Notas
sobre o êxtase
Stanislas de Guaita
A meditação
das obras do Oculto absorve exclusivamente a maioria dos pesquisadores que
se preocupam com o problema místico. Referimo-nos aos pesquisadores
sérios; os mais fúteis, verdadeiros basbaques de feira, comprazem-se
em arrastar de barraca em barraca, à cata de fenômenos. Como
se o labor da Iniciação se limitasse a esforços de
assimilação doutrinária: A obra escrita dos mestres
não é negligenciável impunemente - quem duvida? Não
temos nenhuma estima por inovadores presunçosos que se gabam de suprirem,
pela exuberância de sua própria imaginação, o
estudo aprofundado dos clássicos do Esoterismo.
Contudo, esse estudo não poderia bastar. É preciso que o homem
lance mão de esforços pessoais, aventurando-se decididamente
na conquista do Verdadeiro, através das trevas de um mundo ignoto.
É dessa forma que, distinguindo-se do simples erudito, cioso de intervir
apenas em contendas de opiniões, o ocultista tende a penetrar a essência
das coisas e decifrar a grande estela da Natureza, que está escrita
tanto dentro como fora.
Imaginai uma folha de pergaminho, coberta de hieróglifos nas duas
faces, mas colada a um quadro por uma delas. Os caracteres da primeira face
- quer se saiba ou não interpretá-los parecerão visíveis
aos olhos carnais, ao passo que os sinais traçados no verso somente
serão perceptíveis ao órgão visual da alma,
o que equivale a dizer que apenas um homem lúcido poderá distingui-los.
Isso é apenas uma metáfora - e o neófito tomaria o
caminho errado se viesse a concluir que a lucidez magnética é
a faculdade mestra para que se desenvolva, em si, a suprema prerrogativa
do adeptado. Há diversos graus de vidência, como há
diversas zonas de visão. Quantos videntes ilustres não foram
nem um pouco lúcidos no plano físico! Aliás, alguém
pode ser imensamente lúcido, no sentido demótico e tradicional,
e não passar de um parvo completo. Essas duas qualidades não
se excluem e a experiência tem dado inúmeras provas disso.
O que é importante, enfim, se alguém deseja realizar sua iniciação?
É importante que se reintegre, desde aqui embaixo, na Unidade divina
(na medida em que as barreiras hílicas comportem) a fim de ser co-partícipe,
com todos os Iniciados e os Eleitos do mundo, nos mistérios do Absoluto.
Em última análise, o homem de gênio é apenas
um adepto intuitivo e espontâneo, magnificamente incompleto, mas rico
desses dons tão raros que muitas vezes faltam aos místicos
mais sublimes: as faculdades de transposição estética
do inteligível ao sensível e de conversibilidade do Verbo
divino ao Verbo humano.
Tais faculdades de expressão não se adquirem: elas sempre
sagrarão o homem de gênio, por direito divino e graça
anterior, ao passo que o adepto o é por direito humano e conquista
ulterior, já que os esforços de sua livre vontade o elaboraram
dessa forma. Uma vez estabelecida essa distinção fundamental,
a analogia pode e deve ser perseguida.
O gênio consiste na faculdade de reintegração espontânea
(mais ou menos consciente e sujeita à intermitência) do submúltiplo
humano na pátria celeste da unidade, Adamah. Também os poetas,
pintores, músicos, escultores e, de maneira geral, todos os artistas
que - com ou sem razão - acreditam ser gênios empregam a mesma
locução que os místicos, para caracterizar os períodos
de facilidade para produzir. Eles têm, ou não, inspiração.
Isto é digno de nota...
Assim, é cabível dizer que a obra capital da Iniciação
se resume na arte de tornar-se um gênio artificialmente. Contudo,
enquanto o gênio natural oferece a inspiração em certas
horas, de maneira mais ou menos freqüente, ou seja, quando o Espírito
quer descer, o gênio adquirido é, em seu estágio mais
alto, a faculdade de forçar a inspiração e estabelecer
comunicação com o Grande Desconhecido todas e quantas vezes
quiser.
