A
Mística Filosófica Dos Números
Louis Claude de Saint-Martin
O conhecimento obtido por Saint-Martin através de sua iniciação,
que ocorreu quando ele era jovem, está relacionado ao misticismo
numérico, ao qual ele recorria muito freqüentemente para estabelecer
os argumentos doutrinários nos seus primeiros trabalhos. Esta correlação
com a mística dos números também ocupa um lugar importante
em sua correspondência e foi o assunto de um tratado póstumo,
chamado "Os Números". Ao mesmo tempo, nós não
temos esta correlação completa, pois as considerações
nas quais ele a recebeu fizeram impossível a sua transmissão
completa. Aparentemente, nós também não possuímos
esta correlação numérica da mesma forma que ele (Saint-Martin)
a recebeu. Ela foi sempre mantida por ele na mais alta estima, por toda
sua vida e foi desenvolvida por muitas considerações próprias
que na realidade abarcam todos os sinais peculiares do seu dom filosófico.
Mas, seria um exagero afirmar que toda sua doutrina está baseada
nas propriedades ocultas dos números e as partes misteriosas desta
mesma doutrina ficariam assim, totalmente encobertas. Como há alguns
detalhes extremamente técnicos nestas correlações numéricas,
pretendemos, nesta curta dissertação, lidar com as questões
técnicas da forma mais completa que for possível.
O desdobramento místico ao qual os números são submetidos,
nas várias escolas do ocultismo (Pitagórico, Cabalístico,
etc.) oferecem em sua totalidade apenas uma ligeira analogia com o sistema
de Saint-Martin, o qual é, sobretudo, ligado a visões particulares
a respeito da ciência Matemática em geral. Como há material
abundante espalhado por todos os trabalhos de Saint-Martin, os assuntos
menos centrais serão aqui desconsiderados e os mais importantes,
condensados.
Primeiro delinearemos as posições que Saint-Martin expressava
a respeito dos princípios fundamentais da Matemática; depois,
reuniremos as afirmações a respeito da Filosofia dos Números
que estão espalhadas por sua obra e, finalmente, tabularemos as propriedades
místicas associadas aos dez numerais. Saint-Martin possuía
conhecimentos de matemática superior, o que pode ser deduzido do
próprio estilo de suas referências. Ao aceitarmos isto é
necessário também acrescentar que ele era um crítico
feroz das ciências exatas. Portanto, pode parecer que ao propormos
segui-lo, estaríamos todos prestes a abandonar a base na qual se
assenta a razão mais simples.
No entanto, quaisquer crítica estará mais relacionada com
a aplicação da ciência - que pode parecer fantástica
(irracional) nos seus estágios mais avançados - do que com
relação aos seus princípios. Mas, se faz por bem afirmar
que, as correlações místico-matemáticas de Saint-Martin
não questionam , por exemplo, o cálculo simples 2 + 2 = 4.
Para Saint-Martin: "a ciência Matemática é apenas
uma cópia ilusória da Verdadeira Ciência" (Dos
Erros e da Verdade), assim como: "a álgebra é, de certa
forma, a degradação dos números" (Correspondência
Teosófica, carta XC). "A base da Matemática é
a relação, assim como a relação é também
o seu resultado" (Dos Erros e da Verdade). Uma vez fixados os postulados
da relação, os resultados dela obtidos são exatos e
apropriados ao objetivo proposto. Simplificando: os matemáticos não
podem errar, porque eles nunca partem de pontos falhos em suas teorias.
Eles giram, por assim dizer, em torno de um pivô e todos os progressos
que fazem os leva de volta ao ponto do qual eles iniciaram uma operação.
"Os princípios matemáticos não são materiais,
mas são a verdadeira lei dos fenômenos perceptíveis.
Contanto que os matemáticos se restrinjam a estes princípios,
eles não podem errar; mas quando eles partem para a aplicação
de idéias deduzidas a partir de seus raciocínios, eles são
escravizados pelos princípios" (Dos Erros e da Verdade). Não
há nada que a matemática demonstre que não seja através
de referência à algum axioma, ou verdade que não exige
demonstração, porque os axiomas são verdades independentes.
"A verdade dos axiomas se assenta no fato de que eles são independentes
daquilo que percebemos, ou da matéria. Numa palavra, eles são
puramente intelectuais. Se os geômetras nunca perdessem os seus axiomas
de vista, eles nunca avançariam em suas reflexões, pois as
suas sentenças estão ligadas à essência específica
dos princípios intelectuais, assim sendo, apoiadas na mais completa
certeza" (Dos Erros e da Verdade).
Da crítica confusa que se segue a esta afirmação, estratificaremos
dois pontos que podem ser aceitos como as sentenças (ou os axiomas)
de Saint-Martin, mas não haverá necessidade de dizer que,
qualquer que sejam os seus 2 valores ocultos, eles não são
verdades auto-evidentes: (A) "O movimento é possível
sem a extensão" e (B) "Tudo na Natureza tem seu número"
(Dos Erros e da Verdade).
Havia um tempo em que estas proposições eram discutidas seriamente
e a respeito de algumas extraordinárias sutilezas transmitidas pelo
teólogo espanhol Balmes, entre outros, não temos o direito
de considerar Saint-Martin confuso por ter sustentado esta tese.
A proposição é claramente impensável e não
apresenta para nós nenhum apelo, porque os dias em que as sutilezas
eram aceitas cientificamente, terminaram. Mas no período logo após
o de Descartes isto ainda não havia sido completamente extinto. Houve
também, um período ainda mais distante no tempo, quando estas
questões seriam debatidas entusiasticamente e Saint-Martin teria
deleitado os estudiosos e teria fundado um novo método, como Raymond
Lullo. Ou teria sido queimado, ou talvez beatificado, se não ultrapassasse
os limites da latitude eclesiástica.
Quanto a segunda sentença (B), ela não tem nenhuma ligação
na filosofia, a não ser com as "assinaturas" de Paracelsus.
A segunda sentença é na verdade uma característica
exclusiva da escola de iniciação de Saint-Martin. Ela pode
trazer à lembrança a afirmação do Apocalipse
de que o número da besta é "o número de um homem."
Portanto, se faz necessário, sobre todos os relatos, examinar como
as duas sentenças são sustentadas por aquele que as propôs.
Particularmente porquê elas são a base do que o levou a censurar
a Matemática: "Como todas as outras propriedades dos corpos,
a extensão é um produto do princípio gerador da matéria,
seguindo as leis e a ordem impostas e este princípio, atuar pelo
princípio mais elevado que o dirige. Neste sentido, a extensão
é um produto secundário e não pode ter as mesmas vantagens
(ou qualidades) que os seres incluídos naquela
primeira instância." - (Dos Erros e da Verdade). Para elucidarmos
isto, é preciso entender: "que há apenas dois tipos de
seres: os sensitivos e os intelectuais." (Dos Erros e da Verdade).
