A Importância Dos Símbolos Para O Cristão

Baseado no texto original de Vinícius Ferreira Afonso


Em todas as esferas da sociedade, podemos observar a existência dos símbolos: a bandeira nacional é o emblema mais representativo de uma nação; o semáforo verde indica passagem livre para os automóveis; uma coroa, logo à primeira vista, já remete nosso pensamento à figura de um rei ou rainha.


Os símbolos são representações, alegorias que têm por objetivo exprimir um conceito de maneira clara e fácil. Por exemplo, basta observarmos na rua uma placa onde se vê uma seta vertical, e imediatamente sabemos que ela indica a possibilidade de se continuar o trajeto; nos tempos antigos, em alto mar, era só avistar o desenho de um crânio ao fundo de uma flâmula negra, para estremecerem os tripulantes de qualquer navio.


Tudo isso nos mostra que o ser humano necessita de símbolos para expressar e entender mais facilmente uma mensagem ou idéia. Estes símbolos estão presentes em nossa vida de uma maneira tão acentuada, que muitas vezes sequer nos damos conta: mostramos afeto a alguém que queremos bem por meio de um abraço; acenamos quando queremos saudar uma pessoa do outro lado da rua; a própria língua que falamos não é senão um meio de abstrairmos com palavras os fatos concretos que desejamos exprimir. A simbologia é, portanto, própria da natureza humana.


A Sagrada Escritura é repleta de símbolos: no Antigo Testamento, havia uma série de rituais utilizados para estabelecer aliança entre Deus e os homens, compostos de vários atos a serem praticados pelos judeus, com a finalidade de lembrar sua condição pecadora e servil e de recordar continuamente a misericórdia benigna do Senhor.


O mais importante dos símbolos no Antigo Testamento era o sacrifício, no qual um animal era imolado pelo sacerdote para a remissão dos pecados do povo (Lv I, 2-9). Por meio da simbologia do holocausto, podia-se entender melhor a idéia de que toda injúria necessita de uma reparação, após a qual o perdão é concedido, expresso pela aspersão do sangue da vítima sacrificada, símbolo de purificação. Os sacrifícios antigos, por sua vez, são uma prefiguração do Sacrifício Redentor de Yeschouá ( Jesus Cristo) pela salvação do gênero humano. No lugar de animais, o próprio Cordeiro de Deus se imola em penhor da vida eterna.


No Novo Testamento, também estão presentes inúmeras figuras simbólicas: o Lava-pés (Jo XIII, 4-17), por meio do qual Nosso Senhor ensina sobre a humildade e o serviço; o Batismo (Mt III, 13-17), cujas águas límpidas fazem lembrar a purificação da mancha do pecado original. O próprio Jesus se definiu como "a Videira verdadeira" (Jo XV, 1) e "a Porta" (Jo X, 9).
A Liturgia, conjunto dos elementos que compõem o mais precioso ato de louvor a Deus, é formada em grande parte de símbolos que nos ajudam a compreender melhor a realidade ensinada pelas Igrejas e pelas instituições Iniciaticas. Poderíamos dizer que os símbolos na Liturgia e nos rituais são a linguagem mais simples e direta que usamos para nos remetermos a Deus. Eles concretizam nosso ato de louvor e súplica.
Assim se explica a grandiosa diversidade de ritos, breviários, paramentos, objetos litúrgicos e recursos artísticos existentes nas instituições. Cada um deles possui um significado e nos leva a entender com mais facilidade os mistérios divinos.


As melodias gregorianas, cantadas em tom uníssono, nos recordam a unidade da fraternidade e de sua doutrina ímpar; a polifonia sacra, com suas complexas construções harmônicas, contrapontos e cânones, simboliza a grande majestade e onipotência de Deus.
Observando as abóbadas de uma catedral, seus belos vitrais, adornos e imagens sacras em plena sintonia de formas e conjuntos, podemos ter uma idéia da perfeição incomparável do Criador e do equilíbrio com o qual ele arquitetou o Universo, idem em um templo iniciático devotado ao Criador


Existe uma forte tendência a ficarmos apenas com o lado mais superficial dos símbolos ou atribuirmos a eles estereótipos que não correspondem a seu verdadeiro significado. É muito comum encontrarmos pessoas que vêem em um terço ou escapulário um mero amuleto capaz de lhes trazer sorte, em vez de enxergar neles sacramentais da sua religião , cuja função é elevar-nos espiritualmente e lembrar-nos da necessidade de continuamente permanecer na graça divina.


Se entendidos em seu significado mais elementar, os símbolos podem facilmente ser interpretados como desnecessários ou supersticiosos. Esvazia-se todo o seu sentido mais profundo e daí surge o menosprezo por seu uso. Seus entusiastas, então, passam a ser chamados de saudosistas ou retrógrados.


Para concluir, os símbolos não existem para prejudicar nossa visão de Deus, da Liturgia e da Doutrina cristã, mas tão somente para esclarecer e aproximar conceitos que, se expostos de maneira essencialmente abstrata, poderiam resultar em grande dificuldade de serem compreendidos adequadamente.
Deixemos de lado o preconceito e a mentalidade simplista, e abracemos este grande tesouro que a Cristandade nos oferece ao longo dos séculos, ao mesmo tempo tão simples e sublime, cujo único intento sempre foi a santificação do povo cristão.