Apresenta-se, aqui, uma razão muito simples: Deus desce até
o homem de gênio, enquanto o Mago ascende até Deus. O homem
de gênio é uma espécie de ímã que atrai
intermitentemente. O adepto é uma potência conversível,
um elo consciente da terra com o céu: um ser que pode permanecer
à vontade na terra, desfrutar de suas vantagens e colher seus frutos,
ou subir ao Céu, identificar-se com a natureza divina e beber a largos
goles a ambrósia celeste.
O Gênio, força natural de atração, estabelece
com a Unidade, em certos momentos, uma correlação mais ou
menos efêmera. O Adeptado, passaporte irrestrito para o Infinito,
implica um direito de reintegração ad libitum. Assim, o perfeito
adepto toma, na índia o nome de Yoghi, ou seja, unido em Deus.
Reintegração do submúltiplo humano na Unidade divina:
eis, portanto, a obra maior do adeptado, Em que consiste esta reintegração?
Conhecemos duas: a Passiva e a Ativa. Ambas possuem diversos graus. Chega-se
à primeira através da Santidade, ou seja, a depuração
austera de sua essência anímica, unida por amor ao Espírito
puro dos céus; à segunda, chega-se pela vontade livre e consciente,
ou seja, pela realização do pentagrama místico.
A primeira (reintegração de modo passivo) necessita de uma
abdicação do Eu, que se funde, sem reservas nem esperança
de retorno, no Si divino. Ao agir, o homem já não age por
si mesmo: é Deus que age por ele. Isso que levou o Apóstolo
a dizer: "e já não sou mais eu quem vive, é o
Cristo que vive em mim". A segunda (reintegração de modo
ativo) equivale a uma conquista positiva do céu, a uma violação
do elemento celeste e de seu Espírito coletivo, Rouach Haschamaim.
Ambas, em seu mais alto grau, conferem à alma o estado primordial
do Éden, a fruição de Aor ain-soph. Porém, a
Passiva implica a renúncia das vontades individuais e o desprezo
por toda a ciência profana: "Felizes, disse Cristo, os pobres
de espírito, pois é deles o Reino do Céu". A Ativa,
ao contrário, permite, em certos casos, aqui mesmo, o exercício
de uma onipotência relativa, delegação da potência
de Deus. Põe na mão o Esch, gládio flamejante de Iahoah
Elohim. É a tomada de posse, por direito de conquista, do Céu
místico, que, como disse o Cristo, os Espíritos violentos
tomam pela força: "violenti rapiunt illud".
A inefável-caridade de Nosso Senhor Jesus Cristo induziu-o a reivindicar
apenas a Reintegração passiva, e ele morreu na cruz, duvidando
de Si mesmo e de Seu Pai: "Eli, Eli, lamma sabachtani!" (Tratava-se,
por certo, do grito da carne enfraquecida no curso de uma suprema prova;
entretanto, a evocação desse grito de dúvida sempre
nos espantou!).
A audácia de Moisés fez com que preferisse os privilégios
da reintegração ativa: assim, após haver exercido sobre
a terra a onipotência celeste, manejando firmemente o gládio
ígneo do Keroub, Moisés elevou-se até Deus (como, depois
dele, o faria Elias), virgem do beijo da morte, deixando a seu povo o nome
de povo do Senhor e a livre entrada da terra de Canaã, da qual os
judeus só saíram aparentemente, na qual eles reinam mais do
que nunca(115).
A reintegração passiva é, talvez, mais divina, mais
absolutamente meritória; é a dos Santos e dos Messias. A reintegração
ativa é, certamente, mais vantajosa, mais rica em prerrogativas:
é a dos Magos e dos Titãs. A reintegração ativa
é a única à qual devem pretender os homens que, sem
dar um adeus definitivo à vida e aos gozos deste mundo, sentem ainda
o desejo de colher o que pode haver de bom em suas ilusões e miragens.
