Carta
do Presbítero João (1160-1190?)
Autor anônimo
Preste João,
rei dos reis, senhores dos senhores, pela potência e virtude do Criador
e poder do Reparador, a Manuel, regedor de Roma, envia saudações
e alegria para alcançar maiores coisas. Foi anunciado, junto de Nossa
Majestade, que muito prezavas a nossa excelência e que a menção
de nossa grandeza chegara até ti. Nós também tivemos
conhecimento pelo nosso embaixador de que tencionavas enviar-nos alguns
objetos de divertimento com que a nossa justiça se deleitasse. Sendo
homem generoso, considerarei bom enviar-te também pelo nosso embaixador
alguns presentes, pois queremos e ansiamos por saber se professas conosco
a verdadeira fé e se crês sem falha em Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ora, sabendo nós que tu és um homem, esses teus gregozitos
pensam que és um Deus, quando nós sabemos que estás
sujeito à corrupção humana.
Pela costumada munificência da nossa liberalidade, se tens falta de
algumas coisas que possam contribuir para a tua alegria, dá-no-las
a conhecer, quer pelo embaixador, quer por cartas da tua prezada pessoa
e obtê-las-ás. Aceita, pelo nosso nome, o colírio e
usa-o em teu proveito, já que em abundância o usamos no jarro
que nos ofereceste, para que assim, mutuamente, robusteçamos e aperfeiçoemos
as nossas forças.
Também contemple e aprecie o nosso diadema. Ora, se quiseres deslocar-te
ao nosso reino, nós te atribuiremos uma casa maior e mais esplêndida
do que a nossa e, nela, poderás usufruir da nossa abundância;
se desejares regressar, regressarás cumulado de todas aquelas coisas
que em nosso reino temos em abundância. Lembra-te dos teus novíssimos
e livrar-te-ás para sempre do pecado. Mas se queres conhecer a grandeza
e excelência da nossa alteza e por que terras se estende o nosso poderio,
entende e crê sem falha que eu, Preste João, sou o Senhor dos
Senhores e me avantajo a todos os reis da terra inteira em todas as abundâncias
que existem debaixo do céu, em força e em poder.
Setenta e dois reis são nossos tributários. Somos um cristão
devotado e, onde quer que haja cristãos pobres, que o poder da Nossa
Clemência governa, defendemo-los e sustentamo-los com as nossas esmolas.
Desejamos ardentemente visitar o sepulcro do Senhor com um grande exército,
pois convém à glória da Nossa Majestade humilhar e
desbaratar os inimigos da cruz de Cristo e exaltar o Seu bendito nome.
A Nossa Magnificência domina as três Índias; o nosso
território começa na Índia posterior, na qual repousa
o corpo do apóstolo São Tomé, estende-se pelo deserto
em direção ao berço do sol, e desce até a deserta
Babilônia, contígua à torre de Babel. Setenta e duas
províncias nos prestam vassalagem, das quais poucas são de
cristãos e algumas têm reis próprios, os quais, todos
eles, são nossos tributários. Na nossa terra nascem e crescem
elefantes, dromedários, camelos, hipopótamos, crocodilos,
metagalináceos, cameteternos, tinsiretas, panteras, onagros, leões
brancos e ruivos, ursos brancos, melros brancos, cigarras mudas, grifos,
tigres, lâmias, hienas, porcos selvagens grandes como búfalos
e com dentes do comprimento de um côvado, grandes cães selvagens
do tamanho de cavalos, cuja ferocidade ultrapassa a de quaisquer outras
feras, os quais nossos caçadores, não sei por qual arte, por
que encantamento ou ofício, enquanto são cachorros e estão
no ninho das mães, roubam, alimentam cuidadosamente e humanizam.
Mas depois de crescidos e industriados na caça, são apresentados
à Nossa Majestade e, muitas vezes, nas nossas caçadas, nascem
ainda na nossa terra mulheres com grandes corpos, barbas até as mamas,
cabeças raspadas, vestidas de peles, ótimas caçadoras,
que criam animais selvagens como cães para a caça, leão
contra leão, urso contra urso, cervo contra cervo e assim todos os
outros;
Bois selvagens, sagitários, homens selvagens, homens com cornos,
faunos, sátiros e mulheres da mesma raça, pigmeus, cinocéfalos,
gigantes cuja altura é de quarenta côvados, monóculos,
ciclopes e uma ave que chamam fênix e quase todo o gênero de
animais que existem debaixo do céu.
Em algumas outras províncias nossas crescem formigas com as dimensões
de cachorros, com seis pés e asas, à maneira de lagostas marinhas;
têm dentes dentro da boca com os quais comem, maiores do que os dos
cães e dentes fora da boca maiores do que os dos javalis bravos com
os quais capturam quer homens, quer outros animais. Uma vez capturados,
imediatamente os devoram. E, o que é mais espantoso, são tão
velozes na corrida que se julgaria, sem duvidar, que voam e, por tudo isso,
nessas províncias não habitam homens, senão em lugares
muito seguros e fortificados. Com efeito, essas formigas permanecem debaixo
da terra desde o pôr-do-sol até a hora de terça do dia
e durante toda a noite extraem ouro puríssimo e trazem-no para a
luz.
Mas desde a hora de terça até o pôr-do-sol mantêm-se
à superfície da terra e alimentam-se. Depois, entram debaixo
da terra para extraírem ouro. E assim procedem todos os dias. Quando
anoitece, os homens descem das suas fortificações e recolhem
o ouro, que carregam em elefantes, hipopótamos, camelos, quimeras
e outros animais de grande porte e força e transportam-no durante
todo o dia para os nossos erários. De noite, trabalham, lavram, semeiam,
colhem, vão e vêm e fazem tudo aquilo que querem, pois durante
o dia ninguém ousa mostrar-se enquanto as formigas se encontram à
superfície da terra, e isto pela força e ferocidade dessas
mesmas formigas.
Temos outros povos que somente se alimentam de carnes, quer de homens, quer
de animais brutos e disformes, os quais não temem a morte. E quando
algum dentre deles morre, tanto os parentes como os estranhos o comem com
muita avidez, dizendo: "Sacratíssimo é comer carne humana".
Os nomes deles são estes: Gog e Magog, Amic, Agic, Arenar, Defar,
Fontineperi, Conei, Samantae, Agrimandi, Salterei, Armei, Anofragei, Annicefelei,
Tasbei, Alanei.
A esses e a muitos outros povos, o jovem Alexandre Magno, rei dos macedônios,
enclausurou, entre altíssimos montes, para o lado do Aquilão.
A esses, quando queremos, conduzimos contra os nossos inimigos, e é-lhes
permitido, pela Nossa Majestade, devorá-los, não restando
nenhum homem, nenhum animal que, imediatamente, não seja devorado.
Uma vez devorados os inimigos, reconduzimo-los aos seus lugares de origem.
E reconduzimo-los porque, se daí voltassem para junto de nós,
devorariam todos os homens e todos os animais que encontrassem. Estas nações
abomináveis sairão das quatro partes da terra antes da consumação
do século no tempo do Anticristo e cercarão todos os castelos
dos santos e a grande cidade de Roma que nos propusemos dar ao nosso filhos,
com toda a Itália e toda a Germânia e ambas as Gálias,
a Inglaterra, a Bretanha e a Escócia. Dar-lhe-emos a Espanha e toda
a terra que se estende até o mar coalhado.
