A FILOSOFIA DOS NÚMEROS
Louis Claude de Saint-Martin
O conhecimento obtido por Saint-Martin através de sua iniciação, que ocorreu quando ele era jovem, está relacionado ao misticismo numérico, ao qual ele recorria muito freqüentemente para estabelecer os argumentos doutrinários nos seus primeiros trabalhos. Esta correlação com a mística dos números também ocupa um lugar importante em sua correspondência e foi o assunto de um tratado póstumo, chamado "Os Números". Ao mesmo tempo, nós não temos esta correlação completa, pois as considerações nas quais ele a recebeu fizeram impossível a sua transmissão completa. Aparentemente, nós também não possuímos esta correlação numérica da mesma forma que ele (Saint-Martin) a recebeu. Ela foi sempre mantida por ele na mais alta estima, por toda sua vida e foi desenvolvida por muitas considerações próprias que na realidade abarcam todos os sinais peculiares do seu dom filosófico.
Mas, seria um exagero afirmar que toda sua doutrina está baseada
nas propriedades ocultas dos números e as partes misteriosas desta
mesma doutrina ficariam assim, totalmente encobertas. Como há alguns
detalhes extremamente técnicos nestas correlações numéricas,
pretendemos, nesta curta dissertação, lidar com as questões
técnicas da forma mais completa que for possível.
O desdobramento místico ao qual os números são submetidos,
nas várias escolas do ocultismo (Pitagórico, Cabalístico,
etc.) oferecem em sua totalidade apenas uma ligeira analogia com o sistema
de Saint-Martin, o qual é, sobretudo, ligado a visões particulares
a respeito da ciência Matemática em geral. Como há material
abundante espalhado por todos os trabalhos de Saint-Martin, os assuntos
menos centrais serão aqui desconsiderados e os mais importantes,
condensados.
Primeiro delinearemos as posições que Saint-Martin expressava
a respeito dos princípios fundamentais da Matemática; depois,
reuniremos as afirmações a respeito da Filosofia dos Números
que estão espalhadas por sua obra e, finalmente, tabularemos as propriedades
místicas associadas aos dez numerais.
Saint-Martin possuía conhecimentos de matemática superior,
o que pode ser deduzido do próprio estilo de suas referências.
Ao aceitarmos isto é necessário também acrescentar
que ele era um crítico feroz das ciências exatas. Portanto,
pode parecer que ao propormos segui-lo, estaríamos todos prestes
a abandonar a base na qual se assenta a razão mais simples.
No entanto, quaisquer crítica estará mais relacionada com a aplicação da ciência - que pode parecer fantástica (irracional) nos seus estágios mais avançados - do que com relação aos seus princípios. Mas, se faz por bem afirmar que, as correlações místico-matemáticas de Saint-Martin não questionam , por exemplo, o cálculo simples 2 + 2 = 4.
Para Saint-Martin: "a ciência Matemática é apenas
uma cópia ilusória da Verdadeira Ciência" (Dos
Erros e da Verdade), assim como: "a álgebra é, de certa
forma, a degradação dos números" (Correspondência
Teosófica, carta XC). "A base da Matemática é
a relação, assim como a relação é também
o seu resultado" (Dos Erros e da Verdade). Uma vez fixados os postulados
da relação, os resultados dela obtidos são exatos e
apropriados ao objetivo proposto. Simplificando: os matemáticos não
podem errar, porque eles nunca partem de pontos falhos em suas teorias.
Eles giram, por assim dizer, em torno de um pivô e todos os progressos
que fazem os leva de volta ao ponto do qual eles iniciaram uma operação.
"Os princípios matemáticos não são materiais, mas são a verdadeira lei dos fenômenos perceptíveis. Contanto que os matemáticos se restrinjam a estes princípios, eles não podem errar; mas quando eles partem para a aplicação de idéias deduzidas a partir de seus raciocínios, eles são escravizados pelos princípios" (Dos Erros e da Verdade). Não há nada que a matemática demonstre que não seja através de referência à algum axioma, ou verdade que não exige demonstração, porque os axiomas são verdades independentes.
"A verdade dos axiomas se assenta no fato de que eles são independentes daquilo que percebemos, ou da matéria. Numa palavra, eles são puramente intelectuais. Se os geômetras nunca perdessem os seus axiomas de vista, eles nunca avançariam em suas reflexões, pois as suas sentenças estão ligadas à essência específica dos princípios intelectuais, assim sendo, apoiadas na mais completa certeza" (Dos Erros e da Verdade).
