AS OPERAÇÕES TEURGICAS
Notas
Preliminares
Introdução ao estudo da Kabala mística e prática,
e a operatividade de suas Tradições
e seus Símbolos, visando a Teurgia
Robert Ambelain
A
Alma vai poder meditar graças a ciência
a ciência da combinação das Letras santas
ABRAHAM ABULÁFIA
Notas Preliminares
Segundo a Tradição,
o "Livro da Sabedoria", atribuído a Salomão é
em realidade obra de judeus helenizados da época de Alexandria é
um livro particularmente revelador. A Invocação de Salomão
a SABEDORIA divina é cheia de ensinamentos esotéricos.
De acordo com Henry Kunrath, em seu "Amphiteatro da Eterna Sabedoria",
o "Cântico dos Cânticos" encerraria os mistérios
da Via Unitiva; o "Livro dos Provérbios", atribuído
a Salomão, conteria os mistérios da Via Purificadora; o "Eclesiastes",
que teria por autor Jesus-ben-Sirach, revelaria aqueles da Via Iluminativa.
Para a invocação interior da SABEDORIA divina [Hohmahel, espírito divino da Sephirah] estudar a prancha de Kunrath "em seu Amphiteatro da Eterna Sabedoria", intitulada o "Laboratório". Onde se vê o alquimista especulativo, na busca do Ergon, ajoelhado diante do "Livro", o Pentagrama e um outro Pantáculo. A luz que dá uma lâmpada de sete braços está atrás dele, e ele ajoelhado com os braços em cruz, e sua sombra forma assim o sinal da Redenção ["In Cruce Salus"]... As palavras da sua prece são aquelas do Salmo XV da Vulgata. De acordo com certos comentaristas, o Anjo Hokmael é então enviado por Elohim. O perfume empregado é o Incenso puro.
O repertório
das "chaves" rosacrucianas da Alquimia Espiritual é dado
na obra de Sédir "Os Rosa Cruz", Pg. 196 e seguinte, conforme
os trabalhos de Frantz Hartmann.
Em sua obra sobre a Kabala, Papus nos diz o seguinte, citando Kircher:
"Os 32 Caminhos da Sabedoria" são os caminhos [cinneroth] luminosos pelos quais os Santos Homens de Deus pensam, por um longo uso. Uma longa experiência das coisas divinas e uma longa e profunda meditação sobre Eles, chegar aos centros ocultos. Quando os Kabalistas querem interrogar Deus por uma Via qualquer das coisas naturais, eles fazem assim:
1°) - Eles
consultam, em uma preparação anterior, as 32 passagens do
capítulo primeiro do Gênese [Sepher Berschit], quer dizer os
"Caminhos das Coisas Criadas" exercitando sobre eles seu estudo;
2°) - Depois, por meio de certas Orações, tiradas do Nome
hebraico de ELOHIM [e de seus derivados], eles pedem a Deus de lhes dar
a Luz necessária a Via buscada, eles se convencem, por Cerimônias
Convenientes, que eles são Adeptos [adeptus: o que adquiriu] a Luz
da SABEDORIA [Hokmah], se bem que eles se mantenham, por sua fé inquebrantável,
no Coração do Mundo para interroga-lo".
Para que a Oração tenha desde então uma maior potência,
eles se servem do NOME de Quarenta e Duas Letras, e, por Ele, pensam que
obterão o que pedem. "[NOTA: O Nome de 72 Letra é indicado
na Árvore Kabalística de Kircher, dando os 72 Nomes, é
reproduzido após a página da capa da obra de Papus, A Cabala]".
De fato se trata, de uma verdadeira litania.
Há 22
Nomes Divinos de três letras cada um, composto do iod e do hé,
precedido de uma das 32 letras do alfabeto hebreu.
Acrescentando as cinco letras terminais [kaph, mem, noun, phé e tsade],
se tem assim uma série de 27 Nomes Divinos, equivalendo as 28 Casas
lunares.
Por outro lado temos que notar que se o alfabeto hebraico compreende 22
Consoantes, ele também tem 5 pontos vocálicos principais [não
levando em conta suas diversas nuâncias : longos, meio-longos, e breves,
que não são mais que "finezas" variáveis
com os diferentes ramos hebraicos, muito provavelmente].
O Alfabeto Hebraico é na realidade - assim como todos os alfabetos
orientais - puramente lunar, pois que submisso ao número 27:
22 caracteres consonantais
5 caracteres vocálicos [vogais]
27 caracteres
Essas cinco
vogais são: A, E, I, O, U [ou].
Se as classificamos por ordem decrescente, indo da mais aguda a mais grave
obteremos esta ordem : I, E, O, U, A [Iéo-oua].
Então as cordas vocálicas exteriorizam naturalmente os sons
vocálicos, os sons consonantais são necessáriamente
articulados com o auxílio da língua, dos dentes e do palato.