E não nos admiremos porque o seu número é como a areia
que está nas praias do mar, e a essas nações nenhuma
raça, nenhum reino poderá certamente resistir. Estas nações,
como efetivamente o profeta profetizou, não se apresentarão
a juízo, devido às suas abominações, mas O Criador
lançará sobre elas o fogo do céu, de tal maneira que
serão consumidas e delas não restarão nem sequer as
cinzas.
A nossa terra abunda em mel e abunda em leite. Em nenhuma terra nossa os
venenos são nocivos nem coaxa a rã palradora, não existe
o escorpião nem a cobra serpenteia na erva. Os animais venenosos
não podem habitar neste lugar nem aqui causar qualquer dano. Através
de uma província nossa onde vivem os pagãos, corre um rio
chamado Idono. Esse rio, saindo do Paraíso, estende o seu curso por
toda aquela província em diversos meandros, e aí são
encontradas pedras naturais, esmeraldas, safiras, carbúnculos, topázios,
crisólitos, ônices, berilos, ametistas, sardas e muitas pedras
preciosas. Aí nasce uma erva chamada assídio, cuja raiz, se
alguém a trouxer consigo, afugenta o espírito imundo e obriga-o
a dizer quem é, de onde é e que nome tem.
Por isso, naquela terra, os espíritos imundos não ousam apoderar-se
de ninguém. Em outra província nossa nasce e colhe-se toda
a pimenta que é trocada por trigo, provisões, couro e panos.
Essa terra, porém, é cheia de florestas, principalmente de
salgueiros, e repleta de serpentes que são grandes e têm duas
cabeças e cornos como os carneiros, e olhos que brilham como lanternas.
Quando a pimenta amadurece, incendeiam-se os bosques e as serpentes, fugindo,
refugiam-se nas suas cavernas e assim a pimenta é arrancada dos arbustos
e seca.
Quando a pimenta amadurece, vêm todos os povos das regiões
próximas, trazendo consigo caniços e lenha muito seca, com
o que cercamo bosque por todos os lados e, quando o vento sopra com força,
ateiam fogo ao bosque, dentro e fora, para que nenhuma serpente possa sair
do bosque, e assim todas as serpentes morrem no fogo fortemente ateado,
exceto as que se refugiaram nas cavernas. Uma vez extinto o fogo, homens
e mulheres, pequenos e grandes, trazendo forcados nas mãos, entram
no bosque e, com os forcados, lançam para fora do bosque as serpentes
queimadas e com elas formam enormes montões, como na eira se faz
com a palha separada do grão, as quais alguns sábios índios,
misturando-lhes algumas ervas medicinais bem secas, no moinho as moem finamente
como farinha. Na verdade, essa farinha vale mais do que todas as outras
mezinhas, quer na geração dos homens, quer na concepção
das mulheres e, para dizer tudo em poucas palavras, ajuda em todas as enfermidades
se for aplicada ou ingerida de acordo com cada uma das enfermidades.
Assim é seca a pimenta e colhida dos arbustos queimados e sazonada,
mas de que modo ela é seca, a nenhum estrangeiro é permitido
sabê-lo. Ora, este bosque fica situado no sopé do monte Olimpo,
de onde nasce uma clara fonte que conserva em si o sabor de todas as especiarias.
De fato, seu sabor varia a cada hora do dia e da noite e espalha-se a uma
distância de três dias, não longe do Paraíso de
onde Adão foi expulso. Se alguém beber em jejum três
vezes dessa fonte, a partir desse dia nunca mais sofrerá de qualquer
doença e será sempre, enquanto viver, como se tivesse trinta
e dois anos de idade. Aí há umas pequenas pedras a que chamam
"midriosos" que frequentemente as águias costumam transportar
para as nossas terras, com as quais rejuvenescem e recuperam a vista. Se
alguém usar uma dessas pedras no dedo, nunca lhe fará a vista
e, está ameaçado disso, a recobrará e quanto mais a
contemplar, mais se lhe aguçará a vista. Consagrada por uma
benção legítima, torna o homem invisível, afugenta
os ódios, proporciona a concórdia e afasta a inveja.
Nos confins do mundo, contra o sul, possuímos uma ilha grande e inabitada,
à qual o Senhor sempre envia copiosíssimas chuvas de maná
duas vezes por semana, o qual os povos circunvizinhos recolhem e comem,
não se alimentando de mais nada. Não lavram, não semeiam
nem colhem nem de qualquer outro modo trabalham a terra para dela colherem
tão abundante fruto.
Com efeito, este maná tem, na boca deles, o mesmo paladar que tinha
na boca dos filhos de Israel no seu êxodo do Egipto. Estes povos não
têm comércio com mulheres, excepto com as próprias esposas.
Não conhecem a inveja nem o ódio, vivem pacificamente, e não
têm litígios entre si por haveres; acima deles não têm
ninguém maior, a não ser aquele que enviamos para receber
o nosso tributo.
Pagam, com efeito, todos os anos, como tributo a Nossa Majestade, cinquenta
elefantes, e outros tantos hipopótamos, todos eles carregados de
[puríssimo bálsamo e igualmente de] pedras preciosas e acrisolado
ouro. Certo é que os homens dessa terra abundam em pedras preciosas
e fulvo ouro. Todos estes homens, que vivem do pão celeste, vivem
quinhentos anos. E, todavia, ao atingir os cem anos, rejuvenescem e renovam-se
bebendo todos três vezes de uma certa fonte que brota junto da raiz
de uma árvore que se ergue na mencionada ilha. E, bebida ou absorvida
essa água três vezes, eu afirmarei que se despojam da velhice
de cem anos e, desnudando-se, aparentam, sem hesitação, a
idade de trinta ou trinta e cinco anos, não mais. E assim, sempre,
todos os cem anos rejuvenescem e de todo transformam.
Terminados os quinhentos anos, morrem e, segundo o costume dessa nação,
não são sepultados mas levados para a sobredita ilha e são
infixados junto das árvores que aí se encontram, cujas folhas
jamais caem e são duríssimas. A sombra dessas folhas é
agradabilíssima e os frutos dessas árvores de suavíssimo
odor. A carne desses mortos não empalidece nem apodrece, não
se liquefaz nem se desfaz em cinzas ou se pulveriza mas, assim como em vida
era fresca e rosada, assim permanecerá até que cheguem os
tempos do Anticristo, para que se cumpra a palavra de Deus a Adão:
"Terra és e em terra te tornarás", então
se abrirá por si própria a terra em profundíssimo abismo,
sem que ninguém o tenha escavado, e assim a terra engolirá.
E, uma vez engolidos, a terra fechar-se-á, tornando ao que era, e
assim a carne deles sob a terra tornar-se-á terra e ressurgirão
depois e serão chamados a juízo, para serem julgados e julgarem.
Existe também, em direção ao Setentrião, naquela
parte em que o mundo acaba, um certo lugar que nos pertence, que é
chamado a caverna do dragões. Em toda a extensão, em comprimento
e largura, em enorme dificuldade e aspereza, profundíssima em profundíssima
profundidade, é muito cavernosa e obscura. Neste lugar, na verdade,
existem infinitos milhares de terríveis dragões, os quais
os habitantes das províncias circunvizinhas guardam com a maior diligência
para que nenhuns encantadores dos índios ou provenientes de qualquer
outro lugar tentem roubar esses dragões.
