Martinismo E Materialismo
A obra perigosa de Cagliostro não foi a única que Saint-Martin
procurou combater.Ele também concentrou todos os seus esforços
para lutar contra o progresso dos"Filósofos", que se esforçavam
em precipitar a Revolução espalhando por toda a Europa os
princípios dos ateísmo e do materialismo. Foram ainda os Templários
(11) que manejaram esse movimento perfeitamente organizado, como nos indicam
os trechos extraídos de Kirchberger.
"A incredulidade formou atualmente um clube muito bem organizado. É
uma grande árvore que faz sombra em uma parte considerável
da Alemanha, que porta muitos maus frutos e que projeta suas raízes
até à Suíça. Os adversários da religião
cristã têm suas afiliações, seus observadores
e sua correspondência muito bem montada; para cada departamento, tem
um provincial que dirige os agentes subalternos; têm os principais
jornais alemães sob controle, que constituem a leitura favorita do
clero, que não gosta mais de estudar; nossos jornais censuram artigos,
aos quais dão sua versão e criticam os demais; se um escritor
quer combater esse despotismo, enfrentará uma enorme dificuldade
para encontrar um editor que queira encarregar-se de seu manuscrito. Eis
o método para a parte literária; mas têm muitos outros
para consolidar seu poderio e enfraquecer aqueles que sustentam a boa causa".
"Se há uma vaga de instrução pública qualquer,
ou se existe um senhor com
necessidade de um instrutor para seus filhos, eles têm três
ou quatro personagens
prontos que apresentam-se ao mesmo tempo por canais diferentes; dessa maneira,
estão
quase sempre certos de vencer. Eis como é freqüentada da Alemanha,
e para onde enviamos nossos jovens para estudar".
"Intrigam também para colocar seus protegidos nos gabinetes
dos ministros da corte alemã; têm também seus apadrinhados
dentro dos conselhos dos príncipes e em outros lugares".
"Um segundo método que empregam é aquele de Basilio...
a calúnia. Esse método torna-se para eles cada vez mais fácil,
na medida em que a maior parte dos
eclesiásticos protestantes são, infelizmente, os seus agentes
mais zelosos; como essa classe tem mil maneiras de penetração
em todos os lugares, podem espalhar os rumores que causam efeito, antes
que se tenha tido conhecimento da coisa e tempo de se defender".
"Essa coalizão monstruosa custou trinta e cinco anos de trabalho
a seu chefe, que é um velho homem de letras de Berlim, e, ao mesmo
tempo, um dos livreiros mais célebres da Alemanha. Ele redige desde
1765 o primeiro jornal desse país; chama-se Frederic Nicolai. Essa
Biblioteca Germânica foi também amparada por seus agentes pelo
espírito da Gazeta Literária de Viena, que é muito
bem feito e que circula em todos os países onde a língua alemã
é falada. Nicolai influencia ainda o jornal de Berlim e o Museu Alemão,
dois veículos muito acreditados. A organização política
e as sociedades afiliadas foram estabelecidas quando os jornais inocularam
suficientemente seu veneno.
Eles marcharam lentamente, mas com passo seguro. Atualmente seu progresso
é tão assustador e sua influência tão grande,
que não existe mais nenhum esforço que possa resistir-lhes;
somente a Providência tem o poder de nos libertar dessa peste."No
início, a marcha dos Nicolaistas foi muito silenciosa; associavam
as melhores cabeças da Alemanha à sua Biblioteca Universal;
os artigos científicos eram admiráveis; os temas de obras
teológicas ocupavam sempre uma parte considerável de cada
volume. Esses temas eram compostos com tanta sabedoria, que nossos professores
da Suíça os recomendavam em seus discursos públicos
a nossos jovens eclesiásticos. Mas, pouco a pouco, eles expeliam
seu veneno, embora com bastante cautela. Esse veneno foi reforçado
com endereço certo. Mas, por fim, tiraram a máscara e, em
dois de seus jornais afiliados, esses celerados ousaram comparar nosso Divino
Mestre ao célebre impostor tártaro Dalai Lama (Veja o artigo
da Dalai Lama em Moreri). Esses horrores circularam em nossa terra, sem
que ninguém em toda Suíça desse o menor sinal de descontentamento.
Então, em 1790, escrevi em uma gazeta política, à qual
estava anexa uma folha onde se escrevia tudo; despertei a indignação
pública contra esses iluminadores, Aufklarer, ou esclarecedores,
como se denominavam. Enfatizei sobre a atrocidade e a profunda asneira dessa
blasfêmia.
"Neste momento, essa gente faz ainda menos mal por seus escritos do
que por suas afiliações, por suas intrigas e por suas infiltrações
nos postos; de sorte que a maior parte de nosso clero, na Suíça,
é corrompida moralmente até o miolo dos ossos. Faço,
por minha parte, tudo o que posso pelo menos para retardar a marcha dessa
gente. Algumas vezes obtive sucesso, em outros casos os meus esforços
foram impotentes, porque são muito adestrados e porque seu número
chama-se legião".