Toda
religião pertence à vida, e a vida da religião é
fazer o bem
Emanuel Swedenborg
1. Todo homem que tem religião sabe e reconhece que aquele que vive bem é salvo, e que aquele que vive mal é condenado. Com efeito, ele sabe e reconhece que aquele que vive bem pensa bem, não somente a respeito de Deus, mas também a respeito do próximo, porém não aquele que vive mal. A vida do homem é seu amor, e o que o homem ama, não somente ele o faz com prazer, como também nisso pensa com prazer. Se, portanto se diz que a vida da religião é fazer o bem, é porque fazer o bem faz um com pensar no bem; se essas duas coisas não fazem um no homem, não pertencem à sua vida. Mas essas proposições serão demonstradas no que se segue.
2. Que a religião pertença à vida, e que a vida da
religião seja fazer o bem, todo homem que lê a Palavra o vê
e, quando a lê, o reconhece. Na Palavra estão estas passagens:
"Qualquer que violar um destes mais pequenos preceitos, e assim ensinar
os homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele,
porém, que os cumpre e ensina será chamado grande no reino
dos céus".
"Eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos
escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus."
(Mat. 5: 19, 20). "Toda árvore que não dá bom
fruto é cortada e lançada no fogo; por isso, pelos seus frutos
os conhecereis." (Mat. 7:19, 20).
"Nem todo o que Me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos
céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos
céus." (Mat. 7:21).
"Muitos Me dirão naquele dia: Senhor! Senhor! não profetizamos
por Teu Nome e em Teu Nome não fizemos muitas virtudes? Mas então
lhes confessarei: Nunca vos conheci! apartai-vos de Mim, vós que
obrais iniqüidade." (Mat. 7:22, 23).
"Todo aquele... que ouve as Minhas palavras, e as pratica, compará-lo-ei
ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. Mas aquele que
ouve as Minhas palavras, e não as pratica, será comparado
ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia." (Mat. 7:24,
26).
"Jesus disse: O semeador saiu a semear... uma semente caiu sobre o
caminho duro... outra, em pedregais; ... outra, entre espinhos; e outra,
em boa terra. O que foi semeado em boa terra, esse é o que ouve e
atende a Palavra, e esse, daí, dá fruto, e produz, um, cem,
outro sessenta, e outro trinta. Quando Jesus disse estas palavras, clamou,
dizendo: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!." (Mat. 13:3,9,
23).
"Virá... o Filho do homem na glória de Seu Pai... e então
dará a cada um segundo seus feitos." (Mat. 16: 27).
"O reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação
que produz seus frutos." (Mat. 21:43).
"Quando... vier o Filho do homem em Sua glória... então
Se assentará no trono de glória. E dirá às ovelhas
à direita: Vinde, benditos... e possuí por herança
o reino preparado para vós desde a fundação do mundo;
porque tive fome, e destes-Me de comer; tive sede, e destes-Me de beber;
fui estrangeiro, e hospedastes-Me; estive nu, e vestistes-Me; estive doente,
e visitastes-Me; na prisão estive, e viestes a Mim. Então
os justos... responderão: Quando Te vimos assim?... Mas, respondendo,
o Rei,... dirá: Amém vos digo que, quando o fizestes a um
dos mais pequenos de Meus irmãos, a Mim o fizestes. E o Rei dirá
coisas semelhantes aos bodes, que estiverem à esquerda; e como estes
não fizeram tais coisas, dirá: Apartai-vos de Mim, malditos,
para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos." (Mat. 25:
31 a 46).
"Dai... frutos dignos de penitência. Já, já...
está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore
que não dá bom fruto é cortada e lançada no
fogo." (Luc. 3:8,9).
"Jesus disse: Porque... Me chamais Senhor! Senhor ! e não fazeis
o que digo? Todo aquele que vem a Mim. e ouve as minhas palavras, e as pratica...
é semelhante a um homem que edifica uma casa, e pôs os alicerces
sobre a rocha;... mas o que ouve e não pratica é semelhante
a um homem que edificou uma casa sobre o humo, sem alicerces." (Luc.