Com efeito, costumam os príncipes dos índios, em suas bodas
e outras festas, ter dragões, e sem dragões consideram que
a festa não teve esplendor. E tal como os pastores costumam domar
e domesticar as crias de cavalos dos seus rebanhos de éguas, ensiná-las
e adestrá-las e chamá-las com nomes próprios, impor-lhes
freio e sela e cavalgá-las sempre que queiram, do mesmo modo esses
homens que têm a guarda e adestramento desses dragões, domam-nos,
domesticam-nos, põem-lhes freio e sela e, quando e onde querem, cavalgam-nos.
Esses povos dos dragões pagam todos os anos à Nossa Magnificência,
como tributo, cem homens, domadores de dragões e cem dragões
já tão domesticados que são como ovelhas e, sacudindo
a cabeça e a cauda para um e outro lado, brincam com os homens como
se fossem cães. Com efeito, esses homens dos dragões são
os nossos emissários, os quais, quando apraz à nossa clemência,
enviamos, com esses dragões voando pelos ares por todos os céus
do mundo, para obter informações acerca de todas as novidades
da terra.
Entre outras coisas maravilhosas que cabem em sorte à nossa terra
está o mar arenoso, sem água. Com efeito, a areia encapela-se
e avoluma-se em ondas à semelhança do mar que nunca está
tranquilo. Este mar não pode ser atravessado em navios nem de qualquer
outro modo. Embora esteja totalmente privado de água, todavia, encontram-se,
perto da margem, do nosso lado, diversas espécies de peixes, agradabilíssimos
para comer e saborosíssimos, nunca vistos noutras paragens. A três
dias de distância deste mar existem uns montes dos quais desce um
rio de pedras grandes e pequenas que trazem consigo madeiros até
ao mar arenoso e depois que o rio entra no mar, as pedras e os madeiros
desaparecem e nunca mais se vêem. E quando não corre, então
pode ser atravessado. Durante quatro dias a passagem é possível.
Existem também na planície, entre o mar arenoso e os sobreditos
montes, uma pedra com admirável virtude, tendo em si um poder curativo
quase incrível. Com efeito, cura somente os cristãos que o
desejam, atacados de qualquer doença, do modo seguinte: A rocha é
côncava à maneira de concha de bronze e nela há sempre
água da altura de quatro dedos e está sempre à guarda
de dois velhos, homens de venerável santidade. Esses homens perguntam
primeiro aos que chegam se são cristãos e se querem ser curados,
e, em seguida, se desejam, de todo o coração, a saúde.
Quando estes confirmam tal, entram na gruta revestidos com as vestes próprias.
E se afirmaram coisas verdadeiras, a água começa a subir de
tal maneira que os cobre completamente e lhes sobe acima da cabeça.
Três vezes se faz o mesmo. Depois, vai decrescendo e regressa à
habitual medida. E assim, quem aí, entrou sai da água sarado
da lepra ou de qualquer enfermidade que o tivesse atacado.
Contíguo ao deserto, entre os montes inabitáveis, corre sob
a terra um ribeiro para o qual não se encontra passagem, a não
ser por um acaso. Com efeito, a terra abre-se de quando em quando e, se
alguém nesse momento atravessa, pode entrar e sair a grande pressa,
não vá, por acaso, a terra fechar-se. E o que se apanha da
areia são pedras preciosas e gemas preciosas, porque a areia e o
saibro não são aí senão pedras preciosas e gemas
preciosas. E esse ribeiro corre para outro rio de maior grandeza no qual
os homens da nossa terra entram e daí trazem a maior abundância
de pedras preciosas; não ousam, porém, vendê-las sem
primeiro as mostrarem à Nossa Excelência. E se nós quisermos
ficar com elas para o nosso tesouro ou para uso do nosso poderio, recebemo-las
por metade do preço; se não, eles podem livremente vendê-las.
Nessa terra são também criados meninos na água, de
tal modo que para que possam achar as pedras, por vezes vivem três
ou quatro meses de baixo de água.
Para lá do rio das pedras, porém, estão dez tribos
de Judeus que, ainda que tenham reis fictícios, são, todavia,
nossos vassalos e tributários da nossa excelência.
Em outra província, junto da zona tórrida, existem uns vermes
que na nossa língua se chamam salamandras. Esses vermes não
podem viver senão no fogo e produzem uma película em volta
de si, tal como os outros vermes que fabricam a seda. Esta película
é cuidadosamente trabalhada pelas damas do nosso palácio e
dela obtemos vestes e panos para todos os usos da Nossa Excelência.
Esses panos não são lavados senão no fogo fortemente
aceso.
A Nossa Serenidade tem abundância de ouro, prata e pedras preciosas,
elefantes, dromedários, camelos e cães. A Nossa Mansidão
acolhe todos os hóspedes estrangeiros e peregrinos. Entre nós
não existem pobres. Não existe entre nós nem roubo
nem rapina, nem o adulador ou o avaro têm aqui lugar. Não há
disputas entre nós. Os nossos homens abundam em todas as riquezas.
Temos poucos cavalos e de pouca qualidade. Julgamos que não há
ninguém que nos iguale em riquezas ou em número de povos.
Além das outras maravilhas da nossa terra, as quais parecem completamente
incríveis aos homens, possuímos cinco pedras incrivelmente
poderosas, do tamanho de avelãs. A natureza da primeira é
tal, que, tanto no Inverno como no Verão, se a colocamos ao relento,
ela irradia um frio tão intenso em dez milhas ao redor de si que,
na verdade, nenhum homem nem nenhum animal o pode suportar pelo espaço
de meio dia, que imediatamente não se resfrie e morra. A natureza
da Segunda pedra é tal, que, igualmente, tanto no Inverno como no
Verão, se colocamos ao sol, produz um tão grande e ardentíssimo
calor, que nenhuma criatura vivente o pode suportar pelo espaço de
meio dia, que, tal como a estopa arde no meio do fogo ardente, não
se queime completamente e fique reduzida a cinzas.
A terceira pedra está no meio, entre as outras duas. Não é
fria nem quente, mas é fria e quente; ambas as situações
é temperada para modificar esta ou aquela intempérie cuja
violência não poderá assim prejudicar ninguém.
A quarta pedra é tal que, se a meio da noite, em grandes trevas,
é colocada ao relento, ao seu redor, irradia uma tão grande
luz e esplendor num circuito de dez milhas, que nada de tão subtil
ou tão exíguo pode ser pode ser imaginado que não possa
ser visto, como ao meio dia, com o sol brilhante luzindo.
Mas a quinta pedra é tal que, se, ao meio dia, com sol ardente, é
colocada ao ar livre, de modo semelhante, dez milhas ao seu redor produz
trevas obscuras, de modo que nenhum mortal pode enxergar o que quer que
seja, nem pode também calcular onde se encontra. Como ficou dito,
estas pedras, se são colocadas ao ar livre, têm as virtudes
sobreditas, mas se estiverem escondidas, não têm estas nem
outras virtudes; pelo contrário, são tão desgraçadas
que não parecem, de todo em todo, ter qualquer valor.