A vida eterna é tão longa! Mesmo decididos a ascender sempre,
sem se desviar da rota que leva ao Pai, não nos seria permitido parar
em estações? Deus, que é tão bom, só
criou (ou, antes, deixou criar) só em virtude disso - nesta própria
natureza da decadência e sobre esta terra de provação
- a erva macia e a sombra propícia das ilusões...
O prazer bem compreendido, aceito na expansão normal de um coração
honesto, será, em suma, outra coisa que não a modalização
e a adaptação ao meio terrestre e transitório do gozo
eterno dos Eleitos?... Uma vez que descemos a este mundo inferior, não
será natural e perfeitamente lógico que nossas consolações,
nossas satisfações e nossas alegrias temporais, forçosamente
proporcionais à nossa natureza decaída (isto é, menos
perfeita) sejam por sua vez, menos perfeitas e menos angélicas? "Homo
sum (dizia Catão, um dos santos do paganismo estóico) et humani
nil a me alienum puto."(116)
Não se poderia dizer melhor, e o próprio Pascal parecia comentar
as belas palavras de Catão ao escrever, em seus Pensamentos que o
homem não é nem anjo, nem besta - e o resto... Se Catão
e Pascal tivessem sido iniciados e se estivesse em seu destino escolher
entre a Reintegração passiva dos Santos e a Reintegração
ativa dos Titãs, provavelmente, teriam dado preferência à
última. Aliás, na verdade, não há escolha desde
que se aspira à realeza cabalística do G A , ou somente à
penetração dos mistérios do Além, sem querer
abandonar o mundo para enclausurar-se, física ou moralmente... A
Reintegração sob forma de atividade é a única
que comporta o relativo.
Esta é a razão profunda do perigo dos conventos para certas
almas que não estão preparadas para o sacrifício integral,
sem restrição, sem limites, delas próprias e de sua
vontade. Elas se deram de modo passivo: procuram elas desviar-se? Fazem
elas algum esforço para se recuperar? O Esposo as deixa (pois, no
modo passivo, elas se deixam possuir, mas não possuem) e elas caem
em poder do Adversário. A perdição é o termo
de sua vocação reticente.
Assim, nunca se deve hesitar - sob pretexto de respeito ao livre arbítrio
- a antepor provações mundanas à vocação
dos religiosos em geral, e sobretudo das moças que se julgam chamadas
à vida contemplativa. Se a vocação é verdadeira,
ela se revelará infrangível, e a noiva do Céu sairá
vitoriosa de tais provas, incólume de tais obstáculos. Toda
dificuldade suscitada levará apenas a uma nova confirmação
de sua primeira vontade.
E quando se trata, por exemplo, de moças mundanas? Achamos criminoso
da parte de seus pais permitirem que elas tomem o véu sem as terem
conduzido no mundo, sem lhes terem dado oportunidade não só
de participar de saraus, como de bailes! Se o apelo dessas almas se faz
ouvir depois dessa diversão, se o seu gosto pela vida religiosa resiste
a esse dissolvente, é porque que elas são de um metal incorruptível
aos ácidos temporais, e nenhum outro Alkahest - quer fosse o de Paracelso
ou de Van Helmont - nenhum outro dissolvente, por mais corrosivo que fosse,
de nada valeria. Se, ao contrário, algum levedo terrestre, algum
fermento mundano estivesse latente nas profundezas mais inconfessadas do
seu Eu inconsciente, elas despertariam para a vida do mundo; e, sem dúvida,
o travesso Eros as atiçaria com sua flecha, virtualmente - quando
possível -, se é que não as atingiria de fato.
Voltemos aos modos de Reintegração. Chamamos de reintegrado
(Yogui da Escola Mística ortodoxa, na índia) aquele que pode,
sempre que desejar, dominar inteiramente seu Eu sensível exterior,
para abstrair-se em espírito, e mergulhar, pelo orifício do
Eu inteligível interno, no oceano do Ele coletivo divino, onde retoma
consciência dos arcanos complementares da Natureza Eterna e da Divindade.
