AS PRIMEIRAS DESCRIÇÕES DE APOLONIO DE TIANA
Apolônio de Tíana (pronuncia-se com o acento na primeira sílaba
e o primeiro a curto) foi o mais famoso filósofo do mundo greco-romano
do primeiro século, e devotou a maior parte de sua longa vida à
purificação dos muitos cultos do Império e à
instrução dos ministros e sacerdotes de suas religiões.
Com a exceção de Cristo, nenhum personagem mais interessante
apareceu na cena da história ocidental nestes primeiros anos. Muitas
e variadas e freqüentemente contraditórias são as opiniões
que têm sido sustentadas sobre Apolônio, pois o relato de sua
vida que chegou a nós é do feitio de uma história romântica
antes que do de uma história objetiva. E isto em certa medida talvez
deva ser esperado, pois Apolônio, além de seu ensino público,
teve uma vida à parte, uma vida na qual mesmo seu discípulo
favorito não entra. Ele viaja até as terras mais distantes,
e perde-se para o mundo por anos inteiros; ele entra nos santuários
dos templos mais sagrados e nos círculos internos das comunidades
mais fechadas, e o que ele diz ou faz lá permanece um mistério,
ou serve somente como uma oportunidade para tecerem alguma história
fantástica aqueles que não compreendem.
O estudo a seguir é simplesmente uma tentativa de colocar para o
leitor um breve esboço do problema que os registros e tradições
sobre a vida do famoso Tianeu representa; mas antes que tratemos da Vida
de Apolônio, escrita por Flávio Filóstrato no começo
do século III, devemos dar uma breve notícia das referências
sobre Apolônio entre os escritores clássicos e os Padres da
Igreja, e um curto resumo da literatura de tempos mais recentes sobre o
assunto, e das várias oscilações da guerra de opinião
a respeito de sua vida ao longo dos últimos quatro séculos.
Primeiramente, então, as referências em autores clássicos
e patrísticos. Luciano, o espirituoso escritor da primeira metade
do século II, toma como tema de uma de suas sátiras o aluno
de um discípulo de Apolônio, um daqueles que estavam familiarizados
com "toda a tragédia" (Alexander sive Pseudomantis - Alexandre,
ou o Pseudo-mago -, vi.) de sua vida. E Apuleio, um contemporâneo
de Luciano, classifica Apolônio junto com Moisés e Zoroastro,
e outros Magos famosos da antigüidade (De Magia - Sobre a Magia -,
xc; ed. Hildebrand, 1842; ii, 614).
Cerca da mesma época, em uma obra intitulada Quaestiones et Responsiones
ad Orthodoxos (Perguntas e Respostas aos Ortodoxos), antigamente atribuída
a Justino, o Mártir, que floresceu no segundo quarto do século
II, encontramos a seguinte interessante declaração:
"Pergunta 24: Se Deus é o autor e mestre da criação,
como os objetos consagrados (te?esµata. Telesma era "um objeto
consagrado, transformado pelos árabes em telsam, talismã";
vide o Lexicon de Liddell e Scott, sub voc.) de Apollonius têm poder
nas (várias) ordens desta criação? Pois, como nós
vemos, eles acalmam a fúria das ondas e o poder dos ventos e impedem
o ataque dos vermes e das bestas selvagens". (Justin Martyr,
Opera - Obras -, ed. Otto; 2ª edição; Jena, 1849; ii,
32)
Dion Cássio, em sua história (Lib. I; xxvii, 18), que escreveu
entre 211 e 212 d.C., diz que Caracala (Imperador entre 211 e 216) honrou
a memória de Apolônio com uma capela ou monumento (heroum).
Foi bem nesta época (216) que Filóstrato compôs sua
Vida de Apolônio, a pedido de Domna Julia, a mãe de Caracala,
e é com este documento principalmente que temos de lidar a seguir.
Lamprídio, que floresceu em meados do século III, informa-nos
ainda que Alexandre Severo (Imperador entre 222 e 235) colocou a estátua
de Apolônio em seu lararium [espécie de capela onde os romanos
colocavam as imagens de seus deuses protetores do lar - NT] junto com as
de Cristo, Abraão e Orfeu (Life of Alexander Severus - A Vida de
Alexandre Severo -, xxix).