[Sobre o Nome de Quatro Letras, ver "História das Doutrinas
Esotéricas, de J. Marquès-Rivière].
A Kabala ensina
que o Homem representa exatamente nele a constituição do Universo
inteiro. De onde seu nome de Microcosmo.
A Kabala ensina igualmente que a Matéria é uma adjunção,
criada posteriormente a todos os Seres, consequência da Queda de Adão.
O Homem se compõe de :
Neschamah = A Centelha Divina [letra Schin]
Ruach = O Mediador [letra Aleph]
Nephesch = A forma, princípio inferior [letra Mem]
Como Neschamah
o Homem foi emanado. Mas essa "Centelha Divina" era polarizada,
havia um "Neschamah-macho" e um "Neschamah-fêmea".
O Gênesis nos diz que "Deus fez o Homem a sua imagem, macho e
fêmea o criou. Somos então conduzidos a ver em Adam Kadmon
a presença de uma associação "Hokmah-Binah".
Depois ele se submultiplicou, dividido em uma série de seres igualmente
andróginos [provavelmente a Kabala nos dá aí a origem
das Almas humanas andróginas, os Iszchim do "Reino" de
Malkuth].
Depois, após a Queda, essas Almas se materializaram e se desuniram,
dando nascimento aos indivíduos, machos e fêmeas, da Humanidade
carnal. Sua coletividade forma, o Ser Humano terrestre, "O Homem Cósmico"
animando o Mundo Material, em quem, por essa polarização,
mora a contradição, a dualidade. A Kabala conclui pois a Pré-existência
e a Reencarnação.
Observemos que a Forma de Adam Kadmon [Nephesh] não é a Matéria
que os nosso sentidos captam.
O mais alto
grau de existência suscetível de ser alcançado [há
sete, que se chamam no Zohar, os "sete Tabernáculos"],
é o "Santo dos Santos" onde as almas vão se reunir
com a Alma Suprema e se completar umas pelas outras. Lá, tudo reentra
na Unidade e na Perfeição, tudo o preenche inteiramente. [Se
trata do Universo total e não somente o Universo material que os
nossos sentidos controlam].
Mas no fundo desse "pensamento", a luz que se oculta nele, não
pode ser nem aprisionada nem conhecida; o que se consegue agarrar é
o "pensamento" que daí emana. Por fim, nesse estado, a
Criatura não pode mais se distinguir do criador, pois o mesmo "pensamento"
os ilumina; a mesma vontade os anima. A Alma [coletiva ?], tanto quanto
Deus, comanda pois ao Universo [visível e invisível], e o
que ela ordena, Deus [o Deus "no Mundo", quer dizer manifestado],
Deus o faz.
O nome de Três
Letras Emesh [formado das três letras mães: Aleph, Mem e Schin],
dá a Trindade dos Kabalistas :
Schin = Deus-Espírito = Neschamah
Aleph = Deus-Mediador = Ruach = Adam Kadmon
Mem = Deus-Universo = Nephesch
A Árvore
Sephirótica é pois ao mesmo tempo :
- A manifestação do próprio Deus, ou SCHEKINAH,
- Adam-Kadmon, primeira emanação de Deus-Manifestado,
- O conjunto das Almas andróginas ["Reino" dos Iszchim]
[1].
Os três
Pilares da Árvore eqüivalem as três manifestações
desses diversos estados : macho, neutro, fêmea.
As "Cinqüenta
Portas da Inteligência" nascem dos cinco Sephiroth médios,
enquadrando Thiphereth e se unindo a este.
Elas nascem pois de Netzah, de Hod, de Geburah, de Chesed [Gedulah] e de
Tiphereth, para terminarem em Netzah.
Cada uma delas vê se refletir em si a Árvore inteira. Há
pois cinqüenta combinações, formadas de uma das cinco
com cada uma das dez outras.
Uma outra série sephirótica gera as "Cinqüenta Portas".
São as sete primeiras, partindo de baixo da Árvore. Ela é
formada da combinação dos sete Sephiroth em questão
com eles mesmos. Essa segunda série parte de Malkuth, para terminar
ainda em Binah, atravessando : Yesod - Netzah - Hod - Tiphereth - Geburah
- Chesed.
É assim que 7x7 Sephiroth = 49 "Portas", a 50° sendo
Binah.
Cada uma dessas sete corresponde a cada uma das sete artes liberais [ver
Escada simbólica das "Cavaleiros Kadosch", da Franco-Maçonaria].
Os dois nomes de Ieovah e de Adonai exprimem, o primeiro a Misericórdia e o segundo a Potência. Eles formam a combinação Yahadonai [aleph - hé - daleth - vau - noun - iod]. É o nome de sete letras. Esse Nome de poder exprime o desejo do homem piedoso de estar em união com Deus, e ao mesmo tempo a Unidade Divina. Ele é a afirmação da fé [Amon ou Omon]. Em todas as circunstâncias da Vida, o místico pronuncia esse conjunto de letras, operando assim a ligação dos dois Nomes Sagrados.
