O Silêncio Interior
Pelo Ir. +Tácitus, S:::I:::I:::



"Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a minha salvação...".
Salmos 62:1

"Bom é guardar a salvação do Senhor, e isso em silêncio...".
Lamentações 3:26


Querer, Saber, Ousar e Calar...
Hoje falaremos sobre o calar e em particular, o Silêncio Interior sem o qual prática alguma espiritual há de ser bem sucedida.
A Via Cardíaca preconizada pelo nosso amado Mestre Louis Claude de Saint Martin, longe dos excessos ritualísticos externos e operativos, é voltada para o Interior, do mais puro misticismo, onde em si o homem procura e encontra Deus. Tão simples e tão árdua é tal caminho!


Para podermos comungar com essa Divina Presença é necessário aprendermos a "escutá-La" e para isso, precisamos antes aquietar a mente, muito antes disso devemos transformar a qualidade de nossos pensamentos. Esse é o primeiro passo da Via Interior: Apaziguar os sentidos, purificar os pensamentos, acalmar a mente.


Isso tudo com a força de nossa vontade, pois é apenas com uso dela que conquistaremos nosso silêncio e por consequência nossa PAZ interior.


Vemos isso no próprio Saint Martin em "Dos Erros e da Verdade", eis:
"...sim, essa é a nossa penalidade, a de que nenhum pensamento nos possa vir imediatamente sem o auxílio de nossos sentidos, que são os órgãos necessários em nosso estado atual; mas se reconhecemos no homem um Princípio ativo e inteligente que o distingue tão perfeitamente dos outros Seres, esse Princípio deve ter suas próprias faculdades; ora, a única delas cujo uso nos restou em nossa penosa situação é essa vontade inata, da qual o homem usufruiu em seu tempo de glória e da qual ainda usufrui mesmo após a queda. Como foi por vida dela que ele se extraviou, é só pela força dessa vontade que ele pode ter a esperança de ter restabelecidos seus primitivos direitos; é ela que o preserva dos precipícios onde querem atirá-lo e de crer nesse nada a que pretendem reduzir sua natureza; em resumo, é por causa dela que, não tendo ele a maestria para impedir que o bem e o mal o acometam, o homem é responsável pelo uso que faz dessa vontade em relação a um e outro. Ele não pode impedir que o bem e o mal estejam nele, mas pode escolher e escolher bem; por enquanto não darei outras provas disso, a não ser a de que ele sofre e é punido quando escolhe mal".


Começamos nossa busca pelo Calar, pelo aquietar-se.


Calar, tão difícil de praticar seja pela necessidade profana de comunicação, seja pelo descontrole em manter-se quieto. É costume falarmos que o homem possui 2 olhos, 2 ouvidos, 2 orifícios nasais, porém 1 só boca; muitos acreditam que nossa constituição nos indica a necessidade de falar menos e escutar mais.


Estaria o homem em silêncio mesmo estando calado?
Sei da importância em não apenas controlar nossos impulsos externos, antes de externar qualquer palavra ou frase num diálogo, seja em nossa vida profissional, seja pessoal. A prudência e a paciência são virtudes importantíssimas à aquele que deseja labutar seu eu interior, controlando nossos impulsos, descontroles e ansiedades que nos levam a tagarelar profanamente, sem objetivo, sem rumo, sem vida, apenas bagunça.


Sei que o Silencio Interior está muito além disso.


Não basta fecharmos a boca para não falarmos besteiras desnecessárias. Antes sei que é necessário calarmos nossa mente, normalmente descontrolada em pensamentos intermináveis, fora de foco e sem objetivo. O homem pode estar vivendo aos barulhos orquestrais numa turbulência de bagunça mental, mesmo estando calado de boca fechada. Pensamento é som, e esse som ecoa por todo nosso interior e vibra de acordo com a qualidade vibracional, na mesma frequência que a natureza de nossos pensamentos. Como pode almejar o "Calar" dos sábios se tal buscador não se mantém em silencio mental?


O Silencio Interior está muito além disso.
Em seu interior mental bagunçado por maus pensamentos, ou pensamentos incessantes e esses por suas qualidades vibrando em nosso interior, despertam emoções. A emoção é um motor fortíssimo suscetível aos pensamentos, assim não me admira que toda pessoa mentalmente bagunçada, sofre constantemente dentro de si. Suas emoções assim como seus pensamentos, são turbulentos como um temporal em alto mar, com vendavais que vem de todos os lados, e leva o barco rumo a lugar nenhum deixando quase à deriva seus tripulantes. Mesmo calado, o buscador pode estar num temporal em alto mar de suas emoções, e isso, não é Silencio Interior.


Silêncio é sossego, calma, paz, tranquilidade. Muito mais que uma ação, é antes, um estado de espírito. É uma conquista que a arduamente o buscador adquire pelos seus próprios esforços. O Silêncio Interior é um mar tranquilo, calmo de águas límpidas e de brisa refrescante num admirável pôr do Sol. O verdadeiro sábio sabe por sua experiência que por mais ruidoso e barulhento que esteja seu redor, seu Mar Interior permanece inalteradamente tranquilo, calmo e em paz. Calar-se exteriormente é apenas uma escolha, se assim o Sábio o desejar. Essa tranquilidade é o resultado do equilíbrio e harmonia em que reinam seu eu mental, emocional e espiritual, que muito antes de calar sua boca, já está em paz consigo mesmo há muito tempo.
O Silêncio Interior é acima de tudo, uma arte.


Tão proveitoso silêncio em sua plenitude, nos coloca em contato com o que há de mais Divino e Nobre no ser humano, nossa Alma, nosso Princípio Inteligente. Tal silêncio, o qual comungamos com o Deus de nosso coração e com Ele formamos um, tal silencio que une, que eleva e que, diz a nós mais que palavras. O Silencio Interior é a porta pelo qual o Divino nos comunica sua sabedoria, seus desígnios; é através dele que erijo a base de minha grande obra, que culminará em minha reintegração ao Todo.
O Silêncio Interior é antes adquirido pelo uso de nossa Vontade. Aquietamos inicialmente nossa mente e por consequência nossos sentimentos
O som do Silencio Interior, inaudível ao ouvido profano, orquestra harmoniosa de Deus
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