6:46 a 49).
"Jesus disse: Minha mãe e Meus irmãos são aqueles
que ouvem a Palavra de Deus e a praticam." (Luc. 8:21).
"Então começareis a estar [de fora] e bater à
porta, dizendo: Senhor, ... abre-nos; mas, respondendo, vos dirá:
Não sei donde vós sois;... Apartai-vos de Mim, vós
todos, obreiros de iniqüidade." (Luc. 13: 25 a 27.
"Este... é o juízo: Que a Luz veio ao mundo, mas os homens
estimaram mais as trevas do que a luz, porque as obras deles eram más.
Todo aquele que pratica o mal odeia a luz, para que suas obras não
sejam argüidas; mas o que pratica a verdade vem para a luz, a fim de
que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus."
(João 3:19-21).
"E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição
(da vida; porém os que fizeram o mal, para a ressurreição)
do juízo." (João 5:29).
"...Sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém
honra a Deus, e faz a Sua vontade, a esse ouve." (João 9:31).
"Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes."
(João 13:17).
"Aquele que tem os... preceitos e os pratica, esse é o que Me
ama;... e Eu o amarei, e Me manifestarei a ele; e irei para ele, e nele
farei morada. Quem não Me ama, não guarda as Minhas palavras."
(João 14:15 a 24).
"Jesus disse: Eu sou a videira... e Meu Pai é o lavrador; todo
ramo em Mim que não dá fruto, a tira; porém toda ramo
que dá fruto, a limpará, para que dê mais fruto."
(João 15:1,2).
"Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto, e vos torneis
Meus discípulos." (João 15:8).
"Vós sereis Meus amigos se fizerdes o que vos mando. ... Eu
vos escolhi... para que deis fruto e o vosso fruto permaneça."
(João 15: 14, 16).
O Senhor disse a João: "Escreve ao anjo da Igreja de Éfeso:
Conheço as tuas obras;... tenho contra ti que deixaste a tua primeira
caridade; ... faze penitência, e pratica as primeiras obras; senão...
retirarei o teu candelabro do seu lugar." (Apoc. 2: 1, 2, 4, 5).
"Ao anjo da Igreja de Smirna escreve: ... Conheço as tuas obras."
(Apoc. 2:8(,9)).
"Ao anjo da Igreja em Pérgamo escreve: Conheço as tuas
obras; faze penitência." (Apoc. 2:12, 16).
"Ao anjo da Igreja em Tiatira escreve: Conheço as tuas obras;
e caridade; ... e as tuas obras, as últimas mais numerosas do que
as primeiras." (Apoc. 2:18, 19).
"Ao anjo da Igreja em Sardes escreve: Conheço as tuas obras,
que tens nome de que vives, mas estás morto;... não achei
as tuas obras perfeitas diante de Deus; faze penitência." (Apoc.
3:1, 2, 3).
"Ao anjo da Igreja que está em Filadélfia escreve:...
Conheço as tuas obras." (Apoc. 3:7, 8).
"Ao anjo da Igreja de Laodicéia escreve: ... Conheço
as tuas obras, faze penitência." (Apoc. 3:14, 15, 19).
"Ouvi uma voz do céu dizendo: Escreve: bem-aventurados os mortos
que desde agora morrem no Senhor! ...Diz o Espírito, para que descansem
dos seus trabalhos; as suas obras seguem com eles." (Apoc. 14:13).
"Um livro foi aberto, que é o da vida; e os mortos foram julgados
conforme as coisas que estavam escritas no livro, todos segundo as suas
obras." (Apoc. 20:12).
"Eis que presto venho, e a Minha recompensa comigo, para dar a cada
um segundo a sua obra." (Apoc. 22:12,13).
Semelhantemente, no Antigo Testamento: "Retribui-lhes conforme as obras
deles, e conforme os feitos das mãos deles." (Jer. 25:14).
