O Regime Escocês Retificado
E.S. Ir:.NUNO
NAZARETH FERNANDES
Grao Mestre do Grande Priorado Independente da Lusitania
1-O Regime
Escocês Rectificado A sigla R.E.R. é usada simultaneamente
para designar o Rito e o Regime.
Stricto senso um "Regime" é governado pelos "Altos
Graus" e um "Rito" é baseado na igualdade entre Mestres.
Em termos correntes o Rito Rectificado é o Rito utilizado e praticado
pelas Lojas Escocesas Rectificadas ou seja o cerimonial maçónico
em que essas Lojas trabalham utilizando os Rituais dos "Graus Simbólicos"
que nos foram legados fundamentalmente pelos Conventos das Gálias
(1778) e de Wilhelmsbad (1782).
Entende-se por Regime Escocês Rectificado o Sistema Maçónico
completo em seis Graus assim organizados:
Lojas Azuis ou de S. João:
Aprendiz , Companheiro e Mestre
Lojas Verdes ou de St.André
Mestre Escocês de Santo André
Ordem Interior
Escudeiro Noviço e Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (C.B.C.S)
Ou seja o Regime divide-se entre uma Maçonaria Simbólica em
quatro Graus e uma Ordem Interior de Cavalaria Espiritual Cristã
e Maçónica. Os quatro primeiros Graus eram originalmente governados
por um Diretório Escocês Nacional cuja autoridade máxima
era o Deputado Mestre Nacional (equivalente aos atuais Grão Mestres
dos Grandes Orientes e Grandes Lojas), ele próprio dependente estruturalmente
do Grande Priorado da Ordem dos C.B.C.S. o qual governava diretamente a
Ordem Interior constituída por Comendadorias e Prefeituras de Cavaleiros.
Existiam ainda mais dois "graus" os de Professo e Grande Professo
equivalentes, digamos assim a uma Classe Sacerdotal os quais rápida
e oficialmente desapareceram. Hoje em dia, em termos de Maçonaria
dita Regular, os Grandes Priorados entregaram o governo administrativo das
Lojas azuis às respectivas Grandes Lojas, conservando, ou devendo
conservar a tutela ritual e simbólica, através de Tratados
de mútuo reconhecimento. Reservam para si a tutela das Lojas de Santo
André e a Ordem Interior.
Idêntica atitude é observada em relação à
Maçonaria dita não regular. Assim, em França, existem
protocolos semelhantes entre Grandes Priorados e o Grande Oriente de França
e a Grande Loja Ópera. O Grande Priorado das Gálias (G.P.D.G.),
recentemente, entrou em rota de colisão com a G.L.N.F., Grande Loja
Nacional Francesa (Regular) não havendo, de momento, em França
um Grande Priorado internacional e maioritariamente aceite como regular.
O G.P.D.G. voltou ao modelo do sec. XVIII e chamou a si o governo das Lojas
azuis administrando assim os seis Graus. Existem Grandes Priorados de C.B.C.S.,
regulares, em Portugal (Grande Priorado Independente da Lusitânia,
(G.P.I.L.), no Togo, na Bélgica, Prefeituras em Espanha (sob tutela
de um Grande Priorado de K.T.) e naturalmente na Suíça, o
Grande Priorado Independente da Helvécia (G.P.I.H.) o qual, historicamente,
ficou com as patentes originais francesas.
Todos estes Grandes Priorados mantêm relações de amizade
com os Grandes Priorados Anglo-Saxónicos de Knight Templars (K.T.)
e Knights of Malta (K.M.). 2-Origem Histórica
O R.E.R. nasce em França na segunda metade do sec. XVIII, tem um
eclipse aparente no sec. XIX e, sobretudo a partir de 1960, está
em franco ressurgimento. É um Rito essencialmente Cristão.
Mas Cristão no sentido mais lato do termo. É, dentro do Cristianismo,
um rito ecuménico embora se possa considerar restritivo em relação
a outras religiões mesmo que monotéistas. Admite como é
óbvio, como visitas, nas suas Oficinas Irmãos de outros Ritos,
sejam eles Cristãos, Judeus ou Muçulmanos, embora só
dele possam fazer parte, como obreiros, cristãos, o que é
lógico já que em todos os trabalhos e juramentos está
presente o Evangelho segundo S.João (incluindo nas Lojas de Santo
André), aberto no primeiro Capítulo. O Rito é fundamentalmente
Joanita. Está ligado à mensagem de Amor e Tolerância
do Novo Testamento sem detrimento da Justiça vinculada pelo Antigo
Testamento.