Segundo Saint-Martin, os últimos são a verdadeira fonte da
mobilidade; "eles pertencem a uma outra ordem do que os princípios
corpóreos imateriais que eles governam; eles devem portanto ter efeitos
e ações diferentes do perceptível - como eles mesmos
são - e isto é, um tipo de efeito no qual o perceptível
não conta para nada. Também devemos supor que suas atividades
existem antes e depois dos seres sensitivos. Portanto, é incontestável
que o movimento possa ser concebido sem extensão, já que o
princípio do movimento, seja ele captado pelos sentidos físicos,
ou intelectuais, está na verdade, fora da extensão" (Dos
Erros e da Verdade).
Portanto, para Saint-Martin, o erro dos geômetras é que eles
não reconheceram esta verdade. Depois de estabelecer suas sentenças
no mundo real - fora do sensitivo, e portanto na esfera intelectual - eles
não se preocuparam com a medida da extensão: "algumas
medidas são derivadas do princípio da extensão, outros
números arbitrários que requerem sentimentos antes que possam
ser percebidos por nossos olhos físicos... Eles cometeram o mesmo
erro que os observadores da Natureza; separaram a extensão de seu
princípio inicial, ou melhor, foi na extensão que eles passaram
a procurar por este princípio, misturando coisas diferentes, que
no entanto, são ligadas inseparavelmente para formar a matéria"
(Dos Erros e da Verdade).
Resumindo, "as medidas tomadas da extensão, estão sujeitas
às mesmas desvantagens que o objeto para o qual
ela foi criada para medir" (Dos Erros e da Verdade). Assim, a extensão
dos corpos não é determinada mais precisamente do que as suas
outras propriedades físicas (sensoriais, perceptíveis, etc.).
"A extensão existe apenas pelo movimento, o que não quer
dizer, contudo, que o movimento se origine daquilo que tem extensão.
É certo que no nível perceptível, o movimento não
pode ser concebido fora da extensão, mas apesar dos princípios
que geram o movimento no plano perceptível serem imateriais, a sua
ação não é necessária e eterna, porque
eles (os princípios) são seres secundários para os
quais a transmissão da ação da Causa Ativa e Inteligente
só ocorre uma vez" (Dos Erros e da Verdade).
A real medida da extensão deve ser procurada fora dela, no princípio
pela qual ela foi criada, como todas as outras propriedades da matéria.
"É certo que os geômetras criticam os números usados
para tomar medidas perceptíveis e difíceis (como no caso de
curvas). Mas estes números são relativos, são uma convenção;
com a escala deles não podemos medir extensões de outro tipo.
A dificuldade experimentada na medida de curvas deve ser atribuída
à isto. A medida empregada para tal fim foi feita para linhas retas
e oferece obstáculos intransponíveis ao ser aplicada às
linhas circulares, ou qualquer curva delas derivadas" (Dos Erros e
da Verdade).
O conceito de círculo como uma junção de linhas retas
infinitesimais não é, na opinião de Saint-Martin, uma
concepção verdadeira. Pois contradiz o que a Natureza nos
oferece como uma circunferência - por assim dizer, uma linha, na qual
todos os pontos são eqüidistantes de um centro comum. 3
"Se a circunferência fosse a junção de pequenas
linhas retas, por menores que fossem, todos os seus pontos
não poderiam ser eqüidistantes do centro. Já que estas
linhas retas seriam elas mesmas compostas por pontos,
entre os quais os extremos e os intermediários não podem estar
a mesma distância do centro, que não é
portanto, comum a todos eles, pelo que a circunferência deixa de ser
uma circunferência" (Dos Erros e da
Verdade).
Saint-Martin estabelece a diferença entre a linha reta e a curva
da seguinte forma: "O objetivo da linha reta é perpetuar, até
o infinito, a produção do ponto do qual ela emana, no entanto,
a linha curva limita, em cada um de seus pontos, a produção
de uma linha reta, já que ela tende a destruí-la constantemente
e pode ser considerada, por assim dizer, como inimiga da reta. Não
existe nenhuma característica comum a estes dois tipos de linha,
portanto não pode haver uma medida comum possível de ser aplicada
às duas" (Dos Erros e da Verdade).
Seguindo esta distinção, deveríamos estar dispostos
a encarar o círculo não como uma figura perfeita, mas como
inferior e limitada: um paradoxo que nos leva ao segundo axioma de Saint-Martin,
de que tudo na Natureza tem o seu número, pelo qual pode ser identificado,
pois suas propriedades estão de acordo às leis contidas naquele
número.
As linhas retas e curvas sendo diferenciadas por suas naturezas, têm
cada uma o seu próprio número. A linha reta contém
o número 4. A curva, o número 9. Possuir extensões
maiores ou menores não faz a mínima diferença com respeito
a estes números, porque: "uma linha grande ou pequena, é,
cada uma, o resultado de sua lei e de seu número, operando de forma
diversificada. Isto é, com mais ou menos poder em cada caso, já
que estes números permanecem sempre intactos, apesar de suas faculdades
serem aumentadas ou diminuídas, na variação à
qual cada extensão for suscetível" (Dos Erros e da Verdade).
Destas considerações, Saint-Martin conclui que não
há frações na Natureza e que estas são mutilações
dos números:
"Os princípios dos seres corpóreos são simples
e portanto, indivisíveis. Da mesma forma, os números que os
representam, gozam de idêntica faculdade" (Dos Erros e da Verdade).
Saint-Martin aplica o número 9 ao círculo pela seguinte razão:
"O círculo é equivalente a zero; seu centro pode ser
visto como uma unidade porque uma circunferência pode ter apenas um
centro; a unidade justaposta ao zero forma o número 10, ou o centro
com a circunferência. O círculo, no entanto, pode ser entendido
como um ser corpóreo, sendo a circunferência o corpo e o centro,
o princípio imaterial. Mas o princípio imaterial pode sempre
ser separado intelectualmente da forma corpórea. Operação
que é equivalente à separação do centro e da
circunferência ou, 1 retirado de 10. A subtração de
1 de 10 resulta em 9; a subtração da unidade deixa a linha
circular como zero; portanto, 9 é equivalente ao círculo.
Esta correspondência entre zero, que sozinho não é nada,
com o número 9, pode ser usada para justificar o ponto de vista de
que a matéria é ilusória" (Dos Erros e da Verdade).
O número da extensão é, de acordo com Saint-Martin,
o mesmo que o número da linha curva, de onde, na sua fraseologia
oculta, ele tem também o mesmo peso e a mesma medida. O círculo
e sua extensão, que é a linha curva, são de fato uma
única e mesma coisa, de onde se deduz que a linha curva é,
por si só, corpórea e perceptível. "A Natureza
material e a sua extensão não podem ser compostas através
de linhas retas, ou em outras palavras, não há linhas retas
na natureza" (Dos Erros e da Verdade). A razão assinalada para
esta afirmação é que, apesar de o princípio
das coisas físicas ser o fogo, a sua materialização
se origina da água, sendo este o motivo dos corpos serem fluidos
em seu estado primário. Mas o líquido é a união
de partículas esféricas e os próprios corpos podem
ser vistos como a união de tais partículas.