Vopisco, escrevendo na última década do século III,
nos conta que Aureliano (Imperador entre 270 e 275) dedicou um templo a
Apolônio, de quem ele tivera uma visão quando assediava Tíana.
Vopisco fala do Tianeu como "um sábio da mais larga fama e autoridade,
um antigo filósofo, e um verdadeiro amigo dos Deuses", e mais,
como uma manifestação da deidade. "Pois quem dentre os
homens", exclama o historiador, "foi mais santo, quem mais digno
de reverência, quem mais venerável, quem mais divinal que ele?
Ele foi quem deu vida aos mortos. Ele foi quem operou e disse tantas coisas
além do poder dos homens". (Life of Aurelian - A Vida de Aureliano,
xxiv). Tão entusiástico é Vopisco sobre Apolônio,
que prometeu que se vivesse, escreveria uma breve história de sua
vida em latim, para que seus feitos e palavras pudessem estar na língua
de todos, pois até então os únicos relatos estavam
em grego ("Quae qui velit nosse, groecos legat libros qui de ejus vita
conscripti sunt - Que quem quiser saiba que os gregos deixaram livros sobre
sua vida". Estes relatos provavelmente foram os livros de Máximo,
Merágenes e Filóstrato). Vopisco, entretanto, não cumpriu
sua promessa, mas sabemos que perto desta data tanto Sotérico (um
poeta épico Egípcio, que escreveu diversas histórias
poéticas em grego; floresceu na última década do terceiro
século) quanto Nicômaco escreveram Vidas sobre nosso filósofo,
e logo depois Tácio Vitoriano, trabalhando sobre as obras de Nicômaco
(Sidonius Apollinaris, Epistolae - Cartas -, viii, 3. Vide também
Legrand d'Aussy, Vie d'Apollonius de Tyane - A Vida de Apolônio de
Tíana -, Paris, 1807; p. xlvii), também compôs uma Vida.
Nenhuma destas Vidas, contudo, chegou a nós.
Também foi exatamente neste período, a saber, os últimos
anos do século III e os primeiros do IV, que Porfírio e Jâmblico
compuseram seus tratados sobre Pitágoras e sua escola; ambos mencionam
Apolônio como uma de suas autoridades, e é provável
que as primeiras 30 estâncias de Jâmblico sejam tomadas de Apolônio
(Porphyryus, De Vita Pythagorae - A Vida de Pitágoras -, seção
ii, ed. Kiessling; Leipzig, 1816. Iamblichus, De Vita Pythagorica - Sobre
a Vida Pitagórica -, cap. xxv, ed. Kiessling; Leipzig, 1913; vide
especialmente a nota de Kiessling, pp. II sqq. Vide também Porphyryus,
Frag., De Styge - Sobre o Estige -, p. 285, ed. Holst).
Agora chegamos a um incidente que arremessa o caráter de Apolônio
na arena da polêmica Cristã, onde tem sido debatido até
os dias de hoje. Hiérocles, sucessivamente governador de Palmira,
da Bitínia e de Alexandria, e um filósofo, cerca do ano 305
escreveu uma crítica sobre as reivindicações Cristãs,
em dois livros, chamada Um Apelo Verdadeiro aos Cristãos, ou mais
concisamente O Amante da Verdade. Ele parece ter-se baseado em grande parte
no trabalho anterior de Celso e Porfírio (vide Duchesne sobre as
obras recentemente descobertas de Macário Magno, Paris, 1877), mas
introduziu um novo tema de controvérsia ao contrapor as obras maravilhosas
de Apolônio à reivindicação dos Cristãos
de direito exclusivo sobre "milagres" como prova da divindade
de seu Mestre. Nesta parte de seu tratado, Hiérocles usa a Vida de
Apolônio, de Filóstrato.
