A TEURGIA
QUINTA PARTE
Introdução ao estudo da Kabala mística e prática,
e a operatividade de suas Tradições
e seus Símbolos, visando a Teurgia
Robert Ambelain




Robert Ambelain nasceu no dia 2 de setembro de 1907, na cidade de Paris. No mundo profano, foi historiador, membro da Academia Nacional de História e da Associação dos Escritores de Língua Francesa.´ Foi iniciado nos Augustos Mistérios da Maçonaria em 26 de março (o Dictionnaire des Franc-Maçons Français, de Michel Gaudart de Soulages e de Hubert Lamant, não diz o ano da iniciação, apenas o dia e o mês), na Loja La Jérusalem des Vallés Égyptiennes, do Rito de Memphis-Misraïm. Em 24 de junho de 1941, Robert Ambelain foi elevado ao Grau de Companheiro e, em seguida, exaltado ao de Mestre. Logo depois, com outros maçons pertencentes à Resistência, funda a Loja Alexandria do Egito e o Capítulo respectivo. Para que pudesse manter a Maçonaria trabalhando durante a Ocupação, Robert Ambelain recebeu todos os graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, até o 33º, todos os graus do Rito Escocês Retificado, incluindo o de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e o de Professo, todos os graus do Rito de Memphis-Misraïm e todos os graus do Rito Sueco, incluindo o de Cavaleiro do Templo. Robert Ambelain foi, também, Grão-Mestre ad vitam para a França e Grão-Mestre substituto mundial do Rito de Memphis-Misraïm, entre os anos de 1942 e 1944. Em 1962, foi alçado ao Grão-Mestrado mundial do Rito de Memphis-Misraïm. Em 1985, foi promovido a Grão-Mestre Mundial de Honra do Rito de Memphis-Misraïm. Foi agraciado, ainda, com os títulos de Grão-Mestre de Honra do Grande Oriente Misto do Brasil, Grão-Mestre de Honra do antigo Grande Oriente do Chile, Presidente do Supremo Conselho dos Ritos Confederados para a França, Grão-Mestre da França - do Rito Escocês Primitivo e Companheiro ymagier do Tour de France - da Union Compagnonnique dês Devoirs Unis, onde recebeu o nome de Parisien-la-Liberté.


AS FORÇAS ENERGÉTICAS


Vimos que, as Potências, acionadas pelos Poderes do Kabalista, são Forças Energéticas, dependentes do Universo em sua totalidade, ou dependentes simplesmente de uma de suas partes, e seu conhecimento está ligado ao estudo da Metafísica Tradicional.
Essas Forças se subdividem em :
a) Entidades [do latim escolástico entitas : ser]. A entidade é um "princípio" cuja existência é diferente da própria coisa que ela designa. A reunião de várias Entidades constituem uma Egrégora.
b) Coletividades, ou Egrégoras, reunião de Individualidades que transmite um caráter geral ou particular comum à cada uma delas [do latim colligere: reunir].

a) As Entidades

As Entidades são denominadas de maneira diferente conforme as raças, as religiões e as épocas. Deuses, deusas, seraphins, chérubins, arcanjos, anjos, dévas, gandarvas, demônios, gênios, etc... designam naturezas diferentes no detalhe, mas única quanto ao princípio.
Seu objetivo é, em sua pequena esfera, no plano em que elas evoluem, colaborar, tanto na criação como na conservação do Universo. O Logos criador se serve delas para administrar sua Obra. Como tais, elas são então, no sentido integral da palavra, os demiurgii [obreiros divinos].