Da crítica confusa que se segue a esta afirmação, estratificaremos
dois pontos que podem ser aceitos como as sentenças (ou os axiomas)
de Saint-Martin, mas não haverá necessidade de dizer que,
qualquer que sejam os seus valores ocultos, eles não são verdades
auto-evidentes: (A) "O movimento é possível sem a extensão"
e (B) "Tudo na Natureza tem seu número" (Dos Erros e da
Verdade).
Havia um tempo em que estas proposições eram discutidas seriamente e a respeito de algumas extraordinárias sutilezas transmitidas pelo teólogo espanhol Balmes, entre outros, não temos o direito de considerar Saint-Martin confuso por ter sustentado esta tese.
A proposição é claramente impensável e não
apresenta para nós nenhum apelo, porque os dias em que as sutilezas
eram aceitas cientificamente, terminaram. Mas no período logo após
o de Descartes isto ainda não havia sido completamente extinto. Houve
também, um período ainda mais distante no tempo, quando estas
questões seriam debatidas entusiasticamente e Saint-Martin teria
deleitado os estudiosos e teria fundado um novo método, como Raymond
Lullo. Ou teria sido queimado, ou talvez beatificado, se não ultrapassasse
os limites da latitude eclesiástica.
Quanto a segunda sentença (B), ela não tem nenhuma ligação na filosofia, a não ser com as "assinaturas" de Paracelsus. A segunda sentença é na verdade uma característica exclusiva da escola de iniciação de Saint-Martin. Ela pode trazer à lembrança a afirmação do Apocalipse de que o número da besta é "o número de um homem."
Portanto, se faz necessário, sobre todos os relatos, examinar como
as duas sentenças são sustentadas por aquele que as propôs.
Particularmente porquê elas são a base do que o levou a censurar
a Matemática: "Como todas as outras propriedades dos corpos,
a extensão é um produto do princípio gerador da matéria,
seguindo as leis e a ordem impostas e este princípio, atuar pelo
princípio mais elevado que o dirige. Neste sentido, a extensão
é um produto secundário e não pode ter as mesmas vantagens
(ou qualidades) que os seres incluídos naquela primeira instância."
- (Dos Erros e da Verdade). Para elucidarmos isto, é preciso entender:
"que há apenas dois tipos de seres: os sensitivos e os intelectuais."
(Dos Erros e da Verdade). Segundo Saint-Martin, os últimos são
a verdadeira fonte da mobilidade; "eles pertencem a uma outra ordem
do que os princípios corpóreos imateriais que eles governam;
eles devem portanto ter efeitos e ações diferentes do perceptível
- como eles mesmos são - e isto é, um tipo de efeito no qual
o perceptível não conta para nada. Também devemos supor
que suas atividades existem antes e depois dos seres sensitivos. Portanto,
é incontestável que o movimento possa ser concebido sem extensão,
já que o princípio do movimento, seja ele captado pelos sentidos
físicos, ou intelectuais, está na verdade, fora da extensão"
(Dos Erros e da Verdade).
Portanto, para Saint-Martin, o erro dos geômetras é que eles não reconheceram esta verdade. Depois de estabelecer suas sentenças no mundo real - fora do sensitivo, e portanto na esfera intelectual - eles não se preocuparam com a medida da extensão: "algumas medidas são derivadas do princípio da extensão, outros números arbitrários que requerem sentimentos antes que possam ser percebidos por nossos olhos físicos... Eles cometeram o mesmo erro que os observadores da Natureza; separaram a extensão de seu princípio inicial, ou melhor, foi na extensão que eles passaram a procurar por este princípio, misturando coisas diferentes, que no entanto, são ligadas inseparavelmente para formar a matéria" (Dos Erros e da Verdade).
Resumindo, "as medidas tomadas da extensão, estão sujeitas
às mesmas desvantagens que o objeto para o qual ela foi criada para
medir" (Dos Erros e da Verdade). Assim, a extensão dos corpos
não é determinada mais precisamente do que as suas outras
propriedades físicas (sensoriais, perceptíveis, etc.).
"A extensão existe apenas pelo movimento, o que não quer
dizer, contudo, que o movimento se origine daquilo que tem extensão.
É certo que no nível perceptível, o movimento não
pode ser concebido fora da extensão, mas apesar dos princípios
que geram o movimento no plano perceptível serem imateriais, a sua
ação não é necessária e eterna, porque
eles (os princípios) são seres secundários para os
quais a transmissão da ação da Causa Ativa e Inteligente
só ocorre uma vez" (Dos Erros e da Verdade).