A esta pertinente crítica de Hiérocles, Eusébio de
Cesaréia imediatamente replicou em um tratado ainda existente, intitulado
Contra Hieroclem (Contra Hiérocles - O melhor texto é o de
Gaynsford; Oxford, 1852: Eusebii Pamphili contra Hieroclem - Eusébio
Pânfilo contra Hiérocles; também existe em várias
edições de Filóstrato. Há duas traduções
em latim, uma em italiano, uma em dinamarquês, todas reunidas à
Vita, de Filóstrato, e uma em francês, impressa à parte:
Discours d'Eusèbe Evêque de Cesarée touchant les Miracles
attribuez par les Payens à Apollonius de Tyane - Discursos de Eusébio,
Bispo de Cesaréia, a respeito dos Milagres atribuídos pelos
Pagãos a Apolônio de Tíana -, tr. de Cousin; Paris,
1584, 12°, 135 pp.). Eusébio admite que Apolônio era um
homem sábio e virtuoso, mas nega que haja provas suficientes de que
as maravilhas atribuídas a ele tenham mesmo ocorrido; e mesmo se
ocorreram, foram obra de "daimons" [preferimos manter a palavra
daimon, mantida também pelo autor (daemon), evidenciando sua fonte
grega (da?µs?), e significando seres mais espirituais que o homem,
de vários graus de sublimidade, em vez da tradução
contemporânea demônio, cujas associações são
completamente diversas em relação às originais - NT]
e não de Deus. O tratado de Eusébio é interessante;
ele escrutiniza severamente as declarações de Filóstrato,
e mostra-se possuído de uma faculdade crítica de primeira
linha. Tivesse ele apenas usado esta faculdade nos documentos da Igreja,
da qual foi o primeiro historiógrafo, a posteridade lhe teria um
débito eterno de gratidão. Mas Eusébio, como tantos
outros apologistas, só conseguia ver um lado da questão; quando
qualquer coisa tocante ao Cristianismo era chamada à cena, a justiça
se tornava estranha à sua mente, e ele teria considerado blasfemo
usar sua faculdade crítica sobre documentos que relatassem os "milagres"
de Jesus. Mesmo assim o problema dos "milagres" era o mesmo, como
Hiérocles assinalou, e assim permanece até hoje.
Depois a controvérsia reencarnou no século XVI, e quando a
hipótese de ser o "Diabo" a causa primeira de todos os
"milagres" exceto os da Igreja perdeu sua força com o progresso
do pensamento científico, a natureza dos prodígios relatados
na Vida de Apolônio ainda era uma dificuldade tão grande que
deu origem a uma nova hipótese, a de plágio. A vida de Apolônio
seria um plágio Pagão da vida de Jesus. Mas Eusébio
e os Padres que o seguiram não suspeitavam disto; eles viveram numa
época em que tal asserção poderia ter sido facilmente
refutada. Não há uma só palavra em Filóstrato
que demonstre ter ele algum conhecimento da vida de Jesus, e fascinante
como é para muitos a teoria de "escrita tendenciosa" de
Baur, podemos somente dizer que como plagiador da história do Evangelho,
Filóstrato é um óbvio fracasso. Filóstrato escreve
a história de um homem bom e sábio, um homem com a missão
de ensinar, revestida das maravilhosas histórias preservadas na memória
e embelezadas pela imaginação de uma posteridade indulgente,
mas não o drama da Deidade encarnada como o cumprimento da profecia
mundial.
Lactâncio, escrevendo em torno de 315, também atacou o tratado
de Hiérocles, que parece ter apresentado algumas críticas
muito pertinentes; pois o Padre da Igreja diz que ele enumera tantos de
seus ensinamentos Cristãos internos (intima) que algumas vezes ele
parece ter seguido ao mesmo tempo o mesmo treinamento (disciplina). Mas,
diz Lactâncio, é em vão que Hiérocles tenta demonstrar
que Apolônio executou feitos similares ou mesmo maiores que Jesus,
pois os Cristãos não crêem que Cristo é Deus
porque operou prodígios, mas porque todas as coisas encontradas nele
foram as que os profetas anunciaram (Lactantius, Divinae Institutiones -
As Instituições Divinas -, v 2, 3; ed. Fritsche; Leipzig,
1842; pp. 233, 236). E tomando este rumo Lactâncio viu muito mais
claramente que Eusébio a fragilidade da "prova milagrosa".
Arnóbio, o professor de Lactâncio, entretanto, escrevendo no
fim do século III, antes da controvérsia, ao se referir a
Apolônio ele simplesmente o classifica entre os Magos, como Zoroastro
e os outros mencionados na passagem de Apuleio a que já nos referimos
(Arnobius, Adversus Nationes - Contra as Seitas -, i, 52; ed. Hildebrand;
Halle, 1844; p. 86. O Padre da Igreja, contudo, com aquele exclusivismo
peculiar à visão Judeu-Cristã, omite Moisés
da lista de Magos).
