O
Cristo Místico
133 - muitas
pessoas tem duvida da existência histórica de Cristo. deixemo-las
em suas divagações, pois não temos tempo a tratar de
demonstrar a existência do sol.
a narrativa da descida do verbo ao seio da matéria é tão
perfeita, tão verdadeira quanto a descida do eu sou ao meu corpo.
134 - Yeschoua identificou-se com Cristo, o verbo por quem todas as coisas
foram feitas. para as igrejas, este fato divino tornou-se datas históricas
de quem consideram a divindade encarnada (Cristo místico). assim
como o Cristo dos mitérios, o logos a segunda pessoa da trindade,
é o macrocosmos, assim também o microcosmos encerra e representa
o segundo aspecto do espírito divino, chamado, por isso, Cristo.
o segundo aspecto do Cristo dos mistérios é, portanto, a vida
do iniciado, a vida do segundo nascimento no reino interno. durante esta
iniciação interna, Cristo nasce no homem e, mais tarde, se
exalta, para tornar mais intelectual ao iniciado a natureza do espírito
nele.
somente por meio do amor pode o homem aspirar à iniciação.
pelo amor verdadeiro o homem pode tornar-se "puro, santo, sem mancha,
e viver sem transgressão", chegando assim a ser iniciado, a
ser Cristo conscientemente. esse é o caminho das provas que leva
à "porta estreita", "ao caminho da santidade"
e, pois, "ao golgota com a cruz às costas".
o Cristo sol no homem é o fogo divino da alma, que se deve converter
em luz; "o nosso deus é fogo", disse moisés. é
o menino que nasce como o homem no presépio, na casa de carne (bélem),
o corpo físico.
o candidato deve desenvolver estas qualidades de maneira perfeita, antes
que Cristo possa nascer em si. deve preparar a morada para este menino divino
que vai crescer dentro dele. os preceitos necessários para desenvolver
essas qualidades estão perfeitamente traçados no sermão
da montanha, e nada mais temos que dizer sobre esse particular.
135 - o maior
mistério do cristianismo está encerrado nos catorze versículos
do primeiro capítulo do evangelho de são joão:
1. no princípio era o verbo, e o verbo estava com deus, e o verbo
era deus.
2. ele estava no princípio com deus.
3. todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito
se fez.
4. nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5. e a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
6. houve um homem enviado de deus, cujo nome era joão.
7. este veio para testemunho para que testificasse da luz; para que todos
cressem por ele.
8. não era a luz; mas para que testificasse da luz,
9. ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo o homem que vem ao mundo.
10 . estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não
o conheceu.
11. veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12. mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de deus; aos que crêem no seu nome;
13. os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem
da vontade do varão, mas de deus.
14. e o verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória,
como a glória do unigênito do pai, cheio de graça e
de verdade.
todas as religiões, antigas e modernas, colocaram e colocam sobre
altares a imagem de um homem ou de uma mulher para simbolizar o poder divino
e o adorá-lo. a arca de noé, a terra prometida, o presépio
de belém, o santo sepulcro, o tabernáculo, jerusalém,
o templo de salomão etc. etc. não são mais do que o
mesmíssimo corpo humano onde arde o fogo crístico.
o homem é um sistema universal composto de astros, planetas, sóis,
luas, cometas, vias-lácteas e constelações; deve seguir
a mesma lei do sistema maior. quanto mais perfeito é o homem, tanto
maior cumprimento dá a estas leis, como o fez Yeschoua Cristo. nós
também "devemos chegar, algum dia, à estatura de Cristo".
136 - há
uma só religião com muitas instituições religiosas,
assim como há uma única humanidade com muitas raças
e costumes. o grande arcano das religiões, como temos visto, está
no poder do fogo crístico e da luz inefável. o sol, sempre
o sol, era adorado como o grande fogo que ardia no meio do universo, ao
passo que o fogo divino está mais além do sol físico.
por este fogo divino interno, que foi adorado no princípio, o homem
nos deixou um símbolo no archote, na espada flamígera e na
coroa de ouro cujas pontas se assemelhavam aos raios solares. todos os homens
deuses tinham nomes que significavam fogo-luz: júpiter, apolo, hermes,
mitra, baco, odin, buddha, krishna, zoroastro, fo-hi, ágni, hiram
abiff, sansão, josué, vulcano, alá, bel, baal, serápis,
salomão, jeshua (Yeschoua), e muitas outras divindades cujos nomes
significam manifestações de luz.
