A
Busca da Verdade
António Rocha Fadista
O QUE É
A VERDADE?
Se tivessem esperado a resposta, quando perguntaram a Jesus, talvez não
estivéssemos até agora em busca da verdade. Segundo a definição
dos filósofos, a verdade consiste numa relação de conformidade
entre o conhecimento e as coisas consideradas. Mas a verdade não
é uma coisa. Este computador, este trabalho, não são
verdades; mas pensar, ou dizer que este computador existe, ou que este trabalho
é ruim, isso sim, é dizer e pensar verdades.
A verdade consiste,
pois, em julgar que as coisas são o que são na realidade:
"Dizer que é, o que é, e dizer que não é
o que não é, eis a verdade", assim disse Aristóteles.
Podemos, pois, definir também a verdade como sendo:
uma relação de conformidade entre o que o espírito
julga, e o que de fato é.
A VERDADE LÓGICA E A VERDADE ONTOLÓGICA
A verdade supõe três coisas: o objeto que se apresenta à
inteligência, a inteligência que julga, e a relação
de conformidade entre o juízo e o objeto.
Para quem vê as coisas, os juízos só são verdadeiros enquanto se conformam com os objetos; mas para Deus, criador de tudo o que existe, são os objetos que se conformam com as idéias, segundo as quais todas as coisas foram criadas. No dizer de Bossuet, vemos as coisas porque elas existem; para Deus, elas existem porque Ele as criou e as vê.
Deste modo, existem duas espécies de verdades, sendo uma a verdade lógica, isto é, a verdade dos nossos conhecimentos, que consiste na conformidade da nossa inteligência com o objeto, e a verdade ontológica, isto é, a verdade das coisas, que consiste na sua conformidade com a inteligência divina.
Conclui-se
daí que tudo o que existe é ontologicamente verdadeiro; porque,
criando Deus os seres tal como Ele os vê e quer, não poderia
existir coisa alguma que não fosse perfeitamente conforme com a sua
idéia.
Uma vez que a verdade ontológica pertence à metafísica,
falaremos então da verdade lógica, mais próxima de
nós, os humanos.
A VERDADE LÓGICA
A verdade do conhecimento, ou verdade lógica, é a conformidade
da inteligência com o que é, isto é, com o objeto. Todos
os atos pelos quais a inteligência se conforma com os objetos serão
por isso mesmo, cada um a seu modo, susceptíveis de verdade lógica.
Todo o conhecimento intelectual se funda nas intuições imediatas
absolutamente infalíveis da consciência.
A inteligência
humana tende naturalmente para a verdade; sendo, porém imperfeita,
nem sempre a atinge, e quando a atinge, é quase sempre de modo imperfeito.
Daí existirem diversos estados da inteligência em relação
à verdade:
1. A verdade pode estar para a inteligência como se não existisse:
é o estado de ignorância.
2. A verdade pode entrever-se como simplesmente possível: é
o estado de dúvida.
3. A verdade pode atingir-se como provável: a inteligência
está neste caso no estado de opinião.
4. A verdade pode atingir-se com plena evidência: é o estado
de certeza.
5. A verdade pode ser desconhecida, negada ou afirmada diferente do que
é: é o estado de erro.
Conforme dito acima, ontologicamente, só existem coisas verdadeiras. Entretanto, a verdade pode aparecer-nos mais ou menos claramente. Esta é a razão porque o mesmo objeto, que para mim é duvidoso, pode muito bem ser certo para outra pessoa, mais bem dotada em sua inteligência. Convém salientar que a dúvida foi transformada por Descartes em método de conhecimento. É claro que, para a inteligência perfeita - Deus - toda a verdade é evidente, e neste caso perdem sentido os termos duvidoso e provável.
AS PROBABILIDADES MATEMÁTICAS E MORAIS DA VFRDADE
A probabilidade matemática consiste no seguinte: dados todos os casos
possíveis e de mesma natureza, em número determinado, podemos
conhecer o seu grau de probabilidade através de uma fração,
cujo denominador seja o número de casos possíveis, e o numerador
seja o número de casos favoráveis.
Seja um copo que contenha 10 bolas, sendo 8 pretas e 2 brancas; a probabilidade de se tirar uma bola branca é exatamente de 2/10.
Sabe-se, contudo, que a mais rigorosa apreciação das probabilidades não pode garantir que não haja erro, e só permite fixar uma média, que será tanto mais exata, quanto maior for o número de casos observado. (Concluímos assim que as pesquisas de opinião efetuadas para avaliar as probabilidades dos candidatos políticos no Brasil, cuja população é de cento e noventa milhões e nas quais a amostra é só de duas mil pessoas, são totalmente furadas e com margem de erro muito superior aos mais ou menos 2% anunciados pelos órgãos de pesquisa).
