que ela inspira.
A Força e o dom deste nome (ou Coragem), se obtêm pela prática
da Vigília, que corresponde ao Fogo Filosófico.
E - O Sal Princípio: A Caridade
A Caridade é uma virtude que nos eleva a uma vida de comunicações,
primeiramente com as Potências Celestes intermediárias, depois,
com o próprio Plano Divino, segundo sejamos merecedores e dignos de
tal comunicação. A Caridade considerada sob o aspecto de contato,
de comunicação mística, supõe em nós duas
coisas:
A - Uma participação de Natureza Divina que, divinizando nossa
própria natureza, nos elevará, a despeito de toda a ordem natural,
seja humana, seja angélica (acima do mundo inicial de manifestação
da Criação), até a ordem que é própria
de Deus, fazendo de nós deuses (deuses secundários, evidentemente),
e nos introduzindo em sua intimidade. Donde a frase do Salmo: "Deus se
levanta na Assembléia Celeste, em meio aos deuses ele julga..."
(SL. 82), e aquela do Evangelho: Eu vos digo: vós sois deuses..."
(João, X, 34);
B - Princípios de ação, proporcionando por este estado
divino, que nos põe em condições de agir como verdadeiros
agentes secundários, filhos de Deus, como o próprio Deus age,
conhecendo como ele conhece, amando como ele ama, alegrando-se como ele se
alegra.
Estas duas realizações místicas estão intimamente
ligadas à presença, na Alma do Adepto, da Caridade absoluta.
A Caridade absoluta decorre de um ato de amor total, pelo qual o homem deseja
de Deus esse bem infinito que a Fé lhe revelou, e que ele deseja, para
si e para os outros Homens, Bem este que é inseparável de Deus.
A Caridade comporta certos aspectos secundários:
1 - A Misericórdia, que faz com que se compadeça com a miséria
dos Seres, em todos os aspectos ontológicos da vida, e que se sinta
esta miséria e esse sofrimento a seus mesmos, a ponto de sofrê-los,
real e intimamente;
2 - A Beneficência, que faz com que se estejamos, imediatamente e sempre,
prontos a impedir o mal e a facilitar o bem, tanto no domínio espiritual
quanto no domínio material. O Homem, ser dotado de uma consciência
que não participa em seus próprios compromissos, não
saberia em efeito nem ignorar o mal e o bem, mesmo conhecendo os dois, pretende
situar-se "além" de um e de outro, ou seja, iludir suas próprias
responsabilidades.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Caridade e
é o Dom da Sabedoria que não deve ser confundido com a virtude
sublimal de mesmo nome.
O Dom da Sabedoria (que não é, pois, A Sabedoria) faz com que
o Homem, sob a ação oculta do Espírito Santo, julgue
todas as coisas por sua inteligência, tomando como norma ou como regra
própria de seus julgamentos, a mais alta e mais sublime de todas as
Causas que é a própria Sabedoria Divina, tal qual ela tem se
dignado a manifestar-se a nós pela Fé, o Enxofre dos Filósofos.
A Caridade corresponde, na vida iniciática, ao voto de Pobreza que
é o primeiro postulado, que faz com que desprezemos os bens, as honras
e as alegrias deste Mundo inferior. É pelo voto de Pobreza que obtemos
igualmente o Dom da Sabedoria.
F - O Mercúrio Princípio: A Esperança
A Esperança é uma virtude que faz com que nossa vontade, apoiada
sobre a ação divina, nos conduza para Verdades Eternas, que
a Fé nos tem revelado, como aquilo que pode e deve ser um dia nossa
iluminação total.
Esta virtude é absolutamente inacessível sem a Fé que
ela pressupõe necessariamente, pois é somente a Fé que
dá à Esperança o objetivo e o motivo sobre a qual ela
se apoia.
Um Dom do Espírito Santo corresponde à virtude da Esperança
e é o Dom da Ciência.