As Entidades não podem tomar um corpo como o homem [o homem individualizado]. Se algumas vezes elas puderem aparecer, no seio das cerimônias teúrgicas, revestidas de uma forma material, se tratava de uma aparências exterior.
Sua existência não é como a de Deus, onipresente e eterna. Elas residem nos planos superiores aos quais os homens se movem, conforme seu grau mais ou menos elevado de espiritualidade, equivalendo a maior ou menor ação de essência divina nelas. Elas são submissas ao Tempo, porque não são eternas com Deus. São também submissas ao Espaço [pelo menos a uma certa espécie de Espaço] sendo criaturas se movem no Tempo. Elas podem pois se dirigirem de um lugar para outro, os mais distantes, quase instantâneamente.
Igualmente podem deixar lentamente um lugar e dirigirem-se lentamente para outro, conforme o que lhes agradar. Pois seu movimento não é mais que uma aplicação sucessiva de sua ação própria, a diversos seres ou as diversas partes de um mesmo todo.
Como criaturas espirituais, as Entidades tem uma existência que consiste em conhecer e agir. Nelas se encontra o conhecimento puramente intelectual. Elas não tem conhecimento sensível assim como o homem individualizado, pela simples razão que o conhecimento sensível é adquirido por intermédio do corpo que uma entidade não tem.
Não indo buscar seu conhecimento em um mundo exterior, percebendo o verdadeiro aspecto das coisas com uma só percepção, sem ter necessidade de raciocinar, assim como faz por necessidade o homem, seu conhecimento é mais perfeito que o deste. Por esta fato, elas lhe são superiores.
As Entidades percebem necessáriamente tudo o que acontece no mundo exterior ao seu, pois as idéias de seu espírito lhe são manifestas na medida em que se realizam.
Entretanto o domínio do pensamento puro lhes escapa, pois se um pensamento não for expresso pelo Verbo, não entrará no encadeamento necessário dos acontecimentos exteriores.
As Entidades não podem pois conhecer os pensamentos humanos enquanto o homem não os tiver revelado por seus atos e por suas palavras [1]. Se deduz que elas conhecem do Futuro somente um resumo restrito no único domínio em vias de uma realização parcial. Basta que um pensamento inexprimido se apreste a perturbar o desenrolar previsto de um acontecimento, para que as Entidades errem quanto a predição do Futuro...
Por outro lado, o presente e o passado lhe são acessíveis, pelo menos o que não permaneceu no domínio do pensamento puro.

Os teólogos e os filósofos, antigos ou medievais, dissertaram abundantemente sobre o mundo das Entidades. Todos concluíram que os corpos siderais, os astros, assim como todas as coletividades espirituais ou materiais de nosso mundo terrestre, tinham guias invisíveis, encarregados da as conduzir para onde a providência tinha, desde toda a eternidade, decidido.
Esta foi a opinião de Eusébio Pamfílio, em suas "Soluções teológicas", de Agostinho em seu "Enchiridião", de Alberto o Grande em suas "Quatre coégaux", de Tomás de Aquino em seu livros sobre "As criaturas espirituais", de Jean Scott, no segundo volume das "Sentenças", do bispo Guilherme de Paris [que foi alquimista, e a quem se atribui os baixos-relevos herméticos de Notre Dame] em sua "Soma do Universo".
Antes deles, Plotino, Jâmblico, Pitágoras, Platão, Sócrates, Moisés, e todos os místicos, tinham tido as mesmas conclusões.

Conforme a tradição universal, há três espécies de entidades . somente diferindo quanto a ter minologia com as raças, as religiões e os lugares.
As de primeira ordem pertencem ao mundo sobreceleste. Elas não tem governo sobra as coisas do mundo, nem tem nestes nenhum encargo. Esferas intelectuais, "espíritos puros" no sentido completo da palavra, elas são unicamente voltadas para o Absoluto. Além disso elas servem de canal de execução com respeito da classe média.
A Angeologia católica classifica nessa espécie os Serafins, os Querubins e os Tronos.
As de segunda ordem, ou intermediárias, estão situadas no mundo celeste. Os filósofos antigos as chamavam daimons mondiens, porque eles se dedicam, não ao serviço direto do Criador, mas as esferas do Mundo. São os animadores do primeiro Móvel. Os teólogos católicos classificam aí as Dominações, as Potências, e as Virtudes.
[1] - Daí a necessidade de as acionar por um ou outro desses meios. Um desejo mental geralmente é ineficiente. As "palavras ao vento", por sua instintividade fundamental, revestem uma potência que não possui a frase pesada e amadurecida, justamente freada pelo cuidado que se teve em a elaborar e construir... ela reencontra sua potência só sob o aspecto de fórmula ritual. É a repetição e a importância de seu emprego que lá lhe restituem.