O número 4 aplica-se à linha reta, de acordo com o seguinte
argumento: "Existem três princípios em todos os corpos;
o círculo é um corpo; os raios de um círculo são
linhas retas, materialmente falando; e por sua aparente retidão e
capacidade de se prolongar ao infinito eles são a imagem real do
princípio gerador. Os espaços entre os raios são triângulos
e assim, a ação do princípio gerador é manifestada
pela produção de uma tríade. Ao juntar o número
do centro com a tríade por ele gerada teremos um sinal do quaternário.
Portanto, a concepção de uma ligação íntima
entre o centro (ou princípio gerador) e o princípio secundário,
que está provado ser 3; pelos 3 lados do triângulo e pelas
3 dimensões, nos dá a idéia mais perfeita do que seja
o nosso quaternário imaterial. Como esta manifestação
quaternária acontece somente pela emanação do raio
a partir do centro; e como estes raios, sempre prolongados em linha reta
são os órgãos e ação do princípio
central, aplicamos o número 4, sem receio, à linha reta e
ao raio que a representa. A linha curva, por sua vez, não produz
nada, mas limita a ação e a produção do raio.
De fato, é ao número 4 e ao quadrado que a Geometria refere
tudo que mede, considerando todos os triângulos como divisões
de quadrados. Esta figura (do quadrado) é formada por 4 linhas tidas
como retas, similares ao raio da circunferência e, conseqüentemente,
quaternárias" (Dos Erros e da Verdade).
Destas considerações, Saint-Martin conclui que o número
que produz os seres é aquele que também as mede, e que a medida
correta dos seres é encontrada em seu princípio, não
no seu invólucro ou na sua extensão. Portanto, ele reconhece
apenas uma raiz quadrada e um número que corresponde ao quadrado
do outro.
Mas o 4 não é somente o número da linha reta, mas também
o do movimento. "Há, portanto, grande analogia entre o princípio
do movimento e o da linha reta. Este fenômeno não é,
todavia, apenas uma analogia de seu número idêntico, mas também
porque a fonte da ação das coisas sensoriais reside no movimento
e, também porque a linha reta é o emblema do infinito. E a
continuidade da produção do ponto do qual ela se origina"
(Dos Erros e da Verdade). A semelhança do número também
fornece a identidade das propriedades e da lei: "e portanto a linha
reta dirige as coisas corpóreas e estendidas, mas nunca se mistura
a elas, nunca se torna perceptível; pois um princípio não
pode ser confundido com aquilo que gera" (Dos Erros e da Verdade).
Juntando as observações sobre a linha reta e se referindo,
então, à questão do círculo, Saint-Martin complementa:
"Mas se não há linhas retas na Natureza, o círculo
não pode ser a uma junção de linhas retas" (Dos
Erros e da Verdade).
Se agora procurarmos descobrir os objetivos desta crítica extraordinária
e aprender como podemos obter a medida correta das coisas por seus princípios,
devemos confessar que podemos recolher uma luz deste misticismo. De nada
serve dizer que a valoração correta das propriedades dos seres
é feita através dos seus princípios, a não ser
que possamos alcançar seus princípios. Saint-Martin admite
que pode ser "difícil ler nestas entrelinhas", mas que
nenhuma certeza pode ser encontrada fora daquilo que "a tudo governa
e pondera" (Dos Erros e da Verdade).
Onde está a chave com a qual podemos abrir as portas do mundo dos
fenômenos e nos comunicarmos com as realidades que se escondem por
trás dele ? Não é preciso dizer que Saint-Martin não
a entrega; a razão pode nos levar ao reconhecimento do mundo das
idéias puras às quais nenhum objeto material corresponda,
mas a razão não pode nos conceder estas chaves. A última
palavra do místico é uma aparição velada dos
campos que são comandados por uma faculdade mais elevada que a racional:
"Apesar de ser possível julgar a medida da extensão das
coisas, pelo recurso aos princípios, seria profanação
empregá-lo em combinações materiais, pois pode nos
levar à descoberta de verdades mais importantes do que aquelas relacionadas
à matéria, enquanto que os sentidos são suficientes
para orientar o homem em assuntos materiais" (Dos Erros e da Verdade).
Portanto, até mesmo na demonstração de Saint-Martin,
os geômetras não estão de todo errados!
Antes de deixarmos esta surpreendente crítica da matemática,
os curiosos podem gostar de saber sobre um argumento contra a quadratura
do círculo que De Morgan com certeza gostaria de incluir em sua obra
"Orçamento dos Paradoxos", se ele estivesse ambientado
com a mística francesa (a corrente mística do Martinismo).
"Desde a queda o homem tem tentado conciliar a linha reta com a curva;
em outras palavras, tem se esforçado para descobrir o que é
chamado de quadratura do círculo. Antes da sua Queda ele não
buscava a realização de uma impossibilidade evidente, a redução
de 9 a 4, ou a extensão de 4 a 9. O verdadeiro meio de se chegar
ao conhecimento das coisas é iniciar por não confundi-las,
mas por dedicar-se ao exame de cada uma delas de acordo com o seu número
e lei próprios." (Dos Erros e da Verdade).
Há muitos questionamentos, todos levando a conclusões mais
ou menos curiosas realizados por Saint-Martin, a respeito da ciência
matemática, mas muitas vezes, é difícil acompanhá-lo.
Não podemos dizer, porque ele deixou muitas coisas obscuras em seus
escritos.
Saint-Martin enxergava a matemática como a representante da lei universal
da energia e resistência, porque ela é usada para descobrir
e expressar relações de dimensões, quantidades e pesos,
que, em cada uma de suas categorias são a expressão da energia
e da resistência atuando em tudo o que existe.
Nestas correlações ele traçou comentários curiosos
sobre o Teorema do Binômio e, especialmente a respeito do que era,
na época, uma descoberta recente feita por Descartes, "a equação
das curvas" às quais as expressões pertenciam as curvas
e as equações representavam as suas características.
Saint-Martin via a existência corpórea, geral e particular,
como uma quadratura universal e contínua, porque a energia, ou forças
das coordenadas não podem levarnos a qualquer lugar, ou deixar qualquer
espaço aberto às resistências da curva. Assim, esta
curva, ou resistência é sempre combinada com e moldada sobre
a energia em questão, e nunca ocupa nenhum espaço além
daquele que é dado a ela (O Espírito das Coisas).
Comentando a respeito da velha máxima de que a metafísica
é a matemática de Deus, a matemática a metafísica
da Natureza e a geometria transcendental, ou elevada a metafísica
da matemática, ele concluiu que a linha reta é o princípio
e o fim de toda a geometria; e que apesar da teoria das curvas, das figuras
que elas abarcam e de suas propriedades, constituem o que é chamado
de geometria avançada. A verdadeira geometria transcendental, disse
Saint-Martin, é a das linhas retas: "pois esta originou a geometria
das linhas curvas, sendo mais central, mais
inacessível ao nosso conhecimento, pois opera dentro do círculo,
ou por trás do invólucro das coisas, enquanto que a geometria
das curvas opera apenas na superfície, sendo portanto sua circunferência
e perímetro" (O Espírito das Coisas).
