A História do Martinismo
segundo Jean Bricaud
comentários doutrinais de Constant Chevillon
De todas as
Ordens da Maçonaria Iluminista que floresceram na França durante
o século XVIII, nenhuma teve influência comparável àquela
que entrou para a história sob o nome de Martinismo. O surgimento
desta Organização coincidiu com a de um estranho personagem
chamado Joachim Martinez Pasqually. Ainda hoje alguns afirmam que ele pertencia
a uma raça oriental, enquanto outros dizem que Pasqually era um judeu
Polonês. Na verdade, nada disso é verdade. Sua família
veio de Alicante na Espanha, onde seu pai nasceu em 1671, de acordo com
as credenciais maçônicas apresentadas por seu filho em 26 de
Março de 1763 na Grande Loja da França. De acordo com o mesmo
documento, Joachim Martinez Pasqually nasceu em Grenoble no ano de 1710.
Além disso, em 1769 durante o curso de um processo legal contra Du
Guers, atestou ser Católico. Portanto, não era Judeu.
Martinez Pasqually que também se intitulava Don Martinez de Pasqually,
passou a vida ensinando nas Lojas, na forma de um rito maçônico
elevado, um sistema religioso ao qual deu o nome de: Elus Cohens, ou Sacerdotes
Eleitos (Cohen em hebraico significa Sacerdote). Apenas aqueles maçons
do grau de Elus eram admitidos nos Elus Cohen. Martinez viajou, de maneira
misteriosa, por várias partes da França, sobretudo pelo sul
e sudoeste deste país. Costumava deixar uma cidade sem dizer para
onde ia e chegar a um lugar sem revelar de onde vinha. Enquanto propagava
sua doutrina, conseguia adeptos nas Lojas de Marseilles, Avignon, Montpellier,
Narbonne, Foix e Touluse. Se estabelece finalmente em Bordeaux em 1762,
onde se casou com a sobrinha de um antigo auxiliar do Regimento Foix.
Em Bourdeaux, Martinez ingressa na Loja La Française, que era a única,
das quatro lojas simbólicas, ativa na cidade, naquele tempo. Martinez
se empenhou em reviver o entusiasmo dos maçons de Bordeaux e após
assegurar a cooperação de vários deles, escreveu para
a Grande Loja da França em 1763: "Instituí um templo
em Bourdeaux à Glória do Grande Arquiteto, compreendendo as
cinco ordens perfeitas que administro sob a constituição de
Charles Stuart, rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra, Grão-Mestre
de todas as lojas regulares espalhadas pela superfície da terra,
e que estão hoje sob a proteção de George William,
rei da Grã-Bretanha, e sob a Grande Loja intitulada "Elested
and Scottish Perfection". Na mesma época, dirigiu à Grande
Loja uma cópia do certificado em Inglês. Pasqually dirigiu
esta instituição na qualidade de Grão Mestre do Templo.
Após a troca de várias correspondências, a Grande Loja
da França acabou emitindo um documento formal a Martinez, autorizando
a constituição de sua Loja sob o nome de "Française
Elue Ecossaise" nome registrado na Grande Loja em 1º de Fevereiro
de 1765. Neste mesmo ano partiu para Paris onde esteve em contato com vários
maçons eminentes incluindo os Irmãos Bacon de la Chevalerie,
de Leisignan, de Loos, de Grainville, Willermoz e alguns outros a quem deu
suas primeiras instruções. Com o auxílio destes irmãos
fundou em 21 de Março de 1767 fundou o seu Sovereign Court (Supremo
Conselho) de Paris, apontando Bacon de Chevalerie seu vice.
Em 1770 o Rito dos Elus Cohens contava com templos em Bordeaux, Montpellier,
Avignon, Foix, Libourne, La Rochelle, Versailles, Metz e Paris. Outro templo
estava prestes a se abrir em Lyon, graças aos esforços do
Irmão Willermoz que viria a ser a figura mais ativa e importante
do rito de Martinez. O Rito dos Elus Cohens consistia de nove graus, divididos
em três partes principais, como se segue:
1ª - Aprendiz, Companheiro, Mestre, Grão-Elu e Aprendiz Cohen.
2ª - Companheiro Cohen, Mestre Cohen, Grande Arquiteto, Cavaleiro Grão
Comandador ou Grão-Elu de Zorobabel.
A terceira parte era secreta e reservada aos Réaux-Croix, uma espécie
de elite dos Rosa-Cruzes.