Os kabalistas simplesmente vêem aí os Anjos das esferas de Saturno, de Júpiter, de Marte, do Sol, de Vênus, de Mercúrio e do mundo lunar. À essa classe pertencem igualmente os gênios dos Decanatos, das Faces e dos Graus, da Esfera Zodiacal ou das Estrelas Fixas, com de resto aqueles dos Doze Signos Celestes.
Por fim, a terceira categoria, a dos gênios terrestres. Os Filósofos Herméticos a repartiram em quatro classes, conforme os quatro elementos [fogo, ar, água, terra]. Orígenes, filósofo cristão, nos diz que eles participam de nossa vida aqui em baixo e nos guiam em nossas ações, conforme a natureza própria de cada um deles. Os teólogos católicos vêem aí os três últimos coros de anjos, que são os Principados, os Arcanjos e os Anjos "guardiães" [o que não guarda nenhuma relação com a dos Elementos].
Os daimons da água acompanham a imaginação e os sentidos. Eles nos conduzem para a vida sensual, voluptuosa. Os daimons da Terra são de uma outra natureza, mal definida pelos antigos. Se pode admitir que eles são neutros em sua ação, e nos conduzem para uma vida puramente vegetativa, se nos ligamos muito a matéria inanimada [avareza, indiferença por todo ideal, etc...]

É necessário ver nesses quatro elementos [Fogo, Ar, Água e Terra] não as coisas físicas definidas na expressão corrente, mas sim essências simbólicas, com tudo o que a analogia aí subentende.
Então, nossa Razão poderá conceber esses Seres como correntes, inteligentes, vivas, mas de um inteligência rudimentar, ignorando por exemplo, que existem elementos diferentes ao seu. Seguidamente os encontramos, estudando "a Matéria", suporte material da "Forma" talismânica.
Essas correntes, essas forças, é sobre o que nos debruçamos para nossa orientação espiritual ou sensual. Estabelecemos um contato com elas, e por sua vez nos levam em uma direção precisa no lado de lá, nas regiões espirituais que lhe são próprias.
E se as visualizamos durante manifestações metapsíquicas, extáticas ou mágicas, seremos levados a traduzi-las conforme um modo preciso, imutável qualquer que seja o indivíduo que é o objeto. E eis aí a chave.
A morfogenia humana não povoou somente o universo psíquico, pois o pensamento do homem e os jogos de sua imaginação criadora são um dos múltiplos aspectos da Vida Universal. A substância eterna reveste pois múltiplas formas no seio das quais se manifestam estranhas individualidades.
É certo que essas formas não revestem, de fato, os aspectos intuitivos pelos quais as traduzem nossa imaginação em seus sonhos anagógicos. Pois esses corpos estão longe de ter essa fixidez pobre da Matéria tangível. Elas são livres, mutáveis, plásticas e isso ao infinito.
Mas como nosso intelecto concorda intuitivamente em reconhecer para o Homem o aspecto superior da Forma e como também a experiência racional lhe demonstra o fundamento, se segue que se erra do mesmo modo que se tem razão, quando damos quase sempre às entidades que povoam a substância eterna [1], o aspecto antropomórfico. Vem daí que as individualidades transcendentes são frequentemente dotadas de nosso aspecto.

[1] - O Astral dos Ocultistas.


Em efeito, examinando cuidadosamente, constataremos que a forma humana é a síntese harmoniosamente geométrica de todos os símbolos gráficos tradicionais assim como de todas as relações possíveis das linhas, dimensões e movimentos [1].
"Em toda parte pois onde o espírito pode moldar esse supremo órgão revelador de suas harmonias, [nos diz Paul Richard], a forma do Homem aparece, tanto mais perfeita quanto mais aperfeiçoado for o estado de substância [2].
Mas a beleza formal com a qual os revestimos instintivamente implica em beleza moral ? Em absoluto ! Pois somente percebemos desses seres o seu aspecto exterior, e não seu estado interior, que só é perceptível pela experiência e isso após esses seres terem por muito tempo se revelado a nós pela ação.
Até então, não percebemos mais que uma coisa, uma inteligência a obrar em uma substância mais afinada que a nossa [nos iludindo pois], e que ela molda, amassa, transforma a seu agrado.


