SOBRE
LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN POR TÉDER
Frater Zelator S:::I::: S:::I:::I:::
Téder
costumava descrever sobre a vida do Filósofo Desconhecido que deu
origem ao termo e à doutrina do "Martinismo", ou seja,
de Louis Claude de Saint-Martin (1743-1803). Várias obras de Saint-Martin
são citadas por esse místico e outras mais que fazem referência
ao assunto, o que torna este trabalho também interessante como forma
de consulta e referência para estudos posteriores. Um dos objetivos
é dar justiça e o devido lugar à este filósofo
que muitos academicistas julgam de menor importância. A comparação
é difícil, talvez impossível. Comparar Saint-Martin
aos positivistas e enciclopedistas de sua época de uma forma direta,
fria, acadêmica ao extremo, não levará a mais pura das
verdades. Saint-Martin deixou uma marca indelével na cultura de seus
dias não apenas como pensador, mas como tradutor das obras de Jacob
Boehme. Seu trabalho nesta época já tomava uma nova dimensão
dentro de uma cultura abalada pelos dias tensos das radicais mudanças
sociais, políticas e até mesmo espirituais que tomavam conta
da França naqueles anos de sua vida.
Saint-Martin conviveu com personalidades da cultura e da ciência de
seu país da monta de: Montesquieu, Helvetius, Rousseau, Voltaire,
Boulanger, Chateubriand, D'Alambert, Lagrange, Laplace, Condorcet, entre
tantos outros que ficaria cansativo enumera-los.
Na política assistiu ao Terror, com todos as suas personagens históricas
e seus desdobramentos sociais. Assistiu a Louis XV (ao qual se referiu na
obra "O Crocodilo") e Louis XVI, com seus reinos já cambaleantes
pela aproximação dos novos ideais de Liberdade, Igualdade
e Fraternidade trazidos pela Maçonaria liberal, sem dúvida,
mas também fortemente influenciados pelas causas libertárias
da América. Viu Bonaparte e seu Império mudarem a história
do mundo mais no final de sua vida.
Era uma grande época. Saint-Martin viveu e participou, diretamente
ou não, de muitos destes eventos mencionados. Porém, nada
se compara à sua atuação dentro dos meios literário
e místico. No primeiro, como já citamos, como tradutor de
obras do alemão, aquele que ele considerava indigno de ao menos amarrar
as sandálias: Jacob Boheme. Também apresentou em 1788 um resumo
das obras de Swedenborg. Este era necessário compreender, pois também
havia influenciado o Filósofo Teutônico, o que nos faz montar
mentalmente uma cadeia iniciática de conhecimentos místicos:
Swedenborg, Boheme, Pasquallys e o próprio Saint-Martin.
Outra participação literária marcante até os
nossos dias refere-se às obras deixadas por ele aos estudantes do
caminho interno, ou via cardíaca. Apenas para citarmos algumas, podemos
colocar na seguinte ordem que mostra um resumo ou estrutura bem definida
do pensamento martinista num crescente de espiritualidade da alma humana:
"O Ecce Homo", "O Homem de Desejo", "O Ministério
do Homem-Espírito" e "O Novo Homem". Esta tetralogia
mostra grande parte do pensamento do Mestre e que ele desejava deixar no
papel afim de não se perder entre alguns elos de sua cadeia iniciática
futura. Acredito que ele já tivesse consciência de todo o porvir
sobre suas revelações e sobre o resultado de seus trabalhos
no mundo místico. Sua iniciação (assim dita, pois era
apenas uma, a equivalente ao grau de SI) remontava à uma Tradição
Primordial capaz de levar muitos homens à Reintegração
de seu ser interno com Deus. A simplicidade é a marca do Criador.
"Dos Erros e da Verdade", tirado de seu envolvimento com os Irmãos
pertencentes ao Ellus Cohen, em especial Jean Baptiste Willermoz, também
é considerado uma obra prima do pensamento místico revelado
aos verdadeiros iniciados. Este é um livro que muitos consideram
um extrato (ou talvez até uma cópia) de revelações
recebidas pelos discípulos de Pasqually, em especial Saint-Martin
e Willermoz, através do Agente Incógnito que teria se manifestado
após longas tentativas dos discípulos de Pasqually.
No mundo místico, que se mistura ao das letras, o Mestre deixou uma
via: a cardíaca. Trouxe a essência do puro cristianismo místico,
com sua simplicidade, ao conhecimento dos mais simples dos homens até
às altas classes aristocráticas por ele freqüentada.
Se sua doutrina podia entrar nos ricos salões franceses, certamente
algum dia chegaria aos irmãos do povo que estivessem buscando consolo
num Deus que está dentro de nós, e não apenas num plano
que só pode ser atingido por quem estivesse ligado a uma máquina
religiosa qualquer, fosse qual fosse. Deixou as armas e a carreira de direito
para se dedicar primeiro com Pasquallys, e depois com Willermoz e seu próprio
ser interno, a uma nova luz e uma nova mensagem ao mundo: saímos
de Deus, fomos expulsos de um Paraíso, é verdade, mas podemos
- e devemos - voltar ao seio do Criador.