JEHOVAH, "cujos olhos estão abertos sobre todos os caminhos
dos homens, para dar a cada um segundo os seus caminhos, e segundo os frutos
de suas obras." (Jer. 32:19).
"Visitarei segundo os seus caminhos, e as suas obras lhes recompensarei."
(Oséias, 4:9).
"JEHOVAH... conforme os nossos caminhos, conforme as nossas obras nos
tratou." (Zac. 1:6).
Em muitas passagens se prescreve executar os estatutos, os mandamentos e
as leis, assim: "Observareis os Meus estatutos e os Meus juízos,
os quais, se o homem fizer, por eles viverá." (Levít.
18:5).
"Observareis todos os Meus estatutos e todos os Meus juízos,
para os fazer." (Levít. 19:37; 20:8; 22:31).
"Bênçãos, se praticarem os preceitos, e maldições,
se os não praticarem." (Levít. 26:4-46).
Foi mandado aos filhos de Israel que fizessem para si uma franja nas bordas
dos seus vestidos, para que se recordassem de todos os preceitos de JEHOVAH,
para que os praticassem (Núm. 15:38,39).
E em mil outras passagens. Que sejam as obras que fazem o homem da Igreja,
e que segundo elas ele é salvo, o Senhor o ensina também nas
parábolas, algumas das quais envolvem que aqueles que fazem os bens
são aceitos, e que os que fazem os males são rejeitados. Como
na parábola dos lavradores da vinha (Mat. 21:33-44); da figueira
que não deu fruto (Luc. 13:6-9); dos talentos e das minas com que
se devia negociar (Mat. 25:19-31); do samaritano que ligou as chagas do
homem ferido pelos ladrões (Luc. 10:30-37); do rico e Lázaro
(Luc. 16:19-31); das dez virgens (Mat. 25:1-12).
3. Que todo homem que tem religião saiba e reconheça que aquele
que vive bem é salvo, e que aquele que vive mal é condenado,
é pela conjunção do céu com o homem, o qual,
pela Palavra, conhece que há um Deus, que há um céu
e um inferno, e que há uma vida depois da morte; daí vem essa
percepção geral. Eis por que, na doutrina da fé atanasiana
sobre a Trindade, doutrina universalmente recebida no mundo cristão,
esta proposição, que se acha no fim, foi também universalmente
reconhecida, a saber: "Jesus Cristo, que sofreu para a nossa salvação,
subiu ao céu, e está assentado à direita do Pai onipotente,
donde deve vir para julgar os vivos e os mortos; e então, os que
fizeram os bens entrarão na vida eterna, e os que fizeram os males,
no fogo eterno."
4. Nas igrejas cristãs há muitos que ensinam, porém,
que a fé, só, salva, e não algum bem da vida ou boa
obra. Acrescentam também que o mal da vida, ou a má obra não
condena os justificados pela fé, só, porque estão em
Deus e na graça. Mas é de admirar que, embora ensinem tais
coisas, reconheçam, todavia B o que resulta de uma percepção
geral vinda do céu, B que são salvos aqueles que vivem bem,
e são condenados aqueles que vivem mal. Que, contudo, eles o reconheçam,
é evidente pela exortação que é lida nos templos,
tanto na Inglaterra como na Alemanha, na Suécia e na Dinamarca, perante
o povo que participa da Santa Ceia. Que nesses reinos estejam aqueles que
ensinam a fé só, é notório. A exortação,
que é lida na Inglaterra diante do povo que participa do sacramento
da Ceia, é esta:
5. "O modo e meios ser recebido como participante merecedor daquela
Mesa Santa, é, primeiro, examinar suas vidas e conversações
pela regra das ordens de Deus, e em que vos de em todo caso se perceberão
para ou ter ofendido por vá, palavra ou ação, lá
lamentar seu próprio propensão para o pecado, e se confessar
a Deus Todo-poderoso, com propósito cheio de emenda de vida; e se
vos perceberão suas ofensas para ser como não só está
contra Deus, mas também contra seus vizinhos, então vos se
reconciliarão até eles, enquanto estando pronto para fazer
restituição e satisfação de acordo com o extremo
de seus poderes, para todos os danos e injustiças feitas por você
para qualquer outro, e estando igualmente pronto para perdoar outros que
o ofenderam, como vos teriam perdão de suas ofensas à mão
de Deus, para caso contrário à recepção deles
da Sagrada comunhão nada mais mas aumenta sua danação.