Temos ainda outras cinco pedras, três das quais são consagradas
e duas não. A primeira destas duas, tem por natureza tal virtude
que, se é colocada num vaso cheio de água se forma leite muito
alvo, muito doce para comer e beber, não havendo, produzido por qualquer
animal, nem melhor nem mais agradável. Mas se dessa água é
tirada a pedra, volta a ser o que era. A natureza da segunda pedra é
tal que semelhante, se se coloca num vaso cheio de água, aí
essa mesma água se torna em vinho puríssimo, muito perfumado
e, efectivamente, agradabilíssimo para beber.
Nem da videira nem de árvore alguma jamais se colheu melhor e mais
doce. E, se dessa água é retirada a pedra, volta a ficar como
era, como foi explicado antes a cerca da outra pedra. A primeira das pedras
consagradas foi consagrada de tal maneira que, se é metida na água
onde existem peixes, logo que é colocada nela, todos os peixes, onde
quer que estejam dentro de água, velozmente são atraídos
para a pedra, e não podem se arrancados dela enquanto estiver na
água. Tão grande é a virtude da consagração
desta pedra. Então, quem quer que pretenda apanhar peixes, sem rede,
sem anzol ou qualquer outro artifício, sem qualquer trabalho pode
alcançar peixes grandes ou pequenos, na quantidade que quiser, conforme
queira. Mas quando a pedra é retirada da água, os peixes fogem
para onde quiserem.
A Segunda pedra foi consagrada de tal maneirada que, se algum caçador,
embrenhando-se pela floresta, arrastar a pedra atrás de si, presa
com tendões de dragão, certamente, todos os animais, maiores
ou menores, tanto os ursos como os leões, tanto os cervos como os
cabritos, tanto as lebres quanto as raposas, tanto os lobos quanto os outros
animais que aí habitam, seguem em veloz corrida a trilha do próprio
caçador, para onde quer que ele vá e não procuram separar-se
dele, enquanto ele quiser levá-los consigo. Tão grande é
a virtude de consagração dessa pedra.
E por isso, de entre esses animais, quem quer que o queira, pode apanhá-los
sem qualquer dificuldade. E não admira, pois não podem defender-se
nem fugir. Mas, recolhida a pedra e solta dos tendões de dragões,
metida no esconderijo, os animais regressam para onde quiserem. A terceira
pedra foi consagrada de tal modo que, se for aspergida com sangue quente
de leão, dela sairá tão grande fogo que, tanto a água
como as pedras, tanto a terra como as outras coisas, que o combatam, tal
como a estopa facilmente arde até o fim e não pode de nenhuma
maneira ser extinta, assim acontece a esta pedra, se não for aspergida
com sangue quente de dragão, quando, porém, apraz à
Nossa Majestade fazer um fogo desses, temos leões e dragões
preparados com o sangue dos quais esse fogo é ateado e extinto. Na
verdade com esse fogo destruímos nosso inimigos, se alguma vez se
nos apresentam.
Quando avançamos para a guerra contra os nossos inimigos, mandamos
transportar ante a nossa face treze grandes e altas cruzes, feitas de ouro
e de pedras preciosas, em cada um dos carros , em lugar de estandartes,
e a cada uma delas seguem dez mil soldados e cem mil peões armados,
excetuando aqueles que, com as bagagens e os carros, são escolhidos
para transportar as virtualhas do exército. Como cavalgamos sem pompa,
à frente de nossa majestade segue o lenho da cruz, sem qualquer pintura
ou ornato de ouro ou de gemas, para que sejamos sempre lembrados da paixão
de Nosso Senhor Jesus Cristo, e um vaso de ouro, cheio de terra para que
saibamos que a nossa carne regressará a sua própria origem.
E é levado à nossa própria origem.
E é levado à nossa frente em um vazo de prata, cheio de ouro,
para que todos compreendam que nós somos o Senhor dos Senhores. De
todas as riquezas que existem no mundo, a Nossa Majestade as possui em suprema
abundância e excelência.
Entre nós ninguém mente nem ninguém pode mentir. E
se alguém começasse a mentir imediatamente morreria e como
morto entre nós seria considerado, nem menção deles
seria feita perante nós, nem depois alcançaria de nós
qualquer honra. Todos respeitamos a verdade e amamo-nos uns aos outros.
Não existe adúlteros entre nós. Nenhum vício
grassa entre nós.
Todos os anos visitamos o corpo do Santo Profeta e Daniel, com um grande
exército, na deserta Babilónia e são todos armados
por causa dos "tiros" e outras serpentes que chamam terráqueas.
Entre nós são capturados peixes com cujo o sangue é
tingida a púrpura. Temos muitas munições e gentes fortíssimas
e de diversos aspectos. Temos domínios sobre as Amazonas e também
sobre os Brâmanes.
As Amazonas são mulheres que têm uma rainha, sendo a habitação
delas uma ilha que se estende por todas as partes na extensão de
mil milhas, e é rodeada por todos os lados por um rio que não
tem princípio nem fim, como um anel sem gema. A largura desse rio
é de mil quinhentos e sessenta e cinco estádios. Nesse rio,
porém, existem peixes saborosíssimos para comer [e facílimos
de apanhar]. Há também aí outros peixes, grandes e
destros, com quatro pés dispostos de muito boa maneira, pescoço
normalmente longo, cabeça pequena, orelhas agudas e caudas dispostas
de modo muito conveniente.
Estes são por natureza tão mansos como se tivessem sido criados
paelos homens e na corrida são tão velozes como os ventos
marinhos [e, além disso, oferecem-se no litoral como presa, aos pares,
macho e fêmea]. As Amazonas, quando querem, cavalgam-nos durante todo
o dia e à noite permitem-lhe que voltem para água. Com efeito,
os peixes não podem viver sem água mais do que um dia. Há
também outros, formados coo formosíssimos palafréns,
muitos e gordos e rombos, os quais, durante todo o dia, semelhantemente
cavalgam, e à noite, mandam-nos ir para a água. Outros têm
os aspectos de bois e de burros, com os quais lavram, semeiam, transportam
todo o dia madeira, pedras ou qualquer outra coisa que queiram, e à
noite ficam na água até ao outro dia.
Há também outros, formados como cães grandes e pequenos
e são tão velozes na corrida e ensinados para a caça
que nenhum animal pode fugir diante deles ou esconder-se, que não
seja imediatamente capturado. Outros são como formosíssimos
açores, milhafres, falcões e são tão belos como
se dez ou muitas vezes fosse transformados, e são de tal modo fortes
e velozes no seu vôo que nenhuma ave pode fugir deles que não
seja imediatamente capturada. Os maridos das ditas mulheres não moram
com elas nem ousam aproximar-se delas se não querem morrer de imediato,
mas habitam na outra margem do dito rio. Está estabelecido, com efeito,
que qualquer varão que entre na mencionada ilha morrerá neste
mesmo dia. São elas, pelo contrário, que vão ao encontro
deles e ficam com eles pelo espaço de uma semana, por quinze dias
ou mais, após o que se despedem e partem para outras atividades.
Quando nascem meninos alimentam-nos até aos sete anos de idade e,
depois entregam-nos aos pais. Mas quando nascem meninas ficam com elas.
