A Criação, A Desobediência E A Queda Do Homem
Francis Barret - 1801



Segundo a palavra de Deus, que tomamos por guia em todas as coisas, no primeiro capítulo do Gênese e no 26? versículo, está escrito:
'Deus disse, façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que ele tenha domínio sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, e toda a terra, sobre todas as criaturas rastejantes sobre a Terra". Eis a origem e o início de nossa frágil natureza humana. Cada uma foi criada pela própria luz, a Fonte da Vida, segundo sua própria imagem; é igualmente imortal, revestida de um corpo belo e bem for- nado, dotado de mente excelentíssima. Recebeu o domínio ilimitado sobre toda a Natureza, onde cada coisa estava sujeita ao seu comando. todavia uma única exceção, uma criatura que não deveria ser tocada, que estava consagrada pelo mandato divino: 'Poderás comer livremente de toda a árvore do jardim, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, pois no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gen. ii. ver. 16). Portanto, Adão foi formado pelo dedo de Deus, que é o Espírito Santo. Sua forma externa era bela e harmoniosa como a de um anjo, e sua voz (antes de pecar) compunha-se somente e sons doces, harmônicos e musicais. Tivesse ele permanecido no estado de inocência no qual foi formado, a fraqueza dos mortais depravados que não resistiria à virtude e ao tom celestial de sua voz. Mas quando o enganador descobriu que o homem, inspirado por Deus, tinha começado a cantar de maneira tão cativante, repetindo a harmonia das es leias celestes, pôs-se a maquinar. Vendo que sua raiva contra o homem era inútil, ele ficou tão atormentado que começou a articular uma maneira de confundi-lo, fazendo com que desobedecesse aos mandamentos do seu Criador, para depois poder caçoar do Criador, ridicularizando a sua nova criatura, o homem.
Van Helmont, em sua obra Oriatrike, Cap.XCII discorrendo sobre e como a morte penetrou na natureza humana , etc. trata muito bem do assunto da criação e da desobediência do homem. Em verdade suas ideais coincidem tão perfeitamente com as nossas que julguei adequado do transcrever aqui a sua filosofia, que explica tão claramente os textos das Escrituras, com tanta luz da verdade a seu favor, que convence de uma maneira mais segura e positiva.
"Criado essencialmente à imagem de Deus, o homem ousou pretender gerar a imagem de Deus a partir de si mesmo. Na verdade, não através de um determinado monstro, mas através de algo escuro como ele mesmo. Seduzindo Eva, não gerou a imagem de Deus no que ela poderia ter de imitável, por ser divina, mas gerou predisposições no ar vital da semente, esperando que viesse a receber do Pai da Luz uma alma sensível, racional e ativa, mas ainda mortal e perecível. Apesar de tudo, ele geralmente inspira, por causa da bondade nele existente, o espírito substancial de uma mente manifestando sua própria imagem: assim o homem, neste aspecto, conseguiu gerar sua própria imagem, não à maneira dos animais, mas pela copulação das sementes, que, com o passar do tempo, obteriam do Criador, a pedido, uma luz 'almificada', chamada de alma sensível."
"Depois desta, seguiu-se outra geração, concebida de maneira animalesca, mortal e incapaz de vida eterna, como os animais. E nascia em meio a dores, sujeita a doenças e à morte. E a tristeza e a miséria foram proporcionais à audácia dos nossos primeiros pais em inverter o plano de Deus."
"Por isso, a bondade indizível prevenira-os de não comerem daquela árvore. Predissera, também, que no mesmo dia eles morreriam, sentindo todas as calamidades que acompanham a morte."
Os nossos pais mereceram que o Senhor os privasse do benefício da imortalidade: da cópula conjugal e animalesca adveio a morte, e o espírito do Senhor abandonou o homem depois que ele passou a ser carne.