De tal maneira, os Seres que vivem no seio da Substância eterna podem nos fascinar por uma beleza aparente, decorrente da sua superioridade de essência sobre nós. Mas isso não é forçosamente justificativa de Bondade e da Pureza. E esses Seres tem por nós o interesse que temos pela abelha que nos dá o mel. "Os Deuses, nos diz Shakespeare, se servem dos homens como estes se servem das tochas ! Eles não as acendem por elas mesmas...".
Sem dúvida é possível se comunicar em uma certa medida com o próprio Divino Superior, e isso nos limites da maior ou menor espiritualidade de cada um. Sem dúvida, a potência posta a serviço da inteligência, a mais egoísta que seja, é menos perigosa que a horrorosa estupidez destrutora de uma Força obscurecida. Mas somos para esses Deuses necessidades; o homem qualquer que seja sua santidade, não pode prolongar sua vida sem destruir aquela de outras entidades naturais, vegetais ou animais.


O Oriente nos fala da "batalha humana, de que se engordam os deuses ! ... ". O Ocidente nos diz que "...Deus é um fogo que queima !... e os místicos estão de acordo que é suficiente ter estado um só instante na presença do deus amado para que, recebendo o beijo de fogo de suas misteriosas núpcias, "a alma se abisme nele para sempre...".
Também, se como o afirmava Martinez de Pasqually a seus discípulos, "o homem é de direito seu Mestre", quantos teúrgos entretanto são bastante fortes para se aproximarem dos Seres psíquicos, os conhecer melhor que intuitivamente e em seguida se subtraírem a terrível "atração" que constitui essa própria aproximação ? Muito poucos sem dúvida ! E portanto aí está o grande segredo da Gnose operativa, o temível arcano da "Vida Eterna", conhecer os deuses, e se liberar. Eis porque o Apóstolo pode dizer que a Ignorância é o pior dos males, pois que nos sujeita aos Arcontes.

Uma coisa abstrata é impossível de visualizar a não ser sob uma forma familiar.
Assim, as esculturas e as pinturas estão de acordo em dar aos Anjos um maior ou menor número de asas, afim de simbolizar por esse meio sua maior ou menor espiritualidade de essência, ou a Deus Pai, o aspecto de um ancião majestoso, sua "idade" evocando Sua Perenidade.
Da mesma maneira, os demônios das lendas populares são sempre horríveis e
[1] - Ver "O Número de Ouro", de Matila Ghyka, extraordinário estudo sobre o mistério do Pentagrama.
[2] - P. Richard : Os Deuses.
ameaçadores em suas representações tradicionais, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a raça.


Pois bem, será o mesmo, em uma operação teúrgica ou mágica.
A consciência superior, vê diretamente, em sua essência, os seres em questão. Há nesse momento, contato, interpenetração, entre o Operador e a Entidade.
O subconsciente, recebe essa percepção da consciência superior, assim como uma vaga intuição, mal definida. Para a traduzir, para a exprimir pelos sentidos físicos, ele usará imagens, símbolos como o faria uma sibila, A chave desses últimos, podemos defini-la assim.

Quando formos negociar com uma forma puramente antropomórfica, quer dizer com aspecto humano, mas adornada com um maior ou menor número de detalhes [asas, raios, glória, etc...], temos comércio com uma criatura de planos superiores: celeste ou sobre celeste. O detalhe da imagem nos precisará.
Quando a forma visualizada é semi humana e semi animal, a entidade já é de um plano mais baixo. Os caracteres de sua animalidade parcial definirão sua natureza própria. Assim são representados os deuses do antigo Egito, deuses com cabeça de leão, leoa, gato, íbis, etc... ou o abraxas gnóstico, o homem com cabeça de galo, imagem do Sol [essa ave anuncia o nascer desse astro].
Quando a forma visualizada for puramente animal ou monstruosa, é raro que se trate de uma forma puramente natural. Na maioria das vezes, a aparição será composta. Poderemos então estar certos que a entidade em questão é muito próxima de nós, e isso nos deverá levar a desconfiança. Se vemos assas, será intelectualmente mais elevada do que se vemos membros. O que não quererá afirmar qualquer superioridade moral ! As garras, os cornos, as formas réptilentas, rastejantes, a pluralidade das formas, a impressão de "tumulto" deverão nos significar um certo perigo.