A Ciência sob a ação do Espírito Santo, deve poder
julgar com uma certeza absoluta e uma verdade infalível (não
usando aqui o procedimento natural da razão, mas instintivamente e
de forma absolutamente intuitiva), o verdadeiro caráter das coisas
criadas em suas relações com aquelas da Esperança segundo
devam elas ser admitidas e professadas, ou devam servir de objetivo à
nossa conduta, sabendo assim imediatamente o que, no Mundo material, está
em harmonia com as Verdades Eternas ou, ao contrário, em oposição.
A Esperança corresponde, na via iniciática, ao voto de Castidade
(que não é, segundo o casamento cristão, a continência
sexual). O voto de Castidade que é seu primeiro postulado, permite
ao Homem libertar-se pouco a pouco da escravidão dos sentidos, assim
como ao casal humano ordinário, de trabalhar, de maneira natural e
legítima, na perpetuação das formas da Espécie,
sem depravar-se mutuamente.
É também pelo voto de Castidade que obtemos o Dom da Ciência.
G - O Enxofre Princípio: A Fé
A Fé é uma virtude que faz com que nossa inteligência
se una, muito firmemente e sem receio de enganar-se mesmo que ela não
perceba de forma inteligível, a tudo o que lhe chega pelo Canal da
Revelação Tradicional, notadamente sobre Deus, sobre a sua vontade
de comunicar ao homem a Reintegração como objetivo de seu derradeiro
fim, sobre a existência de um Mundo invisível, do qual este aqui
não é senão o reflexo imperfeito e invertido.
Um Dom do Espírito Santo correspondente à Fé é
o Dom da Inteligência que não devemos confundir com uma das duas
virtudes Sublimais deste nome.
O Dom da Inteligência (que não é a inteligência)
ajuda a virtude da Fé no conhecimento da verdade divina, fazendo com
que o Espírito do Homem, sob a ação do Espírito
Santo, penetre o sentido dos termos que comportam as afirmações
da Revelação Tradicional, de todas as proposições
que possam levá-lo a compreendê-los de forma plena, ou ao menos
(no caso dos mistérios profundos), poder aproximá-los, mas conservando
intacta toda sua importância.
A Fé corresponde, na via iniciática, ao voto de Obediência
que é seu primeiro postulado, e permite obter o Dom da Inteligência.
H - A Prata dos Sábios: A Inteligência
A Inteligência é o atributo daquilo que corresponde à
visão, à intuição, à penetração
e à informação. Como tal, a Inteligência é
portanto o conhecimento (gnose) das Coisas Divinas Absolutas a Ciência
do Bem e do Mal.
É ela que nos dá o discernimento dos Espíritos, a possibilidade
de perceber, sob as espécies ou obje-tos materiais, aquilo que os relaciona
aos pólos opostos do Bem e do Mal, da Luz e das Trevas ( ).
Ela nos faz penetrar o sentido oculto das palavras, o esoterismo dos textos,
sua significação superior, e mais particularmente o sentido
profundo das escrituras cristãs, ou dos Livros Santos de outras religiões.
Segundo Santo Tomás de Aquino , discípulo de Alberto o Grande,
a Inteligência nos revela "o simbolismo superior dos Signos Sensíveis:
ritos, símbolos, matérias sacramentais, etc.".
Ela nos faz perceber, sob as aparências as realidades espirituais e
nos reflexos imperfeitos deste mundo, as realidades celestes deformadas ou
veladas. Assim, no carpinteiro de Nazaré, o Logos Criador; depois,
no Cristo deixando os Apóstolos na Ascensão, sua Glória
futura na época da Parúsia, no Fim dos Tempos.
A Inteligência nos mostra os efeitos na causa, por exemplo, no sangue
de Cristo, derramado no Calvário, a purificação de nossa
Alma e nossa reconciliação, para empregar um termo bem conhecido
de Martinez de Pasqually. E no flanco perfurado do Cristo, semelhante ao Pelicano
hermético da Rosa-Cruz, ela nos revela a fonte invisível e única
dos Sacramentos essenciais.