a fábula de prometeu é um véu da verdade: a alma humana,
ao possuir o fogo divino da humanidade, empregou-o para a destruição;
foi encadeada à rocha (corpo) e devorada pelo abutre (dos desejos),
até que um homem conseguisse dominar o fogo e se tornasse perfeito.
esta profecia foi cumprida por hércules (Cristo), que (nascendo como
luz no mesmo fogo da alma) libertou a que, havia tantos anos, estava submetida
ao tormento (nascendo no seu coração pelo segundo nascimento
ou iniciação).
a luz que brilha no sistema nervoso é o mediador entre o deus íntimo
e o homem externo. é a ponte que une o espírito à matéria.
por causa desta luz o filho do homem é chamado filho de deus. os
filhos da luz conseguiram ver o sol interno invisivel. as antigas religiões
buscavam a maneira de captar o fogo cósmico que circulava no éter;
por isso, valiam-se os sacerdotes de plantas, de animais e de metais de
propriedades absorventes dessa luz invisível. o cristianismo emprega
o fogo em seus ritos com o incenso para simbolizar que, assim como o fogo
queima o incenso e este se converte em fumo perfumador, assim também
o fogo divino, no homem, consome tudo quanto há de grosseiro da alma,
para convertê-la em fragrante perfume. os campanários, as torres,
os obeliscos e as pirâmides são símbolos nativos do
fogo.
o ouro dos templos tem a cor da luz solar. os círios acesos nos altares
representam o fogo divino. a pequena lâmpada vermelha alimentada com
óleo de azeitona, que ilumina o altar, é o mais importante;
é o símbolo de ieva: adão-eva - o senhor construtor
das formas.
o azeite é o símbolo do sangue: este mantém a chama
sagrada do homem, assim como o outro sustenta as chamas físicas.
o sangue é o veículo da chispa divina. esta chispa move-se
com a corrente sanguínea e não se encontra em qualquer ponto
particular do organismo. a vibração desta chispa pode ser
dirigida e localizada em qualquer parte do corpo, por meio da vontade concentrada.
o sangue incendeia-se nas veias e manifesta o fogo divino interno.
137 - o iniciado participa do divino poder solar. transfigura-se. este poder
se manifesta em forma de auréola de luz ao redor de sua cabeça,
porque o fogo do espírito santo no sacro se converte em luz no cérebro,
e o iniciado se converte em onisciente sem necessidade do intelecto. esta
auréola de luz, com o tempo, converte-se em diadema para o rei, mitra
para o bispo, disco de luz para a cabeça dos santos. o fogo criador,
ao subir pela espinha dorsal e, finalmente, chegar ao terceiro ventrículo
do cérebro, toma uma formosíssima cor dourada, irradia-a em
todas as direções, formando uma coroa sobre o osso occipital,
em forma de leque. esta luz significa a regeneração do homem
que alcançou a "estatura de Cristo". ela muda de cor conforme
o pensamento: a pureza se converte em branca; a espiritualidade, em azul;
o saber, em amarelo; o amor, em cor-de-rosa, etc. temos hoje muitos meios
de demonstrar estes fenômenos e muitos homens de ciência estão
ocupados no estudo da aura humana.
temos já dito que o homem deve ter dois nascimentos: um físico
e um espiritual. tem de ser homem e Cristo ao mesmo tempo. vamos agora tratar
de decifrar o mistério do Cristo no homem físico assim como
deciframos o significado do Cristo solar.
o grânulo de vida está depositado no útero materno,
porta da vida, durante nove meses; após esse tempo, nasce, e a alma
Cristo permanece no casebre do coração, no corpo (casa de
carne). o menino-Cristo no homem está rodeado de animais: a ignorância
do burro, a debilidade do cordeiro e a brutalidade do touro. o rei das trevas,
no corpo, com a ambição e o orgulho, quer matar o novo rei
nascente, para livrar-se do remorso e ter ampla liberdade de seguir os desejos
da carne. o neófito é atacado pelo fantasma do umbral no segundo
nascimento e é perseguido por todas as hostes do inferno (mundo inferior).