E mais: como a degradação de Eva se propaga através das gerações até o fim do mundo, o pecado de ter desprezado a admoestação paterna e o desvio natural do caminho correto figura agora entre outros pecados de impureza, de uma geração invertida, carnal e quase animalesca, e é devidamente chamado de pecado original. O homem é semeado no prazer da concupiscência da carne, por isso irá colher sempre uma (norte inevitável da carne pecadora. O conhecimento do bem e do mal que Deus colocou na maçã proibida continha em si uma virtude embrionária da concupiscência carnal, isto é, uma conjunção oculta, proibida, diametralmente oposta ao estado de inocência, estaria este que não era um estado de estupidez. Antes da corrupção da Natureza, o homem conhecia a essência de todas as criaturas vivas e recebeu a incumbência de nomeá-la apropriadamente,pois reconhecia de relance as diferentes essências Ao comer a maçã, adquiriu um conhecimento que o fez perder sua inocência original. Antes de comê-la, não era tão obtuso e estúpido a ponto de não se perceber nu. No entanto, sob o efeito da vergonha e da concupiscência animalesca, pela primeira vez declarou-se nú.
O conhecimento do bem e do mal nada mais significa que a concupiscência da carne, segundo o testemunho do Apóstolo que a denomina de lei e desejo do pecado. Agradou ao Senhor do céu e da terra encerrar na maçã um incentivo à concupiscência. Por meio disto, o homem podia ficar seguro, contanto que dela se abstivesse, e foi dissuadido de fazê-lo, pois ele nunca foi tentado de outra maneira, nem excitado por seu membro genital. Ao comer a maçã, o homem, por uma propriedade oculta e natural inserida na fruta, concebeu uma paixão e o pecado tornou-se luxúria para ele. Formou-se então uma semente animal, que, introduzindo-se nas predisposições anteriores ou precedentes de uma alma sensível, sujeita à lei de outras causas, refletiu-se no espírito vital de Adão, e como um fogo-fátuo, recebendo um archonte ou espírito reinante e uma idéia animal, concebeu um poder de propagar uma descendência animal e mortal, resultando em vida.
Muitas passagens do texto sagrado, que fazem de Eva uma ajudante de Adão, compeliram-me a um posicionamento perfeito. Eva não precisava assumir o nome e lugar de uma esposa, como ela é chamada logo depois do pecado,.pois era uma virgem na intenção do Criador, e depois encheu-se de miséria. Ao contrário, enquanto o estado de pureza presidia sobre a inocência, a vontade do homem não a dominou. Paraíso significa, na verdade, uma condição de vida totalmente diferente da de um animal, O ato de comer a maçã encobre com um nome casto a concupiscência da carne, pois contém nele o "conhecimento do bem e do mal", chamando de ignorância o estado de inocência. Certamente o mencionado conhecimento fomentou uma morte das mais sofridas e a perda irrevogável da vida eterna. Se o homem não tivesse comido da maçã, viveria livre da concupiscência e Eva (uma virgem) geraria através do Espírito Santo.
Mas, tendo comido a maçã, "os olhos deles se abriram", e Adão começou a desejar com luxúria copular com a virgem nua, e acabou deflorando aquela que Deus destinou-lhe como ajudante. O homem perverteu a intenção de Deus criando uma geração estranha na carne do pecado, o que corrompeu a natureza anterior, restando a carne do pecado acompanhada da concupiscência. O texto não insinua nenhuma outra indicação do "conhecimento do bem e do mal", a não ser que eles "perceberam que estavam nus", ou melhor, perceberam que a sua virgindade estava corrompida, maculada pela paixão animalesca e deturpada da verdade, todo o seu ''conhecimento do bem e do mal'' está incluído na vergonha apenas das suas partes íntimas. Por isso, no oitavo versículo do Levítico e em muitas outras passagens das Escrituras Sagradas, as partes íntimas são chamadas por uma única palavra: "vergonha". Porque com a cópula da carne seus olhos se abriram, eles souberam que haviam perdido o bem, e isto lhes trouxe uma natureza degenerada, a vergonha e a obrigatoriedade inevitável e visceral da mor te, passadas para a sua posteridade também.
Ai deles! Ao se defrontarem com a conseqüência indesejada e a vergonha da sua concupiscência, entenderam, tarde demais, porque Deus proibira com tanto carinho que comessem a maçã. Sendo a verdade agradável por si mesma, atesta a imundície da geração impura de Adão. A impureza adquirida por contágio com qualquer fluido menstrual ou seminal é considerada igual à que gradativamente toma conta da pessoa que toca um cadáver, e que deve ser redimida pelo mesmo rito cerimonial prescrito pelo texto sagrado. Isto prova que a morte começou pela concupiscência da carne escondida no fruto proibido. Por tanto, o único remédio para uma impureza contraída através do toque é a lavagem. É o mesmo que acontece no batismo, que fortalece a fé e a esperança.
