A
Luz e a Vida
Paul Le Cour
Não
é sem interesse mostrar que existem relações entre
a luz e os bioelementos, isto é, os principais elementos químicos
que caracterizam a evolução di vida, e que foi a luz que criou
a vida sobre a terra.
Na revista Atlantis, publiquei um estudo sob este título: A luz e
a vida onde aventei a hipótese de que os bioelementos (o carbono,
o hidrogênio, o oxigênio, o azoto) estão em relação
direta com as principais radiações luminosas.
Pelos trabalhos de Louis de Broglie sabemos que a matéria é
energia que contém luz e calor; a desintegração atômica
demonstrou-o de uma forma irrefutável. Mas ainda não foram
percebidas as relações que existem entre as diversas radiações
da luz solar e os bioelementos, nem se compreendeu ainda, embora isso já
esteja contido na lenda do nascimento de Vênus-Afrodite, desde a mais
remota antiguidade, que foram radiações luminosas que formaram
nas águas primitivas a primeira matéria viva.
Com efeito, no mito do nascimento de Vénus, contado na Teogonia de
Hesíodo, 800 anos antes de nossa era, vemos Kronos, o Tempo, mutilar
seu pai Urano, o Céu (Aur-Iuz) e lançar no mar os restos de
sua virilidade. E é do sêmen do Urano que nasce Afrodite. Eis
por que Botticelli representou Vénus saindo das ondas, de pé
numa concha de Santiago, símbolo solar.
As principais radiações do sol dividem-se em três grupos
distintos:
1º - Os raios infravermelhos, caloríficos, de grande comprimento
de ondas,
2º - Os raios visíveis, do vermelho ao azul.
3º - Os raios ultravioletas, cujas ondas são curtíssimas.
Ora, essas três divisões correspondem aos três caracteres
da manifestação do demiurgo, enquanto criador, mantenedor
e destruidor (que destrói para reconstruir).
Já sabemos que os raios visíveis conservam a vida e que os
raios ultravioletas destroem-na. O papel criador pertenceria, portanto,
aos raios infravermelhos. Com efeito, estes são os raios caloríficos;
não é portanto de admirar que eles se encontrem na origem
do carbono e da química orgânica, a química do carbono.
Compreende-se, a partir daí, por que os alquimistas colocavam o carvão
e a cor negra na base da Grande Obra que, na realidade, é uma pesquisa
acerca das relações entre a luz e a vida.
Na outra extremidade do espectro, encontram-se os raios ultravioletas, os
destruidores: eles estão relacionados com o azoto e talvez o tenham
engendrado; azoto significa "impróprio para manter a vida"
(a, privativo, e zoé, vida). Essa palavra, entre os alquimistas,
era escrita assim:
AZOT, e era formada da primeira letra dos alfabetos latino, grego e hebraico,
e da última letra desses mesmos alfabetos.
Os bioelementos correspondem aos quatro elementos clássicos. Se o
carbono se associa ao elemento Terra e o azoto ao Fogo, iremos encontrar
o Ar e a Água (Aor e Agni) nos raios intermediários.
Com efeito, os raios vermelhos estão relacionados com o hidrogênio
enquanto os raios a se relacionam com o oxigênio, isto é, com
os dois principais constituintes da água e do ar.
Restam os raios azuis, que se colocam entre os raios que mantêm a
vida e os que a destroem. A que corresponderiam eles? Eu estava na impossibilidade
de sabê-lo e já perdia a esperança de vir a descobri-lo,
quando fui instruído por uma voz misteriosa, que já ouvira
outras vezes, e isso, num momento em que meu pensamento estava ocupado com
coisas inteiramente diferentes esses raios correspondiam ao protóxido
de azoto. E, com efeito, o protóxido de azoto coloca-se entre o oxigênio
(raios amarelos) e o azoto (raios ultravioletas); além do mais, os
raios azuis são calmantes, adocicantes; fazem adormecer. O protóxido
de azoto é usado para fazer adormecer nas operações
cirúrgicas, ocasiões em que, o paciente vislumbra uma luz
azul.
É este, portanto, o quadro das relações entre as radiações
luminosas vindas do sol e os fenômenos vitais:
Raios ultravioletas - Azoto. . . destroem a vida.
Raios azuis - Frotóxido de azoto N2O, fazem adormecer.
Raios amarelos - Oxigênio, raios vermelhos - Ilidro génio .
. . conservam a vida.
Raios infravermelhos - Carbono ... criam a vida.
Acrescentamos que o protoplasma, que é encontrado no fundo dos mares,
parece constituir a primeira matéria viva; que alguns seres, como
as medusas, são formados de uma substância gelatinosa que contém
mais de 90% de água. Nosso corpo, em média, contém
65% de água, e reconstitui o meio marinho subterrâneo, no qual
se banham células semelhantes aos primeiros organismos.
Assim o problema tantas vezes pesquisado da origem da vida parece ter encontrado
a sua solução (por vezes entrevista, aliás) e essa
origem es tá em completo acordo com os ensinamentos do Evangelho
joanita. Ele nos da uma clara visão das relações entre
o demiurgo solar e suas criaturas. Toda a história da evolução
da Humanidade encontra, a partir daí, sua explicação
lógica, e não é este um dos menores ensinamentos que
podemos tirar do Evangelho iniciático de João
Percebe-se, agora, que a natureza da luz 6 o maior dos problemas
da Física, que os átomos são formados de luz e que
eles contêm em si uma força imensa. Essa força é
a ENERGIA (energeia, em grego), palavra na qual encontramos Aor-Agni. Por
que admirável mistério esse nome caracteriza as qualidades
do Verbo, saído da substancia-princípio, a Virgem matéria,
a MATÉRIA virgem, que se tornou a Virgem Maria, aspecto feminino
do ESPÍRITO?
As teorias sobre a luz levam a conclusões contraditórias e
opostas, como tudo o que diz respeito ao Deus universal, no qual os contrários
se unem. A palavra luz, está bem próxima da palavra Lex, a
lei; e Fhos está bem próxima de Sophia, a Sabedoria. Vemos,
portanto, que existe um mundo de interferências entre as palavras
e as coisas, interferências às quais os homens são estranhos
e que não podem ser atribuídas senão àquele
a quem João chama de o VERBO, a PALAVRA. Hermes - que representa
o Conhecimento do dualismo representa do pelas duas serpentes do caduceu
e as duas asas de seu capacete, está unido a Vénus-Afro a
Beleza e o Amor - no hermafrodita - o andrógino dos arquimistos.
Simples clarões que brilham em meio às trevas, para nos guiar
até a luz.