A Reintegração Universal
Por Robert Ambelain
"Nada
pode repousar em si mesmo, a menos que retorne para o lugar de onde saiu..."
(Jacob Boehme: "Misterium Magnum", Resumo Final).
Sabemos que a reintegração do Cosmos, de todas as Criaturas
espirituais ou materiais é o fim último da Alquimia verdadeira.
Segundo a tradição rosacruciana autêntica, em efeito,
o Universo todo se degradou com o Homem, seu guardião inicial. Há,
no Gênesis, uma frase à qual se dá pouca atenção
nos meios cristãos ordinários. Hei-la aqui:
"Doravante, o solo ( ) não produzirá nada além
de espinhos e cardos, a Terra será maldita por causa de ti..."
Esta frase evoca certamente o hylé dos gnósticos, que designavam a matéria prima do Mundo inferior, do Universo. No Grego antigo, a palavra hylé era utilizada para designar o bosque, a mata, a floresta, inexplorada. Este termo se opõe ao Éden Bíblico, palavra que significa um jardim, e por extensão, oriente a luz. Adão estava primitivamente no Éden, mas após sua queda moral, tendo desejado conhecer o Bem e o Mal, o Éden se transformou no Hylé. Da mesma forma que ele havia se revestido de folhas (sua integração no plano vegetal), depois de peles de animais (sua integração no plano animal) (Gênesis: II, 7 e II, 21), assim também o Éden se cristaliza e se obscurece. Ao jardim de luz, situado num "plano" superior, sucede um Universo material, tenebroso, no qual todos os elementos se densificam e se materializam.
Escutemos aqui
a Louis-Claude de Saint-Martin:
"Homem, o mal é ainda muito grande. Não diga mais que
o Universo está sobre o seu leito de dores, diga: o Universo está
sobre seu leito de morte, e é a ti que restam os seus últimos
deveres; é a ti que cabe reconciliá-lo com a Fonte Pura de
onde ele caiu, Fonte esta, que não é Deus, mas é um
dos eternos órgãos de Sua Potência, e do qual o Universo
jamais deveria ter se separado. É a ti que cabe reconciliá-lo
com ela, purgando-o de todas as substâncias impuras das quais ele
não cessa de se impregnar desde a Queda, e purificá-lo de
haver passado todos seus dias na vaidade..."
(L. C. de Saint-Martin: "Ministério do Homem Espírito").
"Aprendei
aqui um segredo imenso e terrível: Coração do Homem,
tu és o único caminho por onde o Rio da Mentira e da Morte
se introduz diariamente sobre a Terra... Coração do Homem,
quantos séculos levarás para tirar de ti esta estranha larva
que te infecta? Compreendei os esforços dolorosos e lancinantes que
fazem os mortais para vomitar essa semente de morte? Choras, pois o Coração
do Homem, que devia ser o obstáculo das Trevas e do Mal ( ), tornou-se
a luz da abominação e o guia do Erro... Choras, pois o Mal
encontra fechadas todas as saídas, e se reduz a vagar cegamente na
espessa noite de suas tenebrosas Cavernas..."
(L.C. de Saint Martin: "O Homem de Desejo").
Os Mestres
misteriosos que suscitaram primeiramente a Martinez de Pasqually, lhe confiaram
as chaves da regeneração universal, como veremos mais tarde.
A seguir, eles suscitaram L.C. de Saint Martin, seu discípulo mais
próximo, e lhe confiaram a chaves da reconciliação
individual. Mas, evidentemente, é inútil ater-se ao problema
da regeneração do Universo e de seus componentes, se nós
não conduzimos uma ação semelhante e paralela dentro
de nós mesmos!
Entretanto, como já foi visto, tudo se acha harmoniosamente neste
conjunto. E nós reencontramos novamente a venerável ciência
que nos guiou nas páginas anteriores, e que se limita à regeneração
no mundo metálico.
A Alquimia tende a reproduzir, nesta miniatura do Universo que é o matraz, a ação do Artesão Universal, tomando os elementos desorganizados e corrompidos, harmonizando-os e amalgamando-os, para conduzi-los até à perfeição final. Assim, por esse ensinamento experimental, esta Operação de longo cozimento que constitui a Grande Obra aurífera, coloca seu discípulos na condição de seguir, e reproduzir todo o processo misterioso pelo qual o Animador Divino joga seu "jogo de Amor". Tal é, verdadeiramente, o magistério filosófico por excelência, pois é somente a Alquimia que pode ensinar ao Homem esses rudimentos experimentais e probatórios que o conduzirão para a Certeza Absoluta. E é ela também, a mestra verdadeira que lhe dará, primeiramente uma gnose, depois uma fé.