Logo que Adão soube que o primeiro a nascer dentre os mortais, a quem ele gerou na concupiscência da carne, cometera fratricídio, matando seu irmão inocente e justo, previu que a partir de então os mortais cometeriam erros maléficos. Percebeu as suas próprias misérias, convencido de que todas essas calamidades aconteceram-lhe por causa do pecado da concupiscência contida na maçã, o que inevitavelmente estava passando para sua posteridade. Pensou consigo mesmo que a coisa mais discreta a fazer, a partir de então, era abster-se de sua esposa a quem tinha violado. E por isso ele pranteou na castidade e na tristeza por cem anos inteiros, na esperança de que, pelo mérito da abstinência e resistindo à concupiscência da carne, conseguiria não só aplacar a fúria da Divindade como também voltar novamente ao esplendor e majestade da sua inocência e pureza primitivas. Mas uma vez concluído o arrependimento de cem anos, é bem provável ter-lhe sido revela do o mistério da encarnação de Cristo. Que o homem nunca poderia esperar retornar ao esplendor de sua pureza anterior através de seu próprio esforço, nem ao menos livrar da morte a posteridade. Então, como o casamento era agradável em si, recebera o aval de Deus depois da queda do homem, porque Deus determinara consumar sua justiça no final dos tempos, que, para a glória de Seu nome e a confusão de Satanás, deveria elevar a humanidade a um estado de graça mais sublime e eminente.
Desde então, Adão passou a se unir com sua mulher, isto é, depois da idade de cem anos, e povoou a terra, multiplicando-se de acordo com a bênção dada e a ordem de "Sede férteis e multiplicai-vos". Assim, o matrimônio foi aceito como um sacramento aos fiéis, já que era grande a necessidade de propagação e impossível a outra forma primitiva de geração divina.
A vergonha que os nossos pais sentiram após comerem a maçã, que os fez cobrir apenas suas partes pudendas, pressupõe e acusa algo cometido contra a justiça, contra a intenção do Criador e contra a própria natureza deles. Conseqüentemente, essa geração adâmica não possuía a primitiva constituição da sua natureza, nem era conforme a in tenção original do Criador. Portanto, quando Deus disse que a terra geraria espinhos e cardos e que o homem ganharia o pão com o suor de seu rosto, não estava amaldiçoando e sim advertindo que estas coisas de fato aconteceriam na terra. E os animais passariam a parir com dor, a arar suando, a comer seu alimento com trabalho e medo, e da terra iriam brotar muitas coisas indesejáveis para o agricultor. Aqueles que passaram a gerar segundo a maneira dos animais deveriam alimentar- se como os animais.
A Eva também, após ter transgredido, foi dito que ela daria à luz na dor, Portanto, as dores do parto nada teriam em comum com o fato de comer a maçã, não tivesse a maçã levado à concupiscência da carne e, por conseqüência, incitado à cópula. E o Criador quis impedir, proibindo comer a maçã. Por que os genitais da mulher são punidos com as dores do parto, se quem ofendeu foram os olhos ao ver a maçã, as mãos ao pegá-la e a boca ao comê-la? Não teria sido suficiente castigar a vida com a morte e a saúde com muitas doenças? Além disso, por que deveria o ventre sofrer, como nos animais, com a maneira de dar à luz, se a concepção concedida aos animais não fosse proibida ao homem?
Após sua queda, portanto, seus olhos se abriram, e eles sentiram- se envergonhados. Isto significa que por causa da impureza da concupiscência eles souberam que a cópula da carne era proibida na castidade inocente e pura da Natureza; e que eles se cobriram de vergonha quando, abrindo seus olhos, compreenderam que tinham cometido a mais detestável das impurezas.
Mas a maldição recaiu unicamente sobre a serpente e o espírito maligno, em privilégio da mulher e da misteriosa prerrogativa da bênção sobre a terra, ou seja: que a posteridade da mulher esmagaria a cabeça da serpente. Assim não é possível que dar à luz com dor seja uma maldição, pois ao mesmo tempo o Senhor pronuncia a bênção da mulher e a vitória sobre o espírito infernal.
