Grandes Professos


Os "Grandes Professos" era "secreta" por definição. Willermoz, em seu "Preâmbulo" a Wilhelmsbad, dela fala somente sob uma forma obscura (o que não o impediu de receber, nos bastidores, as destacadas adesões de Charles de Hesse e do Duque Ferdinando de Brunswick, Grão-Mestre Geral da Ordem). A instrução aos C.B.C.S., datada de 1874, faz-lhe somente uma rápida alusão (não desespereis meu bem amado irmão, se seguires fielmente o caminho que acabamos de traçar, pois poderas encontrar algum dia aqueles Mestres, aos quais é inútil buscar se for empregada alguma via duvidosa. Eles vão à frente daqueles que os buscam com um desejo puro e verdadeiro"). Em 1872, "a lista geral dos Irmãos Grandes Professos" contava com 59 nomes reagrupados nos colégios de Lyon, Estrasburgo, Turim, Chambery, Grenoble, Montpelier e Nápoles (Steel-Maret, 1893, págs. 16-20). A Revolução causou-lhe muitos transtornos e, ao final de sua longa vida, Willermoz não contava com mais do que dois fiéis: seu sobrinho Jean Baptiste e Joseph-Antoine Pont. Mesmo assim, o Grande Professo ainda sobreviveu durante algum tempo na Alemanha graças ao Príncipe Christian de Hesse, mas sob uma forma extramaçônica (cf. J.Fabry, 1984).
Com a morte de Willermoz, J. A. Pont tornou-se herdeiro de seus arquivos, tendo renunciado, entretanto, a qualquer função até o ano de 1832, segundo afirma "Le Forestier" (pág. 935). Este autor relata o fato de J. A. Pont não ter aceitado confiar tais arquivos à "L´Union dês Cohen", de Genebra, entre os anos de 1829 e 1832.


O Grande Professo estaria extinto durante esta época? Este seria o pensamento geralmente aceito caso não fosse o aparecimento de um artigo que produziu uma grande agitação. Tal artigo, escrito por um autor que assinava Maharba, foi publicado na revista "Le Symbolisme" no ano de 1969, onde afirmava que Joseph-Antoine Pont, no dia 29 de maio de 1830, havia concedido uma carta para a constituição do Colégio e Capítulo provincial dos Grandes Professos em Genebra. Segundo ele, o Grande Arquiteto do Universo jamais havia permitido que sua ação se interrompesse. Existiria, pois, um Colégio Metropolitano em Genebra para amparar o Grande Priorado Independente da Helvetia, mesmo apesar da afirmação do Ritual dos C.B.C.S. corrigido por esta Obediência: "Não há nada mais além na Ordem na qual acabara de ingressar".
As suposições e conjecturas foram aumentando. Quem era este misterioso Maharba e de onde extraía o poder de suas afirmações? Na atualidade, sabemos que sob este pseudônimo se ocultava Jean Saunier, um destes maçons apaixonados com o dom de guardar a Maçonaria francesa em segredo. Falecido em 1992, deixou um dos livros mais inteligentes já escritos sobre a Ordem ("Les Franc-Masons", 1972). Assim descreve o Grande Professo: "Caracteriza-se por uma grande renúncia: nenhuma pompa, nenhuma decoração, nada de espetacular, como se fosse destinada àquele que tivesse percorrido toda uma hierarquia de complexos graus, algumas vezes até plenos de "brilhantismo cavalheiresco", e do despojar-se dos sonhos e ilusões. Não se sabia qual seria a melhor maneira de sugerir o quão vãs eram as formas exteriores para aqueles que se aproximam da iniciação verdadeira ou, em outras palavras, a necessidade de superar as formas" (pág. 239).
Não importa se Saunier fora recebido como Grande Professo em 1968, em Genebra ou em outra parte qualquer; não importa se a filiação tenha sido interrompida ou não depois de J.A. Pont. O essencial repousa em outro ponto: o "Segredo" do Professo e do Grande Professo é, atualmente, um segredo...público! Seus documentos, rituais e, sobretudo, as instruções fazem parte hoje do domínio público. Conservadas em Lyon, Haia e Copenhague, entre outras localidades, estão acessíveis a todos. Mais ainda, foram publicadas! Paul Vuillaud publicou as "Instruções aos Professos" em sua obra "Joseph de Maistre, Franc-Maçon" de 1926, págs. 231-247; Antoine Faivre publicou a dos Grandes Professos como apêndice à monumental obra "Franc-Maçonnerie Templière et Occultiste aux XVIIIe et XIXe Siècles" de René Le Forestier, 1970 (págs. 1023-1049).