foge, então, para o egito, isto é, refugia-se no mundo interno,
abandonando as tentações do corpo e sua paixões, a
fim de crescer espiritualmente e voltar, depois, ao cumprimento de sua missão
na vida. assim como o sol percorre aparentemente os doze signos zodiacais,
também o espírito crístico tem de percorrer todas as
dependências do seu sistema no corpo, que é a miniatura do
universo. a cabeça é o oriente do homem, de onde sai o sol
Cristo. o iniciado deve dirigir sempre os seus pensamentos e suas práticas
para o cérebro, onde tem a raiz de sua trindade. a porta para o oriente
é o coração, por onde deve entrar o neófito.
por esta porta o neófito ou recém-nascido é conduzido
para as piras do batismo (que se acham no fígado, órgão
que forma, por suas emoções e desejos, o corpo astral ou de
desejo); ali ele é batizado e submetido à prova d'água,
que significa o domínio do desejo. o recém-nascido jura ante
o altar no coração, onde brilham um sol e seis luminares.
(o sol foi depois representado pela custódia, símbolo do sol
resplandecente, ou símbolo do fogo divino; os seus centros magnéticos
ou planetas são simbolizados pelos seis círios.)
o cresthos (em grego significa "bom") é uma qualidade que
deve ser adquirida antes de poder se tornar um Cristo, um ungido. após
haver chegado a viver uma vida virtuosamente exotérica, poder-se-á
começar a viagem ou o caminho para a iniciação, a senda
da provação - a senda que conduz à porta estreita -
caminho da santidade - caminho da cruz. o aspirante deve adquirir as sete
virtudes para sentir o ardor pela felicidade de ver deus e de unir-se a
ele (são mateus 5:8).
138 - o espírito
que mora no corpo é um fragmento invisível de deus. é
trino, por ser deus. é poder, amor e saber. o pai é o poder;
o filho é o amor, e o espírito santo é o saber. a iniciação
consiste em dar completa liberdade ao íntimo para que obre por meio
dos seus três atributos. o Cristo místico, pois, é o
ser interno do homem, e, por conseguinte, é duplo. é o logos,
verbo ou segunda pessoa da trindade, que desce à matéria.
em seguida o amor, segundo aspecto do espírito divino, faz evoluir
o homem. um representa os processos cósmicos no mito solar, o outro
representa o processo que se passa no indivíduo. ambas as fases,
a solar e a individual, se encontram na narrativa dos evangelhos; sua união
nos apresenta uma imagem do Cristo místico. o Cristo cósmico,
a divindade que se envolve com a matéria, é a encarnação
do logos ou deus feito carne. esta matéria-mãe recebe da terceira
pessoa da trindade, o espírito santo, a vida que a anima e lhe permite
tomar forma. a matéria condensada é modelada em seguida pelo
filho, segundo logos, que se sacrifica encerrando-se ou crucificando-se,
a fim de tornar "homem celeste".
do seu corpo fazem parte todas as formas. tal é o processo cósmico
dramaticamente representado nos mistérios.
"o espírito de deus pairava sobre as águas. e as trevas
estavam sobre a faze do abismo", disse o gênese.
logo lhe foi dada a forma pelo logos: "todas as coisas foram feitas
por ele e nada foi feito sem ele", disse são joão no
seu evangelho.
uma vez terminado o trabalho do espírito, o Cristo cósmico
e místico pode revestir-se de matéria, entrando no seio da
virgem matéria. esta matéria foi vivificada pelo espírito
santo a fim de receber o segundo logos, e, assim, Cristo se encarna e se
faz carne; a vida e a matéria o envolvem com uma vestimenta dupla.
é a descida do logos na matéria, descrita com o nascimento
do Cristo de uma virgem. isto se torna em mito solar, esse é o nascimento
de deus sol no momento em que o signo de virgo ou virgem se levanta no horizonte.
começam aqui os símbolos e as lendas. o menino nascido está
sujeito a todas as debilidades infantis. ele, então, representa a
alma frágil que nasce para a evolução. a matéria
o aprisiona para matá-lo; ele, porém, lentamente triunfa e
modela o corpo para um destino sublime. consegue a maturação
do corpo e se crucifica nessa matéria com a finalidade de derramar
da cruz todas as energias de sua vida, sacrificada em benefício do
progresso da criação.
padece, depois morre para os sentidos e é sepultado; mas levanta-se
com o corpo astral radiante que torna veículo ou vestimenta (da alma)
e vive através das idades. a crucificação de Cristo
é uma parte do grande sacrifício cósmico. todas essas
alegorias da crucificação nos mistérios se materializavam
até o ponto de tornar-se morte verdadeira de uma pessoa, sofrida
na cruz e num crucifixo levado por um ser humano que expira.