Mas mesmo depois da controvérsia ainda existe uma larga diferença
de opinião entre os Padres, pois já no fim do século
IV João Crisóstomo, com grande mordacidade, chama Apolônio
de enganador e fazedor de más obras, e declara que todos os incidentes
de sua vida são ficção desqualificada (Johannes Chrysostomus,
Adversus Judaeos - Contra os Judeus -, v, 3, p. 631; De Laudibus Sancti
Pauli Apost. Homil. - Sobre as Honoráveis Homilias de São
Paulo Apóstolo -, iv, p. 493 d; ed. Monfauc). Jerônimo, ao
contrário, na mesmíssima data, assume uma posição
quase favorável, pois, após ler Filóstrato, escreve
que Apolônio encontrou em toda parte algo que aprender e algo por
onde se tornar um homem melhor (Hieronymus, Ep. Ad Paulinum - Epístola
aos Paulinos -, 53; texto a partir de Kayser, pref. ix). No começo
do século V também Agostinho, enquanto ridiculariza qualquer
tentativa de comparar-se Apolônio com Jesus, diz que o caráter
do Tianeu era "muito superior" àquele atribuído
a Júpiter, no que se tratava de virtude (Augustinus, Epistolae -
Cartas -, cxxxviii. Texto citado por Legrand d'Aussy; op. cit., p. 294).
Por volta da mesma data também encontramos Isidoro de Pelúsio,
morto em 450, negando asperamente que houvesse qualquer verdade na reivindicação
feita por "alguns", que ele não diz quem são, de
que Apolônio de Tíana "consagrou muitos locais em muitas
partes do mundo para a segurança de seus habitantes" (Isidorus
Pelusiota, Epp. - Cartas -, p. 138; ed. J. Billius; Paris, 1585). É
instrutivo comparar a negativa de Isidoro com a passagem que já citamos
do Pseudo-Justino. O escritor de Perguntas e Respostas aos Ortodoxos no
segundo século não poderia descartar a pergunta através
de uma simples negação; ele teve de admití-la e discutir
o caso em outras bases, quais sejam, a agência do Diabo. Nem o argumento
dos Padres, de que Apolônio usava magia para produzir seus resultados,
enquanto que Cristãos ignorantes poderiam realizar curas milagrosas
através de uma simples palavra (vide Arnóbio, loc. cit.),
pode ser aceito como válido pelo crítico imparcial, pois não
há evidências para sustentar a pretensão de que Apolônio
haja empregado tais métodos para suas obras maravilhosas; ao contrário,
tanto o próprio Apolônio quanto seu biógrafo Filóstrato
reiteradamente repudiam a acusação de magia levantada contra
ele.
Por outro lado, poucos anos depois, Sidônio Apolinário, Bispo
de Claremont, fala de Apolônio em termos os mais altos. Sidônio
traduziu a Vida de Apolônio para o latim para Leão, conselheiro
do Rei Eurico, e escrevendo para seu amigo, diz: "Lêde a vida
de um homem que, religião à parte, se assemelha à vossa
em muitos pontos; um homem procurado pelos ricos, ainda que jamais tenha
procurado riquezas; que amava a sabedoria e desprezava o ouro; um homem
frugal em meio a festins, vestido de linho no meio dos purpurados, austero
no meio da luxúria... Enfim, falando claramente, talvez nenhum historiador
encontrará nos tempos antigos um filósofo cuja vida fosse
igual à de Apolônio" (Sidonius Apollinaris, Epistolae
- Cartas -, viii, 3. Também Fabricius, Bibliotheca Graeca - Biblioteca
Grega -, pp. 549, 565; ed. Harles. A obra de Sidônio sobre Apolônio
infelizmente foi perdida.)
Assim vemos que mesmo entre os Padres da Igreja as opiniões se dividiam;
enquanto que entre os próprios filósofos o louvor de Apolônio
era ardente.
