A
origem do Homem.
Saint Martin
Agora podemos chegar a uma idéia concreta sobre a origem do Homem.
O Homem nasceu e nasce continuamente na Fonte Eterna que não deixa
de ser a perpétua embriaguez de suas próprias maravilhas e
deleites. Esta é a razão pela qual afirmamos freqüentemente
que o Homem pode viver somente pela admiração, uma vez que,
como mostrado pelo autor Alemão citado, nenhuma criatura pode ser
mantida senão pela substância ou frutos de sua própria
mãe.
O Desejo e a Vontade.
Contudo, o Homem também nasceu na Fonte do desejo; pois Deus é
um Desejo e uma Vontade Eterna de ser manifestado; Sua magia, ou a doce
impressão de Sua existência, pode se propagar e se estender
a tudo aquilo capaz de a receber e a sentir. O Homem também deve
viver através deste desejo e desta vontade; e ele é encarregado
de manter estas sublimes afeições com ele; pois, em Deus,
o desejo é sempre vontade, enquanto que no Homem o desejo dificilmente
atinge este termo, sem o qual nada pode ser feito. É através
deste poder, dado ao Homem de elevar seu desejo ao caráter de vontade,
que ele deve realmente ser uma imagem de Deus.
A União entre a Vontade Divina e o desejo do Homem.
De fato, o Homem pode fazer com que a Vontade Divina propriamente dita venha
até ele para se unir com seu desejo; a partir de então ele
passa a trabalhar e a atuar de acordo com a Divindade, que se digna, por
assim dizer, a compartilhar Sua obra, Suas propriedades e Seus poderes com
o Homem: e se, ao lhe dar o desejo, que é como a raiz da planta,
Ele reserva a Vontade, que é como seu botão ou flor, não
é com a intenção de que o homem permaneça na
privação desta Vontade Divina e não a conheça;
mas, ao contrário, Seu desejo é que o homem chame por ela,
a conheça por ele mesmo; pois, se o Homem é a planta, Deus
é a seiva ou a vida. E o que seria da árvore se a seiva não
corresse em suas veias?
O Pacto Divino.
É nesta profundidade, nas regiões naturais e verdadeiras da
emanação do Homem, que o pacto divino é estabelecido;
tal pacto liga a Fonte Suprema ao Homem. Através deste pacto, a Fonte
Suprema, só podia transmitir ao Homem todos os seus próprios
gérmens sagrados, se acompanhados de todas as fundamentais e incontestáveis
leis que constituem sua própria Essência criativa Eterna, das
quais não pode se separar sem deixar de existir. Este pacto não
sofre alterações, como sofrem os pactos materiais pela vontade
das partes.
Ao formar o Homem, a Fonte Suprema haveria de ter-lhe dito: "Com os
fundamentos eternos ou com as bases de meu ser, e as leis, eternamente inerentes
a eles, Eu te constituo, Homem; Não tenho regras para fixar a ti
senão aquelas que resultam naturalmente de minha eterna harmonia;
não tenho nem mesmo a necessidade de impor qualquer penalidade a
ti se não as infringi-las; cada cláusula de nosso pacto está,
exatamente, nas bases de tua constituição. Se tu observá-las
e não cumpri-las, irás causar teu próprio julgamento
e punição; pois, a partir deste momento deixarás de
ser Homem.
O Pacto se estende por toda a Natureza.
Podemos observar este princípio em toda cadeia de seres, onde descobriremos
que todas as criações estão ligadas, cada uma de acordo
com sua classe, à sua fonte gerativa por um tratado implícito;
destas fontes procedem todas as suas leis; e, na verdade estes seres caíram
em desarmonia no momento em que estas leis foram infligidas, leis que carregam
em sua essência e que são recebidas de suas fontes gerativas
no instante em que lhe dão a vida.
O peso, número e medida na Natureza.
Ao prestarmos atenção nas leis fixas e regulares, pelas quais
a Natureza produz e governa todas as suas obras, e acompanhando, passo a
passo, cuidadosamente, as pistas deixadas por ela, reconheceremos em todo
lugar, um peso, um número e uma medida que são os inseparáveis
ministros da Natureza; eles mostram que existiam, primitivamente, na Fonte
mencionada acima, e constituem o ternário eterno, cuja imagem encontramos
em nós mesmos; sobre eles repousa o pacto divino.
Vemos, além do mais, que estas três bases, satisfazem o Onipotente,
pois estabelecem as fundações de todas as obras da Natureza
caracterizando externamente todas as variedades de Sua produção,
ou aqueles desenvolvimentos externos da forma, cor, duração,
cheiro, propriedades essenciais, qualidades etc., coisas que não
são números, embora possuam números para manifestação
e indicação.
É desta forma que o ternário Universal varia, ad infinitum,
multiplicando suas operações, e as mantendo sempre em operação
no infinito do qual dependem; assim, o Homem nunca pode numerá-las
ou apoderar-se delas; e, de fato, é suficiente para ele ter o uso
destas operações; ele está proibido de as possuir com
suas propriedades, já que, através desta multiplicidade de
meios que o todo poderoso possui de variar as manifestações
de seu ternário Universal, Ele assegura somente a si mesmo, o direito
de propriedade deste ato gerativo; nunca deixando, contudo, de manifestar
esta infinidade, de forma externa, para que seja admirada.
Os poderes opostos na Natureza.
Sem o poder contrário, que trouxe desordem para o Universo, a Natureza
não conheceria desarmonia alguma, e nunca se separaria das leis prescritas
pelos planos Eternos; mas, apesar de sua desordem, quando consideramos a
Natureza como sendo composta de tão vários instrumentos e
órgãos, servindo como canais para a vida universalmente difundida,
percebemos uma gradação em suas obras, que nos faz admirar
aquela sabedoria beneficente que direciona o curso harmonioso das coisas.