Então se qualquer de você é um blasfemador de Deus,
um estorvador ou caluniador da Palavra dele, um adúltero, ou está
em malícia ou inveja, ou em qualquer outro crime doloroso, o se arrependa
de seus pecados, ou então não venha àquela Mesa Santa;
para que não depois da tomada daquele Sacramento Santo o Diabo entra
em você, como ele entrou em Judas, e o enche cheio de todas as iniqüidades,
e o traz a destruição ambos corpo e alma."
6. Estas palavras, em português, são assim: "Este é
o caminho e este é o meio para quem quer participar dignamente da
Santa Ceia: Primeiro, que examine as ações e os relacionamentos
de sua vida segundo a norma dos preceitos de Deus; e quaisquer que sejam
aquelas nas quais descobre que transgrediu por vontade, por palavra ou por
ação, deplore sua natureza viciosa, e se confesse diante de
Deus onipotente, com o pleno propósito de emendar a vida. E se descobre
que suas ofensas são não somente contra Deus, mas também
contra o próximo, então, que se reconcilie e esteja pronto
a fazer-lhe restituição e dar-lhe satisfação,
segundo todas as suas forças, pelas injustiças e males que
lhe tiver feito; e que esteja igualmente pronto a perdoar aos outros as
suas ofensas, assim como deseja que as próprias ofensas sejam remidas
por Deus, de outro modo, o recebimento da Santa Comunhão não
fará mais que agravar a condenação. Por conseqüência,
se alguém dentre vós é blasfemador de Deus, maldizente
ou escarnecedor de Sua Palavra, ou adúltero, ou estiver em malícia
ou malevolência, ou em algum outro crime enorme, que faça penitência
dos seus pecados, senão, que não se aproxime da Santa Ceia.
De outro modo, depois de tê-la recebido, o diabo entrará em
ti como entrou em Judas, e te encherá de toda iniqüidade, destruindo-te
tanto o corpo como a alma".
7. Foi-me dado interrogar, no mundo espiritual, a alguns presbíteros
da Inglaterra que tinham confessado e pregado a fé, só, se,
quando liam nos templos essa exortação, na qual a fé
não é sequer nomeada, se tinham acreditado que era assim,
que, se fizessem más obras e não fizessem penitência
delas, o diabo entraria neles como em Judas, e lhes destruiria tanto o corpo
como a alma. Disseram que, no estado em que se achavam quando liam essa
exortação, sabiam e pensavam somente que essas coisas constituíam
a própria religião; porém, que não pensavam
da mesma maneira quando preparavam ou poliam os sermões ou pregações;
que então pensavam na fé como o único meio de salvação
e, no bem da vida, como um acessório moral para o bem público.
Mas, todavia, foram convencidos de que também tinham estado nessa
percepção geral, que aquele que vive bem é salvo, e
aquele que vive mal é condenado, e que tinham essa percepção
quando não estavam em seu próprio.
8. Que toda religião pertença à vida, é porque
cada um, depois da morte, é a sua vida. Com efeito, a vida fica tal
qual tinha sido no mundo e não é mudada. Uma vida má
não pode ser convertida em boa, nem uma boa em má, porque
são opostas, e a conversão em seu oposto é a extinção.
Por conseqüência, como são opostas, a vida no bem é
chamada vida e a vida no mal é chamada morte. Daí vem que
a religião pertença à vida, e a vida seja fazer o bem.
Que o homem, depois da morte, seja tal qual foi sua vida no mundo, vê-se
no tratado d'O Céu e o Inferno (ns. 470 a 484).