Chamamos de nascido duas vezes (Dwidja da Escola Mística, na índia)
aquele que pode abandonar sua efígie terrestre, em corpo astral ou
etéreo, para haurir no oceano astral a solução dos
mistérios que oculta. A reintegração espiritual interna
pode tomar o nome de Êxtase ativo. Convencionou-se dar à projeção
da forma sideral o nome de Saída em corpo fluídíco
(ou astral)...
O êxtase ativo apresenta dois graus. No primeiro, o Adepto penetra
a própria essência da Natureza eterna, que lhe comunica de
modo direto, sem símbolos, a Verdade-Luz. No segundo grau, ele pode
comunicar-se mesmo com o Espírito puro, que o arrebata ao Céu
inefável dos arquétipos divinos. Nesse caso, ocorre a transfusão
da Divindade-pensamento que se faz humanidade-pensante em sua inteligência,
pelo efeito de uma alquimia íntima, de uma transmutação
gigantesca e inexplicada.
A Saída em corpo astral difere do Êxtase ativo, uma vez que
o corpo físico parece, então, em catalepsia, acionado apenas
por uma vitalidade de certa forma vegetativa, enquanto o corpo astral ou
mediador plástico (envoltório ambulante da alma espiritual)
flutua na imensidão do éter sideral ou luz universal e se
dirige para onde quiser, vinculado ao corpo material por uma espécie
de umbilicação fluídica.
Assim, a personalidade consciente vagueia sob forma astral por onde lhe
apraz e vai, por si mesma, tomar conhecimento das realidades longínquas
que lhe podem interessar. Mas então - se são noções
de ordem inteligível que ela deseja adquirir - essas noções
lhe são transmitidas apenas simbolicamente, por intermédio
da luz astral, que é antes de tudo configurativa, e portanto só
fala oferecendo à sagacidade do Espírito uma série
de imagens que este deve, em seguida, traduzir como hieróglifo do
Invisível. O modo concreto e emblemático é, assim,
o único de que a Verdade pode fazer uso para exprimir-se por intermédio
do Astral.
Na modalidade passiva, o alto êxtase tem, igualmente, dois graus:
1°) comunicação com a Natureza-essência na luz de
glória; 2°) com o Espírito puro. Quanto ao êxtase
passivo astral ou inferior, ele é apenas o estado de lucidez, quer
natural, quer magnética. A maior parte das visões beatíficas
lhe são expressamente atribuíveis.
O que sobretudo importa ao adepto é chegar a pôr-se em comunicação
espiritual com a Unidade divina; é cultivar um dos graus do Êxtase
ativo e aprender a fazer com que, dentro de si, vil átomo, fale a
Voz reveladora do Universal, do Absoluto.
Então é possível ao Relativo compreender o Absoluto?
Não, sem dúvida; mas é viável assentir-lhe,
sim, unindo-se a Ele. Um fragmento de espelho convexo não reflete
todo o Céu? Toda a grande voz do Oceano não canta na cavidade
do mais singelo molusco, que teve a fortuna (diz a lenda) de suportar, mesmo
por uma hora, seu beijo imenso e sonoro?
Assim, o Êxtase deixa na alma extasiada (ainda que por uma hora) a
impregnação do Infinito, a noção vivida do Absoluto
- o murmúrio incessante do Ele revelador, que contém todos
os Eus, sem ser contido por nenhum. Quanto gozo! Revigorar sua vida individual
no oceano coletivo da vida incondicionada, ou aspirar a seiva espiritual
no próprio Espírito puro - e se alimentar! É uma iniciação
decisiva: uma janela aberta para a imensidão da Luz inteligível
e do Amor divino, da Verdade celeste e do Belo típico.
Reencontrar o caminho do primitivo Éden...! Muitos passam ao lado
da porta que comanda essa senda, e nem mesmo percebem esta porta ou, se
a vêem, desprezam-na, deixando de bater nela. Talvez até bata
nela um curioso que não saiba fazer ressoar o umbral dos três
toques místicos: bate profanamente e a porta não lhe será
aberta. O Cristo disse: "Petite et accepietis, pulsare et aperietur
vobis", mas Ele também disse: "multi vocati, pauci vero
electi". Como conciliar esses dois textos? Acontece que às vezes
aqueles que batem na porta não são ainda chamados; muitas
vezes aqueles que seriam chamados não batem, ou, mais frequentemente,
batem mal...
