As
hierarquias Celestiais
A PRIMEIRA
HIERARQUIA
Serafins
Os escritos rabínicos associam-nos aos hayyoth (bestas sagradas que
sustentam o Trono de Glória). Anjos da esfera das estrelas fixas,
também denominada Cristalino, compete-lhes zelar pela manutenção
do equilíbrio universal. No Antigo Testamento apenas são referidos,
explicitamente, em Isaías (VI, 2) e, implicitamente, em Números
(XXI, 6), sob o epíteto de "serpentes ardentes". O Novo
Testamento não inclui qualquer menção expressa a eles,
apenas se achando subentendidos no Apocalipse (IV, 8): "E os quatro
animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro,
estavam cheios de olhos". Os serafinsocupam o lugar mais elevado da
Hierarquia Celeste, assistindo proximamente a Deus. Sendo os mais inflamados
no seu Amor, entoam incessantemente o trisagion "Santo, Santo, Santo"
(Apocalipse). Segundo o apócrifo III Henoch há apenas quatro
serafins, "correspondendo aos quatro ventos do mundo" e cada um
deles possui quatro faces e seis asas: duas cobrindo a face, duas os pés
e duas destinadas ao voo
Querubins
Embora o Pseudo-Dionísio declare que o termo querubim é sinónimo
de "conhecimento", o nome pelo qual são conhecidas as entidades
que integram este Coro é de origem assíria, babilónica
ou acádica (karibu), com o significado de "aquele que reza"
ou "aquele que intercede". Na tradição cananeia
primeva os querubins não eram concebidos como entidades angélicas,
antes como terríveis visões bestiais, destinadas a manter
Adão afastado da entrada do paraíso. No Talmud ora são
associados à Ordem dos ophanim (rodas ou carros), ora à dos
hayyoth (bestas sagradas). Um exegeta chama-lhes "claríssimas
luzes do Empíreo que só se ocupam no conhecimento de Deus
e das suas perfeições". Anjos regentes do Zodíaco,
responsáveis pelo curso ordenado dos planetas.
Para o neoplatónico Philon de Alexandria figuravam as mais elevadas
e principais potências divinas, bem como a soberania e a bondade (Sobre
os querubins). Trata-se dos primeiros anjos citados no Antigo Testamento
(Genesis, III, 22), cuja missão é guardar o jardim do Éden
e a Árvore da Vida com as suas espadas flamígeras, donde o
epíteto de "espada inflamada que anda ao redor" (Genesis,
III, 24). Os querubins são, geralmente, iconografados com cabeça
e duas asas. Deus ordenou a Moisés que colocasse sobre a Arca da
Aliança dois querubins de ouro, com as asas abertas e voltados um
para o outro (Exodo, XXV, 18-22 e XXXVII, 7-9), preceito que Salomão
decidiu manter no Templo (1 Reis, VI, 23). A tradição corânica
di-los nascidos das lágrimas derramadas por Miguel em consequência
dos pecados cometidos pelos fiéis, o que revela certo nexo semântico
com uma passagem de Ezequiel (XXVIII, 14-16), onde o profeta se reporta
a humanidade anterior à queda, pura como os querubins: "Tu eras
querubim ungido para proteger e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas,
no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos,
desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti".
Tronos
Anjos, ora adjudicados à esfera de Saturno, ora ao quarto céu.
Regentes do tempo, "têm a dignidade de serem firmíssimos
assentos de Deus". Referidos por São Paulo (Epístola
aos Colossenses, I, 16), é por seu intermédio, assevera o
Pseudo-Dionísio, que "Deus comunica a sua justiça à
humanidade". Figurados como rodas de fogo com asas rotativas, repletas
de olhos.