139 - toda
esta história é hoje a história de um homem; foi aplicada
ao instrutor divino, Yeschoua, e transformou-se na história de sua
morte física, assim como o seu nascimento de uma virgem e a infância
rodeada de perigos.sua ressurreição e a ascensão chegaram
a ser assim como incidentes de sua vida. os mistérios desaparecem,
mas as lendas chegam a ser a vestimenta do instrutor da judéia. o
Cristo cósmico desaparece no Cristo histórico. para os iniciados,
porém, o Cristo era é e será sempre o dos mistérios,
que está intimamente ligado ao coração humano - o Cristo
do espirito humano - o Cristo que existe em cada um de nós, que aí
vive, é crucificado, ressuscita dentre os mortos e sobe ao céu,
em meio dos sofrimentos e do triunfo de todo "filho do homem".
a vida de todo iniciado nos mistérios celestes está traçada
em grandes linhas na biografia dos evangelhos. por isso são paulo
fala do nascimento, da evolução e da maturação
completa de Cristo no discípulo. todo o homem é potencialmente
um Cristo e segue de um modo geral a narrativa dos evangelhos no incidentes
principais; mas, como já temos dito, estes têm um caráter
universal e não particular.
cinco grandes iniciações esperam o aspirante a Cristo. a primeira
é o segundo nascimento do Cristo no coração, pois o
discípulo nasce no reino de deus interno, como um menino. "se
não vos tornardes como meninos, não entrareis no reino dos
céus" disse Yeschoua. Yeschoua nasceu na caverna. (é
a gruta da iniciação conhecida pelos antigos como a "caverna
da iniciação".) em cima da gruta brilha a estrela da
iniciação, cuja luz resplandece pelo nascimento da luz inefável.
sua vida está em perigo por causa das tenebrosas potências
do mal. apesar de todo o perigo, alcança o estado viril, porque,
uma vez nascido, não pode o Cristo morrer, tem de terminar sua evolução
no homem. sua vida se expande em beleza e força, crescendo em sabedoria
e espiritualidade até alcançar a segunda iniciação.
140 - a segunda
iniciação é o batismo da água ou o domínio
de todos os desejos, o qual lhe confere os poderes necessários a
um instrutor. então, descendo o espírito divino sobre ele
com a glória do pai invisível, ilumina-o e assim chega a ser
"o filho bem-amado", a ele se deve escutar.
logo ele é levado ao deserto da matéria para ser tentado.
o inimigo secreto, que reside no baixo-ventre ou no inferno (parte inferior
do corpo), esforça-se por lhe mostrar a dificuldade de seguir a senda,
e convida-o a servi-lo, para a sua própria tranqüilidade e proveito
pessoal. ele, porém, vence o tentador e a tentação
e volta aos homens, a fim de alimentá-los com o pão da vida
e curá-los das doenças.
depois de tantos serviços impessoais e sofrimentos internos, galga
a montanha sagrada da terceira iniciação, onde se transfigura,
tornando-se tão radioso quanto o sol.
estará,então, preparado para o batismo do fogo ou o batismo
do espírito santo e a entrada na última etapa do caminho da
cruz. é, então, perseguido e vituperado; contudo, não
deixa de crescer a vida do amor. bebe o cálice amargo da traição,
do abandono e é negado por todos os seus. anda desapreciado pelos
homens, carregando a cruz na qual deve morrer, renunciando à vida
do mundo inferior. cercado de inimigos triunfantes, o seu heróico
coração lança um grito ao pai que parece tê-lo
abandonado, e então abandona o corpo de desejos. ele, o iniciado,
desce aos infernos para poder salvar os que pedem auxílio e os átomos
que desejam trabalhar sob o estandarte do eu superior. volta depois à
luz, abandonando as trevas inferiores, com o sentimento de que é
o filho inseparável do pai.
uma vez terminados os seus deveres na vida terrestre, ele sobe ao pai por
meio da quinta iniciação, porque já está unido
ao deus íntimo.
é esta a história dos Cristos e dos mistérios, ou do
Cristo dos mistérios, sob o duplo aspecto - logos e homem - ; cósmico
e individual.
Yeschoua é considerado como o Cristo místico e humano, que
luta, sofre e, finalmente, triunfa: é o homem em quem a humanidade
se vê crucificada e ressuscitada, cuja história promete uma
vitória a todos os que, como ele, forem fiéis até a
morte, e até mais além da morte.