História
e lenda de Godofredo de Bulhão
Ao longo dos
tempos, a história e a lenda de Godofredo de Bulhão tornaram-se
difíceis de separar:
Segundo Guilherme de Tiro, o cronista do reino de Jerusalém do final
do século XII, ele era "alto de estatura, não extremamente,
mas mais alto do que a média. Tinha uma força sem comparação,
com membros solidamente feitos e um peito robusto. As suas feições
eram agradáveis, a sua barba e cabelo de um loiro médio".
Juntava à coragem, a prudência, a moderação e
a piedade mais viva.
Estátua equestre de Godofredo de Bulhão em Bruxelas, Bélgica...
enquanto que todo o povo cristão [
] fazia uma horrível
devastação de Sarracenos, o duque Godofredo abstinha-se de
qualquer massacre, [
] despiu a sua couraça e, envolvendo-se
em uma roupa de lã, saíu de pés nus pelas muralhas
e, seguindo os limites exteriores da cidade em completa humildade, reentrou
de seguida pela porta que faz face ao monte das Oliveiras; ele foi-se apresentar
perante o sepulcro de nosso senhor Jesus Cristo, filho de Deus vivo, verteu
lágrimas, pronunciou orações, cantou louvores a Deus
e Lhe deu graças por ter sido julgado digno de ver o que sempre tinha
desejado tão ardentemente. ...
-Tradução livre de Alberto de Aquisgrão sobre os passos
de Godofredo de Bulhão na conquista de Jerusalém
Por ter sido o primeiro governante da Jerusalém cristã, foi
idealizado em histórias posteriores. Era descrito como o líder
das cruzadas, o rei de Jerusalém e o legislador que compôs
os Assizes de Jerusalém (o livro de leis do reino). Por isso foi
incluído entre os Nove Valorosos (Les Neuf Preux em francês),
exemplos máximos do ideal da cavalaria: Heitor, Alexandre o Grande,
Júlio César, Josué, David, Judas Macabeu, Rei Artur,
Carlos Magno e Godofredo de Bulhão.
Na verdade, Godofredo foi apenas um dos vários líderes da
cruzada, de um grupo que incluía Raimundo IV de Toulouse, Boemundo
de Taranto, Roberto II da Flandres e Estevão II de Blois, tal como
o legado papal Ademar de Monteil, bispo de Le Puy. Balduíno de Bolonha,
o seu irmão mais novo, foi o primeiro a ser coroado rei de Jerusalém,
quando sucedeu ao irmão em 1100. E os assizes foram o resultado de
um desenvolvimento natural, provavelmente iniciado por Balduíno I.
O papel de Godofredo na cruzada foi também descrito por Alberto de
Aquisgrão, cronista do século XII em Aix-la-Chapelle, pelo
autor anónimo da Gesta Francorum (Os Feitos dos Francos), e por Raimundo
de Aguilers, entre outros.
Na literatura ficcional, foi o herói de numerosas canções
de gesta francesas sobre as cruzadas: o chamado Ciclo das Cruzadas, que
ligou os seus ancestrais à lenda do Cavaleiro do Cisne[3], actualmente
mais conhecida como a trama da ópera Lohengrin de Richard Wagner.
No tempo de Guilherme de Tiro, Godofredo já era um herói lendário
entre os descendentes dos primeiros cruzados. Acreditava-se que tinha sido
possuidor de uma imensa força física - inclusivamente que
lutara e vencera contra um urso na Cilícia, e que decapitara um camelo
com um golpe da sua espada.
O arcanjo Gabriel encarrega Godofredo de Bulhão de libertar Jerusalém
(afresco na Casa Massimo de Roma, 1817-1827)Torquato Tasso tornou-o no herói
do seu poema épico Gerusalemme Liberata (Jerusalém Libertada).
Em A Divina Comédia, Dante Alighieri vê o seu espírito
no Céu de Marte, junto aos outros "guerreiros da fé".
A ópera Rinaldo (1711) de Georg Friedrich Händel, apresenta-o
como Goffredo.
Em 24 de Agosto de 1848 foi erigida uma estátua equestre deste cruzado
no centro da Praça Real de Bruxelas, na Bélgica, da autoria
de Eugène Simonis.
Godofredo é uma figura chave das teorias dos livros O Sangue de Cristo
e o Santo GraalPE ou O Sangue Santo e o Santo GraalPB e O Código
Da Vinci
É também personagem central do livro The Iron Lance de Stephen
Lawhead.