Tais instruções, especialmente a segunda, são uma exposição bem completa e, sobretudo compreensível da doutrina de Martinez de Pasqually, arranjadas de modo a poder conciliá-las com as concepções católicas muito ortodoxas de Willermoz. Sua leitura é indispensável para uma melhor compreensão dos graus simbólicos do Rito, mais particularmente do quarto.
E isto não seria suficiente para salientar que, longe de serem secretas, tais "Instruções" não deveriam ser comunicadas a todo Maçom Retificado?


Por que manter, diante deste fato, uma ficção que só serve para atrair a cobiça, exaltar a vaidade dos "Eleitos" e suscitar a amargura dos demais? Ademais, se este grau "despojado", segundo as palavras de Jean Saunier, tinha algum valor ritualístico, nada era em si mesmo.
O "Cerimonial das assembléias da Ordem dos Grandes Professos", conservado no fundo Kloss em Haia, confirma plenamente as afirmações de Maharba. Resume-se a preces de abertura e fechamento, muito próximas às preces retificadas do primeiro grau (sem a mesma ênfase cristã que caracteriza a do C.B.C.S., e contendo também as variantes previstas para os dias de recepção), uma fórmula de compromisso, um sinal e algumas palavras distintas para os dois graus


Os "Estatutos e Regulamentos da Ordem dos Grandes Professos" (mesma fonte) nos introduzem no círculo íntimo, ensinando-nos que as assembléias estavam consagradas, além das recepções, às "leituras, conferências e instruções" (art. 32). Discutiam-se as matérias das conferências "sem nenhuma cerimônia, sem que se pudesse fazer alguma distinção de nível entre os irmãos" (art. 737).
Tratava-se, em suma, de um círculo de estudos, similar aos que atualmente são organizados nas lojas, sejam elas retificadas ou não. Ninguém pode negar que tal estrutura seja ainda mais necessária na atualidade para que os maçons, iniciados segundo as formas do Rito Retificado, conheçam e compreendam aquilo que constitui o âmago de seu Rito. Tais estruturas são reveladas pelas Instruções aos Professos e Grandes Professos. Não esqueçamos que a estrutura dos graus retificados é dupla: iniciática (o ritual de recepção) e pedagógica (as Instruções). Aplicar na execução dos rituais a precisão e o cuidado que nossos Irmãos Britânicos dedicam aos seus é, de fato, muito correto. Limitar-se a esta exigência com o entusiasmo e a intolerância de numerosos convertidos (temos exemplos cotidianos em algumas de nossas lojas) não seria somente um erro, mas também uma falta. Para que então limpar a fachada do edifício se o tesouro que este guarda está descuidado ou ignorado? O estudo destas instruções secretas, completado pela leitura dos graus Cohen, de seus catecismos, do "Tratado da Reintegração dos Seres Criados" de Martinez de Pasqually, e das obras de Louis Claude de Saint-Martin é indispensável para o maçom retificado, caso este queira merecer plenamente este título. Resta ainda saber se é necessário reservar este estudo somente aos membros escolhidos da Ordem Interior, como queria Willermoz, ou então, ao contrário, abri-lo a todos, se não desde o momento de sua iniciação, ao menos a partir do grau de Mestre Escocês.


A resposta a esta pergunta não é simples. Os documentos "secretos" do século XVIII são de domínio público na atualidade, e qualquer um pode ter acesso aos mesmos. Como, pois, proibir-lhes seu acesso?
Seria preciso consolar-se recordando que os textos se defendem por si mesmos, o que, por outro lado, estaria certo?
O problema não é novo. Cada um sabe que a Ordem Interior Cavalheiresca comparece na pedagogia retificada como um parêntesis. A instrução específica, bem avançada no quarto grau, parece se interromper nos graus quinto e sexto, para então não mais ser retomada até a classe "secreta". Neste caso, para quê conservar esta Ordem Cavalheiresca com sua pompa e decoração? Não seria supérfluo e destinado somente a exaltar a vaidade dos cavaleiros, revestidos de forma altiva e com um manto branco? A questão já foi exposta por Saltzmann e Bernard de Turckheim, que desejavam a supressão da Ordem Interior, de inspiração demasiadamente católica para o gosto dos luteranos de Estrasburgo. Willermoz lhes responde sem rodeios em carta endereçada a Turckheim, datada de 3 de Fevereiro de 1783:

"Vós propondes, como fizera em sua época o Irmão ab Hedera, que não haja futuramente mais do que os três graus simbólicos, suprimindo assim o escocismo e os dois graus da Ordem Interior; ademais, que a classe dos Grandes Professos faça o 4º, que estaria aberto e, de algum modo, prometido a todos, posto que receber maçons nos símbolos, sem assegurar-lhes uma possível evolução, seria como estar fazendo uma brincadeira com eles. Porém, não havendo nenhum intermediário entre os graus azuis e o Grande Professo, resultará que todos, exceto aqueles que decididamente mereceriam serem expulsos, teriam direito aos Grandes Professos, e, no sentido de não admitir ninguém que fosse indigno, ter-se-ia de usar maior severidade na escolha do Primeiro Grau . Este projeto seria simples e atrativo, mas, meu querido amigo, não conheceis suficientemente bem os homens e o espírito de uma sociedade republicana para ver que é impraticável, independentemente do perigo habitual que representa...? Se do Terceiro grau simbólico se saltasse diretamente à classe de Professo, sem nenhum grau intermediário, isto não se operaria sem preparar o candidato demasiado abertamente neste Terceiro grau, e tal preparação não poderia se efetivar sem mesclá-lo às formas ou instruções religiosas, isso em maior ou menor grau; ademais, no momento em que fosse mesclada a Religião à Maçonaria na Ordem Simbólica veríamos operar sua ruína... para tornar preferível nosso regime desvelaremos seus princípios e objetivo particular, nossos discursos oratórios converter-se-ão em sermões, e nossas Lojas, em igrejas ou em assembléias de piedade religiosa; sobre todo o edifício do Regime não nomearemos a classe secreta, mas praticamente a desvelaremos e, quando for conhecido qual é seu objetivo, nos converteremos em suspeitos e seremos expostos a perseguições... segundo meu conceito, caro amigo, a Maçonaria Simbólica não deve ser mais que uma escola de moral e de beneficência, mas sem nela introduzir nenhuma mescla ou propósito religioso, a não ser os princípios gerais que toda sociedade Cristã deve professar. Parece-me indispensável que haja entre esta classe e a seguinte, ou seja, religioso-científica, uma classe intermediária que apresente alguns desenvolvimentos dos símbolos, velando a última para preparar a seguinte. Nesta segunda classe será exigida a prática exata do que foi ensinado na primeira, e a fidelidade nesta prática abrirá a porta da terceira. Por isto, esta segunda tornar-se-á útil à humanidade e lhe entregará seus melhores membros; este será o objetivo e termo final da Ordem, sem que se faça menção do objetivo secreto que não mais existe após a abolição do antigo sistema. Qual será a alma honesta que não se sentiria satisfeita ao encontrar como objetivo final um sistema moral e benfeitor posto em prática? Convenhamos que aquele que não se contentasse não mereceria ser recebido como aprendiz. Quanto aos que experimentarem esta dupla preparação, teórica e prática, mostrarão maiores aptidões e desejos da 3ª classe velada pela 2ª que será sua justa recompensa; mas a segunda deve ser, de todo modo, suficientemente interessante por si mesma, como que para satisfazer em seu sentido próprio àqueles que se sentiriam enfastiados na primeira e que não teriam a aptidão necessária para a 3ª..." (em Renaissance Traditionnelle, 1978, 35: 179-181)


O projeto está claro. A primeira classe, teórica, ensina os rudimentos da doutrina por meio dos símbolos, ritos e instruções. Na segunda, a Ordem Interior, põe-se prática as virtudes morais e de beneficência. Esta exigência ética seguramente suplanta o marco das possessões, aplicando-se a todos os instantes da vida do cavaleiro maçom. É somente a aplicação prática desta exigência, juntamente com outras predisposições não definidas, que pode abrir as portas da terceira classe. A Ordem Interior é, antes de tudo, uma prova, destinada a seleção dos indivíduos dignos de ascender à última classe, consagrada ao estudo das matérias de cunho "religioso-científicas". Destacamos o parágrafo no qual Willermoz condena aqueles que convertem as lojas em sucedâneas da igreja, mesclando indevidamente Religião e Maçonaria.

Pelo que parece, o assunto está claro. Uma classe organizada de Grandes Professos não pode ser concebida se não for escolhida no seio dos C.B.C.S. Porém, uma vez mais, seria somente isso que resta destas "Instruções", cujo segredo se desvaneceu, tornando-se então algo público? Deixemo-las onde estão, acessíveis a quem as deseje, "abertas" a quem possa compreendê-las. O que poderia impedir que os Homens de Desejo, com ou sem "transmissão" se reúnam, na Paz daquele que está sempre entre eles, para meditar conjuntamente sobre os ensinamentos de nosso Rito? Destarte, não seria também esta a simplicidade tão quista por Willermoz