Se simplesmente "vemos" uma forma vaga, sombria, se trata de uma força sem inteligência natural, nos limites imediatos do tangível. Tal é o famoso "véu negro" dos contos escoceses, anunciador da morte ou de luto [É o véu que separa este mundo do outro. Ele evoca alguma coisa de desconhecido].
Se for o caso de um fenômeno de audição e não de visão, as mesmas chaves serão utilizadas. Nosso subconsciente nos traduzirá com as mesmas regras. De memória citemos o rangido da charrete de Ankou e o bater das Lavadeiras, das lendas bretãs.
Os símbolos e as imagens despertadas em nós estarão em relação com as tradições que nos são familiares, ou que se erguem de nosso subconsciente racial.
Mas, ainda uma vez, observemos que essas Entidades são forças correntes, nada mais que isso. As visualizamos em duas dimensões, mas isso não nos assegura em absoluto que elas sejam seres de duas dimensões. Talvez elas não tenham as vezes mais que uma só dimensão...
Também traduzimos, conforme regras idênticas, certas forças naturais, certos conceitos. É assim que falamos da "fé, eletricidade", que representamos a Morte soba a forma de um esqueleto armado com uma foice, que a forma política de um estado tem sua imagem [é o caso da República com o boné frígio, símbolo de liberação antigo], que a Abundância tem seu Corno, que a fortuna cega resvala sobre sua Roda, e que o Amor estira seu arco !


Esses são conceitos, vitalizados por um emprego imemorial, e visualizados por usos igualmente imemoriais.
Nas Escrituras Santas, o Evangelho segundo São João, os livros dos Profetas [Ezequiel, Daniel, etc...], o Apocalipse, nos dão frequentemente representações desse gênero [os quatro cavaleiros do Apocalipse, os Animais de Ezequiel, etc...]
A experiência secular provou que as evocações submissas a um mesmo ritual são geradoras de aparições idênticas, na ação, entram o tempo, o lugar, a denominação, das Forças assim abaladas. O ritual é pois uma verdadeira fórmula de física transcendental. O Operador sendo a matéria primeira submissa a ação dessa fórmula, o Objetivo da Operação sendo também o Resultado.

b) As Egrégoras

Se dá o nome de Egrégora à uma Força gerada por uma potente corrente espiritual e alimentada depois por intervalos regulares, segundo um ritmo, em harmonia com a Vida Universal do Cosmos, ou à uma reunião de Entidades unidas por um caráter comum.
No invisível, fora da percepção física do Homem, existem seres artificiais, gerados pela devoção, o entusiasmo, o fanatismo, que se chamam egrégoras. São as almas das grande correntes espirituais, boas ou más. A Igreja Mística, a Jerusalém Celeste, o Corpo de Christo, e todos esses nome sinônimos, são os qualificativos que comumente se dá a egrégora do Catolicismo. A Franco-Maçonaria, o Protestantismo, o Islã, o Budismo são egrégoras. As grandes ideologias políticas também são.
Integrado psiquicamente pela Iniciação ritual ou por adesão intelectual a uma dessas correntes, o filiado se tornará uma de suas moléculas constitutivas. Ele aumentará a potência da egrégora das qualidades ou dos defeitos que possuir, e em troca, a egrégora o isolará das forças exteriores do mundo físico, e reforçará com toda força coletiva que houver acumulada de antes, os fracos meios de ação do homem que a ela se religar. Instintivamente, a linguagem popular dá o nome de "círculo" a uma egrégora, exprimindo assim intuitivamente a idéia de circuito. Entre a célula constitutiva e a egrégora, quer dizer entre o filiado e o grupo, se estabelece então uma espécie de circulação psíquica interior.
Isto explica que os adversários de um conceito qualquer estudando a origem, a natureza, a vida desse conceito, terminem frequentemente se ligando a ele ou pelo menos aceitam uma parte de suas teorias, mesmo sem se dar conta. Ele está montado sobre uma corrente que, se é mais potente que aquela a qual estava primitivamente ligado, o levará insensivelmente para outro caminho do que aquele que imagina seguir. Se ele estiver livre de toda filiação, a ação será mais brutal e mais forte.
Essa regra é válida para todas as grandes correntes de idéias: filosóficas, religiosas, políticas...

