Introdução Ao Estudo Da Magia Natural
sobre as influências dos astros
Francis Barret - 1801
Há
muito tempo se discute se os astros, co mo causas secundárias, governariam
e influenciariam ou não uma pessoa a ponto de gravar em sua natureza
determinadas emoções, virtudes, propensões, etc., que
nela se enraizariam no exato momento crítico do seu nascimento neste
vale de miséria e sofrimento. Discute-se também se o local e
a configuração desse momento mostrariam os propósitos
e interesses futuros, e se os astros, por meio de suas revoluções,
translações e direções, indicariam os acontecimentos
específicos do corpo, o casamento, a doença, o trabalho e outros
aspectos deste tipo. Já há muitos anos este tópico é
objeto de minhas reflexões, e sempre defendi calorosamente a divinação
astrológica ou astrologia. Por tanto, urge examinarmos até onde
esta influência se estende no ser humano que admito inteiramente o homem
ter sido agraciado por Deus com o livre arbítrio , impossível
de ser contrariado pelos astros. O Ser humano pode e consegue apreender toda
e qualquer divinação.
e coisas miraculosas. Temos um sistema completo dentro de nós mesmos
e por esta razão somos chamados de microcosmo, ou mundo pequeno, pois
desde o princípio, quando Deus colocou em nós a imagem de Si
mesmo, levamos o céu dentro de nós. Somos a epítome de
todas as criaturas e por isso precisamos ter o cuidado de não confundir
as coisas. Apesar disso, o ser humano, padrão deste vasto mundo, entra
em empatia com ele de acordo com os astros, que, segundo as Escrituras Sagradas,
existem para marcar as horas e as estações e não para
serem causas deste ou daquele mal que possa penetrar nos remos ou no seio
das famílias. Embora os astros até certo ponto prenunciem-nos,
de modo algum são suas causas. Portanto, a afirmação
de que "Os astros governam o homem, mas o sábio governa os astros"
tem para mim um sentido muito diferente do que para a maioria das pessoas.
Minha resposta a isso é a seguinte: os astros não governam as
pessoas segundo a estabelecida opinião vulgar, como se incitassem-nas
a assassina tos, motins, brigas, luxúria, fornicações,
adultérios, embriaguez, etc. Esta doutrina é defendida pelos
astrólogos, porque, como dizem, Mar te e Saturno em conjunção
causam isto e muito mais que isto, como também o fazem muitas outras
configurações e confluências dos dois grandes infortúnios
(como eles são chamados), quando os planetas benéficos Júpiter,
Vênus e 'o Sol estão desfavorecidos ou enfraquecidos. Os astrólogos
dizem que nestas ocasiões as pessoas influenciadas por Marte e Saturno
ficam extremamente propensas a cometer as transgressões acima mencionadas.
No entanto, por sua livre vontade, um sábio pode anular estas paixões
e tendências, o que então os astrólogos chamam de "Governar
os astros". Mas eles que saibam, segundo o senti do exposto aqui, que
em primeiro lugar o sábio não resiste às más ten
ciências a não ser pela graça de Deus, e a ninguém
chamamos de sábio a não ser àquele dotado de graça,
pois, como já o dissemos, toda a sabedoria natural vinda pelas mãos
do homem é tolice aos olhos de Deus. Atues não se compreendia
que o sábio fosse aquele que é cercado de graça. Para
que iria governar os astros aquele que em momento algum com medo das tendências
já conquistadas? Portanto, um homem sábio, por natureza, está
tão sujeito à escravidão do pecado quanto os outros mais
ignorantes, ainda que os astros não o empurrem para o pecado. Deus
criou o céu sem mácula, e viu que era bom, portanto é
o maior dos absurdos supor que os astros nos tentariam incessantemente a cometer
esta ou aquela má ação, fato que teríamos de admitir
se afirmas sem os serem eles as causas das tendências. Sabemos, no entanto,
que as tendências maléficas surgem pelo pecado, mas de dentro
e não de fora. Segundo as escrituras ''É do coração
do homem que procedem os pensamentos maus, as calunias, os adultérios,
os roubos, ,os assassinatos, etc". Como o céu e a capacidade de
captar todas as virtudes ce lestes estão impressos por Deus na alma
e no espírito do ser humano, quando este se mancha pelo pecado e pela
satisfação do seu apetite carnal e grosseiro, torna-se a sede
dos Poderes Infernais, o que pode ser adequadamente considerado um inferno.
Neste estado, o sentido corporal e carnal obscurece a pureza e a sutileza
luminosa do espírito, que então se torna instrumento da ação
do nosso inimigo espiritual para realizar todas as paixões e luxúrias
infernais,
Por esta razão, é de máxima importância estarmos
conscientes do cuidado em não atribuir aos astros quaisquer efeitos
ou crer que sua in fluência seja maior que a meramente natural, Neste
país, muitas pessoas com quem já conversei, homens notáveis
até, afirmam sem titubear que os astros são os causadores de
todos os tipos de doenças, tendências e casualidades, culpados
de todas as suas más condutas e infelicidades.