A aplicação da Matemática à Física é
a tentativa de extendê-las ao domínio da Medicina, o cálculo
das probabilidades e a investigação da lei das ocorrências
levou Saint-Martin à hipótese de uma Matemática e Aritmética
universais, que seguisse todas as leis e atuações dos seres;
mas ele acrescentava que, para alcançá-la deveríamos
ser capazes de contar o valor integral das coisas, ao invés de calcular
apenas as suas dimensões e propriedades externas. "O matemático
não possui, na verdade, os princípios fundamentais da Matemática
e do Cálculo" (O Espírito das Coisas). Ele observa leis
externas inscritas nas superfícies dos corpos, nos efeitos ostensivos
da mobilidade, no progresso externo da numeração; ele agrupou
todas estas informações, que apesar de verdadeiras, são
apenas resultados e erigiu estes resultados como princípios.
Eles são princípios, mas de um tipo secundário, se
comparados às leis fundamentais e ativas das coisas. Ao tentar penetrar
no Santuário da Natureza munido apenas de princípios secundários,
o homem conquistou seu objetivo de maneira imperfeita, porque seus meios
foram inferiores e insuficientes. "Ele tem as chaves da superfície
e pode chegar aos tesouros da superfície, mas não tem as chaves
ativas e centrais e estes tesouros estão proibidos aos homens"
(O Espírito das Coisas).
A FILOSOFIA DOS NÚMEROS
Os paradoxos matemáticos propostos por Saint-Martin podem ser vistos,
quase que incontestavelmente, como sutilezas desenvolvidas por ele da doutrina
oculta dos números recebidas por ele na época de sua iniciação.
A própria doutrina devia ser ela mesma simples o bastante e sem qualquer
objeção ou crítica à Matemática. Ela
estava limitada a relacionar certas idéias místicas aos números
e a esse respeito, ela é de interesse elevado para o estudante de
ocultismo, porque o seu misticismo numérico é um tanto quanto
contrário ao de qualquer outra escola conhecida, especialmente ao
tratar o quinário como um número maléfico, depois de
tudo que já escutamos em ocultismo, a respeito das maravilhosas revelações
do pentagrama. Alguém pode ponderar a respeito das idéias
de Saint-Martin a respeito dos números e se perguntar se elas foram
inteiramente concebidas por ele, ou não.
Parece-nos que a doutrina numérica de Saint-Martin são apenas
fragmentos retirados de um edifício de conhecimento ocultista. Também
é necessário acrescentar que ele não exagerou a respeito
da importância da ciência que ele adquiriu, desta forma. Ele
afirma que: "desde o seu ingresso na primeira escola, ele nunca havia
pensado que os números forneciam mais do que a substância corriqueira
da matéria em si mesma" (Correspondência Teosófica,
carta LXXIV). Entendemos por isso que os números são um método
de classificação que pode ser convencional, ou que são
símbolos estabelecidos que não devem ser entendidos literalmente;
desta forma quando ouvimos o número da matéria, o número
do homem e assim por diante, devemos depreender um caráter oculto
essencial, ou "virtude", mais ou menos arbitrariamente atribuída
para fazer analogias rapidamente.
Isto está demonstrado muito claramente por outras palavras dele mesmo:
"Os números são a expressão perceptível,
sejam sensoriais ou intelectuais, das diferentes propriedades dos seres,
os quais todos se originam da fonte única. Apesar de deduzirmos da
tradição e de ensinamentos teóricos uma parte desta
ciência, só a regeneração nos mostra a verdadeira
base, assim, cada um a seu modo, obtêm as verdadeiras chaves sem mestres"
(Corresp. Teosófica, carta XC). "Além disso, os números
expressam verdades, mas não as dão; o
homem não escolheu os números, mas os discerniu nas propriedades
naturais das coisas" (Corresp. Teosófica, carta XCII).
Através desta introdução, orientamos sobre a forma
mais aproximada de se enxergar um assunto obscuro que é tratado sem
muita luminosidade. Agora, nos propomos a apresentar a doutrina geral de
Saint-Martin a respeito da filosofia dos números que foi extraída
de uma série de dissertações, em grande parte dos escritos
do próprio Saint-Martin.
Os números são as traduções resumidas ou a linguagem
concisa daquelas verdades cujos textos e conceitos estão em Deus,
no homem e na Natureza ("Os números são os envoltórios
invisíveis dos seres, assim como os corpos são seus invólucros
perceptíveis" - Tableu Naturel). "Devemos tomar o cuidado
de separar os números das idéias que são representadas
por eles, pois assim eles perdem toda sua virtude e são como a sintaxe
de uma linguagem cujas palavras nos são desconhecidas" (Os Números).
O caráter de cada número, na série de dez, pode ser
descoberto pela operação particular à qual ele está
ligado e ao objeto no qual o número repousa. Se segue daí
que a virtude dos seres não está nos números, mas aquele
número é em virtude daqueles seres dele derivados. "Grandes
vantagens podem ser conseguidas pelos homens através da inteligência
do uso correto dos números. O desenvolvimento das propriedades dos
seres é ativo e estas propriedades têm inúmeras correspondências
crescentes e decrescentes entre elas; portanto a combinação
dos
números, tomada na regularidade dos sentidos neles descobertos por
uma observação racional, nos levará a especulações
incertas, e poderá retificar o que é falso, considerando que
este cálculo verdadeiro e espiritual, ou álgebra das realidades,
como os cálculos e a álgebra convencional das aparências,
a partir do momento que seus valores são conhecidos, nos levarão
a resultados precisos e positivos" (Os Números).
Mas, originalmente, os números recebem os seus valores a partir da
natureza das coisas e não da vontade humana;
eles nos conduzem a verdades relativas as causas primeiras, fundamentalmente
ligadas ao nosso ser. "Sem a chave dos números, as correspondências
entre as três regiões da verdadeira filosofia: divina, espiritual
e natural, não poderiam ser estabelecidas ou observadas corretamente"
(Os Números).
"Entre as maravilhas oferecidas àqueles que circunspectamente
caminham na trilha dos números, não apenas somos ensinados
a admirar a magnificência de Deus, mas também a distinguir
entre aquilo que nos é permitido conhecer, daquilo que é permanentemente
velado à nossa compreensão e fora do alcance de nossa compreensão"
(Os Números). A forma de nossa emanação e geração
na unidade divina é um conhecimento a nós interditado, porque
o Trabalho de uma emanação está reservado ao Princípio
Supremo e a sabedoria a respeito daquela criação também
é reservada a Ele.
"Com este conhecimento, deveríamos ser independentes Dele, poderíamos
realizar o Seu trabalho e, numa palavra, seríamos Deus como Ele.
"Mas enquanto a lei dos números impede este conhecimento, ela
também oferece a prova de que a nossa criação é
divina e demonstra que nos originamos diretamente de Deus" (Os Números).
No verdadeiro cálculo, há raízes que são fundamentais
e aquelas que não o são. O mesmo acontece com alguns poderes;
enquanto que no cálculo aritmético todas as raízes
são contingentes e todos os poderes variáveis. No verdadeiro
cálculo, o nome do poder essencial pertence especificamente a um
homem, mas não àquele da raiz essencial; e é na observação
destas duas sentenças que encontramos, de uma vez por todas, a prova
de que nos originamos de Deus e a impossibilidade de se saber de que forma
nós nos originamos.
