A Ordem do Templo e suas ligações com a Maçonaria
Texto adaptado do livro Sociedades Secretas - Templários, publicado pela editora Universo dos Livros
Não há como prever a quantidade de informações
preciosas que foram perdidas. Talvez soubéssemos mais sobre seus
integrantes e a natureza de seus trabalhos se eles tivessem sobrevivido.
Assim o assunto não seria tão coroado de especulações
como é hoje.
Uma das inúmeras versões faz justamente a ligação entre os Cavaleiros do Templo e uma das mais famosas e influentes sociedades secretas de todos os tempos, a maçonaria.
Livros e filmes já foram feitos sobre o assunto e há quem realmente acredite que grande parte do conhecimento templário esteja até hoje diluído nas tradições maçônicas.
A primeira coisa que alguém pode perguntar é "mas a maçonaria
não era composta por pedreiros?" Seguindo a linha de raciocínio
destas versões podemos ver uma relação entre ambas
as sociedades.
Voltemos um pouco no tempo: como vimos lá nos capítulos 3 e 4, muitos historiadores acreditam na dispersão dos Templários quando a perseguição na França foi deflagrada. Um dos lugares mais prováveis para um refúgio seria justamente a Escócia. Lá apenas dois Templários haviam sido presos e ambos eram ingleses.
Em 1307 o papa havia excomungado o soberano conhecido como Robert o Bruce, que assassinara pouco tempo antes um pretendente ao trono, o que geraria um conflito entre o país e o papa por pelo menos 12 anos. Essa situação manteve as pretensões e imposições de Roma fora do caminho.
Assim os historiadores encontraram várias lendas que ligam o Bruce aos Templários. A mais famosa delas fala que os fugitivos teriam ajudado o rei na Batalha de Bannockburn, que aconteceu em 1314. Num dos muitos conflitos com a Inglaterra, esta batalha decidiria a questão da soberania escocesa. Num determinado momento, diz a lenda, os escoceses teriam recebido reforços num momento crítico, que teriam provocado o pânico nas tropas inglesas. Esses reforços teriam sido os Templários?
Outra lenda fala, citada por Karen Ralls, diz que uma rede de famílias pertencentes à nobreza escocesa teria agido para transmitir uma tradição templária anos depois da supressão da Ordem. Seja como for parece haver poucas dúvidas sobre a presença dos cavaleiros nas terras do norte da Grã-Bretanha.
Mas o que isso tudo tem a ver com a maçonaria? Pedro Silva fala que, embora os cavaleiros estivessem num território seguro, sempre havia o medo de que pudessem ser descobertos e considerados novamente como traidores. Por isso teriam se valido de seus conhecimentos da arquitetura sagrada (que, como vimos, pode ter sido um dos muitos conhecimentos obtidos na Terra Santa) e assumiram um novo disfarce: o de pedreiros.
De fato há muitas catedrais e construções góticas que apresentam uma variedade de figuras místicas gravadas em suas paredes cujo significado é desconhecido até hoje e que lembram símbolos usados pelos Templários.
Mas afinal você sabe dizer o que é a arquitetura sagrada? Vamos
analisar mais um pouco o mito Templário.
Sabemos que, historicamente, a liderança da Ordem era composta por alguns poucos membros. Lembremos os cavaleiros originais, liderados por Hugo de Payns. Inicialmente há um grande espaço de nove anos do momento em que começam a atuar em Jerusalém até quando partem para buscar a aprovação da Igreja para sua Ordem.
Nesse meio tempo, o que fizeram na Terra Santa? Mais uma vez entram as especulações, que nos dizem que teriam dedicados eu tempo a revirar as ruínas do Templo de Salomão, onde teriam achado seu tesouro.
O livro As Sociedades Secretas, de Gianni Vannoni, fala como teria sido a descoberta desse tesouro no seguinte trecho:
"Vencidos os obstáculos, descobriram uma passagem oculta só conhecida antes por iniciados nos mistérios, e no fim dessa passagem, uma porta dourada onde estava escrito:" Se é a curiosidade que aqui vos conduz, desisti e voltai. Se persistirdes em conhecer os mistérios da existência, fazei antes o vosso testamento e despedi-vos do mundo dos vivos".
Dessa forma, após muita hesitação, um dos cavaleiros bateu na porta dizendo: "Abri em nome de Cristo" e a porta abriu-se. Ao entrarem, encontraram entre figuras estranhas uma forma de estátuas e estatuetas, um trono coberto de seda e sobre ele, um triângulo com a décima letra hebraica, YOD. Junto aos degraus do trono, estava a Lei Sagrada "".
Delírio? Pode ser. Mas muitas acreditam piamente de que esse suposto tesouro tenha existido e que sua descoberta mudou a história da Ordem para sempre.
