A Morte
Marcelo Marsiglia Sidoti


Não raro, quando a palavra morte é comunicada, seja num grupo de amigos, entre a família, no trabalho ou mesmo entre os fiéis, o primeiro impulso de boa parte das pessoas é de aversão ou mesmo de um horror. Exclamações clássicas como:
" Falemos da vida e não da morte ou
" Pare com isso! Que assunto triste ou
" Para quê pensar sobre isso???
Estas expressões vêem rapidamente como resposta automática e exprime com profundidade nosso modo de pensar a vida e, por conseguinte, nos dá o tom exato de como lidamos com esta mesma vida.

Não tenho a mínima pretensão de, neste pequeno trabalho, vis a fazer um tratado sobre a morte ou mesmo ainda demonstrar um status psicológico de nossa civilização, convido apenas a uma breve meditação sobre a impermanência e mesmo da sabedoria que é aliar-se a este modo peculiar de viver a vida, qual seja, a de entender-se como mortal.

Determinado antropólogo, bastante famoso nas décadas de 70 e 80 e que era um aprendiz da arte dos xamãs americanos da linhagem Tolteca, escreveu certa vez que perguntou ao seu mestre o que fazer quando diante de circunstâncias da vida, se deparasse com questões difíceis de serem resolvidas ou ainda com verdadeiros problemas de aceitar um ou outro fato mais duro advindo da realidade. Seu mestre lhe respondeu:
- Quando houver dúvidas sobre que caminho tomar, pergunte à sua Morte o que você deve fazer e/ou decidir a respeito. A morte lhe dará a dimensão exata dos seus problemas e, portanto poderá lhe ajudar a encontrar uma resposta adequada.
Por esta pequena, porém profunda orientação já valeria à pena meditar todos os dias sobre a morte. Ela, ou melhor, a consciência que passamos a ter da Morte, nos concede um estado de consciência que deixa a nu, completamente nossa impermanência, ou em outras palavras, nosso estado de transitórios por sobre a Terra.

E já não nos falava o Mestre: - "Sede estrangeiros...".

No momento em que, percebemos isso, o que é complexo torna-se simples e, uma vez desnudado de seus apetrechos e adornos podemos resolvê-lo de maneira mais rápida e eficiente.

E prestemos atenção, pois nem sequer arranhamos ainda a superfície do tema relacionado à morte e mesmo assim, já somos brindados com a possibilidade de observarmos com maior rigor a essência e a dimensão de um problema ou dificuldade e menos seus adornos e aparentes complexidades. Sou capaz de arriscar que, com apenas esta consciência de transitoriedade na Terra, boa parte dos problemas de relacionamentos entre os seres humanos estariam resolvidos.

Para confirmar isso se podem seguir dois caminhos: um deles perguntando para algum doente terminal sobre o que ele está pensando ou, por outro lado, o que pensa sobre determinados tipos de problemas que nos parecem insolúveis. Outra forma é travestir-se de moribundo e refletir sobre o que vem à mente. Imagine seus pertences sendo dados a outros, inclusive seu livro predileto ou aquele presente que você havia ganhado quando criança de seus pais e que guardou a vida toda.

Arrisco mais uma vez um palpite de que todos os problemas e dificuldades passarão a ter uma cor mais suave e as possíveis decisões serão mais simples. Não podemos, entretanto, cair no absoluto da Morte visto que, se assim o fizéssemos, passaríamos a considerar tudo como uma grande bobagem, e a existência na Terra apenas um ato cínico.

É nesse momento que entra em cena outro aspecto fundamental na vida do Homem, qual seja, seu Amor pelo Criador e pela criatura e, portanto a capacidade de ser atingido no coração pela Beleza. Com esta percepção do que é transitório em nossa imortal existência a Alma, torna-se palpável e o Ego como que se dilui no mar do que não existe como essência fundamental. Não mais confundimos o que Somos com o que imaginamos que Somos.

Esta meditação nos faculta, de maneira mais simples, a nos questionarmos sobre as três perguntas fundamentais de nossa existência:
" De onde vim?
" O que sou?
" Para onde vou?
Se me perguntarem, ao escrever este pequeno trabalho, se já possuo tal capacidade, digo imediatamente que não, pois que, não se trata de intelectualidade ou mesmo erudição, mas sim, de Estado de Consciência.