A real medida da extensão deve ser procurada fora dela, no princípio
pela qual ela foi criada, como todas as outras propriedades da matéria.
"É certo que os geômetras criticam os números usados
para tomar medidas perceptíveis e difíceis (como no caso de
curvas). Mas estes números são relativos, são uma convenção;
com a escala deles não podemos medir extensões de outro tipo.
A dificuldade experimentada na medida de curvas deve ser atribuída
à isto. A medida empregada para tal fim foi feita para linhas retas
e oferece obstáculos intransponíveis ao ser aplicada às
linhas circulares, ou qualquer curva delas derivadas" (Dos Erros e
da Verdade).
O conceito de círculo como uma junção de linhas retas
infinitesimais não é, na opinião de Saint-Martin, uma
concepção verdadeira. Pois contradiz o que a Natureza nos
oferece como uma circunferência - por assim dizer, uma linha, na qual
todos os pontos são eqüidistantes de um centro comum.
"Se a circunferência fosse a junção de pequenas
linhas retas, por menores que fossem, todos os seus pontos não poderiam
ser eqüidistantes do centro. Já que estas linhas retas seriam
elas mesmas compostas por pontos, entre os quais os extremos e os intermediários
não podem estar a mesma distância do centro, que não
é portanto, comum a todos eles, pelo que a circunferência deixa
de ser uma circunferência" (Dos Erros e da Verdade).
Saint-Martin estabelece a diferença entre a linha reta e a curva
da seguinte forma: "O objetivo da linha reta é perpetuar, até
o infinito, a produção do ponto do qual ela emana, no entanto,
a linha curva limita, em cada um de seus pontos, a produção
de uma linha reta, já que ela tende a destruí-la constantemente
e pode ser considerada, por assim dizer, como inimiga da reta. Não
existe nenhuma característica comum a estes dois tipos de linha,
portanto não pode haver uma medida comum possível de ser aplicada
às duas" (Dos Erros e da Verdade).
Seguindo esta distinção, deveríamos estar dispostos
a encarar o círculo não como uma figura perfeita, mas como
inferior e limitada: um paradoxo que nos leva ao segundo axioma de Saint-Martin,
de que tudo na Natureza tem o seu número, pelo qual pode ser identificado,
pois suas propriedades estão de acordo às leis contidas naquele
número.
As linhas retas e curvas sendo diferenciadas por suas naturezas, têm
cada uma o seu próprio número. A linha reta contém
o número 4. A curva, o número 9. Possuir extensões
maiores ou menores não faz a mínima diferença com respeito
a estes números, porque: "uma linha grande ou pequena, é,
cada uma, o resultado de sua lei e de seu número, operando de forma
diversificada. Isto é, com mais ou menos poder em cada caso, já
que estes números permanecem sempre intactos, apesar de suas faculdades
serem aumentadas ou diminuídas, na variação à
qual cada extensão for suscetível" (Dos Erros e da Verdade).
Destas considerações, Saint-Martin conclui que não
há frações na Natureza e que estas são mutilações
dos números: "Os princípios dos seres corpóreos
são simples e portanto, indivisíveis. Da mesma forma, os números
que os representam, gozam de idêntica faculdade" (Dos Erros e
da Verdade).
Saint-Martin aplica o número 9 ao círculo pela seguinte razão:
"O círculo é equivalente a zero; seu centro pode ser
visto como uma unidade porque uma circunferência pode ter apenas um
centro; a unidade justaposta ao zero forma o número 10, ou o centro
com a circunferência. O círculo, no entanto, pode ser entendido
como um ser corpóreo, sendo a circunferência o corpo e o centro,
o princípio imaterial. Mas o princípio imaterial pode sempre
ser separado intelectualmente da forma corpórea. Operação
que é equivalente à separação do centro e da
circunferência ou, 1 retirado de 10. A subtração de
1 de 10 resulta em 9; a subtração da unidade deixa a linha
circular como zero; portanto, 9 é equivalente ao círculo.
Esta correspondência entre zero, que sozinho não é nada,
com o número 9, pode ser usada para justificar o ponto de vista de
que a matéria é ilusória" (Dos Erros e da Verdade).