Embora Martinez não tenha deixado um trabalho escrito completo referente
aos seus ensinamentos, graças ao texto (incompleto) "Traité
de la Réintegration des Etres" (Tratado da Reintegração
dos Seres Criados), as informações sobre seus escritos e um
estudo das reuniões de seus adeptos, é possível
Como muitos de seus contemporâneos que estavam alarmados com a materialidade
dos filósofos, Martinez lutou a fim de resistir a esta tendência
que prevalecia entre os intelectuais da época. Contra aqueles que
defendiam o materialismo ele colocou uma vigorosa resistência na forma
de uma idealização da vida, uma mudança de atitudes
com relação à atração dos apetites
físicos. Afirmava que em cada ser humano havia algo divino emborca
adormecido e que era preciso reviver. Segundo Martinez esta centelha divina
poderia ser inflamada a ponto de ser quase que inteiramente libertada do
materialismo.
Sob tais condições o homem é capaz de adquirir poderes
os quais lhe permitirão se "comunicar com seres invisíveis,
chamados pela Igreja de Anjos e obter não apenas uma santidade pessoal,
mas também a santidade de todos os discípulos de boa vontade".
Transformar o homem desta forma seria regenerá-lo e reintegrá-lo
gradualmente em seu estado original; seria capacitá-lo a
atingir aquele estado perfeito que cada indivíduo e sociedade deveria
buscar, já que o Iluminismo Martinista também incluía
atividade social coletiva. Contudo, não é possível
alcançar este estado de perfeição imediatamente. Muitas
mentiras se acumularam durante séculos e muitos preconceitos pesaram
sobre a humanidade. É necessário permitir que a Luz se espalhe
pouco a pouco, de outra forma seria por demais ofuscante cegando a humanidade
ao invés de iluminar o verdadeiro caminho. Por este motivo é
que Martinez distribuiu seus ensinamentos em pequenas doses e por graus.
Ele queria que os adeptos - aqueles chamados a adentrarem os mais profundos
mistérios da iniciação - buscassem, de qualquer forma,
a devoção ao estudo dos segredos da Natureza, das Ciências
Ocultas, dos altos ramos da Química, Magia, Cabala e do Gnosticismo,
a fim de, aos poucos, chegar aos graus do iluminismo e da perfeição.
Esta doutrina atingiu um surpreendente sucesso e a Grande Loja da França,
logo compreendeu que como resultado de todos os ritos místicos ocorreu
uma grande adesão de membros e se fazia necessário preservar
com muito cuidado o segredo de suas tarefas misteriosas.
Entre os discípulo de Martinez muitos ficaram famosos, entre eles
estão o Barão d'Holbach autor de "Systéme de la
Nature"; o Cabalista e Hebraísta Duchanteau, inventor do "Calendário
Mágico", que morreu após uma bizarra experiência
alquímica, realizada na Loja "Amis Réunis" em Paris;
Jacques Cazotte, o célebre autor de "O Diabo Amoroso";
Bacon de la Chevalerie; Willermoz, que desempenhou um importante papel na
Maçonaria; e finalmente o "Filósofo Desconhecido",
Louis Claude de Saint-Martin.
Saint-Martin servia como tenente no Regimento Foix quando ouviu falar de
Martinez de Pasqually e seu Rito dos Elus-Cohen. Após se retirar
do exército, dirigiu-se a Bordeaux onde foi iniciado nos graus Cohens
pelo irmão de Balzac. Trabalhou por três anos como secretário
de Martinez tendo contato com os principais adeptos. Seus árduos
estudos o fizeram atingir um notável progresso, rapidamente, levando-o
a penetrar o profundo Iluminismo Martinista. Viajava frequentemente a Lyon,
que veio a ser um influente centro do Rito. Em Lyon Saint-Martin fez um
esboço do livro "Dos Erros e da Verdade", que teve um grande
impacto sobre as idéias maçônicas no final do século
XVIII. Saint-Martin que era de natureza cortês, modelada por uma intensa
atividade intelectual, se via perturbado e até alarmado pelas operações
que envolviam a Magia, associadas aos ensinamentos de seu Mestre. Aos poucos
ele se retirou das práticas ativas, dedicando-se ao Réaux-Croix,
a fim de se devotar unicamente ao estudo do misticismo e espiritualismo.
Dirigiu-se então a Paris, onde foi muito bem recebido pela alta sociedade.
As mulheres, em particular, discutiam entre si imaginando quem teria o privilégio
de sua companhia e muitas delas lhe pediram orientação espiritual.