Simultaneamente Saint-Martin observa que entre as coisas que o homem perdeu
em sua Queda, estava o conhecimento das raízes dos números.
Este conhecimento é agora, impossível para o homem, pois ele
não conhece a primeira de todas as raízes. Portanto, o mundo
não sabe que concepção formar a respeito dos números.
Para obter este conceito devemos refletir no que deve ser o princípio
das coisas; se existe em seu peso, seu número e sua medida. "O
número é aquilo que engendra a ação, a medida
é o que governa esta ação e o peso é o que a
opera" (Dos Erros e da Verdade). "Eles estão no seio da
Sabedoria que acompanha a todos os seres ao serem gerados, isto lhes concede
uma emanação de sua própria essência e ao mesmo
tempo de sua sabedoria, de que a criação pode ser a sua semelhança.
Portanto, todos os seres têm consigo uma parcela daquele peso, daquele
número e de sua medida" (Trabalhos Póstumas).
A TABELA MÍSTICA DAS CORRESPONDÊNCIAS
ENTRE OS DEZ NÚMEROS
1 - A MÔNADA
"O Número Um existe e é concebido independentemente dos
outros números. Tendo lhes vivificado através do curso dos
dez números, ele os deixa para trás e retorna à unidade"
(Dos Erros e da Verdade). "Todos os números são derivados
da unidade como a sua emanação ou produto, enquanto que o
princípio da unidade está nela mesma e é de si própria
derivada. Na unidade, tudo é verdadeiro. Tudo que é eterno
é a partir da unidade, perfeito, enquanto que tudo que é falso,
está separado da unidade. A unidade multiplicada por si mesmo nunca
dá mais do que um pois ele não pode proliferar a partir de
si mesmo" (Os Números). "Se a unidade pudesse se gerar
e se equiparar ao seu próprio poder, ela se destruiria, como a ação
que se opera em cada raiz é finalizada por aquela operação.
Para que a unidade produzisse uma verdade central essencial, teria de haver
uma diferença entre a semente e o produto, a raiz e o poder. De acordo
com a lei das sementes e do produto, ao produzirem seus poderes eles tornam-se
inúteis. portanto, Deus não poderia reproduzir a Si mesmo
sem padecer. Do princípio, Ele se tornaria o meio e então,
se aniquilaria em seus termos. Mas como o princípio, o meio e o final
não são Nele diferenciados, já que Ele é tudo
isto de uma vez só, sem sucessão nas Suas ações
ou diferenças em Seus atributos, esta unidade nunca pode produzir
a si mesma e portanto, nunca foi gerada e nem extinta" (Os Números).
"Entre as coisas visíveis, o Sol é o símbolo da
unidade da ação divina, mas é uma unidade temporal
e composta, que não tem os mesmos direitos que pertencem ao seu protótipo"
(Obras Póstumas). Da mesma 7 forma, a sucessão contínua
de gerações físicas formam uma unidade temporal, que
é um signo desfigurado da simples, eterna e divina unidade. Estas
imagens não devem ser negligenciadas, pois elas refletem o seu modelo
distante.
"Os extremos se tocam sem se parecerem; portanto, os seres puros vivem
vidas simples; aqueles que estão em expiação tem uma
vida composta, ou vida mesclada à morte; seres soberanamente criminosos
e aqueles que a eles se assemelham, vivem e viverão, simplesmente
na morte, ou na unidade do mal" (Os Números).
Ao contemplarmos uma verdade importante, como o poder universal do Criador,
Sua majestuosidade, Seu amor, Sua profunda luz ou Seus outros atributos,
nós nos elevamos com todo nosso ser em direção do modelo
supremo de todas as coisas; todas as nossas faculdades são suspensas
para que possamos ser preenchidos com a Sua presença, com Quem na
verdade nos tornamos um. Ele é a imagem viva da unidade e o Número
Um é a expressão desta unidade ou união indivisível,
que existindo intimamente entre todos os atributos da união de forças
que Ele é, deveria existir igualmente entre Ele e todas as suas criaturas
e produtos.
"Mas depois de exaltarmos a nossa contemplação em direção
a esta fonte universal, se trouxermos nossos olhos de volta para nós
mesmos e nos preenchermos com a nossa própria contemplação,
para que possamos nos ver como a fonte daquelas luzes ou daquela satisfação
interior que derivamos de nossa fonte superior, estabelecemos assim dois
centros de contemplação, dois princípios separados
e rivais, duas bases dissociadas - ou, resumindo, duas unidades, das quais
uma é real e a outra é aparente e ilusória" (Os
Números).
II - A DÍADa
"O número dois tem princípio nele mesmo, mas não
se origina de si mesmo" (Os Números). É impossível
se
produzir dois de um e se algo se separa dele pela violência, só
pode ser ilegítimo e uma diminuição de si mesmo. Mas
esta diminuição é aquela do âmago do ser, pois
de outra forma, este seria apenas um. A diminuição feita no
âmago é realizado no meio do ser, pois dividir qualquer coisa
ao meio é cortá-la em duas partes. Esta é a verdadeira
origem do binário ilegítimo.
"Mas a diminuição em questão não torna
a unidade menos completa, pois esta não é suscetível
a nenhuma alteração; a perda recai sobre o ser que procura
atacar a unidade. Portanto, o mal é estranho à unidade. Mas
o centro, sem sair de seu valor, é removido para corrigi-lo por que
há algo de si mesmo no ser diminuído. Desta forma, podemos
entender não só a origem do mal, mas também que ele
não é um poder hipotético, já que todos nós
o tornamos real em quase todos os momentos de nossa existência"
(Os Números).
A díade é portanto, o poder perverso que serve como receptáculo
de todos os flagelos da justiça divina, que são ligados às
coisas materiais e perceptíveis para o castigo de seu líder
e de seus seguidores, que voluntariamente abandonaram o âmago divino
do seu correspondente espiritual. Sendo assim condenados ao exílio
e a atravessarem todo o horror de viver a separação da fonte
da vida.
"As virtudes inatas das formas corpóreas foram projetadas para
conter este poder perverso e quando o homem permite que as virtudes que
existem em seu corpo sejam enfraquecidas por esta vontade vil e criminosa,
os poderes perversos assumem o controle e atuam na destruição
daquele corpo" (Obras Póstumas).
A díade também é, de acordo com Saint-Martin, o verdadeiro
número da água.
III - A TRÍADE
"O Número Três não deriva seu princípio
de si próprio e nem mesmo tem um princípio" (Os Números).
As
observações a respeito deste número são dispersas
e obscuras, incluindo referências vagas a uma lei temporal da trindade,
da qual a lei temporal da dualidade depende completamente. "Na ordem
divina, 3 é a Santíssima Trindade, como 4 é o ato de
sua explosão e o 7, o produto universal e a imensidão infinitas
que resultaram das maravilhas desta explosão" (Corresp. Teosófica,
carta LXXVI).