O número da extensão é, de acordo com Saint-Martin,
o mesmo que o número da linha curva, de onde, na sua fraseologia
oculta, ele tem também o mesmo peso e a mesma medida. O círculo
e sua extensão, que é a linha curva, são de fato uma
única e mesma coisa, de onde se deduz que a linha curva é,
por si só, corpórea e perceptível. "A Natureza
material e a sua extensão não podem ser compostas através
de linhas retas, ou em outras palavras, não há linhas retas
na natureza" (Dos Erros e da Verdade). A razão assinalada para
esta afirmação é que, apesar de o princípio
das coisas físicas ser o fogo, a sua materialização
se origina da água, sendo este o motivo dos corpos serem fluidos
em seu estado primário. Mas o líquido é a união
de partículas esféricas e os próprios corpos podem
ser vistos como a união de tais partículas.
O número 4 aplica-se à linha reta, de acordo com o seguinte
argumento: "Existem três princípios em todos os corpos;
o círculo é um corpo; os raios de um círculo são
linhas retas, materialmente falando; e por sua aparente retidão e
capacidade de se prolongar ao infinito eles são a imagem real do
princípio gerador. Os espaços entre os raios são triângulos
e assim, a ação do princípio gerador é manifestada
pela produção de uma tríade. Ao juntar o número
do centro com a tríade por ele gerada teremos um sinal do quaternário.
Portanto, a concepção de uma ligação íntima
entre o centro (ou princípio gerador) e o princípio secundário,
que está provado ser 3; pelos 3 lados do triângulo e pelas
3 dimensões, nos dá a idéia mais perfeita do que seja
o nosso quaternário imaterial. Como esta manifestação
quaternária acontece somente pela emanação do raio
a partir do centro; e como estes raios, sempre prolongados em linha reta
são os órgãos e ação do princípio
central, aplicamos o número 4, sem receio, à linha reta e
ao raio que a representa. A linha curva, por sua vez, não produz
nada, mas limita a ação e a produção do raio.
De fato, é ao número 4 e ao quadrado que a Geometria refere
tudo que mede, considerando todos os triângulos como divisões
de quadrados. Esta figura (do quadrado) é formada por 4 linhas tidas
como retas, similares ao raio da circunferência e, conseqüentemente,
quaternárias" (Dos Erros e da Verdade).
Destas considerações, Saint-Martin conclui que o número
que produz os seres é aquele que também as mede, e que a medida
correta dos seres é encontrada em seu princípio, não
no seu invólucro ou na sua extensão. Portanto, ele reconhece
apenas uma raiz quadrada e um número que corresponde ao quadrado
do outro.
Mas o 4 não é somente o número da linha reta, mas também
o do movimento. "Há, portanto, grande analogia entre o princípio
do movimento e o da linha reta. Este fenômeno não é,
todavia, apenas uma analogia de seu número idêntico, mas também
porque a fonte da ação das coisas sensoriais reside no movimento
e, também porque a linha reta é o emblema do infinito. E a
continuidade da produção do ponto do qual ela se origina"
(Dos Erros e da Verdade). A semelhança do número também
fornece a identidade das propriedades e da lei: "e portanto a linha
reta dirige as coisas corpóreas e estendidas, mas nunca se mistura
a elas, nunca se torna perceptível; pois um princípio não
pode ser confundido com aquilo que gera" (Dos Erros e da Verdade).
Juntando as observações sobre a linha reta e se referindo,
então, à questão do círculo, Saint-Martin complementa:
"Mas se não há linhas retas na Natureza, o círculo
não pode ser a uma junção de linhas retas" (Dos
Erros e da Verdade).
Se agora procurarmos descobrir os objetivos desta crítica extraordinária
e aprender como podemos obter a medida correta das coisas por seus princípios,
devemos confessar que podemos recolher uma luz deste misticismo. De nada
serve dizer que a valoração correta das propriedades dos seres
é feita através dos seus princípios, a não ser
que possamos alcançar seus princípios. Saint-Martin admite
que pode ser "difícil ler nestas entrelinhas", mas que
nenhuma certeza pode ser encontrada fora daquilo que "a tudo governa
e pondera" (Dos Erros e da Verdade). Onde está a chave com a
qual podemos abrir as portas do mundo dos fenômenos e nos comunicarmos
com as realidades que se escondem por trás dele ? Não é
preciso dizer que Saint-Martin não a entrega; a razão pode
nos levar ao reconhecimento do mundo das idéias puras às quais
nenhum objeto material corresponda, mas a razão não pode nos
conceder estas chaves. A última palavra do místico é
uma aparição velada dos campos que são comandados por
uma faculdade mais elevada que a racional: "Apesar de ser possível
julgar a medida da extensão das coisas, pelo recurso aos princípios,
seria profanação empregá-lo em combinações
materiais, pois pode nos levar à descoberta de verdades mais importantes
do que aquelas relacionadas à matéria, enquanto que os sentidos
são suficientes para orientar o homem em assuntos materiais"
(Dos Erros e da Verdade). Portanto, até mesmo na demonstração
de Saint-Martin, os geômetras não estão de todo errados!
