A
filosofia dos números
Saint Martin
Os paradoxos matemáticos propostos por Saint-Martin podem ser vistos,
quase que incontestavelmente, como sutilezas desenvolvidas por ele da doutrina
oculta dos números recebidas por ele na época de sua iniciação.
A própria doutrina devia ser ela mesma simples o bastante e sem qualquer
objeção ou crítica à Matemática. Ela
estava limitada a relacionar certas idéias místicas aos números
e a esse respeito, ela é de interesse elevado para o estudante de
ocultismo, porque o seu misticismo numérico é um tanto quanto
contrário ao de qualquer outra escola conhecida, especialmente ao
tratar o quinário como um número maléfico, depois de
tudo que já escutamos em ocultismo, a respeito das maravilhosas revelações
do pentagrama. Alguém pode ponderar a respeito das idéias
de Saint-Martin a respeito dos números e se perguntar se elas foram
inteiramente concebidas por ele, ou não.
Parece-nos que a doutrina numérica de Saint-Martin são apenas
fragmentos retirados de um edifício de conhecimento ocultista. Também
é necessário acrescentar que ele não exagerou a respeito
da importância da ciência que ele adquiriu, desta forma. Ele
afirma que: "desde o seu ingresso na primeira escola, ele nunca havia
pensado que os números forneciam mais do que a substância corriqueira
da matéria em si mesma" (Correspondência Teosófica,
carta LXXIV). Entendemos por isso que os números são um método
de classificação que pode ser convencional, ou que são
símbolos estabelecidos que não devem ser entendidos literalmente;
desta forma quando ouvimos o número da matéria, o número
do homem e assim por diante, devemos depreender um caráter oculto
essencial, ou "virtude", mais ou menos arbitrariamente atribuída
para fazer analogias rapidamente.
Isto está demonstrado muito claramente por outras palavras dele mesmo:
"Os números são a expressão perceptível,
sejam sensoriais ou intelectuais, das diferentes propriedades dos seres,
os quais todos se originam da fonte única. Apesar de deduzirmos da
tradição e de ensinamentos teóricos uma parte desta
ciência, só a regeneração nos mostra a verdadeira
base, assim, cada um a seu modo, obtêm as verdadeiras chaves sem mestres"
(Corresp. Teosófica, carta XC). "Além disso, os números
expressam verdades, mas não as dão; o homem não escolheu
os números, mas os discerniu nas propriedades naturais das coisas"
(Corresp. Teosófica, carta XCII).
Através desta introdução, orientamos sobre a forma
mais aproximada de se enxergar um assunto obscuro que é tratado sem
muita luminosidade. Agora, nos propomos a apresentar a doutrina geral de
Saint-Martin a respeito da filosofia dos números que foi extraída
de uma série de dissertações, em grande parte dos escritos
do próprio Saint-Martin.
Os números são as traduções resumidas ou a linguagem
concisa daquelas verdades cujos textos e conceitos estão em Deus,
no homem e na Natureza ("Os números são os envoltórios
invisíveis dos seres, assim como os corpos são seus invólucros
perceptíveis" - Tableu Naturel). "Devemos tomar o cuidado
de separar os números das idéias que são representadas
por eles, pois assim eles perdem toda sua virtude e são como a sintaxe
de uma linguagem cujas palavras nos são desconhecidas" (Os Números).
O caráter de cada número, na série de dez, pode ser
descoberto pela operação particular à qual ele está
ligado e ao objeto no qual o número repousa. Se segue daí
que a virtude dos seres não está nos números, mas aquele
número é em virtude daqueles seres dele derivados. "Grandes
vantagens podem ser conseguidas pelos homens através da inteligência
do uso correto dos números. O desenvolvimento das propriedades dos
seres é ativo e estas propriedades têm inúmeras correspondências
crescentes e decrescentes entre elas; portanto a combinação
dos números, tomada na regularidade dos sentidos neles descobertos
por uma observação racional, nos levará a especulações
incertas, e poderá retificar o que é falso, considerando que
este cálculo verdadeiro e espiritual, ou álgebra das realidades,
como os cálculos e a álgebra convencional das aparências,
a partir do momento que seus valores são conhecidos, nos levarão
a resultados precisos e positivos" (Os Números).
Mas, originalmente, os números recebem os seus valores a partir da
natureza das coisas e não da vontade humana; eles nos conduzem a
verdades relativas as causas primeiras, fundamentalmente ligadas ao nosso
ser. "Sem a chave dos números, as correspondências entre
as três regiões da verdadeira filosofia: divina, espiritual
e natural, não poderiam ser estabelecidas ou observadas corretamente"
(Os Números).
"Entre as maravilhas oferecidas àqueles que circunspectamente
caminham na trilha dos números, não apenas somos ensinados
a admirar a magnificência de Deus, mas também a distinguir
entre aquilo que nos é permitido conhecer, daquilo que é permanentemente
velado à nossa compreensão e fora do alcance de nossa compreensão"
(Os Números). A forma de nossa emanação e geração
na unidade divina é um conhecimento a nós interditado, porque
o Trabalho de uma emanação está reservado ao Princípio
Supremo e a sabedoria a respeito daquela criação também
é reservada a Ele.
"Com este conhecimento, deveríamos ser independentes Dele, poderíamos
realizar o Seu trabalho e, numa palavra, seríamos Deus como Ele.
"Mas enquanto a lei dos números impede este conhecimento, ela
também oferece a prova de que a nossa criação é
divina e demonstra que nos originamos diretamente de Deus" (Os Números).
No verdadeiro cálculo, há raízes que são fundamentais
e aquelas que não o são. O mesmo acontece com alguns poderes;
enquanto que no cálculo aritmético todas as raízes
são contingentes e todos os poderes variáveis. No verdadeiro
cálculo, o nome do poder essencial pertence especificamente a um
homem, mas não àquele da raiz essencial; e é na observação
destas duas sentenças que encontramos, de uma vez por todas, a prova
de que nos originamos de Deus e a impossibilidade de se saber de que forma
nós nos originamos.
Simultaneamente Saint-Martin observa que entre as coisas que o homem perdeu
em sua Queda, estava o conhecimento das raízes dos números.
Este conhecimento é agora, impossível para o homem, pois ele
não conhece a primeira de todas as raízes. Portanto, o mundo
não sabe que concepção formar a respeito dos números.
Para obter este conceito devemos refletir no que deve ser o princípio
das coisas; se existe em seu peso, seu número e sua medida. "O
número é aquilo que engendra a ação, a medida
é o que governa esta ação e o peso é o que a
opera" (Dos Erros e da Verdade). "Eles estão no seio da
Sabedoria que acompanha a todos os seres ao serem gerados, isto lhes concede
uma emanação de sua própria essência e ao mesmo
tempo de sua sabedoria, de que a criação pode ser a sua semelhança.
Portanto, todos os seres têm consigo uma parcela daquele peso, daquele
número e de sua medida" (Trabalhos Póstumas).