Essas amazonas são muito preparadas para a guerra e principalmente
no arco, lança e venábulo. Usam armas de prata porque não
têm outros metais senão prata, de que fazem relhas de arado,
enxadas, machados e outros instrumentos. Têm também cavalos
terrestres, muito fortes [e velozes], e lutam montando-os, e [quando lutam,
] nesse mesmo combate [...], à frente, atrás, e [por todos
os lados], ferem e [destroem] os inimigos. [Voltam sobre os cavalos mais
velozmente do que a roda do oleiro quando atinge o máximo do seu
movimento rotativo].
Correm, seguramente, com os próprios pés, de tal maneira que,
se começam a correr ao mesmo tempo que a seta for disparada do arco,
antes que ela atinja a terra, na sua velocíssima corrida, agarram-na
com a mão. Quando apraz a Nossa Alteza recrutar um exército
delas, contra os nossos inimigos, podemos alistar dez vezes cem mil ou mais,
se quisermos. Ora os maridos delas seguem-nas, não para lutarem mas
para celebrarem quando regressam vitoriosas da batalha.
Os Brâmanes são muitos e homens simples que levam uma vida
pura. Não querem ter mais haveres do que a necessidade da natureza
exige. Suportam e aguentam tudo. Dizem ser supérfluo tudo o que não
é necessário. são santos mesmo quando ainda em vida.
Com cuja santidade e justiça toda a cristandade é em toda
a parte sustentada, como veremos, e, para que não seja vencida pelo
diabo, é defendida pela suas orações. Eles estão
a serviço de Nossa Majestade somente com suas orações
e nós não desejamos deles ter mais nada.
Ora o palácio que a Nossa Sublimidade habita, à maneira e
semelhança que o apóstolo Tomé construiu para Gundoforo,
rei dos indianos, nos fundamentos e restantes estrutura é, em tudo,
semelhante àquele. Os tectos trabalhados , traves e arquitraves são
de madeira de cedro. A cobertura deste palácio é de ébano,
para que, por um acaso, não possa arder. Mas nas proximidades, sobre
o cume do palácio, estão dois pomos de ouro e, em cada um
deles, dois carbúnculos, para que o ouro resplandeça de dia
e os carbúnculos brilhem de noite. As portas maiores do palácio
são de sardônica misturada com couro de cerasta, para que ninguém,
ocultamente, possa entrar com veneno; as outras são de ébano
e as janelas de cristal. As mesas, onde a nossa corte come, umas são
de ouro, outras de ametista, e as colunas que sustentam as mesas são
de marfim. Diante do nosso palácio existe uma praça, na qual
Nossa Justiça costuma assistir aos triunfos dos torneios. O pavimento
é de ónix e as paredes entremeadas de ónix, para que,
pela virtude desta pedra, se renove a coragem dos lutadores.
No nosso já mencionado palácio não se acende luz de
noite a não ser a que se alimenta de bálsamo. A câmara,
na qual repousa nossa sublimidade, é ornamentada com maravilhoso
trabalho à ouro e todo gênero de pedras. Mas, se por causa
do ornato, em qualquer lugar existir ónix. Na mesma câmara
estará sempre aceso o bálsamo. O nosso leito é de safira
por causa da virtude da castidade. Temos esposas formosíssimas, mas
não vem até nós senão para a procriação
de filhos quatro vezes por ano e assim, santificadas por nós, como
Betsabé por David, cada uma regressa ao seu aposento. A nossa corte
tem apenas uma refeição por dia. À nossa mesa comem
todos os dias trinta mil homens não contando com os forasteiros que
chegam ou partem. E todos eles recebem em cada dia, da nossa câmara,
ajudas de custo quer em cavalos quer em outras espécies. Esta mesa
é de preciosa esmeralda, sustentada por duas colunas de ametista.
A virtude dessa pedra não permite que alguém que se sente
a mesa possa ficar embriagado.
E porque os nossos moinhos ficam às vezes submersos por inundações
de águas, para que o pão, não venha, ocasionalmente
a faltar na nossa corte, por causa da enorme multidão que nos visitam
e dos moram conosco, não longe da nossa cidade de Bibrie mandámos
fazer um moinho sem água, com forno, como convém a Nossa Majestade.
Deste modo: mandámos que fossem feitos quatro grandes e altas colunas
de ouro puríssimo, as quais estão dispostas em uma planície,
em forma de quadrado, distantes entre si mais de vinte pés.
O comprimento delas é de quarenta côvados, a espessura de dez.
Entre essas colunas, na verdade, mandamos construir uma abóbada,
mais acima ou globo redondo que assim é igual e unido aos capitéis
das colunas, de tal modo que não se eleva acima da coluna nem as
colunas a ultrapassam. Nessa abóbada não existe nem uma janela
nem fresta. Abaixo da abóbada estão duas grandes mós,
dispostas para moer o melhor que se pode, feitas de pedra adamantina, a
qual pedra nem pedra nem fogo nem ferro podem desgastar. Mas sob abóbada,
debaixo das colunas está uma grande roda com robusto espigão
de ouro fulvíssimo, formada e disposta como nos outros, formada e
disposta como nos outros moinhos.
Essa roda gira velozmente de tal modo, pela virtude da pedra [que está
no pavimento], que se alguém quiser nela fixar os olhos firmemente,
imediatamente, perderá a visão. Do mesmo modo, o grão,
pela virtude das pedras, sobe para o moinho por umas das colunas e a farinha
desce por outra, em circulo, onde o pão é feito pelos padeiros
e, colocado num forno feito de asbesto, é cozido. O pavimento do
forno é de topázio verde.
Ora, quando a mó superior roda mais velozmente do que pode acreditar-se
ou imaginar-se, o seu movimento torna-se invisível. Afastada deste
moinho, na direção do oriente, sobre altíssimos montes
ao qual sopra sempre um vento violentíssimo, mandámos construir
uma grande via, subterrânea, de quase vinte milhas, com uma larguíssima
abertura. Construímos também outras vias menores, de duas
milhas que, todas elas, debaixo da terra, até o moinho. Por essas
vias entra o vento, o qual sai pela coluna de ouro, que está inclinada
para a roda e se estende até esta mesma roda e que, na parte superior
é larga e estreita na parte superior, de modo que o vento se repercute
na roda com ímpeto mais violento, fazendo-a girar mais velozmente.
Mandamos fazer coisa semelhante a ocidente, meridião e setentrião
para que, venha o vento de onde vier, faça moer o moinho ininterruptamente
e em contínuo, por cima da abóbada e do globo, que não
é mais ampla que as largas mós que estão no interior.
E não há aí qualquer abertura ou janela para que o
vento, por ventura não sopre sobre a farinha, espalhando-a. Mandamos
também preparar outro edifício largo e alto, para o qual se
sobe em uma escadaria de cento e quarenta degraus e por outro igual, do
outro lado se desce, sendo os degraus uns de ouro, outros de prata, outros
de pedras preciosas variadas e entre si dispostas. A largura desta escadarias
é de dez côvados e é tão larga que por ela cabe
um carro carregado de trigo. Os galos, que nascem numa ilha dos nossos domínios,
que são maiores em estaturas, até mesmo esses, por essa escadaria
o arrastam facilmente até ao cimo do moinho.