A probabilidade moral não permite avaliações matemáticas, porque as probabilidades não são todas conhecidas nem são todas da mesma natureza. É o que acontece nos eventos que dependem do livre arbítrio.
AS TRÊS ESPÉCIES DE VERDADE: METAFÍSICA, FÍSICA
E MORAL
A verdade metafísica não é passível de ser contradita;
por exemplo, o todo é maior do que as partes: 2 + 2 = 4. Por serem
verdades apreendidas pela razão, a evidência e a certeza, que
delas procedem, chamam-se racionais ou metafísicas.
A certeza metafísica supõe a total impossibilidade da dúvida.
Ao afirmar uma verdade metafísica, o espírito sabe que a contraditória
é absurda.
A verdade física é contingente, isto é, o predicado sempre combina com o sujeito: o sol ilumina, o leão tem juba. Estas verdades são apreendidas pela experiência; por isso, por sua evidência e certeza, chamam-se verdades físicas.
Finalmente, existem as verdades morais, que independem de leis físicas ou metafísicas, mas dependem da lei psicológica e moral, isto é, de uma lei da natureza humana. Exemplos: o homem tende para a felicidade; ele é feito para a verdade; e está submetido à lei do dever.
Como vimos, a definição da Verdade é das mais complexas, e cada filósofo a apresenta de maneira diferente. A Verdade dos conhecimentos é a base da Filosofia, e a Verdade Moral é a base da vida Social.
AS QUATRO NOBRES VERDADES
O mundo está cheio de sofrimentos. O nascimento, a velhice, a doença
e a morte são sofrimentos, assim como o são o odiar ou o estar
separado de um ente querido. A Vida que não está livre dos
desejos e paixões está sempre envolta em angústia.
Eis o que se chama a Verdade do Sofrimento. A causa do sofrimento humano
encontra-se nos desejos do corpo físico e nas ilusões das
paixões mundanas, que se acham profundamente enraizados nos instintos
físicos. O desejo, sendo muito forte, pode se manifestar em tudo,
até mesmo em relação à morte. A isto se chama
a Verdade da Causa do Sofrimento.
Se o desejo que está na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, aí então, morrerá esta paixão e desaparecerá todo o sofrimento humano. Esta é a Verdade da Extinção do Sofrimento.
Para se atingir um estado de tranqüilidade, em que não há desejo nem sofrimento, deve-se disciplinar a mente, de modo a desenvolver a percepção, o pensamento, o comportamento, o meio de vida, o esforço, a atenção e a concentração corretos. Esta é a Verdade para a Extinção dos Desejos e das Paixões.
Os que buscam a Iluminação devem entender as Quatro Nobres Verdades. Quem não as entender e praticar, continuará o seu ciclo de vidas pela eternidade.
A BUSCA DA VERDADE
Quando o fogo dos desejos está assolando o mundo, não importa
saber qual é a composição do universo ou qual é
a organização ideal da comunidade humana. O importante é
saber como resolver o problema dos nascimentos, da velhice, das doenças
e da morte. Os que buscam a Verdade não devem esperar que isto seja
uma tarefa fácil.
Antes de tudo, deve-se ter na mente a natureza básica deste mundo, onde reinam a vida, o sofrimento e a morte. Vida, oh vida! Para que serves se o ser humano não faz bom uso dos seus renascimentos?
Na Mensagem do Mestre, Krishna disse a Arjuna: "O conhecimento da Verdade é dado àquele que domina o eu pessoal e as impressões dos sentidos. Aquele que atingiu esse conhecimento e esta sabedoria entra na Paz Suprema, no Nirvana". Como ensinaram Buda, Confúcio, Zaratustra, o Amor é a via primordial para a Iluminação. O Amor é o Alfa e o Ômega da vida. O Homem nasce com o Alfa. O Ômega só é alcançado pelo trabalho difícil, árduo e constante, no seu aperfeiçoamento espiritual.
Para o buscador,
a busca da Verdade deve ser constante. É algo que começa com
a sua Iniciação, mas que nunca mais acaba, ainda que tenha
atingido os mais altos graus.
Através de seus símbolos e alegorias, a fraternidade ensina
que a Verdade é um atributo da Divindade, e que só pelo burilamento
das asperezas do seu caráter, pelo estudo e pela meditação,
pelo uso da razão e da moral, o adepto pode alcançar a Iluminação
e aproximar-se da Grande Verdade
Bibliografia
Bhagavad Gita
A Sabedoria dos Vedas
A Doutrina de Buda
Gnose - Estudos Esotéricos
Aristóteles - Metafísica
Kant - Crítica da Razão Pura
Hegel - O Real e o Racional
Dicionário de Maçonaria e Simbologia - Nicola Aslan