Mas uma corrente espiritual só se torna viva no sentido oculto da palavra, se ritos a vitalizam. As egrégoras são conceitos vitalizados. Isso explica que somente as associações humanas de caráter ritualístico [religião católica, maçonaria, martinismo, etc...] podem chegar a gerar uma egrégora, que durará muito tempo.
A destruição de uma egrégora só pode ser rapidamente obtida com a morte pelo fogo de seus membros vivos, a destruição dos símbolos que a concretizam ou se ligam a ela, assim como também todos os escritos [rituais, arquivos, etc...] que lhe dizem respeito.
A egrégora será lentamente destruída quando entregue a si mesma, nenhum ritual, nenhuma corrente espiritual gerada conforme regras ocultas bem precisas, perpetuarem sua existência...
A incineração de seus membros vivos e dos escritos que a ela se ligam, assegura a destruição do corpo físico e do duplo isto vale também para todos os seres e coisas. A simples morte comum [sem destruição total da imagem], se tira a vida material, em nada entrava a vida astral. A morte por derramamento de sangue aumentará a vitalidade oculta da egrégora, em virtude do poder misterioso do sangue, quando é liberado sob a forma de sacrifício.
Isso explica as perseguições pagãs contra o cristianismo nada mais fizeram do que o fortificar. Igualmente, o fato de que os hereges, e seus escritos, tenha sido continuamente destruídos pelo fogo. A Igreja católica, suspeita-se, conhecia se viu, o segredo da vida das egrégoras.
O desligamento de alguém de uma egrégora se obtém por uma cerimônia análoga, ainda que oposta em seus objetivos a aquela que assegurou sua gênese. A Iniciação é, nesse caso, aniquilada pela excomunhão.
As reações da egrégora a respeito da célula expulsa são as vezes perigosas, ainda que prejudicando sempre uma caminhada perfeitamente natural. Essa rejeição, continuamente , modifica considerávelmente o destino o destino do "excomungado", destino já modificado uma primeira vez por sua filiação. Deixando uma egrégora, é prudente se integrar, mesmo momentâneamente, a um conceito de força equivalente mas oposto.
Assim como as células constitutivas de uma egrégora serão tiradas da humanidade, no que diz respeito ao plano material, assim também outras células constitutivas dessa egrégora serão extraídas do mundo das entidades. A egrégora vive sobre o plano físico [onde ela age por intermédio do Homem] e sobre o plano superior [onde ela age por intermédio das Entidades]. Ela possui então um corpo, um duplo e uma alma.
Isso tem sua aplicação na tríplice Igreja: Militante [terrestre], Sofredora[astral], e Triunfante [celeste].

O ritmo de vida da egrégora sendo assegurado pelo ritual [liturgia], se compreenderá facilmente que a menor perturbação neste traria uma perturbação idêntica no ritmo vital do conceito [1]. Parecido como com um órgão humano que viesse a funcionar anormalmente.
Uma vez estabelecida e perpetuada pelo uso e o tempo, um ritual não pode mais ser modificado sob pena de enfraquecimento da egrégora. Isso explica que o segredo se aplica
particularmente aos rituais de Iniciação.
Assim como nomes divinos, palavras de poder, etc..., isto é definições ritualísticas consagradas pelo uso, concorrem em fórmulas, preces, invocações, igualmente consagradas pelo uso para estabelecer uma relação espiritual entre o Homem e Deus, assim também nomes,
[1] - Daí a eficiência oculta certa de uma profanação. Que pode somente se constituir em uma divulgação ou uma exposição pública do que deveria permanecer oculto.
palavras, fórmulas, especiais e secretas, são utilizadas para a movimentação e o despertar da egrégora.

Mas se a vida passiva desse "conceito vitalizado" é assegurada pela massa de fiéis, a vida ativa a é por alguns membros, os mais seguros e os mais qualificados.
Isso implica necessáriamente em uma hierarquia no seio de toda associação. A igualdade, se igualdade deve haver aí, só pode ser estabelecida no "círculo interior" colocado na cabeça da egrégora

Por fim, as grande leis cósmicas e particularmente aquelas relativas ao tempo, as épocas, devem colaborar para a vida da egrégora.
Isto explica que todas as grandes cerimônias rituais, tanto religiosas como filosóficas, estejam situadas nos equinócios, e nos solstícios, ou em datas relacionadas com essas quatro grandes divisões anuais e daí decorrentes.
Que seja igualmente observado o caminho das astros, assim como a influência que possa derivar de um lugar, de uma orientação.