E o que seria este tesouro? Para muitos algo que teria contribuído de maneira decisiva para, durante seu apogeu, fazer surgir a arquitetura gótica. Quem estuda este estilo sabe que seu aparecimento foi repentino e não resultado de um longo processo.
Claro que nem todas as catedrais foram construídas pelos Templários.
Porém maioria delas seguem regras explícitas e são
voltadas para a adoração de Deus em cada detalhe de seu simbolismo.
Por exemplo, a Catedral de Chartres possui rosáceas, forma de cruz, ângulos internos e outros detalhes que são considerados parte da arquitetura sagrada.
Uma prova do quão engenhosa era esta arquitetura é a análise de alguns elementos básicos. A arquitetura romana baseia-se numa força que age de cima para baixo, onde a cúpula redonda pressiona com seu peso os muros e estabiliza dessa maneira a construção.
Já os arcos pontudos de uma catedral gótica baseiam-se no princípio contrário, ou seja, a pressão age de baixo para cima. Alguns sites de arquitetura afirmam que "uma cúpula romana pode eventualmente cair, se mal construída, mas um arco gótico pode explodir. Trata-se de um caso de tensão dinâmica".
E de onde ela teria vindo originalmente? Para muitos foi da planta do Templo de Salomão. As colunas que havia em sua entrada são reproduzidas até hoje de maneira similar em algumas obras, como a Capela de Rosslyn . E curiosamente vemos a mesma configuração nas entradas de qualquer loja maçônica.
Falando nisso, alguém já teve a oportunidade de entrar numa loja dessas? Então experimente. Muitos dos rituais maçons têm a disposição da planta do Templo de Salomão.
Mais História
É claro que, se nos atermos unicamente ao campo especulativo, a coisa vai longe. Porém precisamos ver o lado histórico para decidir se há mesmo ligações entre maçons e templários. Senão vejamos.
A The Holy Craft and Fellowship of Masons, uma das primeiras ligas de pedreiros livres, só apareceria oficialmente em 1220. Apenas em 1350 o título de freestone-mason (depois free-mason) ou franco-maçom, surgiu.
Em História dos Cavaleiros Templários, Élize de Montagnac conta sobre a mistura de estilos ocorrida na Escócia do ano 1728 e que poderia ser a origem da tradição templária na maçonaria. Nesse ano um barão escocês de nome John Mitchell Ramsay trouxe para Londres um sistema de franco-maçonaria totalmente desconhecido. Suas origens remontariam da época das cruzadas e sua instituição a Godefroy de Bouillon.
O início deste sistema apresentava três graus: escoceses, noviços e Cavaleiros Templários. As iniciações deste último eram acompanhadas de toda a pompa própria das cerimônias da antiga Cavalaria.
Vale lembrar que este sistema terminou sendo espalhado e adotado depois por quase todo o continente europeu. Foi a principal fonte para a constituição dos chamados Altos Graus. Na França, foi introduzido em 24 de novembro de 1788 num capítulo chamado Clermont, alusão ao Conde de Clermont que foi grão-mestre em 1743. Foi nessa mesma loja que foram instituídos os maçons templários.
Há vários trabalhos sobre a franco-maçonaria que são de autoria do Barão de Hund, membro da loja Clermont. Num deles o nobre deixa claro que o Regime da Estrita Observância, nome dado ao sistema trazido por Ramsay, é "o único sucessor dos Templários" e que seu objetivo maior é perpetuar a existência da Ordem agora sob a proteção da maçonaria.
O livro Os Templários, de Michel Lamy, conta ainda uma outra versão sobre os atos do Barão de Hund. Ele define Ramsay como "um baronete escocês que, no século XVIII, procurava raízes prestigiosas para a franco-maçonaria. Na mesma ocasião, na reunião de delegados chamada de Clermont, foram instituídos os graus de 'maçons-templários'. O Barão de Hund, que participou nele, parece estar na origem da história do cavaleiro d'Aumont. Esta lenda fez carreira, sobretudo, na Alemanha, onde as sociedades secretas pululavam literalmente.
Munido de uma carta assinada por Charles-Edward Stuart, o Barão de Hund fez com que lhe concedessem o título de Grão-Mestre dos Templários, o que não deixou de levantar algumas contestações no mundo maçônico. Paralelamente, sob a influência do lionense Jean-Baptiste Willermoz, a lenda templária iria levar à criação de determinados 'altos graus' na maçonaria, como os 'cavaleiros benfeitores da Cidade Santa'".
O próprio Lamy admite: "É inegável que podem ter existido pontos comuns, mais que não fosse através da maçonaria operativa, a das associações profissionais e dos mesteirais. Lembremo-nos daqueles companheiros que entraram na clandestinidade depois da queda da Ordem. Também eles puderam dar à maçonaria futura uma parte dessas lendas fundadoras e desses rituais que devem tanto à arquitetura".