Pois Amiano Marcelino, "o último súdito de Roma que compôs
uma história profana na língua latina", e amigo de Juliano,
o Imperador filósofo, refere-se ao Tianeu como "aquele celebérrimo
filósofo" (amplissimus ille philosophus, xxiii, 7. Vide também
xxi, 14; xxiii, 19), enquanto que uns poucos anos depois Eunápio,
discípulo de Crisâncio, um dos professores de Juliano, escrevendo
nos derradeiros anos do século IV, diz que Apolônio era mais
que um filósofo; era "um meio-termo, por assim dizer, entre
os deuses e os homens" (t? ?e?? te ?at a?F??p?? µes?, significando
com isso presumivelmente alguém que tenha atingido o grau de ser
superior ao homem, mas ainda não igual aos deuses. Esta era a ordem
"daimôníca" dos gregos. Mas a palavra "daimon",
devido à aspereza sectarista, há muito degradou-se de seu
antigo patamar elevado, e a idéia original agora encontra tradução
na linguagem comum através do termo "anjo". Compare com
Platão, Symposium - O Banquete, xxiii, pa? ta da?µs????µetae?
est? ?e?? te ?a? ???t?? - "tudo o que é daimônico está
entre Deus e o homem". Não só Apolônio era um adepto
da filosofia Pitagórica, mas "exemplificou plenamente o seu
lado mais divino e prático". De fato, Filóstrato deveria
ter chamado sua biografia de "A Estada de um Deus entre os Homens"
(Eunapius, Vitae Philosophorum - Vidas dos Filósofos -, Proêmio,
vi; ed. Boissonade; Amsterdam, 1822; p. 3). Esta apreciação
aparentemente por demais exagerada talvez encontre uma explicação
no fato de que Eunápio pertenceu a uma escola que conhecia a natureza
das realizações atribuídas a Apolônio.
Na verdade, "tão tarde quanto no século V, encontramos
um Volusiano, um procônsul da África, descendente de uma antiga
família romana e ainda fortemente ligado à religião
de seus ancestrais, quase adorando Apolônio de Tíana como um
ser sobrenatural" (Réville, Apollonius of Tyana; tr. do francês,
p. 56; Londres, 1866. Contudo, não fui capaz de descobrir com que
autoridade esta declaração é feita).
Mesmo depois do declínio da filosofia encontramos Cassiodoro, que
passou os últimos anos de sua longa vida em um mosteiro, falando
de Apolônio como o "renomado filósofo" ("Insignis
philosophus"; vide sua Chronicon - Crônica -, escrita antes de
519). Do mesmo modo entre os autores bizantinos, o monge George Syncellus,
no século VIII, refere-se diversas vezes ao nosso filósofo,
e não apenas despido de toda a crítica adversa, mas declarando
que ele foi a primeira e mais notável de todas eminências que
surgiram no Império. (Chronographia. Vide Legrand d'Aussy,
op. Cit., p. 313). Tzetzes também, o crítico e gramático,
chama Apolônio de "todo-sábio e ante-conhecedor de todas
as coisas" (Chiliades, ii, 60).
E mesmo que o monge Xiphilinus, no século IX, em uma nota para sua
versão abreviada da história de Dion Cássio, chame
Apolônio de astuto ilusionista e mágico, § (Citado por
Legrand d'Aussy, op. cit. p. 286), não obstante Cedreno, no mesmo
século, dá a Apolônio o título não indigno
de "adepto filósofo Pitagórico" (f???s?f?? ???fa?s?e???
st???e??µat??s?. Cedreno, Compendium Historiarium - Compêndio
de História -, i, 346; ed. Bekker. A palavra que traduzi como "adepto"
- stoicheiomaticos - significa "o que tem poder sobre os elementos")
e relata diversos exemplos da eficácia de seus poderes em Bizâncio.
De fato, se podemos acreditar em Nicetas, no século XIII ainda havia
em Bizâncio certas portas de bronze, antigamente consagradas por Apolônio,
que tiveram que ser postas abaixo porque se haviam tornado objeto de superstição
mesmo entre os próprios Cristãos. (Legrand d'Aussy, op. cit.,
p. 308).
Tivesse a obra de Filóstrato desaparecido junto com as outras Vidas,
o que apresentei acima seria tudo o que conheceríamos sobre Apolônio
(se excetuarmos as suas controversas Cartas e umas poucas citações
de um dos escritos perdidos de Apolônio). Muito pouco, de fato, relativo
a uma figura tão distinguida, mas o bastante para mostrar que, com
a exceção do preconceito teológico, o sufrágio
da antigüidade estava todo do lado de nosso filósofo.