No pavimento desse edifício, que é o teto do moinho, existe
uma grande abertura através da qual o trigo é lançado
no moinho para cuja tarefa são destacados, todos os dias, duzentos
homens, e estes não podem comer tanto que o moinho não os
possa satisfazer. Existe também, neste moinho, do lado de baixo,
sob as colunas, outra abertura naquela parte em que o moino despeja a farinha
que desce para a padaria pela grande e áurea coluna afuselada, a
qual está de tal maneira acoplada à abertura, que ninguém
poderá aperceber-se dela.
Nessa padaria, o nosso forno é construído de maneira admirável.
Com efeito, o forno, exteriormente, é feito de pedras preciosas e
ouro e, no interior, o teto e as paredes são de asbesto, cuja natureza
é tal que, uma vez aquecido, mesmo sem fogo, ficará para sempre
quente. Ora, é de ouro adamantino, cuja resistência nem o fero
nem o fogo nem qualquer outro material senão o sangue de "ircino",
poderá desgastar. Sob este pavimente, mandámos ainda construir
um outro...
De topázio verde que é, por natureza, frio para temperar a
quentura do asbesto. Doutro modo, o pão não cozeria, mas queimar-se-ia.
Tal a quentura desse material. O comprimento deste forno é de quarenta
côvados, a largura de quinze. As moendas são de um lado e do
outro dez, e por cada moenda há dez padeiros e cada um deles têm
de benefício do forno a posse de quinhentos soldados e muitas outras
riquezas. Mas o chefe dos padeiros tem tanto quanto todos outros juntos
[e, pela honra do cargo, tem até mais do que os outros]. Do mesmo
modo há moleiros e todos têm os mesmos benefícios que
os nossos padeiros [porque se os padeiros fossem menos do que os moleiros,
ou os moleiros menos do que os padeiros, por ventura entre eles poderia
nascer inveja ou conflito. Assim, aprouve à Nossa Majestade igualá-los
tanto em número quanto em benefício].
Diante dos portais do nosso palácio, contíguo com o local
onde agonizam os que combatem em duelo, está um espelho de enormes
dimensões, ao qual se acede por cento e vinte e cinco degraus. Ora,
de degraus são de pórfiro e, parte deles, de serpentino, e
de alabastro o terço inteiro. Daqui até a terça parte
superior são de pedra cristalina sardónica. A terça
parte superior é de ametista, âmbar, jasper e pantera. O espelho
está infixado sobre uma única coluna. Mas sobre existe uma
base jacente e duas colunas sobre essa base e, sobre elas, outra base e
sobre ela quatro colunas, sobre as quais, de novo assenta outra base, sobre
a qual trinta e duas colunas, sobre as quais outra base, e sobre ela sessenta
e quatro colunas, sobre as quais outra base, e sobre ela tinta e duas colunas.
E assim, em ordem decrescente, diminuem as colunas, como tinham aumentado
na ordem crescente, até uma. Porém, as colunas e as bases
são do mesmo gênero de pedras das dos degraus por onde se sobe
até elas. E no cume da última coluna está o espelho,
com tal magia fabricado, que todas as conspirações e tudo
o que, por nós ou contra nós nas províncias adjacentes
e por nós dominadas forem feitas, podem ser clarissimamente vistas
e identificadas. O espelho é guardado dia e noite por doze mil soldados
armados, não fosse acontecer que se quebrasse ou desviasse.
Todos os meses à nossa mesa se servem sete reis, cada um dos quais
segundo a sua ordem, sessenta e dois duques, trezentos e quarenta e cinco
condes, exceto aqueles que foram destronados para diversos encargos na nossa
corte. À nossa mesa comem todos os dias a nosso lado, à direita,
doze arcebispos, à esquerda, vinte bispos, além do patriarca
de São Tomé e o protopapatem de Sarmagantino e o aquipropapatem
de Susa, onde tem sua sede o trono e o sólido da Nossa Glória
e o palácio imperial. Cada um dos quais, todos os meses, rotativamente
regressam à sua própria mansão. Os outros nunca se
afastam do nosso lado. Os abades, por seu lado, servem-nos segundo o número
dos dias do ano na nossa capela e todos os meses regressam as suas casas
e os outros igualmente em cada mês regressam para o desempenho do
encargo da capela.
Temos ainda outro palácio que não é maior em extensão
mas sim em altura esplendor, o qual foi construído segundo uma revelação
que, antes de sermos nascido, nosso pai teve, a quem, pela santidade e justiça
que maravilhosamente havia nele, era dado o nome de Quasedeus. Foi-lhe,
pois, dito em sinhos: "Constrói um palácio para o teu
filho que te nascerá, o qual será reis dos reis terreno e
senhor dos senhores de toda a terra. E obterá esse palácio
da mão de Deus uma graça tal que, dentro dele, ninguém
terá fome ou cairá doente, ninguém, dentro dele, poderá
morrer desde o dia em que tiver lá entrando.
Ninguém nesse dia em que lá entrar ficará doente, ninguém
terá fome, nem, permanecendo aí, morrerá.
E se, porventura, alguém tiver a mais forte fome que puder e adoecer
de morte, se entrar no palácio e aí se demorar um curto espaço,
sairás saciado como se tivesse comido cem iguarias e tão são
como se na vida nunca tivesse estado enfermo."
Aí nasce também uma fonte de água saborosíssima
e perfumada, e que nunca sai do palácio mas, do canto onde nasce,
corre através do palácio para outro canto e aí a recebe
a terra e volta para o interior da terra de onde brotou, tal como o sol
do oriente regressa, por debaixo da terra, ao oriente. Terá, na boca
de quem quer que a tomar, o sabor de tudo que cada um desejar comer e comer.
Inundará o palácio de tantos odores, como se todos os géneros
de especiarias, aromas e unguentos aí fossem preparados e trazidos,
e muito mais até do que esses.
Da qual fonte, sem falha, se alguém por três anos e três
meses e três semanas e três dias e três horas todos os
dias a tiver povoado, não antes dessa hora nem depois dessa hora
mas se a tiver bebido no espaço que está antes do princípio
e depois do fim dessas três horas, três vezes em jejum, certamente,
não morrerá dentro de trezentos anos e três meses e
três dias e três horas e ficará para sempre na idade
da mais florida juventude. [Quem quer que tenha vivido tanto tempo, no último
dia dos tempos prenunciados, convocará seus amigos e parentes e lhes
dirá: "Meus amigos e parentes, eis que se me aproxima a morte.
Peço-vos que fecheis o sepulcro sobre mim e rogueis por mim".
Dito isto assim, entrará no sepúlcro e, despedindo-se deles,
acomodar-se-á como se quisesse dormir, para que se cumpra a profecia
"acabada a hora rende a alma ao Criador". Ao verem isto, todos,
segundo o costume, choram sobre o corpo do ente querido e, fechado o sepúlcro,
encomendam-no ao senhor e partem.
"Desses acontecimentos, eis os sinais que te dou: Na planície
que chamam Rimoc há uma cantaria grande e alta que Poro, rei dos
indianos mandou aplanar e afeiçoar em quadrados. Tem de altura cem
passos e cinquenta de largura e para todos os lados, a partir desta cantaria
estende-se esta planície quase por vinte milhas. Na qual, é
certo que não existe árvore nem pedra nem colina nem vale
mas sim muitas fontes e ribeiros de água muito doce, correndo irregularmente
pela planície; e todos os géneros de ervas aromáticas
aí são encontradas. Sobre a tal pedra a noite nascerá
uma tão grande e formosa árvore a qual nunca foi vista desde
o princípio do mundo nem o será até o fim. A ela não
acederá ave alguma para que, de nenhum modo a possa estragar.
