Estêvão Harding e a tradição hebraica
Podemos interrogar-nos
quanto ao fato de saber quem foi, quanto ao fundo, a personagem mais importante
para a constituição da Ordem do Templo: São Bernardo
ou Estêvão Harding, abade de Cister, que congeminara tudo,
desde o início, com Hugues de Champagne?
Inglês de origem, Estêvão Harding fora, inicialmente,
monge no mosteiro de Sherbone. Depois, prosseguira estudos na Escócia
e, em seguida, em Paris e em Roma. Marion Melville lembra o que dele dizia
Guillaume de Malmes:
"Sabia casar o conhecimento das letras com a devoção;
era cortês nas suas palavras, risonho no rosto: o seu espírito
rejubilava sempre no Senhor."
Depois de uma passagem por Molesmes, fundara Cister. Alguns anos mais tarde,
tornara-se o seu terceiro abade.
Estêvão Harding acumulara quase todos os conhecimentos intelectuais
que podiam adquirir-se nessa época. Reformou a liturgia e fez da
sua abadia um centro cultural único. Empreendeu um trabalho gigantesco:
a redação da Bíblia de Cister, com um espírito
de correção crítica notável. Para o ajudarem,
recorrera a sábios judeus. De acordo com as suas observações,
mandou efetuar duzentas e noventa correções e cinco versículos
completos de Samuel foram completamente reescritos. Findo isso, Estêvão
Harding proibiu que se tocasse numa só palavra daquela Bíblia.
Daniel Réju refere que uma personagem curiosa vivia então
em Troyes: o rabino Salomon Rachi (1040-1105). Foi considerado o maior exegeta
dos textos hebraicos e o principal comentador e intérprete do Talmude.
Analisava sempre os textos a três níveis: literal, moral e
alegórico.
É difícil saber se Estêvão Harding conheceu pessoalmente
Rachi, dado que este morreu em Praga, em 1105. Em todo o caso, é
bastante provável que os seus genros tenham vindo trabalhar para
Cister, ao lado dos monges, para facilitar a tradução de documentos
sagrados especialmente difíceis de interpretar. Por este meio indireto,
os Templários beneficiaram de um apoio extremamente importante para
a pesquisa que pareciam estar a levar a cabo no Ocidente.
São Bernardo partilhou, sem dúvida, o interesse de Estêvão
Harding pelos textos hebraicos, embora as provas sejam escassas. Em todo
o caso, ergueu-se muitas vezes contra as perseguições que
os judeus tiveram de sofrer um pouco por toda a Europa. Fustigou os autores
dos pogroms e manifestou bastante mais indulgência religiosa pelos
judeus do que pelos cátaros.