Portanto, Adão foi criado tendo a posse da imortalidade. Deus não planejava que o homem fosse um animal ou uma criatura sensível, nem que nascesse, fosse concebido ou vivesse como um animal. Na verdade, ele foi criado para uma alma viva, segundo a imagem verdadeira de Deus. Assim, diferia tanto da natureza de um animal quanto um ser imortal difere de um mortal, e quanto uma criatura semelhante a Deus difere de um animal.
Entristece-me que muitos dos nossos eruditos desejem, por meio de seus argumentos barulhentos e cheios de orgulho, criar uma imagem totalmente animal (e nada mais) do homem, deduzindo (por sua lógica) que a sua essência deriva da natureza animal, Embora o homem tivesse provocado a morte para si mesmo e para sua posteridade, aparentemente aproximando-se mais da natureza dos animais, não tinha o poder de perverter a espécie da imagem divina. O espírito maligno tampouco foi transformado em animal, embora se aproximasse da natureza de um animal por causa do ódio e dos vícios animalescos, O homem, portanto, permaneceu na espécie em que foi criado. Toda vez que o homem é chamado de animal, ou criatura viva sensível, fato real mente aceito em geral, tantas vezes isso é refutado pelo texto que diz:
"Mas a serpente foi mais astuta que todas as criaturas vivas da terra cria das pelo Senhor Deus", pois fala da astúcia e sutileza naturais desse animal rastejante. Além disso, se este posicionamento for correto, o homem não foi direcionado para a propagação da prole ou da carne, nem aspirava a uma alma sensível. Portanto, a alma sensível da geração adâmica não é do tipo animal, porque originou-se de uma semente que precisava da ordem e limitação originais de todas as espécies. Assim, como a alma sensível surgiu no homem fora da intenção do Criador da Natureza, não pertence à espécie animal, nem pode subsistir a não ser que esteja continuamente ligada à mente, que sustenta sua vida.
Como o homem não pertence a nenhuma espécie animal, não pode ser um animal por causa de sua mente, e muito menos por causa de sua alma, que não pertence a espécie alguma.
Saibam, portanto, que nem um espírito maligno nem a natureza inteira podem de modo algum mudar a essência dada ao homem pelo seu Criador, que na sua onisciência determinou que o homem permanecesse sempre como foi criado, embora este, no meio do caminho, tenha se revestido, por livre-arbítrio, de estranhas propriedades. Da mesma maneira que é absurdo considerar o homem como ser glorificado entre os animais por causa de sua sensibilidade ou sentimento, o fato de ser sensível não é uma essência inseparável do animal.
Nossos pais sentiram no corpo inteiro o efeito de comerem a maça ou seja, envergonharam-se por sentirem nas partes íntimas a concupiscência da carne, estando no Paraíso. Suas partes íntimas, as quais antes podiam controlar como quisessem, eram agora movidas por um incentivo propício para a luxúria.
No mesmo dia em que a mortalidade entrou neles através da concupiscência, entrou também na geração concebida. Por esta causa, eles foram expulsos do Paraíso no mesmo dia. Daí se seguiu uma geração adúltera, lasciva, animalesca, demoníaca, incapaz de entrar no reino de Deus, diametralmente oposta ao mandamento de Deus. Assim, a morte e o castigo da corrupção tornaram-se inseparáveis do homem e de sua posteridade.
O pecado original nasceu pela ação da concupiscência da carne, causado apenas pelo fato de o homem e a mulher comerem a maçã, desprezando com isso a proibição. Mas o estímulo à concupiscência foi colocado na árvore proibida, com esta propriedade lasciva inserida e implantada no seu âmago. Quando Satanás (nutrindo a esperança de que o defloramento da virgem seria o suficiente) viu que o homem não fora eliminado de acordo com o previsto (pois ele não sabia que o Filho de Deus tinha se disposto perante o Pai a salvar o homem), olhou para a natureza vil, corrompida e degenerada do homem e viu que a este fora retirado o poder de se unir à majestade infinita de Deus, rejubilou-se enormemente. Esta alegria durou pouco, pois foi percebendo também que o casamento fora sancionado pelos Céus, que a bondade divina ainda protegia o homem e que suas próprias falácias e engodos tinham sido desarmados. Começou também a conjeturar sobre o fato de que o Filho de Deus iria redimir todos os defeitos do contágio, talvez encarnando-se para isso. Pôs-se então a articular de que maneira poderia deturpar a linhagem que surgiria do matrimônio com uma alma mortal, para tornar vã qualquer concepção de Deus. Para que o mal existisse ininterruptamente, incitou não apenas os fratricidas e as pessoas muito más, mas cuidou para que surgisse o ateísmo e o paganismo, fazendo-os crescer a cada dia. Já que ele não podia impedir o entrelaçamento da mente imortal com a alma sensível, ao menos podia nivelar o homem consigo mesmo, sujeitando-o ao castigo infernal, destruindo a lei da Natureza. Seu empenho especial era apagar totalmente, nas gerações futuras, a mente imortal.