No entanto, não pretendemos com este discurso impedir ou negar totalmente
a influência dos astros, Ao contrário, afirmamos que existe simpatia
e antipatia naturais entre todas as coisas do Universo, manifestas numa variedade
de efeitos. Afirmamos também que os astros, na qualidade de signos,
prenunciam grandes mutações, revoluções, a morte
de homens notáveis, governadores de províncias, reis e imperadores,
assim como o tempo, tempestades, terremotos, inundações, etc.,
tudo de acordo com as leis da Providência O destino de todos os seres
humanos está nas mãos do Senhor, pois Ele é o princípio
e o fim de todas as coisas. E pode destronar reis, desfazer os mais cautelosos
planeja mentos e decisões do homem, que, ao se julgar seguro, cai de
cabeça do assento do poder e jaz contorcendo-se no pó.
Portanto, nossos astrólogos tateiam no escuro na maioria de suas especulações
pois julgam que cada coisa possa ser conhecida ou ser lida nos astros. Até
se alguém perde uma colher de prata, os inocentes astros são
obrigados a prestar contas do fato. Se uma velha solteirona perde seu cachorrinho
favorito, lá vai ela a um oráculo ou a um adivinho para obter
informações sobre o maroto, Oh! credulidade desprezível,
pensar que esses corpos celestes tomam conhecimento disso e, em suas configurações
e aspectos, dão informação contínua sobre as transações
mais baixas e mais vis dos velhos caducos, as mais triviais e frívolas
questões que alguns fingem resolver inspecionando os céus. Os
nossos legisladores são justos ao condenar como impostores todos esses
vagabundos preguiçosos que infestam diversas partes desta metrópole
e que, em troca de uma taxa de um xelim ou meia coroa, aproveitando-se dos
simples e ingênuos respondendo 'a qualquer coisa ou circunstância
colocada por ele , como se fossem os representantes de Deus na Terra,os seus
conselheiros nomeados especialmente.
Eles nem têm escrúpulos em enganar pobres mortais da classe Inferior,
mostrando imagens em vidros, como se realmente confabulas sem com os espíritos
malignos. Citarei aqui um exemplo marcante que aconteceu recentemente nesta
cidade. Dois mendigos franceses, tirando vantagem da credulidade das pessoas
comuns que sempre se agarram a tais brinquedos, planejaram um telescópio
ou lente ótica onde diversas letras e figuras se refletiam de maneira
obscura, mostrando imagens de homens e mulheres, etc. Assim, quando estes
impostores eram consultados por alguém, após embolsar a taxa
usual, dependendo da urgência do pedido, produziam respostas através
daquelas figuras ou letras. O consulente se impressionava tanto com a imagem
no vidro, que supunha estar segurando alguma coisa diabólica nas mãos,
totalmente convencido de ter visto realmente as pessoas que desejava ver,
embora estas pudessem estar a centenas de milhas de distância. Impressionada
a partir de uma idéia preconcebida de ter visto a imagem de seu amigo
nessa máquina ótica, a pessoa saía dali espalhando, junto
com dez mil mentiras, que tinha testemunhado um milagre. É possível
enganar desse jeito apenas o ignorante, que prefere engolir as mais abomináveis
mentiras e preconceitos a desistir de suas ilusões. Por exemplo, um
ser racional poderia ser convencido de que uma criatura do seu tamanho e estatura
pudesse de alguma maneira enfiar-se dentro de uma garrafa? E o que foi apregoado
ao público por um velhaco folgazão (que não acreditava
que tais bobos existissem), dizendo que o faria num teatro público.
Reuniram-se mais de 600 pessoas para assistir à transação,
crentes de que o sujeito manteria sua palavra, quando, para a grande mortificação
e desgraça de sua audiência expectante, o conjurante adiantou-se
em meio a grande tumulto e gritos de "E agora! Veja mos! Agora! Vejamos!
Ele está prestes a pular para dentro". "Em verdade,"
disse o conjurante, "senhoras e senhores, não o farei; pois se
fostes tão tolos a ponto de acreditar em tamanho absurdo, não
sou es perto o suficiente para fazê-lo" - então, fazendo
uma mesura, ele desapareceu, para grande desconforto dos espertos, que imediatamente
se retiraram da melhor maneira que puderam.
Quanto aos mágicos do telescópio, foram presos pela polícia,
na Bow Street. Seus parentes nem ao menos fizeram-lhes a gentileza de tentar
resgatá-los.