A imagem convencional de uma egrégora, sua representação mental, equivale a uma realidade no plano astral ou mundo hiperfísico imediato. A República, a Pátria , a Justiça, a Guerra, a Fome, tem imagens egregóricas. O Homem vitalizando conceitos, os antropomorfisa necessáriamente. No plano divino, onde toda coisa equivale a uma numeração, a um nome divino, é o "signo", ou selo [sigillum] o que concretiza a egrégora.
Assim são, sucessivamente, o Selo de Salomão ou Hexagrama, o Pentagrama ou Estrela de Davi, a Cruz Latina, o Triângulo Maçônico e os inumeráveis símbolos e selos, figurativos das Entidades , que nos transmitem os livros de Magia e de Cabala.
Toda egrégora deve pois possuir um signo, característico de sua natureza, de seus objetivos, de seus meios. Com respeito ao filiado, dito signo é ao mesmo tempo uma proteção, um suporte e um ponto de contato. Ele se torna então um verdadeiro Pantáculo [1].

Quando uma egrégora viveu por muito tempo, acontece que ela adquire vida relativamente independente. Então ela não obedece mais aos impulsos que os mestres das seitas lhe transmitem por intermédio da liturgia, e, de escrava dócil, frequentemente se torna uma tirana feroz. Isto explica que continuamente , um movimento se desvia, para longe do objetivo primitivamente assinalado. Igualmente, ela pode mudar de mestre. A conquista de uma egrégora por sua evocação era um segredo conhecido pelos sacerdotes de Roma.
A formação psíquica das egrégoras está extensamente descrita nas obras de ocultismo. As regras do Yoga aí tomam parte. Igualmente os "Exercícios espirituais dos Filhos
[1] - O Brasão de uma antiga família é seu Pantáculo, a Árvore genealógica, sua "cadeia" mágica. "Toda a continuação dos descendentes não formam mais que um só Ser", diz Maurice Barrès.
de Santo Inácio", obra que conhecem todos os discípulos dos Jesuítas, se liga a esse aspecto.

A vida oculta das egrégoras é assegurada por procedimentos idênticos aos empregados pela Magia para vivificar as forças denominadas elementais. O sangue das vítimas [holocautos de adoração ou de expiação], as resinas aromáticas, incenso, mirra, etc...[sangue dos vegetais], a visualização de uma imagem concretizadora, as correntes mentais, as cadeias de união, etc..., fazem dessa liturgia animadora e conservadora das egrégoras.

A vida material das egrégora é assegurada pelo número de seus membros, sua disciplina, sua união espiritual, sua estrita observância dos ritos vivificadores e conservadores.
Igualmente, as correntes de simpatia ou de antipatia, geradas no mundo profano por sua ação ou suas tendências, ajudam ou prejudicam poderosamente a vitalização dos conceitos, assim como sua ação. Com mais forte razão, os procedimentos de ação oculta da Magia tradicional e da Teurgia são potentes meios de apoio ou de combate com respeito as egrégoras, com a condição entretanto que sua potência esteja em relação com aquela do dito conceito. Isto explica que o sacrilégio e a profanação tenham , em todos os tempos, sido considerados como crimes religiosos.

Acabamos de precisar o papel e a razão de ser da "Cadeia de União" maçônica. Geradora e vivificadora da Egrégora da Ordem, ela não tem outro objetivo que lançar nas "regiões espirituais" fechadas aos sentidos físicos e a sua ação, as correntes-forças, geradoras de um ser metafísico escapando ao todo antropomorfismo. Saído da assembléia humana, nascido de seu querer e de sua substância ideal, esse ser de um outro mundo se tornará o deus condutor. Repetição do princípio diretor da Franco Maçonaria que quer que o poder nasça da maioria, e que não se torne autoridade a não ser quando seja extrato. Ele é o "Espírito" maçônico, verdadeira egrégora da Ordem.