Por isso, ele (o Demônio) incita, até os dias de hoje, os libertinos ateus a cópulas abomináveis. Mas viu que disso nada resultava além de monstros animalescos ou selvagens, abominados pelos próprios genitores, e que os homens preferiam a cópula com as mulheres, e que por este método os homens continuariam a se propagar constantemente. Ele pretendia acabar com a esperança de reintegração de um remanescente, isto é, impedir a encarnação do Filho de Deus. Aplicando coisas ativas, tentou formar a descendência do homem de acordo com seu próprio desejo amaldiçoado. Malogrados seus esforços, tentou novamente a possibilidade de que um duende ou uma bruxa gerassem por sodomia. Como isto não correspondeu totalmente às suas intenções, já que a jumenta e o cavalo geravam uma mula, mais próxima geneticamente de sua mãe do que de seu pai, que a coelha e o arganaz (rato .silvestre) geravam um verdadeiro coelho, diferente de sua mãe, só que possuindo cauda como a do pai, ele desistiu dessas maquinações e partiu para outras, dignas da arte sutil do Príncipe das Trevas.
Então Satanás uniu no ventre de uma jovem bruxa ou feiticeira a semente desta com a semente do homem, tentando excluir nessa concepção nova e habilmente maquinada a capacidade de uma mente imortal. Usando as constelações para dispor a semente do homem para ge estes monstros incomuns, conseguiu produzir uma geração adultério e lasciva de faunos, sátiros, gnomos, ninfas, silfos, dríades, hamadriades, nereidas, sereias, sirenas, esfinges, monstros, etc.
Os faunos e as ninfas das florestas, os mais belos dentre todos, mais tiniu geraram entre si os seus próprios rebentos, e, esperando obter para si ( seus filhos uma alma imortal, uniam-se aos homens. Mas isto aconteceu porque Satanás persuadia e enganava os homens para que copulassem com esses monstros, ao que os mais ignorantes facilmente sucumbiram. Por isso essas ninfas são chamadas de súcubos. Mas Satanás cometeu coisas piores depois, freqüentemente se transformando nas personalidades dos íncubos e dos súcubos, de ambos os sexos. Destes, porém, só as ninfas conceberam pelos homens rebentos verdadeiros. Vendo vários lugares os filhos de Deus (isto é, os homens) indistintamente e apegaram-se a elas como suas esposas, Deus resolveu eliminar a raça toda, nascida destas uniões infernais e abomináveis, por meio de um dilúvio, frustrando assim a intenção do espírito maligno.
Darei um exemplo impressionante, citado por Helmont, dos monstros mencionados acima. Ele pedira a um mercador de Egina, seu compatriota, que diversas vezes navegara para as Canárias, uma avaliação sobre certas criaturas que os marinheiros sempre traziam das montanhas, chamadas Tude-squils (Stude-quills ou Stew'd quills) Eram cadáveres secos, de quase noventa centímetros, e tão pequenos que podiam facilmente ser carregados na palma da mão de um menino, e tinham a forma exata de um homem. Esses cadáveres eram claros e transparentes como pergaminho, e seus ossos flexíveis como cartilagem. Ao olhá-los contra a luz, viam-se suas vísceras e seus intestinos, fato confirmado por mim com os espanhóis nativos do local. Acredito serem vestígios da raça destruída dos pigmeus. O Todo-Poderoso quis anular as expectativas do espírito maligno, apoiadas nas ações abomináveis da humanidade, salvando-nos inúmeras vezes das artimanhas e sutilezas do Demônio, que merece o castigo eterno, a vergonha extrema e perpétua, para a eterna glorificação do Nome Divino.