SEGUNDA HIERARQUIA
Dominações
As kyriotetes gregas, correspondentes aos hashmallin hebraicos. Anjos da
esfera de Júpiter, "presidem às coisas inferiores na
ordem da graça e da natureza e governam os seus ministros visíveis
e invisíveis", isto é, são responsáveis
pelas metamorfoses da matéria. Reportam-se-lhes II Enoch (XX, 1)
e São Paulo (Epístola aos Colossenses, I, 16). Segundo o Pseudo-Dionísio
compete às Dominações, na sua qualidade de anjos revelantes
e ministrantes, "regular as tarefas dos anjos", bem como "revelar
a majestade de Deus". Envergam alvas até aos pés, estolas
verdes e cintos de ouro e ostentam orbes e ceptros, como emblemas de autoridade.
Virtudes
As exsusiai gregas, equivalentes aos malakim ou tarshishim hebraicos. Anjos
da esfera de Marte que conferem a substância e a forma ao mundo sublunar
(das criaturas carnais). A sua tarefa principal consiste em operar milagres
em benefício da humanidade. No apócrifo Livro de Adão
e Eva, duas Virtudes, acompanhadas por doze outras entidades angélicas,
prepararam Eva para o nascimento de Caim. Eusébio de Cesareia identifica
como Virtudes os dois anjos que escoltaram Cristo na sua Ascensão.
Potestades
Dynamis, segundo a Versão dos Setenta. Anjos da esfera do Sol, têm
"poder e mando sobre os outros Coros". Reportam-se-lhes II Enoch
(XX, e São Paulo (Epístola aos Colossenses, I, 16). Em outras
passagens das suas Epístolas o Apóstolo dos Gentios pondera
a possibilidade de as Potestades serem (ou poderem tornar-se) malévolas.
Anjos exequentes, compete-lhes assegurar a ordem nos caminhos celestes.
O Pseudo-Dionísio assevera que são as Potestades quem impede
as entidades demoníacas de subverterem o mundo. São João
Baptista é considerado participante neste Coro, graças ao
seu comportamento como o mensageiro e anjo de Jesus.
TERCEIRA HIERARQUIA
Principados
Do grego, archai, arqueus. Anjos da esfera de Vénus, responsáveis
pelo advento e decadência das civilizações. Reportam-se-lhes
II Enoch (XX, 1) e São Paulo (Epístola aos Colossenses, I,
16). Os Principados têm poder sobre o tempo, competindo-lhes, à
semelhança dos Arcanjos, "a guarda dos Reis, Príncipes
e Reinos, Províncias, Cidades, a Igreja Universal, as religiões,
os conventos, as paróquias, os bispos e os prelados e pessoas constituídas
em Dignidade [
]" (D. António Caetano de Sousa, Agiológio
Lusitano, v. 4, p. 216), a quem influenciam na tomada de decisões.
Voragine associou-os ao mistério eucarístico.
Arcanjos
Do latim, archangelus, acima de anjo. Anjos da esfera de Mercúrio,
os quais partilham com os Principados a condução do destino
dos povos e nações, competindo-lhes, de acordo com o Pseudo-Dionísio,
a comunicação dos decretos divinos, bem como "as obras
mais heróicas e graves", eventualmente, a razão por que
envergam armadura. No Novo Testamento o termo arcanjo ocorre apenas duas
vezes, nas Epístolas I aos Tessalonicenses e de São Judas,
na qual só São Miguel é citado como pertencendo a esta
Ordem de entidades angélicas. Dos sete arcanjos que "estão
diante da face de Deus" (Apocalipse, VIII, 2), os três principais
(e únicos admitidos pelo concílio de Latrão, de 756,
por se acharem citados na Bíblia), são São Miguel [=
"grande príncipe" (Daniel, XII, 1)], São Gabriel
[= "Anjo intérprete" (Lucas, I)] e São Rafael [anjo
curador (Tobias, XII)]. Os nomes dos restantes não são consensuais,
ocorrendo as variações mais sensíveis nos apócrifos
e nos deuterocanónicos (quadro II). Miguel, Gabriel, Rafael e Uriel
são citados nos Papyri Graecae Magicae como arcontes (grandes anjos),
com a função de proteger e tutelar as nações.