E nenhuma das suas folhas que são densíssimas e brilhantes
como ouro, jamais cairá. Mas no cume dessa árvore nascerá
um madeiro completamente direito e sem ramos nem folhas, com cem pés
de altura e com diâmetro que dois podem abraçar. Na sua extremidade
nascerá um pomo, incrivelmente grande e brilhante, cujo esplendor
ninguém poderá suportar com o olhar, a menos que coloque a
mão na frente como se quisesse contemplar o sol. E onde quer que
[estejam ou] se detenham a contemplar esse ponto, se estiverem enfermos
ficarão curados com a suavidade do seu aroma ou, se estiverem cansados,
imediatamente recuperarão as forças que antes tinham. Se estiverem
esfomeados ou sequiosos rapidamente serão saciados, de tal modo que,
pelo menos por dezoito dias não terão mais fome nem sede".
Ao amanhecer, Quase deus, meu pai, aterrorizado por tão grande visão,
ergueu-se e meditando e estando mui cuidoso, ouviu uma voz altissonante
que todos os que estavam presentes também ouviram, a qual dizia:
"Ó Quasedeus, faz o que te está assinalado e não
hesites de modo algum, porque todas as coisas sucederão como foi
anunciado." Como esta voz, na verdade, meu pai ficou confortado e imediatamente
mandou construir o palácio, em cuja composição não
entram senão pedras preciosas e, por cimento, ouro do melhor quilate,
liquefeito.
O tecto é de safiras brilhantíssimas e, misturados irregularmente,
topázios transparentes, de maneira que as safiras à semelhança
do claro céu e os topázios a maneira de estrelas iluminem
o palácio. Quinhentas colunas de ouro puríssimo, à
maneiras de agulhas, estão dispostas dento do palácio junto
às paredes.] Está uma em cada canto e as restantes estão
colocadas a seguir. A altura de cada uma das colunas é de quarenta
côvados, a sua espessura é a que dois homens podem abranger
com os braços e no cume de cada uma está um carbúnculo
tão grande como uma grande ânfora, pelos quais o palácio
é iluminado como o mundo pelo sol.
Responder-te-ei se perguntares, por que são as colunas agudas como
agulhas? É evidente que a causa é que se fossem tão
grossas em cima como em baixo, o pavimento e todo o palácio não
seria tão esplendorosamente iluminado pelos carbúnculos.
Do mesmo modo, te responderei, caso me perguntes se existe aí claridade.
É tão grande aí a claridade, que nada de tão
pequeno e insignificante pode ser imaginado que, estando sobre o pavimento,
não pudesse ser claramente enxergado. Nenhuma janela ou abertura
aí existe para que a claridade dos carbúnculos e das outras
pedras não possa, de modo algum, ser obnubilada pela caridade do
sereníssimo céu e do sol.
Há apenas uma porta de puríssimo e lúcido cristal,
circundada de fulvo ouro, virada a oriente cuja a altura é de trinta
côvados a qual, quando Nossa Sublimidade vem ao palácio abre
e fecha sozinha, não lhe tocando ninguém. Mas quando outrem
entra, são os porteiros que a abrem e a fecham. Por vezes, entramos
desse palácio para beber da fonte, quando entramos dessa cidade em
que está implantado o palácio, chamada briebric. Mas, quando
viajamos a cavalo, mandamos transportar connosco, para onde quer que vamos,
da água dessa fonte, e todos os dias em jejum dela provamos três
vezes, tal como foi preceituando na visão de meu pai.
No dia do nosso nascimento e sempre que somos coroado, entramos nesse palácio
e enquanto permanecemos no seu interior, e se podemos aí comer, depois
ao partir, estamos tão saciado, como se tivéssemos ficado
repleto de todo o género de alimentos.
Contígua ao palácio temos uma capela de vidro, não
fabricada por mão humana, mais maravilhosa do que todas as maravilhas,
a qual, nada existindo nesse lugar, no primeiro dia do nosso nascimento
surgiu aí, onde agora está, para honra e glória do
nosso nome. A sua divina disposição é assim: se entram
três homens, fica cheia; se entram dez ou vinte aumenta e cheia fica
[se entram cem ou mil, volta a crescer e continua cheia; e] se entram dez
ou vinte mil, ou até cem mil, continua a aumentar ou a ficar cheia
. [De três e acima de três até ao infinito aumenta sempre
e fica sempre cheia]. E assim como cresce com a entrada dos homens até
ao infinito e está sempre cheia. Mas de três para baixo não
aumenta nem diminui.
Isso, na verdade têm a significância da Santa e Indivisa Trindade
porque, assim como a capela de três para baixo não sofre aumento
nem diminuição, assim também a Santa Trindade não
sofre aumento nem diminuição, não aceita mais nem menos
Pessoas do que as três. Filho e Espírito Santo, que são
três Pessoas em um só Deus verdadeiro e uma essência
divina.
Todos os capelães dessa capela foram escolhidos e todos os que devem
ser capelães são escolhidos nos ventres das mães. Também
devem ser limpos e virgens de toda a mancha esses que em tão sagrado
e santíssimo lugar procedem aos ofícios divinos. Mas quando
nas horas devidas devem entrar na capel para celebrar os ofícios
divinos, antes de entrar desnudam-se completamente numa câmara contígua
à capela que, para isso mandámos construir.
E assim ficam desnudos no liar da capela e nesse lugar recebem [admirásseis
e indescritíveis] vestes, revestidos das quais celebram solene [e
devota] - mente os ofícios divinos. Se se pergunta de onde vêm
as vestes e de que modo são feitas e por quem são entregues
nem eles próprios que as recebem nem nenhum mortal poderá
dizer nem se quer imaginar. Sabemos apenas isto, que são de tal modo
brilhantes e esplendorosas que ninguém sem proteção
nos olhos pode contempla-las. Eis que, celebradas as cerimônias, no
mesmo lugar onde receberam as vestes, não sabendo como nem de que
modo, delas se despojam, e vestindo as suas próprias vestes na sobredita
câmara, voltam para o claustro que é ali mui perto. Das riquezas
e grandeza desse claustro, longo seria narrar. Somente se pode saber que
nenhum reino pode se lhe igualar em riquezas.
Possuímos também uma árvore [magna] em cujo cimo existe
um madeiro com um pomo na extremidade. Dessa dita árvore escorre
espontâneamente uma resina brilhante apenas por uma abertura, a qual,
quando endurece, se torna como numa pedra a que chamam "stintoquim".
A sua natureza é tal que, assim como a água extingue o fogo
e assim como o fogo queima a candeia, a sobredita resina consome o ferro
e se um navio é conduzido pelos mares ou através dos rios
de costa a costa, essa resina, sem falha, divide a água, de tal modo
que quem quer que pode atravessar sem qualquer dúvida, de um lado
a outro a pé enxuto.