Antes de deixarmos esta surpreendente crítica da matemática,
os curiosos podem gostar de saber sobre um argumento contra a quadratura
do círculo que De Morgan com certeza gostaria de incluir em sua obra
"Orçamento dos Paradoxos", se ele estivesse ambientado
com a mística francesa (a corrente mística do Martinismo).
"Desde a queda o homem tem tentado conciliar a linha reta com a curva;
em outras palavras, tem se esforçado para descobrir o que é
chamado de quadratura do círculo. Antes da sua Queda ele não
buscava a realização de uma impossibilidade evidente, a redução
de 9 a 4, ou a extensão de 4 a 9. O verdadeiro meio de se chegar
ao conhecimento das coisas é iniciar por não confundi-las,
mas por dedicar-se ao exame de cada uma delas de acordo com o seu número
e lei próprios." (Dos Erros e da Verdade).
Há muitos questionamentos, todos levando a conclusões mais
ou menos curiosas realizados por Saint-Martin, a respeito da ciência
matemática, mas muitas vezes, é difícil acompanhá-lo.
Não podemos dizer, porque ele deixou muitas coisas obscuras em seus
escritos.
Saint-Martin enxergava a matemática como a representante da lei universal
da energia e resistência, porque ela é usada para descobrir
e expressar relações de dimensões, quantidades e pesos,
que, em cada uma de suas categorias são a expressão da energia
e da resistência atuando em tudo o que existe.
Nestas correlações ele traçou comentários curiosos
sobre o Teorema do Binômio e, especialmente a respeito do que era,
na época, uma descoberta recente feita por Descartes, "a equação
das curvas" às quais as expressões pertenciam as curvas
e as equações representavam as suas características.
Saint-Martin via a existência corpórea, geral e particular,
como uma quadratura universal e contínua, porque a energia, ou forças
das coordenadas não podem levar-nos a qualquer lugar, ou deixar qualquer
espaço aberto às resistências da curva. Assim, esta
curva, ou resistência é sempre combinada com e moldada sobre
a energia em questão, e nunca ocupa nenhum espaço além
daquele que é dado a ela (O Espírito das Coisas).
Comentando a respeito da velha máxima de que a metafísica
é a matemática de Deus, a matemática a metafísica
da Natureza e a geometria transcendental, ou elevada a metafísica
da matemática, ele concluiu que a linha reta é o princípio
e o fim de toda a geometria; e que apesar da teoria das curvas, das figuras
que elas abarcam e de suas propriedades, constituem o que é chamado
de geometria avançada. A verdadeira geometria transcendental, disse
Saint-Martin, é a das linhas retas: "pois esta originou a geometria
das linhas curvas, sendo mais central, mais inacessível ao nosso
conhecimento, pois opera dentro do círculo, ou por trás do
invólucro das coisas, enquanto que a geometria das curvas opera apenas
na superfície, sendo portanto sua circunferência e perímetro"
(O Espírito das Coisas).
A aplicação da Matemática à Física é
a tentativa de extendê-las ao domínio da Medicina, o cálculo
das probabilidades e a investigação da lei das ocorrências
levou Saint-Martin à hipótese de uma Matemática e Aritmética
universais, que seguisse todas as leis e atuações dos seres;
mas ele acrescentava que, para alcançá-la deveríamos
ser capazes de contar o valor integral das coisas, ao invés de calcular
apenas as suas dimensões e propriedades externas. "O matemático
não possui, na verdade, os princípios fundamentais da Matemática
e do Cálculo" (O Espírito das Coisas). Ele observa leis
externas inscritas nas superfícies dos corpos, nos efeitos ostensivos
da mobilidade, no progresso externo da numeração; ele agrupou
todas estas informações, que apesar de verdadeiras, são
apenas resultados e erigiu estes resultados como princípios.
Eles são princípios, mas de um tipo secundário, se
comparados às leis fundamentais e ativas das coisas. Ao tentar penetrar
no Santuário da Natureza munido apenas de princípios secundários,
o homem conquistou seu objetivo de maneira imperfeita, porque seus meios
foram inferiores e insuficientes. "Ele tem as chaves da superfície
e pode chegar aos tesouros da superfície, mas não tem as chaves
ativas e centrais e estes tesouros estão proibidos aos homens"
(O Espírito das Coisas).