Um piedoso silêncio constitui também a suprema adoração de Deus. Entretanto é um erro acreditar que esse piedoso silêncio seja vazio de todo intelectualismo, a maneira dos pseudo místicos cristãos modernos.
"Aquele
que ora deve se esforçar de ligar os Nomes por todos os laços
de uma meditação harmoniosa para seu objetivo. Todos seus
desejos são então alcançados, principalmente aqueles
da Assembléia mas também os individuais. O pedido que se deve
[1] - Os Iszchim, coro dos seres celestes, equivale as almas humanas glorificadas.
É o segundo dos coros angélicos.
dirigir ao Senhor é comumente composto de nove maneiras. Ele é
feito alfabeticamente ou pela evocação dos Atributos de Deus,
que são : o Misericordioso, o Generoso, etc... [ver os Nomes divinos
do Korão, em paralelo]. Esses nomes são aqueles da década:
Ehié, Yah, Yod - Hé - Vau - He, Elohim, Jeovah Sabaoth, Shadai,
Adonai . Ou ainda pela evocação dos dez Sephiroth, começando
por Malkuth, Yesod, Hod, Netzah, Tiphereth, Ghbourah, Hesed, Binah, Hokmah,
e terminado por Kether. Ou ainda pela Evocação dos Justos,
que são os Patriarcas, os Profetas e os Reis. Ou pelos Cânticos
e as Louvanças, nas quais se encontra a verdadeira Tradição,
ou "Kabala".
"A Prece se faz melhor ainda se sabe-se dispor as "formas"
de seu Senhor como convém, ou ainda se conhece-se a subida de baixo
ao alto, ou se sabe-se fazer descer o influxo do alto a baixo. Qualquer
que seja, em todas as "Nove Maneiras de proceder", uma grande
atenção ["kavannah"] é necessária.
Pois a propósito daqueles que não oram de maneira correta,
é dito : "aqueles que me desprezam serão escarnecidos".
[I Sam. II -30]".
[o Sepher Tzeniutha].
Observemos
que os Reis que se menciona aqui não são aqueles do Antigo
Testamento, personagens históricas e políticas !... Se trata
do que o Sepher entende sob essa palavra e que vamos analisar.
Essa expressão de Reis é em efeito simbólica. É
dito no Sepher Tzeniutha que houve sete Reis que não puderam subsistir.
Os "Treze Reis" representam o atributo das misericórdias,
oposto ao atributo dos Rigores, designado sob o nome de Sete Reis de Edom.
Os Treze Reis correspondem por uma parte ao Tetragrama [Yod Hé Vav
Hé] e a suas doze transposições.
Conforme o princípio que cada transposição [sirouph]
dos 13 Havaioth contém grande maravilhas e encerra segredos profundos,
os Kabalistas estabeleceram certas deduções de versículos,
ou antes de fragmentos de versículos, cujas palavras são compostas
por letras, que primeiras ou últimas, reproduzem sempre o Tetragrama
sagrado.
É assim que a combinação Yod Hé Vau Hé
contém misteriosamente as palavras: "Ithallel Hamitallel Haçeketh
v'iadeah" significando "que ele glorifique, Aquele que me glorificou
porque Ele tem a Inteligência e Ele me conhece...". As 4 primeiras
letras dessas palavras formam o Tetragrama.
Os Kabalistas observam que na Benção sacerdotal, relatada
nos versículos 24,25,26 do quarto capítulo de "Números",
há treze yod. Eles simbolizam as "treze gotas de bálsamo",
noção imaginada relativa às qualidades da Misericórdia
, exprimida pelos Treze Reis.
Assim a respeito
desse Reis simbólicos é dito: "Quatro Reis vão
ao encontro de quatro Reis", quer dizer que as quatro letras do sagrado
Tetragrama, Yod Hé Vau Hé se entrelaçam com as quatro
letras do nome sagrado de Adonai : Aleph Daleth Noun Yod.
Essas Oito Letras formam o Nome sagrado Yahadonai. Dispostas sobre o octenário
de maneira a formar uma cruz latina e uma cruz de Santo André postas
uma sobre a outra. Elas constituem então um Talismã ou Pantáculo
de Benção Universal:
Por exemplo:
Yod
Aleph Daleth
Vau Hé
Yod Noun
Hé
Os Nomes Divinos se reencontram nessa disposição.
No Tetragrama,
se encontram as duas grandes Duplas Divinas: Yod : o Pai e Hé: a
Mãe, as quais corresponde:
Vau: o Filho, saído dos dois, e Hé: a Filha, reflexo de sua
Mãe. O Filho e a Filha são também o Rei e a Rainha,
o Noivo e a Noiva [Tiphereth e Malkuth].