O Homem e Deus, os extremos da cadeia dos seres.
Louis Claude de Saint Martin



O Homem e Deus são os dois extremos da cadeia dos seres. O Homem deve, até mesmo agora, aqui embaixo, ter o verbo realizador. Todas as coisas entre estes dois seres, estão sujeitas a eles; a Deus, como suas criações; ao Homem, como seus súditos. E tudo reverenciaria e estremeceria diante de nós, se deixássemos livre acesso à substância divina em nosso ser: em primeiro lugar a Natureza, pois ela nunca conheceu, e nunca poderá conhecer, esta substância divina; em segundo lugar, nosso implacável inimigo, pois ele a conhece não mais que pelo terror de seus poderes invencíveis.


A responsabilidade do Homem, como distribuidor das riquezas de Deus.
Sem dúvida, o Homem nasceu para penetrar as magníficas obras de Deus, e reprimir a desarmonia; mas também para habitar sempre perto de Deus e, desta altura, supervisionar continuamente todo o círculo das coisas, e distribuir as riquezas divinas, sob os olhos da própria sabedoria; e descobrimos que assim deve ser, ao nunca nos sentirmos em repouso e em nossa correta proporção, exceto quando atingimos esta alta posição; mesmo que isto raramente aconteça aqui embaixo.
Pense, então, Oh Homem, na santidade de seu destino; você tem a glória de ter sido escolhido para ser, de alguma forma, o domicílio, o santuário e o ministro das graças de nosso Deus; e seu coração ainda pode ser preenchido com estes tesouros deliciosos, enquanto, ao mesmo tempo, espalha estas maravilhas nas almas de seus semelhantes; contudo, quanto mais importante for o seu ministério, mais certo e justo é que o Homem responda por sua administração.


A Terra, um exemplo para o Homem.
Quando os céus visíveis enviam suas substâncias, ou as matérias do trabalho diário para que a terra possa conduzi-las à maturidade, eles anunciam à Terra: "Estes são os nossos planos, estes são os nossos desejos, tanto para a preservação das coisas, assim como para a expansão das maravilhas da natureza; tu deves prestar contas de tudo aquilo que confiamos a ti; não permita que nenhuma destas essências permaneça inativa; deixe que tudo coopere conosco, ao fazer com que esta morte universal, que devora todas as coisas, desapareça."
A Terra, então, para escapar da sua própria morte, incuba e alimenta as virtudes que os céus acabaram de depositar em si; ela desenvolve seus poderes encerrados e coagulados e, em suas aspirações acrescenta outros poderes aos já existentes; então, a terra traz à superfície a leal prestação de contas que testemunhamos, de tudo o que lhe foi confiado, com um grande progresso proveniente do emprego e colaboração de suas próprias faculdades.


A mesma lei é destinada a você, Oh Homem Espírito, para a administração de seus bens como o oficial da Verdade. Você é a terra de Deus; você é um funcionário divino no Universo. Deus lhe envia, todos os dias, talvez a todo momento, pelo menos, a cada período espiritual, a tarefa que Ele lhe dá a desempenhar, de acordo com os Desígnios de Sua Sabedoria, e com a Sua própria idade e força. Ele lhe envia esta tarefa, desejando que você não se poupe da consumação de seus sofrimentos, advertindo que Ele irá exigir, rigorosamente, o seu retorno, o que consiste em nada mais do que a restauração da ordem, da paz, e da vida na esfera de seus domínios os quais Ele confiou aos teus cuidados.
Esta obra é a Magia de Deus, e o complemento daquele que ora.


Este desejo que Deus manifesta, e o alerta que lhe dá, não deve parecer algo estranho; é preciso reconhecer aqui a própria sede de justiça de Deus, e a aniquilação da desordem; quando Deus envia seu desejo ou sede para dentro do homem, Ele faz mais do que admiti-lo em seu conselho, pois Ele traz o seu Conselho para dentro do homem, introduzindo ali os mais doces e elevados propósitos de sua Sabedoria; o Homem é, então, impregnado com as mesmas relações que Deus propriamente dito tem com tudo o que é imperfeito, e Ele próprio o provê do necessário para realizar sua retificação; ou seja, Deus provê o Homem com recursos extraídos de sua própria glória, e procura estimular seu ardor através da esperança que proporciona a ele de participar de todos os frutos com Ele próprio.


Esta obra é o exato complemento daquele que ora, já que é a exata ação, para não dizer, a geração viva da ordem divina que passa dentro do Homem.


Teurgia, suas falhas e perigos.
Esta obra está muito acima de todas aquelas operações teúrgicas, nas quais o Espírito pode se ligar a nós, zelar por nós e até mesmo orar por nós, sem o nosso ser, mesmo que sábio ou virtuoso; como este Espírito está, então, ligado a nós apenas externamente, e opera estas coisas quase sempre nos desconhecidas de nós, que alimentam nosso orgulho e encorajam nossa falsa segurança, talvez seja mais perigoso do que nossas faltas e fraquezas que nos fazem lembrar da humildade.


A verdadeira obra é central e se desenvolve na ação.
Aqui, ao contrário, todas as coisas começam no centro, somos vivificados antes que nossas obras emanem de nós; eis o porque temos muita satisfação a ser extraída de nós através de nossas obras, eliminando a vaidade; e quando o homem é feito para ser, verdadeiramente, o servo de Deus, este modo de existência, esta condição sublime, deve parecer tão natural e tão simples a ele que não dá para conceber qualquer outra.


Pois qual seria o fim ou o objetivo da ação senão conectar aqueles consagrados a ela com a Ação Universal? É através da atuação que nos unimos à ação, e acabamos sendo nada menos do que órgãos de ação contínua e constante; assim, aquilo que não é esta ação é como nada para nós, e nada além desta ação nos parece natural.