"O número três nos é revelado só através
dos 12 unificados, como o 4 é por nós conhecido apenas pela
sua explosão ou multiplicação por 7, que nos dá
16, e como 7, que é a soma deste 16 (1+6 = 7), descreve a nossa supremacia
temporal (3) e espiritual (4), ou a imensidão de nosso destino, como
humanos" (Corresp. Teosófica, carta LXXVI). O número
três atua na direção das formas nas esferas celeste
e terrestre; isto é, sendo ternário, em todos os corpos, o
número dos princípios espirituais. "Todos os nomes e
símbolos que recaírem neste número pertencem às
formas, ou devem ter algum efeito sobre as formas" (Os Números).
Acima do celeste, foi o pensamento da Divindade que concebeu o projeto de
produzir este mundo, e assim o fez de forma ternária, porque esta
era a lei das formas, inata ao pensamento divino.
"Agora, os pensamentos de Deus são seres. A ação
harmoniosa e unanime na Divina Trindade é representada pelos três
padres quando eles conduzem juntos a Missa" (Os Números).
O Três é, também, o número das essências
ou elementos dos quais os corpos são universalmente compostos. Por
este número, a lei que dirige a formação dos elementos
é expressa e os elementos são resumidos a três, por
Saint-Martin, baseado no fato de que há apenas três dimensões,
três divisões possíveis de qualquer coisa sensória,
três figuras geométricas originais, três faculdades inatas
em qualquer ser, três mundos temporais, três níveis na
Maçonaria, e como esta lei da tríade demonstra a si mesmo
universalmente, de forma tão clara, é razoável supor
que o três também está no número dos elementos
que são a base de qualquer corpo.
"Se o número três é imposto a tudo que é
criado, é porque ele imperava em suas origens" (Obras Póstumas).
"Se tivessem havido quatro, ao invés de três elementos,
eles teriam sido indestrutíveis e o mundo eterno. Sendo três,
eles são esvaziados da existência permanente, porque eles não
têm unidade, como fica claro para aqueles que conhecem as verdadeiras
leis dos números" (Dos Erros e da Verdade). "A razão,
qualquer que seja ela, parece conflitar com outra afirmação
de que pode haver três em um, numa Trindade Divina, mas não
um em três, porque aquilo que é um em três deve estar
sujeito no fim, a morte" (Dos Erros e da Verdade). "O três
não é só o número da essência e da lei
que dirige todos os elementos, mas também, as suas incorporações"
(Dos Erros e da Verdade). "Ele é, finalmente, um número
mercurial terrestre que representa a parte sólida dos corpos, em
correspondência simbólica com a alma (sêxtuplo) dos animais,
do qual é o primeiro produto e o de todos os princípios intermediários
de todas as classes" (Obras Póstumas).
IV - A TÉTRADa
"O Número Quatro é aquele sem o qual nada poderia ser
revelado, pois é o número universal da perfeição"
(Dos Erros e da Verdade). "O Ser Supremo, apesar de estar ligado a
todos os números, se manifesta particularmente pelo número
do quadrado, que é ao mesmo tempo, o número do homem"
(Dos Erros e da Verdade). "Pela presença da realidade divina
neste numeral, ele age diretamente também, em todos os seres setenários
e remete à notável ordem que ocupavam em sua origem"
(Obras Póstumas).
O quadrado é um, como a raiz da qual é o produto e a imagem
pela qual se manifesta. Ele mede toda a circunferência, já
que o homem no centro do seu primeiro império abarcava todas as regiões
do universo. O quadrado é formado por quatro linhas e o lugar do
homem era indicado por quatro linhas de comunicação, que se
estendiam aos quatro pontos cardinais da natureza. Este quadrado se origina
no centro e o trono do homem era no seio da terra de seu domínio,
portanto governando os sete instrumentos de sua glória. O quadrado
é portanto, o verdadeiro símbolo daquele lugar de deleite
conhecido em todos os lugares pelo nome de Paraíso Terrestre.
"O quatro é o número de qualquer centro e assim sendo,
é o do fogo também, pois este ocupa o núcleo de todos
os corpos. É, da mesma forma, o do espírito temporal, garantido
ao homem para a sua reconciliação, mas este é o mais
interior dos três círculos que o homem tem de atravessar antes
de chegar o dia de sua Reconciliação, que é representada
pelo número três" (Obras Póstumas).
O quaternário, representado pelos quatro mil anos depois dos quais
"Cristo" nasceu neste mundo, é a imagem da manifestação
divina a se opor ao poder perverso que a represa dentro dos seus limites
de privação espiritual. O homem, a quem o número quatro
é destinado pela Providência Divina, não pode se beneficiar
deste número senão da mesma forma pela qual ele usou bem sucedidamente
o primeiro poder corporal que lhe foi dado, como uma forma de se proteger
contra a primeira ação maléfica do líder quinário.
"Se o homem permitir que este simples poder inferior seja degradado,
o inimigo tem muito mais facilidade de atacá-lo, com vantagens, no
poder temporal ativo. Assim sendo, longe deste poder ser usado para benefício
da humanidade, à qual ele deveria comunicar amor, vontade, fé,
pleno de todas os sentimentos espirituais próprios a esta reconciliação,
o intelecto maléfico faz uso deste mesmo veículo (número
4) para sugerir todas as paixões falsas e más e os sentimentos
que separam o homem do seu objetivo" (Obras Póstumas).
Desta forma, o espírito reparador dos crimes da posterioridade humana
para a manutenção da justiça divina é, também,
anunciado pelo número Quatro.
V - A PENTADa
No misticismo numérico de Saint-Martin, o quinário é
o número do princípio maléfico. Portanto, seu pensamento
difere, como já havíamos dito, daqueles sistemas ocultos de
numeração que vêem no 5 uma forma especial do microcosmos
ou do homem. Também é um aspecto do caráter fragmentário
da doutrina Martinista dos números, 9 pois ficamos sem detalhes a
respeito das propriedades do quinário, ou da péntada. Aqui
somos levados a imaginar que Saint-Martin reteve muitas informações
a respeito deste número.
"É dito que 2 se torna 3 pela sua diminuição,
3 se torna 4 pelo seu centro, 4 é falsificado pelo seu centro duplo,
que perfaz 5; e 5 é restringido pelos números 6, 7, 8, 9,
10, que formam os corretores e retificadores da péntada maléfica"
(Os Números). O número também se liga ao que Saint-Martin
nos diz a respeito da aplicação dobrada de todos os números.
Números verdadeiros sempre produzem, invariavelmente, a vida, a ordem
e a harmonia. Portanto, eles sempre agem a favor e nunca são negativos,
mesmo quando servem de açoites da justiça, castigando para
reparar o mal.
Ao passar pela mutação em seres livres, o caráter dos
números é assim transformado, porque são outros números
que tomam os seus lugares, enquanto que as suas prerrogativas originais
permanecem sempre as mesmas em suas essências.
Os números falsos, ao contrário, nada produzem. Podem imitar
a verdade como macacos, mas nunca conseguem reproduzi-la. Eles se manifestam
no desmembramento, nunca na criação, porque eles se tornaram
falsos pela divisão e perderam a capacidade criativa. Uma prova disto
é encontrada na lenda das cinco virgens tolas, que ficaram sem óleo
(para se perfumar e ungir) porque sua conduta as havia separado das suas
outras cinco companheiras e também de seus noivos.