Ora, desta resina, quando está fresca, podemos mandar fazer anéis
ou que quer que seja como de maleável cera. Mais ainda pela resistência
desta pedra proveniente da mencionada resina, mandamos fazer as nossas armas
como, por exemplo, o escudo, a lança, o gládio, a lobriga,
as esporas e perneiras as quais, com efeito, resplandecem quer de dia quer
de noite como duas estrelas no céu.
Ora, alguns sábios índios dizem que a sobredita árvore
representa a nossa pessoa porque, tal como essa árvore ultrapassa
as outras em fruto e aroma, do mesmo modo a nossa pessoa neste mundo não
tem semelhança nem igual. Do madeiro que está no alto desta
árvore, dizem que representa o nosso poder porque, tal como essa
árvore é alta e forte, assim também o nosso poder também
é [alto, ou antes é] tão alto e forte que não
pode ser superado por nenhum outro.
Por seu lado, do pomo, que está na extremidade do madeiro afirmam,
igualmente, que corresponde a nossa justiça, porque, tal como a suavidade
do seu aroma os enfermos são curados, os abatidos recuperam, os esfomeados
e sequiosos são saciados, assim é com a nossa justiça.
E, o que é mais, os homens vivem melhor e mais tempo. Outros, porém,
dizem que a [sobredita] árvore significa o mundo. Porém, o
madeiro representa [igualmente] a nossa pessoa porque, assim como a árvore
está abaixo do madeiro, assim todo o [orbe ou] mundo está
abaixo da nossa pessoa. Mas o pomo, como foi dito, significa a nossa justiça.
Temos ainda um outro palácio que pertenceu a Poro, rei dos indianos,
de cuja estirpe toda a nossa terra e geração descende. No
qual palácio muitas coisas há de completamente incríveis
para a mente humana. Aí, [com efeito], erguem-se quinhentas colunas
de ouro e videiras de ouro pendem entre essas colunas, ostentando folhas
e ramos, uns de ouro, outros de cristal, outros de safira, outros de pérolas,
outros de esmeraldas e as sua paredes estão revestidas de lâminas
de ouro, com a espessura de dedos humanos. As suas paredes são ornadas
de pérolas, [carbúnculos] e todas as pedras preciosas. Fora
do palácio estão colunas de marfim totalmente revestidas com
lâminas de ouro. As câmaras são de madeiras de cedro
e ornadas, com toda a arte como jamais pode ser encontrada de pedras preciosas.
Na grande sala desse palácio estão vinte grandes estátuas
de ouro e por baixo delas estão outras tantas grandes árvores
de prata, como lanternas brilhando intensamente, e nelas estão pousadas
aves de ouro de todas as espécies, e cada qual tem as cores segundo
a sua espécie e estão dispostas consoante a arte da música,
porque, quando o rei Poro desejava, todas em simultâneo cantavam segundo
a sua maneira ou então cada uma por si só. Semelhantemente,
as ditas estátuas são também aptas para a música
de tal maneira que segundo a vontade do rei cantam tão doce e suavemente
quanto pode imaginar-se. E, o que é maravilha entre as maravilhas,
parecem, à maneira do histriões, dançar de modos diversos
e exercitar-se em contorcionismos, daqui e dali, A essas estátuas
e essas aves, tanto no inverno quanto no verão, quando apraz a Nossa
Alteza, mandamo-las cantar e dançar e a doçura e suavidade
de seus cantos é tal e tanta que imediatamente os que os ouvem adormecem
como se ficassem fora de si.
Neste ponto, queremos dizer-te, para tua informação, alguma
coisa acerca do alimento de que se sustenta a Nossa Sublimidade. Apenas
"alguma coisa" diremos porque o nosso alimento é confeccionado
com tanta variedade e tantas técnicas, que seria longo descrevê-las
em por menor. Neste momento saibas apenas que o nosso alimento não
é cozinhado ao fogo par que não sejas conspurcado nem pelo
fumo nem pela fuligem nem pelas cinzas ou até pelo carvão.
Possuímos com efeito, uma certa pedra, chamada "zimur",
que existe num monte que tem o mesmo nome de zimurc que, por sua natureza
é quentíssimo de tal modo que, se falha, nenhum mortal pode
tocar-lhe, a menos que leve nas mãos tenazes de ferro.
Desta pedra, na verdade, são feitos vasos dourados no seu interior,
dentro dos quais o nosso alimentos é cozinhado sem fogo. Possuímos
também ma fonte sempre efervescente e que permanece naturalmente
e definitivamente quente a cujo calor é cozinhado não menos
nem pior mas melhor e com mais pureza do que ao fogo. Decerto, a virtude
dessa água é tal e tanta que, se é recolhida, continua
efervescente, tornando-se cada vez mais quente e para quanto mais longe
é levada quanto mais efervescente e mais quente se torna. Por isso
enchem-se grandes conchas de ouro ou potes dourados os quais se colocam
em grandes tripés de ouro. Sobre eles se colocam então os
ditos vasos de pedra, dos quais o nosso alimento quer com o calor da água
quer dos vasos sem fogo, é cozinhado requintadamente, sem fumo. Sempre
que cavalgamos, mandamos que levem connosco dessa água com esses
vasos para que, onde quer que estejamos, o nosso alimento seja preparado
assim como acima foi dito.
Se de novo perguntares porque razão o Criador de todas as coisas
nos fez o mais poderoso e o mais glorioso de todos os mortais, responderei
que,
Porque a Nossa Sublimidade não permite assumir um título mais
digno do que o de Presbítero não deves, por prudência,
admirar-te. Temos, com efeito, na nossa corte, ministros com título
e cargo mais honroso no que respeita à dignidade eclesiástica
e também maiores do que nós nos ofícios divinos. O
nosso mordomo-mor é primaz e rei, o nosso copeiro é arcebispo
e rei, o nosso camareiro é bispo e rei, o nosso marechal é
rei e arquimandrita, o chefes dos cozinheiros é rei e abade. E por
isso a Nossa Alteza não consente ser nomeada pelos nomes nem designada
pelos mesmos cargos de que a nossa corte parece estar cheia e, por isso
mesmo e em sinal da humildade, prefere assumir um título menor e
um grau inferior.
Acerca da nossa glória e poder não podemos, ao presente, dizer-te
mais. Mas, quando vieres até nós, verás que na verdade
somos o Senhor dos Senhores de toda a terra. Por agora, saibas apenas este
pouco, a saber que A nossa terra [se] estende para um lado até à
extensão de quatro meses em largura, e para o outro lado ninguém
pode saber até onde se dilata o nosso domínio. Se podes contar
as estrelas do céu e as areias do mar, então poderás
contar os nossos domínios e o nosso poder.
Feita [na nossa cidade de] Bibric no dia quinze das Calendas de abril do
ano 51 do nosso nascimento.
Como confirmação: todas as coisas que acima são ditas,
por incríveis que pareçam, são verdadeiras: por isso
o cardeal, de nome Estévam, as afirmava sobre juramento de sua fé,
e anunciava-as publicamente a todos.
Trata-se do livro ou história do Preste João, que foi traduzida
do grego em latim pelo arcebispo Cristiano de Mogúncia.
Esse mencionado Cristiano foi o arcebispo Conrado. O referido Manuel reinou
na Grécia desde o ano do Senhor de 1144 até ao ano do Senhor
1180.