Unidades de ação no Universo e na Natureza.
Louis Claude de Saint Martin
Uma positiva e bem conhecida lei, que retrato aqui aos amigos da sabedoria,
como uma das mais úteis luzes em sua senda, é que, apesar
das inumeráveis diversidades das criaturas e classes que compõem
o universo, há certas unidades de ação que abarcam
todas as classes, e agem sobre os indivíduos destas classes, por
uma analogia natural.
É por isso que, em todas as produções da natureza,
há gêneros, espécies, famílias, todas carregando
a marca desta unidade de ação, cada uma de acordo com sua
classe.
Os poderes e faculdades de nossas mentes, apresentam a mesma lei, mostrando
uma espécie de uniformidade nos movimentos dos pensamentos dos homens,
e reduzindo todo os seus sistemas a um número limitado de teoremas
e axiomas, e todas as suas instituições a fórmulas
fundamentais, que dificilmente variam uma das outras. A arte medicinal,
a moral, a política, assembléias científicas e deliberativas,
coisas pertencentes à ordem religiosa, e, se posso assim dizer, até
mesmo as coisas pertencentes à ordem infernal, tudo testemunha a
favor deste princípio.
Através desta lei de unidade de ação, a mesma ação
física que rege o sangue do homem, rege também o sangue dos
animais, pois os corpos de ambos são da mesma ordem.
Mas, se a mesma ação física governa o sangue dos homens
e dos animais, esta ação está, sem dúvida, exposta
as contradições e desordens a que os dois estão sujeitos;
e esta lei física, embora não esteja baseada na liberdade,
como estão as leis morais, pode contudo sofrer desordens, pelos obstáculos
e oposições que envolvem e ameaçam tudo o que existe
na Natureza.
Se estes diferentes indivíduos, homens e animais, estão sujeitos
as mesmas leis, dentro das desordens a que estão expostos, por outro
lado, eles também participam nas perfeições da unidade
da ação regular que os governa; e, se a desordem é
comum a ambos, a restauração deve ser também, assim
tanto o espírito como o uso de sacrifícios podem ser compreendidos;
mas isto não seria suficiente, se não pudéssemos descobrir,
como estes sacrifícios operam neles próprio, e como seus resultados
podem afetar o homem.
A operação espiritual e a causa dos sacrifícios.
A lei hebraica nos diz que há animais puros e impuros. Jacob Boehme
nos dá um motivo real para isto, com as duas tinturas, que se encontravam
em harmonia antes do crime e que foram subdivididas com a grande alteração.
A Natureza não se opõe a isto, uma vez que reconhecemos uma
distinção entre os animais, alguns sendo úteis, outros
nocivos. Desta forma, até mesmo num mero sentido físico, o
significado das Escrituras pode ser confirmado.
Mas e se isto tivesse um significado espiritual? Na verdade, a matéria
possui uma vida unicamente de dependência e sua existência,
virtudes e propriedades só existem através das diferentes
ações ou influências espirituais, pelas quais são
engendradas, combinadas, constituídas e caracterizadas; a matéria
é, além do mais, o contínuo receptáculo dos
poderes opostos à ordem, que só tendem à estampar a
marca da irregularidade e da confusão em todo lugar; por este motivo,
não é de se surpreender que esta matéria apresente
todo tipo e atuações destas ações ou influências
diversas e opostas, das quais vemos melancólicas evidências
em nós mesmos.
Assim, quando o homem caiu sob o domínio de algumas influências
desordenadas, o animal puro representou um meio de livrá-lo destas
influências; a ação desordenada seria atraída
pelo fundamento que ele representa e sobre o qual deve ter certos direitos
e poderes.
Mas para esta atração não prolongar as conseqüências
e efeitos das influências desordenadas, é necessário,
em primeiro lugar, que o sangue do animal seja derramado; depois este animal,
embora limpo pela Natureza, deve receber algumas influências preservativas
extras, pois é composto de elementos mistos e exposto a influências
desorganizadoras do inimigo, como tudo o mais que seja matéria. Ora
a ação preservativa, neste caso, era representada, entre os
Hebreus, pela imposição das mãos do sacerdote, sobre
a cabeça da vítima, o sacerdote representa o Homem restabelecido
em seus direitos primitivos; e tal é o espírito destas duas
leis.
Pelo derramamento do sangue do animal, a ação desordenada
unida a matéria do homem, é mais fortemente atraída
para fora do que pela simples presença corpórea do animal,
porque, quanto mais perto chegarmos do princípio, mais energética
e eficaz são todas as suas relações, em qualquer ordem
que seja.
Pela preparação sacerdotal, ou da preparação
do Homem, que desfruta da virtualidade de seus direitos, este sangue, e
esta vítima, são colocados além do alcance desta ação
desordenada; que assim abandona a matéria do homem, sugada pela atração
dos sangue animal; mas sendo repelida pela poderosa virtude que o sacerdote
comunicou ao sangue, ela é forçada a banir a si mesma, para
ser mergulhada nas regiões da desordem, de onde veio.
Ao que me parece, isto dá uma visão geral do espírito
da instituição dos sacrifícios. Esta visão sobre
o assunto pode nos ajudar a descobrir o espírito particular que ordenou
os detalhes de todos os sacrifícios hebreus; aqueles, por exemplo,
para o pecado e expiação; aqueles chamados oferendas de paz;
e até mesmo aqueles da redenção ou reconciliação
e da união do homem com Deus, confirmada pelos visíveis sinais
de sua aliança.
Sacrifício para o pecado.
Esta simples lei da transposição, da qual temos falado, é
suficiente para nos dar uma idéia do espírito de sacrifício
para o pecado, banir a profanação para as regiões da
desordem e sobre o inimigo que a causou.
Oferenda de paz.
O objetivo do sacrifício para paz, seria o de dar forças ao
homem para resistir a este inimigo e até mesmo prevenir seus ataques.
A preparação da vítima, pela imposição
das mãos do sacerdote, torna isto inteligível, já que
coloca um sangue puro que está em conjunção com influências
regulares, em proximidade de um sangue cercado por influências destrutivas
e maleficente e é ainda assim capaz de recuperar a calma e o repouso.
Um grande número de detalhes sobre cerimônia de sacrifícios
justificam nossa confiança nestas conjecturas. O sangue vertido ao
redor do altar e consagrado aos quatro cantos, os combatentes do sangue,
o consumir da vítima etc., tudo se refere estritamente a um trabalho
de paz e preservação.