Está ligado à "Tradição Templária"
em termos de Herança Espiritual e próximo da "Gnose Cristã".
Não é um Rito Católico é um Rito Cristão.
É provavelmente o Rito mais próximo da Maçonaria Operativa
de origem Medieval. Ou seja da Maçonaria anterior a "24 de Junho
de 1717".
Em Loja Simbólica os obreiros, além de avental e luvas, usam,todos,
uma espada e um chapéu triangular embora só a partir do grau
de mestre se possam cobrir. O Regime é resultante dos trabalhos de
vários Maçons ilustres de que se deve destacar Jean Baptiste
Willermoz, comerciante de sedas de Lyon.
Face a uma dispersiva disparidade de Ritos e Sistemas maçónicos
na altura existentes e à preponderância que a Estrita Observância
Templária (S.T.O.) alemã começava a ter no mundo maçónico,
intrigado, fascinado e depois um pouco séptico pelo sistema maçónico
dos "Eleitos Cohen" de Martinez de Pasqually, Willermoz parte
para a criação de um Rito que reflecte essas três tendências:
· A Maçonaria existente em França na sua vertente mais
significativa (Escossismo)
" As doutrinas cabalístico/ocultistas do teosofismo martinezista
do Sistema de Martinez de Pasqually. · O Sistema da Estrita Observância
Templária do Barão de Hunt também apelidada de Maçonaria
Rectificada (Reforma de Dresde), sistema alemão em que a vertente
cavaleiresca se sobrepunha à maçónica já que
se reclamava de não só herdeira mas restauradora da Ordem
do Templo extinta em 1312.
Willermoz, muito inteligentemente, retira à S.T.O. as sua pretensões
Templárias, no sentido de restauração político
material e temporal da Ordem e reclama-se de uma herança espiritual
apenas. Acalma assim as Monarquias existentes e a Igreja de Roma. Mantém
o conteúdo esotérico do sistema de Pascallis mas avança
para um ecumenismo não impregnado da teosofia martinezista onde por
um lado introduz as teses de Martinez sobre a origem primeira do Homem,
a sua condição atual e destino final no Universo mas sem entrar
em choque com a mensagem inicial da Tradição Cristã
divulgada através dos primeiros Padres da Igreja.
Não divorcia totalmente da prática maçônica praticada
em França ou seja do Escossismo e dos vários graus que sintetizados
mais tarde irão em 1786/87 vir a constituir o Rito Francês.
Resultado dos vários Conventos que se sucedem o R.E.R. acaba por
ser finalmente estabelecido em 1782, em Wilhelmsbad, embora Willermoz continue
a trabalhar nos diversos rituais até 1802.
A Revolução foi madrasta para o Regime e para a Maçonaria
em geral. Durante o sec.XIX ele acaba teoricamente por desaparecer em França
e a última Loja a praticá-lo, em Besançon, acaba por
entregar à Prefeitura de Genève a tutela do Regime e do Rito.
Na Alemanha e Países Escandinavos desenvolviam-se sistemas semelhantes
que conduziram basicamente ao Rito Sueco e ao Rito de Zinnendorf. Em 1913,
Eduardo de Ribancourt e outros Graus 33 pretendem restaurar o Rito no seio
do Grande Oriente de França. Face à posição
por este então assumida dirigem-se a Genève onde são
armados C.B.C.S. e recebem a Carta Patente que lhes permite na volta erguer
colunas da Loja Nº 1, "Le Centre des Amis" que está
na origem da fundação da Grande Loja Nacional Independente
para a França e Colônias, mais tarde Grande Loja Nacional Francesa,
única potência maçônica reconhecida pela Inglaterra
em França.
Mais tarde constitui-se o Grande Priorado das Gálias que irá
administrar todo o Regime. Em 1958 este assina um protocolo com a G.L.N.F.
passando esta a ter toda a autoridade administrativa sobre os graus azuis.
Em Portugal o Regime está também na origem da Grande Loja
Regular de Portugal (Graus azuis) tendo as Lojas de Santo André e
a Ordem Interior sido introduzidas pelo Grande Priorado Independente da
Helvécia com a criação do Grande Priorado da Lusitânia.