Portanto, se aspiras a tornar-te um Adepto, evoca o Revelador que fala ao
âmago do teu ser; impõe ao Eu o mais religioso silêncio,
para que o Ele se possa fazer ouvir. E então, mergulhando nas profundezas
de tua inteligência, escuta falar o Universal, o Impessoal, o que
os gnósticos chamam de Abismo...
Porém, é preciso estar preparado (e esse é o papel
do Iniciador humano: zelar por essa preparação), sem o que
o Abismo só tem uma voz para aquele que o evoca estouvadamente, voz
terrível e que tem o nome de Vertigem. Em resumo, tem-se aqui um
grande e sublime Arcano: alguém só pode completar sua iniciação
pela revelação direta do Espírito universal, coletivo,
que é a Voz que fala ao interior. Ele é o Mestre único,
o inevitável Guru das supremas iniciações. Conhecemos
as diversas maneiras de entrar em contato com Ele: ir à sua busca,
fazê-lo vir, deixá-lo vir, entregar-se a ele ou tomar parte
em sua soberania...(117)
Sabemos de que maneira ambígua certas obras de alta ciência
dissimulam os mistérios, a tal ponto que essas obras, frequentemente
de caráter muito profundo, parecem, à primeira vista, libelos
de ominável superstição.
Sob que véu, então, os autores ensinaram este grande arcano,
cujo tabernáculo místico entreabrimos acima?
Sob que véu? Eis o que é muito curioso, pois exatamente por
haverem confundido "a letra que mata" com "o espírito
que vivifica" é que tantos estudiosos de ocultismo dão-se,
hoje, ao Espiritismo puro e simples.
Quase que unanimemente os hierógrafos pontificam que é necessário
evocar as Inteligências celestes, como únicas suscetíveis
de ensinar ao teósofo os últimos mistérios. Moisés
sobre o Sinai e Nosso Senhor Jesus Cristo no jardim das Oliveiras visitado
pelos anjos; Sócrates e Plotino consultando seu gênio; Paracelso
e seu Espírito encerrado no botão de uma Espada; Zanoni interrogando
Adonai, etc. Todas essas lendas, segundo sua mais alta significação,
simbolizam o que agora é conhecido para nós.
Não é que contestemos a possibilidade de entrar em contato
com as Inteligências do Alto, com as almas glorificadas. Acontece
que tudo isso não passa de Magia secundária, iniciação
ao segundo grau.
No terceiro grau, os espíritos desaparecem... O espírito permanece
só, irradiante, impessoal, agitando-se pelas eternas profundezas
de um Infinito que não é o Espaço; transbordando de
Amor divino, de Vida, de Luz, de Esperança e de Beleza divinas; cumulando
a alma de uma inefável onisciência que lhe causa embevecimento
sem embriagá-la.
A personalidade egoísta funde-se, desaparece, extingue-se no horizonte
do Finito que a alma desertou. Em Deus, como na Natureza essência
(a natureza eterna de Boehme), tudo é belo, doce, evidente, sublime
- e formidável como um beijo com que nos sentiríamos morrer,
imersos na vida!...
Notai como Abraão, o Judeu, descreve, sob o emblema que denunciamos
como capcioso, a realização desses mistérios: "Verás
então que bem empregaste os seus passados; pois, se buscate a verdadeira
Sabedoria do Senhor, teu Anjo guardião, o Eleito do Senhor surgirá
dentro de ti e te falará palavras tão doces e tão afetuosas,
que nenhuma língua humana jamais poderá traduzir..."
(A Sabedoria divina de Abraão, o Judeu, dedicada a seu filho Lamech,
manuscrito do século XVIII, traduzido do alemão para o francês
(1432), 2 vol., pequeno, em 8 fólios, tomo II, página 76).