Santo André



Santo André é celebrado pela Igreja a 30 de Novembro, já em pleno período litúrgico do Advento, que levará ao Natal. O simbolismo mais profundo de André está ligado ao reconhecimento de Jesus como o Messias anunciado pelos antigos Profetas. Como é comum com nomes sagrados e personagens ligados a acontecimentos bíblicos, o seu nome designa uma função ou nomen iniciático, que cobre com o véu do anonimato o verdadeiro e desconhecido Discípulo André. Efetivamente André é ao mesmo tempo o "andros" e "antropos", o Homem arquetípico, o o Protocletos (o Primeiro Chamado), primeiro Discípulo de Cristo e último Discípulo de João Baptista (ele mesmo o último Profeta do ciclo que encerra o Testamento Antigo). Assume grande importância por ser o primeiro a dar substância às palavras que seguem a abertura do Evangelho de João: "Houve um homem enviado de Deus cujo nome era João. este veio para dar testemunho da Luz, para que todos cressem por ele. Não era a Luz, mas veio para que testificasse da Luz. Ali estava a Luz verdadeira que ilumina todo o homem que vem ao mundo." (João 1:6-9) André foi então o primeiro a seguir o Messias apontado por João Baptista (que era então seu Mestre). Representa por isso a passagem da Antiga Lei (ou Antigo Testamento) à Nova Lei (ou Novo Testamento). Representa todos os que conseguem reconhecer o Messias tendo vivido na espera de sua manifestação. Deste modo são seus atributos iniciáticos como Protocletos a Esperança, a Sabedoria (que o ajudou a identificar os sinais do Encoberto esperado) e a Fidelidade.

 


André era irmão de Simão (mais tarde rebatizado de Pedro). Eram ambos filhos de Jonas e pescadores no mar de Tiberíades. Naturais de Betesda, uma aldeia de pescadores situada às margens do Lago de Genezaré. Foi André que chamou Pedro para seguir o Messias. Após a crucificação e o Pentecostes saiu em missão evangélica, pregando no Mar Negro, depois na Frigia, na Misia e na Bytinia. Posteriormente voltou ao Mar Negro escapando da morte, seguindo ainda para Esquitia (Sul da Rússia) e para a Tracia. Foi ele que ordenou o seu discípulo Estaquis como o primeiro Bispo de Bizancio. Foi em seguida para Tessalia e, por último, para Acaia. Em Patras, foi preso e condenado a crucificação numa cruz em forma de X. Seu corpo foi sepultado com muita veneração e honra. No ano 357, por ordem do imperador Constâncio II (filho de Constantino), as suas relíquias foram trasladadas para Constantinopla e depositadas na Igreja dos Santos Apóstolos. Mais tarde, por obra dos Cruzados, as relíquias passaram por diferentes lugares. Um fragmento foi levado para a Escócia e desde 1160 é considerado como o santo Patrono daquele país. A letra "X" de cor branca, na bandeira da Escócia, e que também está presente na bandeira do Reino Unido, representa a cruz de Santo André. É o Santo Patrono da Escócia, mas igualmente da Rússia.

 


Na Maçonaria desempenha um papel muito importante nas diversas variantes do Rito Escocês. No mais disseminado Rito Escocês Antigo e Aceite aparece no seu 29º Grau, Cavaleiro de Santo André da Escócia, onde se explora a lenda que liga os Templários fugidos de La Rochelle após a prisão decretada por Filipe, o Belo, Rei de França, em 1307, fuga que culminaria nos vales da Escócia onde os Cavaleiros do Templo teriam encontrado refúgio no seio das confrarias de pedreiros disfarçando-se como tal. O cardo é um dos elementos simbólicos do grau (é igualmente o emblema floral da Escócia), associado à morte pelo fogo (tal como os Templários morreram na fogueira) e à regeneração, pois é habitual na festa de São João de Verão (São João Baptista) lançar cardos à fogueira e mais tarde aproveitar as sementes que, retiradas das cinzas e plantadas, mantêm as propriedades vitais, germinado. Santo André, o cardo, a cruz de Santo André (em aspa ou "X"), as cores verde e vermelho, entre outros elementos simbólicos, podem ser encontrados em vários graus da Maçonaria Escocesa desde o século XVIII.

 


No Rito Escocês Retificado, Santo André dá o nome ao 4º e último Grau Simbólico do Regime. Isto significa que coroa a instrução maçónica dada por intermédio de alegorias e quadros simbólicos. Este grau encerra a Maçonaria (a construção do Templo Interior) com valiosas lições iniciáticas e prepara a entrada nos Graus de Cavalaria. Trata-se na verdade da fusão de dois antigos graus, o de Mestre Escocês (a que Jean-Baptiste Willermoz se refere como sendo "na realidade o único grau realmente fundamental da Maçonaria") e o de Mestre de Santo André da Escócia. A associação entre André como Protocletos e o Homem arquetípico (representado por Hiram) é evidenciada, bem como a necessidade de identificar a "Luz Verdadeira" (João 1:9) para a poder seguir e desempenhar as tarefas iniciáticas necessárias à consecução da missão redentora de Reintegração.

 


As inúmeras camadas simbólicas presentes no grau de Mestre Escocês de Santo André, na sua cerimónia iniciática e nos diversos símbolos escolhidos para o compor são uma das jóias iniciáticas mais complexas e importantes da Maçonaria do século XVIII. A descoberta dessas camadas revela um simbolismo sofisticado e profundo, ancorado na melhor e mais pura Tradição da Maçonaria Cristã, ainda relevante para o homem do século XXI. Este é um dos graus onde a profissão de Fé é fundamental ao Maçon. Não lhe basta acreditar num vago Ser Supremo ou uma força indefinida ordenadora e criadora do Universo, menos ainda ter uma atitude agnóstica ou de puro ateísmo (intelectual ou visceral, racional ou irrefletido). A operação de regeneração é infértil na mente que não ultrapassa o medo da religião. É em Santo André que os novos Protocletos são chamados a abandonar o velho e acabado e a abraçar o novo e resplandecente. É em Santo André que os Homens se separam dos meninos.