Saint-Martin se viu obrigado a formar uma espécie de grupo, puramente
espiritualista que excluía cerimônias ritualísticas
e operações envolvendo Magia. Sem romper com seus irmãos
Cohens, seguiu, cada vez mais, o caminho do desenvolvimento de teorias filosóficas
contidas no sistema de Martinez, as quais ensinava oralmente e através
de seus escritos. Até a eclosão da Revolução
Francesa, Saint-Martin se alternava entre as orientações a
seus adeptos e viagens ao exterior onde estabeleceu contato com os escritos
de Jacob Boheme um "Iluminato"
Saint-Martin estava bastante preocupado durante o Reino do Terror Francês
em 1793. Contudo, alguns de seus antigos discípulos que chegaram
ao poder, o protegeram e graças a eles ficou livre de ser interrogado
diante de uma corte revolucionária. Morreu em 1803 deixando vários
adeptos em diferentes países da Europa. Sempre surgem confusões
referentes à descrição do "Martinista" como
sendo discípulo de Martinez ou de Saint-Martin. Embora as teorias
fossem as mesmas, havia uma grande diferença de pensamento entre
as duas escolas. A escola de Martinez permaneceu com o formato de uma alta
Maçonaria, enquanto a de Saint-Martin se remetia aos não iniciados
rejeitando, portanto, as práticas e cerimônias as quais a primeira
dava tanta importância.
Após a morte de Martinez (no Haiti) o influente mestre Caignet de
Lestére, seu sucessor, se sentia incapaz de se devotar ativamente
à Ordem; sisões ocorreram. Ele morreu em 1778 após
transferir seus poderes ao grande mestre Sébastien de las Cases.
Este não considerava necessário restaurar as relações
interrompidas entre diferentes templos dos Elus-Cohen e reestabelecer a
unidade dentro do Rito. Pouco a pouco as atividades do templo se paralizaram.
Foi então que o presidente dos Elus-Cohens de Lyon, Jean Baptiste
Willermoz, com o objetivo de preservar a Tradição Martinista,
decidiu introduzi-la no Rito da Estrita Observância Templária,
do qual era um dos respeitáveis presidentes. Este ato contou com
o apoio do vice Grão- Mestre dos Elus-Cohens, Bacon de la Chevalerie.
Sabe-se que a Estrita Observância Templária da Alemanha enviou
um grupo do seu movimento à França. Seu centro era em Lyon,
na Loja "La Bienfaisance". Sob a influência de Willermoz,
a Estrita Observância Templária francesa dirigiu-se gradualmente
rumo ao Martinismo.
Por ocasião da assembléia geral dos Franco-Maçons gauleses,
organizada em Lyon por Willermoz em 1778, se temia que o ressurgimento da
Ordem do Templo pudesse levantar suspeitas por parte da polícia;
assim sendo foi decidido que a Estrita Observância substituiria os
Templários franceses pelos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa
(CBCS). Os Cavaleiros Benfeitores de Lyon liderados por Willermoz, consideravam
a Estrita Observância uma escola preparatória, por onde os
Eleitos eram introduzidos nos círculos internos do Martinismo. A
Estrita Observância francesa decidiu conduzir o grupo mãe a
um caminho que eles mesmos se comprometeram a seguir. Com esse objetivo
Willermoz acrescentou dois graus secretos aos seis já existentes
na Estrita Observância e em 1782 compareceu à assembléia
geral dos Franco-Maçons em Wilhelmsbad, Alemanha, com a intenção
de assegurar o sucesso de seu sistema. Willermoz teve o apoio de dois Irmãos,
que eram os membros mais influentes da Franco-Maçonaria Templária,
o Príncipe Ferdinando de Brunswick e o Príncipe Charles de
Hesse. Contudo, os Iluminados Martinistas franceses se depararam com poderosos
adversários, os Iluminados da Bavária. A assembléia
de Wilhelmsbad veio a ser uma implacável e desesperadora luta entre
Martinistas franceses e os Iluminados da
Alemanha, resultando no triunfo do Martinismo.
Willermoz foi capaz de apresentar seus planos de reforma e novos rituais
à Assembléia. Mais que isso, conseguiu o título de
Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, aceito por todos os Irmãos
da Ordem Interna, como era na França. conseqüentemente, o ritual
Escocês seguiria, em grande parte, o ritual de Lyon, no qual Willermoz
havia inserido referências preparatórias para a Doutrina Martinista.
Por fim, uma Comissão especial comandada por Willermoz foi incumbida
com a tarefa de redigir rituais e instruções dos presidentes
do Regime Interno, que incluíam, no seu ápice, os dois graus
Martinistas secretos, praticados na Estrita Observância de Lyon. Obs.:
A Estrita Observância era uma Ordem Templária fundada na Alemanha
por volta de 1754 e mais tarde espalhada pela França onde os Templários
Franceses vieram a ter o nome de "Chevaliers Bienfaisants de la Cité
Sainte" (CBCS), que é hoje o Rito Escocês Retificado.
