A Espiritualidade
"Eques A Floribus"
Conde Joseph de Maistre - CBCC,
No nono passa tempo das celebres "Tardes De Sainte Petsburg", assegurando ao conselheiro do T..., membro do Senado, na presença do cavalheiro de B..., em sua bandeira a beira da Neva, e no final de uma quente tarde de verão de 1809, o Conde de Maistre determinou o papel eminente que a nação judia ocupou entre todas as outras, suas vizinhas. "Geralmente havia nesta nação, mesmo nos tempos os mais antigos, e muito antes da sua mistura com os gregos, muito mais instrução que não cremos geralmente, por razoes que não serão difícil de assinalar. Onde tomaram por exemplo, o calendário, um dos mais justos, e pode ser o mais justo da antigüidade? Newton, em sua cronologia não desdenhou de render-lhe justiça ... Não podemos ver pelo exemplo de Daniel, quantos homens hábeis desta nação foram considerados na Babilônia, que possuíam certamente grandes conhecimentos.
O famoso rabino Moise Maiomonide, de onde eu examinei algumas obras traduzidas,
nos ensina que ao final do grande cativeiro, um grande número de
judeus não quiseram retornar a sua terra, que se fixaram na Babilônia,
que gozaram da maior liberdade, da maior consideração e que
a guarda dos arquivos os mais secretos da Ecbatana foram confiados a homens
escolhidos nesta nação.
A tradução dos livros sagrados para uma língua tornada
aquela do Universo, a dispersão dos judeus pelas diferentes partes
do mundo e a curiosidade natural do homem para tudo aquilo que tenha de
novo e de extraordinário fez conhecer de todo o lado a Lei Mosaica,
que tornou-se assim, uma introdução ao cristianismo.
Desde muito tempo, os judeus serviram nos exércitos de diversos príncipes que os empregaram como voluntários por causa de seu reconhecido valor e de sua fidelidade sem igual. Alexandre sobretudo tirou grande partido e sua prova das considerações aprimoradas. Seus sucessores no trono do Egito, o imitaram neste ponto e deram aos judeus, constantemente grades provas de confiança. Lagus, coloca sob suas guardas os mais fortes lugares do Egito, e para conservar as cidades que tinha conquistado na Líbia ele não encontra nada de melhor que os enviados das colônias judias. Um dos Ptolomeus, seus sucessores, quis obter uma tradução solene dos livros sagrados.
Evergetes, após conquistar a Síria, vem render ações
de graça em Jerusalém. ele oferece a Deus um grande numero
de vitimas e ricos presentes no templo. Philometor, e Cleopatra conferiram
a dois homens desta nação o governo do reino e o comando das
armas. Tudo em uma palavra justificando o discurso de Tobias a seus irmãos:
"Deus vos dispersou por entre as nações que não
os conhecem afim de que vós os 30 façam conhecer Suas maravilhas,
afim de que vós os ensineis que ele é o verdadeiro Deus e
o único Todo Poderoso". Seguindo as idéias antigas, que
admitem uma multidão de divindades e sobretudo de Deuses nacionais,
o Deus de Israel não era para os Gregos, para os Romanos e mesmo
para todas as outras nações, que uma nova divindade juntada
às outras, o que não tem nada de chocante.
Mas como existe sempre na verdade uma ação secreta, mais forte
que todos os preconceitos, o novo Deus, por tudo onde ele se mostra, devia
necessariamente fazer uma grande impressão sobre uma diversidade
de espíritos. Eu vos citei rapidamente alguns exemplos, e vos poderia
ainda citar outros. A corte dos imperadores romanos tinha um grande respeito
pelo Templo de Jerusalém. Caius Agrippa, tendo atravessado a judéia
sem lhe fazer as devoções, seu avô o imperador Augusto
ficou extremamente irritado, o que ele tinha de bem singular, é que
um dito terrível que afligia Roma nesta época foi observado
pela opinião publica como um castigo desta falta. Por uma espécie
de reparação ou por um movimento ainda mais honrável
para ele, Augusto, ainda que tenha sido um general grande e inimigo constante
das religiões estrangeiras, ordena que se faça sacrifícios
cada dia, e a suas custas sobre o altar de Jerusalém. Lívia,
sua esposa, fez presentes consideráveis. Era a moda na corte, e a
coisa veio ao ponto que todas as nações, mesmo as menos amigas
do judeus, temiam ofender, o medo de desagradar o mestre. E que todo o homem
que tenha ousado tocar o livro sagrado dos judeus ou a contribuição
que enviavam a Jerusalém, era considerado punido como sacrilégio.
O bom senso do imperador Augusto devia sem duvida estar impressionado pela
maneira como os judeus concebiam a Divindade. Tácito, por uma cegueira
singular levou esta doutrina as nuvens crendo reprová-la em um texto
31 célebre, mas nada me fez igualmente tanta impressão a surpreendente
sagacidade de Tiberio ao seguir os judeus, Séjean, seu ministro,
que os detestava, quis lançar sobre eles a suspeita de uma conspiração
que os devia perder, Tiberio não deu nenhuma atenção,
porque dizia este príncipe perspicaz: esta nação, por
princípio não colocará jamais a mão sobre um
soberano.
Estes judeus que representamos como um povo bravo, intolerante, eram entretanto,
de certo modo os mais tolerantes de todos, ao ponto de termos dificuldades
algumas vezes de compreender como estes professores exclusivos da verdade
se mostraram tão pacientes com as religiões estrangeiras.
Conhecemos a maneira liberal como Eliseu resolveu o caso de consciência
proposto por um capitão da guarda síria. Se o profeta tinha
sido jesuíta, sem duvida que Pascal, por esta decisão, não
o tenha colocado a qualquer injustiça, nestas "Cartas Provinciais",
Philon, se não me engano, observa em alguma parte que o grande Sacerdote
dos judeus, só no universo orava pelas nações e as
potências estrangeiras. Com efeito, eu não creio que hajam
outros exemplos na antigüidade. O templo de Jerusalém era rodeado
por um pórtico destinado aos estrangeiros que vinham orar livremente.
Uma quantia destes gentios tinham confiança neste Deus, qualquer
que ele fosse, que se adorava sobre o monte Sion. Ninguém o incomodava
nem lhe pedia contas de sua crença nacional, e nós os vemos
ainda, nos evangelhos, virem no dia solene da Páscoa, adorar em Jerusalém,
sem a menor marca de desaprovação nem de surpresa por parte
da história sagrada...