Titulo original : Gomes Freire e o R.E.R.

Parece-me muito possível mas não totalmente provado cientificamente.
Gomes Freire nasce em Viena em 1757. Em 1807 é General na "Grand Armée" de Napoleão. Em 1813 é Governador de Dresde. De 1816 a 1817, altura em que é executado é Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano. Frequenta a Loja "La Bienfaisance" de Lyon, de Willermoz ( fundada em 1774) nos anos de 1781/1783 e 1791.

A verdade é que o Regime só existe "de fato" a partir de 1782 (Convento de Wilhembsbad) embora "lançado" em 1778 (Convento das Gálias). Não é impossível mas é pouco provável que tivesse tempo para se dedicar à prática e sobretudo à divulgação do R.E.R., embora certamente o Rito tenha sido praticado pela Loja de Lyon ainda antes da sua consagração oficial. Ou seja Gomes Freire poderá ter tido prática não oficial do Rito no ano de 1781e, já oficialmente, em 1783 e 1791. Admito que tenha tido pois contacto com o Rito. Repare-se nas datas acima mencionadas. Mas duvido que seriamente a ele tivesse aderido a ponto de o divulgar, dada a sua vida aventurosa, as suas constantes deslocações e o seu trágico final. E não me parece ser a "Legião Portuguesa" no seio da "Grande Armée" a sede indicada para desenvolver o R.E.R. ...

E se, pelo contrário o fez, porque não encontramos em Portugal rasto disso? É verdade também que ele aparece referido em alguma bibliografia como " Gomez, Conde de Freire e Comendador de L'Orde du Christ"... Mas que Ordem de Cristo é esta? A que entendemos como tal ou uma misteriosa Ordem introduzida em Paris em 1806 denominada "Rito da Ordem de Cristo", sistema Maçónico Templário em cinco Graus dos quais o último é precisamente o de "Cavaleiro da Ordem de Cristo, Soberano Grande Comendador do Templo"? ... O facto da sua criação ser atribuída a um tal "Nunes", português de origem, deixa-nos pensativos...

E por outro lado viria a ser Gomes Freire "apenas" o Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano ou teria já sido também o criador de uma Ordem paramaçônica de tipo carbonário denominada "Os Cavaleiros da Cruz"?... Alguns referem tratar-se da Loja Militar "Les Chevaliers de La Croix" de que era o Venerável, Loja que trabalhava no interior da "Legião Portuguesa", em campanha, e sob a bandeira Napoleónica. Ficam as interrogações. Em que Rito e sob que jurisdição trabalhavam? Portuguesa? Francesa? Havendo rasto desta Loja em arquivos nacionais, ao que parece, a primeira hipótese é a mais provável.

Existe ainda um outro fato perturbador que pode lançar alguma confusão nos espíritos. Nascido em Viena é Maçom pelo menos em 1781. Curiosamente Mozart, um ano mais novo, só em 14 de Dezembro de 1784 é iniciado ( pese embora a sua primeira obra maçônica remontar a ... 1772). Precisamente na Loja "La Bienfaisance" mas... de Viena...Loja que mais tarde se funde com outras vindo a tomar o nome de "Espérance Nouvellement Couronnée". E afinal o facto de existirem duas Lojas com o mesmo nome, na Áustria e em França, não poderá introduzir alguma confusão entre os historiadores no que diz respeito ao Rito praticado por Amadeus, que alguns também pretendem ser o R.E.R. mas que me inclino mais tenha sido a S.O. T.? A "Flauta Mágica" induz mais nesse sentido bem como o famoso quadro que reproduz a Loja de Viena onde figura Mozart. Gomes Freire continua pois a ser um mistério apaixonante. Que merece uma investigação profunda. De momento não detenho informação suficiente a não ser esta. Seria bom que outros que sabem bem mais do que eu a facultassem já que especular é fácil mas provar é difícil. Talvez numa próxima visita à Biblioteca Municipal de Lyon possa obter mais informação válida que não deixarei de transmitir. Agradeço toda a vossa ajuda nesse sentido.

Esta pequena prancha, que me foi fraternalmente solicitada, nada tem de oficial. Apenas pretende despertar a curiosidade de quem tem muito pouca informação sobre o Rito e o Regime Retificado, um dos mais interessantes sistemas maçônicos existentes e com o qual através da "Génese Templária de Portugal" temos tantos pontos em comum. Todos os Ritos são, à partida, igualmente válidos mas mais do que praticar, mais ou menos bem, um ou outro o importante é sermos verdadeiros Maçons todos os dias e em todos os momentos da nossa vida.
Só sendo realmente tolerantes, fraternos e justos seremos todos inteiramente livres e dignos de deixar aos nossos filhos e netos um Mundo melhor do que o recebido dos nossos antepassados.