Seus graus eram:
1º Aprendiz,
2º Companheiro,
3º Mestre,
4º Mestre Escocês (Maitre Escossais),
5º Escudeiro Noviço(Ecuyer Novice),
6º C.B.C.S. (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa), ao qual foi adicionado
"Professo", classe de dois graus:
7º Cavaleiro Professo(Chevalier-Profès)
8º Cavaleiro Grão-Professo(Grand-Profès).
As conferências destes dois graus secretos são aquelas dadas
nesse volume. Os "Cavaleiros Benfeitores" ainda existem nos dias
de hoje, mas os dois graus secretos introduzidos por Willermoz desapareceram,
não estando presentes nos trabalhos atuais. A Ordem dos Cavaleiros
Benfeitores da Cidade Santa não foi restaurada na França até
1806. Ela reivindicava imediata filiação com a Grande Loja
com a qual a Estrita Observância já havia tido tratados anteriormente.
Assim como os Martinistas Elus-Cohens eles não reassumiram suas tarefas
oficialmente. Contudo, Bacon de la Chevalerie, vice Grão-Mestre dos
Elus-Cohen para a região norte, tomou posse em 1808, por virtude
de sua posição, no Grande Consistório dos Ritos da
Grande Loja da França. Mesmo assim, apesar de suas insistentes solicitações,
não conseguiu o reconhecimento da Ordem junto ao corpo da Grande
Loja. Em uma carta data de de 5 de Agosto de 1808, endereçada ao
Irmão Marquês de Chefdebien, lamentou a falta de atividade
e "absoluto silêncio dos Elus-Cohen, atuando ainda com extrema
reserva o cumprimento de ordens do Mestre Supremo".
Na Suíça, o sistema Martinista dos Cavaleiros Benfeitores
estava operando por intermédio da "Directoire de Bourgogne"
que transmitiu seus poderes à Diretoria Suíça. Acredita-se
que este ramo se tornou o atual Regime Escocês Retificado. Willermoz
morreu em Lyon em 1824, transmitindo seus poderes e instruções
Martinistas a seu sobrinho Joseph-Antoine Pont do Regime Escocês Retificado.
Assim como os antigos membros da Ordem dos Elus-Cohen, eles continuaram
a propagar as doutrinas de Martinez, tanto individualmente como em grupos
secretos formados por nove pessoas chamadas de Areopagitas Cabalistas. Os
ensinamentos ocultos de Martinez foram, portanto transmitidos no século
XIX, de um lado pelos Elus-Cohens, dos quais um dos últimos representantes
foi o influente Mestre Destigny que morreu em 1868; e por outro lado, por
alguns Irmãos do Rito Escocês Retificado que preservaram as
instruções secretas de Willermoz. Finalmente, os discípulos
de Saint-Martin espalharam a doutrina do Filósofo Desconhecido na
França, Alemanha, Dinamarca e sobretudo na Rússia. Foi através
de um deles, Henry Delaage, que em 1880, um jovem ocultista parisiense,
Dr. Encause (Papus) tomou conhecimento da doutrina de Saint-Martin decidindo
se tornar seu paladino. Com esse objetivo, fundou em 1884, com alguns de
seus associados, uma Ordem mística que chamou de Ordem Martinista.
Muitos Franco-Maçons que tinham interesse em assuntos místicos
e ocultos se juntaram a esta Ordem.
Até aquele momento, o Dr. Encause não sabia que a transmissão
da tradição Martinista dos Elus-Cohens nunca fora quebrada
e nunca deixou de ter seus representantes, tanto em Lyon como em várias
cidades do exterior (em Lyon os Irmãos Bergeron e Brébanalomon;
na Dinamarca Carl Michelsen e no Estados Unidos, Dr.Edward Blitz). O Dr.
Edward Blitz, Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e pertencendo aos altos
graus do Memphis-Misraim foi o sucessor direto de Willermoz e de Antoine
Pont. Tornou-se presidente do Supremo Conselho da Ordem Martinista, para
os Estados Unidos, retomado por Papus. Em 1901, na qualidade de herdeiro
de Martinez, decidiu reestabelecer a Ordem nos Estados Unidos com base na
antiga tradição. Seu representante na França, Dr. Fugairon
e mais tarde Charles Détré (Téder) tinha carta branca
para agir com tal objetivo. De fato, Téder em concordância
com Papus, organizou um congresso de Ritos Maçônicos em Paris
(1908) a fim de ligar a Ordem Martinista aos Altos Graus da Franco-Maçonaria.