As virgens sábias concebiam apenas através de seus maridos
e quando elas se uniam a eles, elas não eram mais 5, mas sim 10,
já que cada uma se unia a um deles. Ou então, eram 6, se o
marido for representado apenas por 1 (por uma idéia, um princípio).
Portanto, as outras 5 virgens são tão limitadas e insignificantes
nos seus verdadeiros números que, incapazes de renovar seu óleo,
são forçadas a se refugiar na prudência e a acertar
as contas com a caridade, que pode ser encontrada apenas nos números
vivificadores, cuja força flui do núcleo do amor. Entretanto,
devemos distinguir entre os números falsos quando são empregados
para realizar a reintegração e quando estão perpetuando
suas próprias injustiças. Neste caso, eles são totalmente
entregues a si mesmos e separados da verdade. Mas ao serem usados como instrumentos
de reintegração, seres verdadeiros assumem as suas formas
e caráter para descender às suas regiões infectas."Ao
assumir as formas destes números falsos, estes outros Seres as corrigem,
relacionando-as aos números legítimos, assim opondo o verdadeiro
ao falso. Desta maneira, estes Seres também produzem a morte da morte"
(Os Números).
VI - A Héxada
Este Número é a forma pela qual cada operação
se realiza. Não é um agente individual, mas possui uma afinidade
com tudo aquilo que age e nenhum agente realiza qualquer ação
sem passar por este número. O seis é a correspondência
eterna da circunferência divina com Deus. Por este motivo, Deus que
tudo cria, abarca e tudo circunda.
A circunferência é composta por seis triângulos equiláteros.
Os quais são produtos de dois triângulos que agem um sobre
o outro. O seis é a expressão dos seis atos do pensamento
divino, manifestados nos 6 dias da criação e destinados a
realizar a sua reintegração. Portanto, este número
é a forma através da qual tudo se gera, apesar de não
ser nem seu princípio e nem seu agente. É na adição
teosófica (adição teosófica é a soma
dos algarismos unitários que compõe um número. Assim,
a adição teosófica de 10 é igual a 1, por que
1 + 0 = 1) do número três que encontramos a prova da influência
que o seis tem sobre a corporificação dos princípios.
As Escrituras remontam o seis à origem das coisas e o levam para
além das coisas. Tendo realizado o trabalho dos 6 dias, o seis põe,
no Apocalipse, perante o trono do Eterno, 4 animais de 6 asas e 24 anciãos,
que se prostram perante Deus. Com isto vemos que o seis é a maneira
universal das coisas, porque tem o mesmo caráter na ordem universal
e assim sendo, nossas faculdades trinas têm de seguí-lo para
obterem a realização de suas ações: Pensamento,
1; Vontade, 2; Ação, 3 que é igual a 6.
Os 24 anciãos do Apocalipse são iguais a 6, que é por
assim dizer: 1, 3, 4, 7, 8, 10. Estes números somados formam 33,
incluindo o zero - que é a imagem e evidência das aparições
corpóreas. Mas eles somam 24 sem o zero. Portanto, estes seis números
sozinhos são reais e imateriais, agiram e agirão eternamente.
E isto é o mesmo que dizer que há eternamente dois poderes:
aquele de Deus e aquele do Espírito.
O seis foi ultrajado nas várias prevaricações que fizeram
com que o Reparador descesse a esta Terra; foi necessário que ele
viesse reparar aquela realidade. Por esta razão, ele transformou
a água, contida nos 6 jarros no casamento de Canaã, em vinho.
"Não é menos verdade que a héxada, sendo apenas
a forma de atuação de todas as coisas, não pode ser
vista, precisamente, como um número ativo e real, mas sim como uma
lei eterna impressa em todos os números.
Também sendo aquilo sobre o que o homem tinha o domínio, originalmente,
e sobre o que ele irá governar novamente, depois da sua Reintegração"
(Os Números).
Finalmente, o número 2 opera na héxada de formas que são
apenas uma adição passiva dos dois princípios (Deus
e o Espírito). A raiz destes é dois e é também
o agente de suas formas e sensações pela multiplicação
de seus próprios elementos.
VII - A Hêptada
"O Número do setenário espiritual significa o próprio
Poder Divino" (Obras Póstumas).
Este é o número das formas universais do Espírito;
o seu fruto sendo encontrado nos seus múltiplos. O quadrado de 7,
é 49, é portanto o 7 em desenvolvimento, enquanto que em sua
raiz, é o 7 concentrado. Esta explicação se faz necessária
antes de prosseguir, para chegar ao 8, que é o espelho temporal do
invisível incalculável denário (série de dez).
Enquanto passa de 7 à 8, através da grande unidade com a qual
se reúne, ele também passa de 49 ao 50, através da
mesma unificação com a unidade. E leva o elemento quaternário
da alma humana à sua integração ao faze-lo transcender
e abolir o caráter de 9 (novenário) das aparências,
que é o nosso limite e a causa de nossas privações.
"Isto demonstra que 5 é igual a 8 e que 8 é igual a 5,
na grande maravilha que o Divino Reparador produziu para nós, para
que possamos nos regenerar" (Corresp. Teosófica, carta XC).
Obs.: Nesta carta, Saint-Martin afirma que esta revelação
foi feita diretamente para sua inteligência; e que não se originou
de nenhum homem .O sete é produto de uma única operação:
4 x 4 = 16 = 1+ 6 (redução teosófica) = 7. "A
hêptada é ao mesmo tempo o número do Espírito,
por que se origina do Divino e perfaz 28, na contagem de seu poder duplo
contrário ao poder lunar. Deveria ser notado que o número
28 indica que a Palavra não se realizou, até a segunda prevaricação.
Mas estas são simples palavras, porque 7 vindo de 76 não é
raiz (redução teosófica), nem é o poder fundamental
de 4, pois penetra na raiz apenas através da adição"
(Os Números).
"Independentemente da raiz numérica (Raiz Numérica: neste
texto, o termo raiz numérica é empregado para designar o produto
da redução teosófica) que expressa o poder setenário
da alma, podemos descobri-la nos poderes sobre a trindade dos elementos
e a dos princípios. Este poder sobre as duas trindades (dois triângulos)
forma o eixo central humano. A alma é o centro destes dois triângulos.
Se, ao invés deste centro, analisarmos o poder da alma sobre o que
é celestial, encontraremos de forma mais clara o poder setenário
da alma sobre o físico e o espiritual" (Os Números).
Mas 7 x 7 = 49 x 7 = 343. O homem é elevado a este posto, ou melhor,
emancipado desta forma, só quando seu poder é triplicado,
formando o seu cubo. É nos elementos deste cubo que podemos enxergar
claramente o destino deste homem primordial, já que ele foi posto
entre o triângulo superior - do qual derivou tudo - e o triângulo
inferior, o qual ele domina. Para conhecermos as verdadeiras propriedades
de um ser, o seu poder tem de ser analisado de forma cúbica (elevado
à terceira potência), pois somente assim todas as suas potencialidades
são reveladas, ou desenvolvidas.
