O Mediador Plástico
Carta de Stanislas de Guaita a Nicolas Brossel


Vejo com prazer que o senhor tem real interesse pelas coisas do ocultismo e me apresso a responder suas perguntas.
No que concerne ao mediador plástico, sua existência é um fato inegavelmente estabelecido pelo estudo cabalístico dos fenômenos. Mas a razão dogmática de seu Ser repousa na grande lei das analogias universais. A analogia nos ensina, como o senhor poderá perceber ao longo de seus estudos esotéricos, que o espiritual jamais pode agir diretamente sobre o material. Trata de uma lei imutável. O próprio Deus não pode agir sobre as coisas físicas senão por intermédio de toda a hierarquia por ele preestabelecida; esta é, para ser preciso e num de seus sentidos, a razão do simbolismo da escada de Jacó O Divino age sobre o Intelectual, o Fluídico sobre o Material. Querer fazer comandar diretamente o material pelo Divino é querer um absurdo; e Deus só é limitado em sua potencialidade pelo absurdo. Se a Razão Eterna quisesse o absurdo ela se contradiria; negaria sua própria existência e sua anterioridade suprema. Cima coisa, Diz São Tomé, não é Justa porque Deus a quer; mas Deu, a quer porque ela justa.
De resto, para que estender mais essa explicação? Eu precisaria de trinta páginas para tratar completamente de uma questão assim capital, e isso seria infinitamente menos claro do que o que o senhor pode ler à vontade em Eliphas Levy, visto que parece decidido a obter suas obras. A propósito, embora todas elas tenham a mesma importância, aconselho que comece por La Clef des Grands Misteres ("A Chave dos Grandes Mistérios"); que continue com Histoire de la Magie ("História da Magia"), depois com Dogmes e Rituels de la Haute Magie ("Dogmas e Rituais da Alta Magia"); a seguir, indiferentemente por uma das três outras obras. Esta talvez não seja aparentemente uma ordem muito lógica; mas tenho minhas razões para aconselhá-la ao senhor.
Ao me perguntar o que significa a dupla corrente de luz mercurial, o senhor me pede simplesmente a fórmula do incomunicável Grande Arcano que nunca se pronuncia, mesmo entre Adeptos liberados. O senhor encontrará em Eliphas as mais claras explicações que é possível fornecer. Chego a ter a pretensão de que, com meu pequeno sumário (que é a síntese mais imprudentemente clara que existe), o senhor poderá já de início guiar-se de tal maneira no labirinto das mil explicações parciais de Eliphas, que lhe será cômodo chegar por si mesmo a vislumbrar a verdade, que é, neste caso particular, a fórmula do Grande Arcano no mundo dos fenômenos ou terceiro mundo. Pois, cada arcano tem três fórmulas, cada uma das quais se relaciona com um dos três mundos, cujas fronteiras creio ter delimitado claramente.
Permita-me dizer-lhe, para terminar, caro senhor, que a princesa Riazan não existe mais junto ao humilde Nébo que eu sou, do que o Sr. Péladan é o Mérodack do Vice Supreme .
Rogo que aceite meus mais nobres sentimentos.