Por fim, em 1914, após um acordo com o Grão-Mestre do Rito
Escocês Retificado (Dr. De Rib...) ficou decidido criar um Grã
Capítulo Martinista consistindo unicamente de altos graus maçônicos,
que serviria de ligação entre o Martinismo e o movimento Escocês
Retificado. Novos eventos provocados pela guerra, a morte do Grão-Mestre
Papus (1916), e principalmente as mudanças promovidas pelo Grão-Mestre
do Rito Escocês Retificado na França, impediram este plano
de ser realizado. O sucessor de Papus, o Irmão Charles Détré
(Téder) morreu em 1918, transferindo seus poderes ao Irmão
Jean Bricaud de Lyon. Este, durante a reorganização do Martinismo
após a guerra, restabeleceu a Ordem nos sólidos fundamentos
da Franco-Maçonaria simbólica e fora decretado que somente
aqueles maçons pertencentes ao grau de Mestre poderiam ingressar
na Ordem Martinista.
Em 25 de Setembro de 1918, após a morte de Téder, o Irmão
Jean Bricaud foi apontado Grão-Mestre da Ordem Martinista. Ele havia
estado em contato com Dr. Blitz por intermédio do Dr. Fugarion e
do próprio Téder. Se comunicou com os últimos representantes
do movimento de Willermoz em Lyon, Dr. L. e o Sr. C. em particular, coletando
seus ensinamentos. Pertenceu portanto à linha tradicional dos discípulos
de Martinez, dos quais Saint-Martin havia formalmente se desligado a fim
de se refugiar no espiritualismo puro e oferecer aos adeptos, no mais absoluto
ecletismo, livre acesso a todo caminho do misticismo. Além do mais,
Papus, assim como Saint-Martin, solicitava àqueles fora da organização,
uma única coisa: Boa Vontade! Teoricamente isso era muito bom, mas
como o Iluminismo estava em questão, boa vontade muitas vezes significava
mera curiosidade. Contudo, o problema da Reintegração não
pode ser resolvido pela curiosidade ou por uma boa vontade comum.. Para
alcançar tal objetivo é preciso que o discípulo tenha
uma qualidade ternária, aquela do espírito, da alma e do corpo.
É exatamente este discípulo que os ensinamentos dos Elus-Cohens
atingiam, ensinamentos que sequenciavam aqueles da Estrita Observância
e dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.. Bricaud compreendeu isto
desde o princípio, e portanto, trabalhou a fim de ligar o Martinismo
de Papus aos discípulos do Gnosticismo.
Em 1911 Papus assinou um tratado sob o qual reconheceu a Igreja Gnóstica
Universal como a Igreja oficial do Martinismo. Com isso, ele ligou a Ordem
que reviveu à secular doutrina Ocidental da qual Martinez extraiu
sua inspiração, no princípio. Este tratado, confirmado
e ampliado por Téder em 1917, numa segunda versão, deu aos
membros do Alto Sínodo Gnóstico o direito de ter representantes
dentro do Supremo Conselho Martinista, com base na reciprocidade. Assim,
a íntima união entre as duas organizações foi
alcançada.
Após tomar posse como Grão-Mestre, Bricaud fez ainda mais.
Reverteu-se completamente à concepção de Martinez e
Willermoz, que já havia sido objeto de examinação desde
a assembléia geral dos Franco-Maçons em 1908. Ele sobrepôs
o Martinismo à Franco-Maçonaria e decretou que so-mente os
maçons regulares de todos os ritos seriam aceitos na Ordem, ou mais
conclusivamente, em seus círculos internos. Para receber o primeiro
grau Martinista era preciso ter sido Mestre Maçom e, para ser investido
dos outros graus, era necessário possuir os Altos Graus (da Franco-Maçonaria)
de acordo com uma meticulosa hierarquia estabelecida. O Martinismo deixou
de ser incorporado à Franco-Maçonaria, como ocorria no tempo
de Willermoz; com isto, o Martinismo manteve sua própria personalidade,
ainda que baseada na Franco-Maçonaria e da obrigação
de desenvolver as instruções recebidas nos graus fundamentais
da Franco-Maçonaria tradicional.
A guerra havia enfraquecido e, às vezes, rompido os elos que havia,
até então, unindo as diferentes comunidades Martinistas do
velho e do novo mundo. As lojas ficaram adormecidas, os discípulos
dispersos e já não representavam mais do que uma unidade moral.
O primeiro passo tomado pelo Grão-Mestre Bricaud foi reestabelecer
a cadeia. Ele reestabeleceu a unidade da Ordem na França no início
de 1919.