O Número Sete também indica que a manifestação
da justiça universal, ou temporalidade, deve ser enviada a todos
os prevaricadores, apesar de ser o número Quatro o agente que executa
esta justiça. Como este agente é o Espírito e o Espírito
não pode aparecer no tempo sem uma embalagem corpórea, Este
é feito perceptível pela seteneidade, que é o corpo
do quaternário, como o seis é o corpo do setenário,
assim como a trindade material é o corpo do seis que a executou.
Concluindo, o quaternário é o corpo da unidade, que não
pode ser manifestada neste mundo em sua forma absoluta, mas deve subdividir
os poderes que foram colocados na criação, para que possamos
entendê-la.
VIII - A Ôctada
É apenas depois do quadrado do Espírito se haver completado,
que a ôctada pode ter lugar. Enquanto que o seu trabalho pode ser
conhecido claramente apenas através do número 50, porque daí
o número da injustiça e o número da matéria
são dissipados pela influência vivificadora e regeneradora
da Unidade que as substitui. Ao que tange a Unidade Absoluta, ou o Pai,
ninguém nunca viu, ou O deverá ver neste mundo, exceto pelas
oitavas e por meio da ôctada, as únicas formas de alcança-lo.
"O número 50 desapareceu quando a Santíssima Oitava se
aproximou, porque os dois não poderiam coexistir. A injustiça
e as aparências não se sustentariam perante a unidade e o seu
poder. Isto é a razão de ser da Divina Igreja, fora à
qual, nenhum homem pode ser salvo e contra a qual os portais do inferno
não devem
prevalecer. Esta (a ôctada) é a chave que abre e ninguém
fecha, ou que tranca e ninguém mais abre"
(Os Números).
Cristo é trino em seus elementos de atuação, assim
como em seus fundamentos Seu número é 8, e sua extração
mística nos mostra que em seu trabalho na Terra ele foi de uma vez
só divino, corpóreo e perceptível. Apesar de ser, ao
se considerar sua ordem eterna, divino em seus três elementos. Ele
era o caminho, a verdade e a vida. Era necessário que ele compreendesse
em si mesmo o divino, uma alma sensória e o corpóreo, para
atuar aqui embaixo, na esfera perceptível.
Toda a criação - porque mesmo o nosso pensamento não
pode ser manifestado se não estiver associado ao nosso invólucro
individual mais grosseiro - não pode ser manifestado sem a mediação
de uma ligação material individual. Por isso, o Divino Reparador
não poderia estar associado à sua Natureza corpórea
(Cristo), senão através de uma alma sensória. Esta
alma O investe do número 4, seu Ser Divino é representado
pelo número 1 e seu corpo pelo número 3.
Em nós, a alma divina é representada pelo número 4,
o corpo pelo 9, enquanto que Saint-Martin afirmava que o número de
nossa alma sensória era por ele desconhecido. Mas ele tinha razão
ao pensar que fosse o mesmo do Salvador, porque em todos os outros elementos
semelhantes aos nossos, que ele possuía, ele invariavelmente detinha
números superiores.
A chave do homem consiste nesta alma sensória; através desta
é que ele é integrado à sua natureza sensória,
ou animal e corporal. Mas como ele não é posto nesta prisão
de livre e espontânea vontade, como Cristo o foi, não pode
ser esperado do homem conhecer as chaves que o trancam. Saint-Martin pensava,
no entanto, que este número correspondia ao seis.
IX - A ENeáDa
Nove é o número de todo limite espiritual, como a circunferência
material é o limite dos princípios elementais que lá
agem. Portanto, o nove representa o curso de todas as expiações
infringidas à humanidade, pela justiça divina. O homem decaiu
ao querer avançar do 4 ao 9 e apenas pode ser restaurado ao voltar
do 9 ao 4.
Esta lei é terrível, mas não é nada se comparada
com aquela do número 56, que é assustador para quem o encara,
já que eles não podem chegar aos 64, até terem atravessado
todas as suas provações. A passagem do 4 ao 9 é a passagem
do espírito para a matéria, que em dissolução,
de acordo com os números, perfaz 9. A respeito da lei do 56, esta
depende do conhecimento das propriedades e condições do número
8, que foram parte da luz obtida por Saint-Martin por meio de sua iniciação,
não sendo explicadas em maiores detalhes. "Mas é sabido
que os criminosos permaneceram no número 56, enquanto que os justos
e purificados chegarão ao 64, ou à Unidade" (Corresp.
Teosófica, carta XIII).
Saint-Martin afirma que recebeu este conhecimento da escola de Martinez
de Pasqually. Quaisquer que sejam os poderes elevados ao número 9,
ele sempre permanece sendo 9, porque, como 3 e 6, tem apenas um poder ternário,
enquanto que 4, 7, 8 e 10 são poderes secundários e sendo,
somente a unidade, o primeiro poder. Portanto a unidade, em todas as multiplicações
possíveis resulta somente em um, porque, como já foi visto,
ela não pode se separar e se reproduzir a si mesma. Ela (a Unidade)
se manifesta fora de si por seus poderes secundários e ternários,
eternamente ligados à Unidade.
"Se soubéssemos o caminho através do qual a unidade afeta
a manifestação de seus poderes, seríamos seus iguais.
No entanto, sabemos que ela realiza suas expansões apenas nesta série
de dez aqui apresentada. As expansões sozinhas operam apenas fora
desta série. Há expansões espirituais e das formas
que atuam por leis diferentes e produzem resultados distintos. Os poderes
secundários estão ligados diretamente ao centro, mas os ternários
se ligam ao centro só de forma mediadora (como meios para expressá-lo)
assim produzindo formas, sem uma lei criativa ou geradora, pois esta característica
é da Unidade e sem leis administrativas, pois estas são restritas
aos poderes secundários" (Os Números).
X - A DÉCADA
Pela união do setenário espiritual e do ternário temporal,
obtemos o tão famoso denário, que está sempre presente
nos pensamentos de um Iniciado. Como uma imagem da Divindade em si mesmo,
a década (ou série de dez), realiza a Reconciliação
de todos seres ao fazê-los retornar à unidade.
"O denário temporal é formada de dois números,
o 3 e o 7, mas o seu caráter está diretamente relacionado
à unidade e não está sujeito a qualquer divisão
ou substração" (Obras Póstumas).
12
"Quando os números são ligados à década,
nenhum deles apresenta qualquer traço de corrupção
ou deformidade; sendo que estas características se manifestam apenas
em suas separações. Entre os números com estas características
específicas alguns são totalmente maus, como 2 e 5, que sozinhos
são capazes de dividir a série sagrada de dez. Outros, estão
num processo ativo, de sofrimento ou cura, como acontece com o 4, o 7 e
o 8. Outros ainda são dados apenas pela sua aparência, como
o 3, o 6 e o 9. Mas nada disto é visto na série completa de
dez, porque naquela ordem suprema não há deformações,
ilusões, ou sofrimentos" (Os Números).