Esta vida é nossa décima primeira hora: trabalhe nela!
Louis Claude de Saint Martin
Vamos, então,
nos preocupar com a vida real; com aquela obra ativa a qual devemos cada
instante de nosso tempo e não deixemos de perguntar se haverá
alguma futura angústia a temer ou não; tal será nossa
preocupação e desejo de retidão.
O crime é a causa destes pensamentos desgastantes e o que leva o
Homem ao crime é a inação, através do vazio
da mente; o vazio da mente (espírito) joga o Homem no desencorajamento,
fazendo-o acreditar que o tempo perdido não pode ser recuperado.
Isto, de fato, pode ser verdade com relação a coisas feitas
no tempo e para o tempo; mas será válido para o que pertence
ao espírito? Não há tempo para o espírito...
Não seria possível que um único ato realizado pelo
espírito e para o espírito rendesse à alma tudo o que
ela falhou em adquirir ou até mesmo tudo o que possa ter perdido
pela negligência?
Devemos lembrar da "décima primeira hora", embora devemos
também notar que, se aqueles que foram chamados àquela hora,
receberam até mais do que sua devida paga, foi porque eles pelo menos
trabalharam durante aquela hora, ao contrário, não teriam
recebido nada; assim nós também não devemos ter nada
a esperar, se, após termos passado as horas antecedentes de forma
infrutífera, não completarmos nossa décima primeira
hora, realizando a obra do Espírito.
Desde a Queda, só podemos ser meros trabalhadores da décima
primeira hora, que, de fato, teve início no instante em que fomos
privados de nossos direitos. As dez horas que precederam esta época,
estão, por assim dizer, muito longe e perdidas para nós; assim
a totalidade de nossa vida terrestre é realmente, para nós,
senão a décima primeira hora de nosso verdadeiro e eterno
dia, que embarca o círculo universal das coisas. Julgue a partir
daí, se temos um momento sequer a perder!
Obstáculos e cruzes são pontos de partida: "Eu te digo,
vigiai!"
Ao mesmo tempo, tudo o que é requisito para um desempenho útil
e proveitoso na obra desta décima primeira hora, nos é fornecido
abundantemente; planos, materiais, instrumentos, nada é retirado
de nós. Até mesmo os perigos e obstáculos aos quais
nos deparamos e os quais se tornam nossas cruzes quando fugimos deles, são
passos e meios de elevação quando superados; a Sabedoria,
ao nos expor a eles espera que triunfemos.
Sim, se tivéssemos mantido nosso posto fielmente, o inimigo nunca
teria penetrado a fortaleza, por mais poderoso que fosse. Mas, é
necessário guardar todas as entradas com tal vigilância constante
que, de qualquer forma que ele se apresente, possa nos encontrar alerta
e com vigor para resistir. Um único instante de negligência
de nossa parte, é suficiente para o inimigo, que nunca dorme, fazer
uma brecha, ascender e capturar o indivíduo.
Vamos tomar coragem. Se nossa restauração espiritual requer,
na realidade, todo o cuidado, devemos ao menos considerá-la assegurada
se resolvermos, pelo menos, assumi-la, pois a enfermidade da alma humana
é, se é que posso usar a expressão, apenas uma espécie
de transpiração reprimida; o Soberano não cessa de
nos administrar sudoríficos poderosos e salutares que tendem incessantemente
a restaurar a ordem e a circulação.
A morte é compreendida em nossa obra; como ela é superada?
A morte mesmo, que também esta compreendida em nossa obra, é
dirigida e graduada com a mesma sabedoria que governa todas as operações
divinas. Nossos laços materiais são partidos progressivamente
e de forma quase imperceptível. Crianças de tenra idade, emergidas
em sua matéria, não têm idéia da morte porque
a matéria não sabe o que é a morte, muito menos o que
é a vida e o espírito.
Os jovens em quem o espírito ou a Vida começa a penetrar através
de sua matéria, têm mais ou menos medo da morte, na medida
em que estão mais ou menos imbuídos deste espírito
ou vida e na medida em que sentem o contraste entre seu espírito
e sua matéria.
Os adultos e os mais velhos cujo espírito ou vida se desenvolveu
e que observaram fielmente a lei de seu ser, são preenchidos de tal
forma com os frutos, quando seu curso termina, que olham para a demolição
de sua cobertura material sem medo ou remorso, e até mesmo com prazer.
Este revestimento material, tendo sido perpetuamente impregnado com os frutos
de suas obras, tem, ao mesmo tempo, quase imperceptivelmente se submetido
à decomposição em sua fonte; se o tratamento restaurativo
fosse seguido, encontraria naturalmente a sua dissolução final
sem dor. O que pode ser concebido de mais doce e suave do que todas estas
progressões, apontadas pela Sabedoria do Altíssimo, para a
restauração do Homem?
Os poderes da Alma humana após a morte.
Mas se tão grandes são os prazeres adquiridos pela devoção
ao Ministério Espiritual do Homem ainda neste plano, quais não
serão então aqueles que a alma irá receber quando tiver
se despojado de seus espólios mortais!
Vemos que nossos corpos, neste plano, estão destinados a desfrutar
de todas suas faculdades e a comunicar-se uns com os outros. Quando eles
não desfrutam de suas faculdades, não se comunicam, como verificamos
com as crianças.
Quando alguns corpos utilizam suas faculdades e outros não, os primeiros
podem se comunicar com aqueles que não se comunicam e os conhecem
enquanto que estes nada sabem sobre os primeiros. Isto se aplica a lei das
almas:
Aquelas almas que, neste plano, não desfrutam de suas faculdades
estão respectivamente em absoluta insignificância; elas podem
estar perto uma da outra, podem morar juntas sem transmitirem impressão
alguma entre si. Esta é a situação da maioria das pessoas
deste mundo, para não dizer, talvez, de toda humanidade; isto porque
durante nossa jornada na Terra, nossas almas são umas para as outras,
tal qual como as crianças; de fato, não comunicam nada em
comparação com aqueles tesouros ativos com os quais deveriam
ter enriquecido, naturalmente, umas as outras, se tivessem se mantido em
sua harmonia primitiva.