Terminemos, porém, com essas coisas que não merecem a nossa
atenção de filósofos e prossigamos com os assuntos de
natureza superior. Devemos salientar, quanto ao que dissemos antes a respeito
das influências dos astros, que Ptolomeu, ao falar em seu quadripartido
sobre generalidades, chega bem perto de nossas idéias sobre influência
planetária. Sem duvidarmos disso por um instante sequer, não
admitimos, ( em verdade, não é necessário, já
que existe uma astrologia na Natureza) cada ação de nossa vida,
nossos sofrimentos, sucessos, acidentes sejam atribuídos à força
de influência dos planetas. Isto procede de nós mesmos. Admito,
porém, que nossos pensamentos, ações, cogitações,
entram em harmonia com os astros segundo o princípio geral de harmonia.
Além disso, existe uma simpatia muito mais intensa entre as pessoas
de constituição e temperamento semelhantes, pois cada criatura
mortal possui um Sol e um sistema dentro de si. Portanto, de acordo com a
harmonia universal, somos afetados pela influência geral ou o espírito
universal do mundo, o princípio vital que permeia o Universo inteiro,
Por isso, não devemos procurar nas configurações dos
astros as causas ou os estímulos para as tendências bestiais
do homem, pois os animais recebem suas tendências próprias da
espécie por hereditariedade, não pelo signo do horóscopo.
A capacidade do ser humano de praticar ações e excessos animalescos
procede por natureza tão somente do ser seminal infundido em sua composição.
A alma, imortal e dotada de livre-arbítrio, que age sobre o corpo,
não pode ser influenciada por nenhuma configuração dos
astros nem para o bem nem para o mal. A alma se inclina para o mal quando
se deixa seduzir pelo peca do por sua livre vontade, que é atributo
de seu próprio poder imortal. Mas, iluminada por Deus, ela desabrocha
para o bem, Enquanto está neste frágil corpo, a alma se alimenta
deste ou daquele princípio, segundo a sua tendência. Esse assunto
será aprofundado ao investigar mos a magia natural da alma, onde estudamos
exaustivamente cada ponto sugerido por nossa própria imaginação
e pelas experiências científicas, provando que a virtude divina
foi incrustada na alma pelo Criador, desde a sua origem.
Retornemos à astrologia, especialmente para saber qual é a parte
necessária para a nossa utilização, da qual selecionaremos
aquilo que for puro e pertinente ao nosso propósito, para entendermos
e realizar mos diversas experiências no decurso dos nossos trabalhos,
deixando de lado os cálculos tediosos das datas de nascimento, as infindáveis
controvérsias e sofismas dos que a professam, as dissensões
que surgem em torno das diversas maneiras de praticá-la. Tudo isto
deixamos para o labutador calculista. Mostrar-lhe-emos detalhadamente que
tudo que ele pensa poder predizer inspecionando o horóscopo de uma
data de nascimento, através de longos estudos e contemplações
tediosas, passando as noites em claro, tudo o que ele possa mostrar a respeito
de mutações pessoais ou nacionais, mudanças, acidentes,
etc., etc., tudo isso conhecemos através de um método muito
mais fácil e rápido. De maneira mais compreensível, clara
e inteligível, podemos mostrar e distinguir tudo isso até o
mínimo detalhe por meio de nossa Cabala, que sabemos ser verdadeira,
sem desvios, truques, falácias ou fraude, ou qualquer tipo de engodo
ou embuste. Extraímos esta Cabala ou astrologia espiritual da Fonte
do Conhecimento, com toda a simplicidade, humildade e verdade, sem nos vangloriarmos.
Glorificamos Aquele que nos ensina através de sua misericórdia
divina, cuja bondade ilumina as coisas espirituais e divinas para que possamos
vê-las. Isto nos dá segurança em meio às maiores
tempestades de ódio, malícia, orgulho, inveja, hipocrisia, leviandade,
obrigações, pobreza, aprisionamento, ou outra circunstância
externa qualquer. Assim nada nos falta e estamos sempre ricos, alimentados
com deliciosas iguanas e gozando com abundância todas as coisas boas,
necessárias para o nosso sustento. Não nos vangloriamos futilmente
de tudo isso como se fosse figurativo, ideal ou quimérico, pois é
real, sólido e eterno, com o que exultamos e nos deliciamos e glorificamos
seu nome para todo o sempre: Amém.
Estamos anunciando tudo isso ao mundo pela honra de nosso Deus, sempre prontos
para praticar toda a bondade que pudermos para com o nosso próximo
pobre e confortar o doente ou o desesperado, na medida do possível,
sem pedirmos nenhuma recompensa: é suficiente pa ra nós a oportunidade
de fazê-lo e sermos aceitáveis para Aquele que diz "Eu sou
a luz do mundo" - a quem, junto com o Pai e o Espírito Santo,
é conferido todo o poder, glória, majestade e domínio:
Amém.