São Bernardo E Os Monges-Guerreiros
Obter uma regra
Em 1127, quando Hugues de Payns regressou ao Ocidente em missão especial,
encontrava-se acompanhado por mais cinco Templários. Ora, ainda eram
apenas nove, ou talvez dez. Logo, tinham ficado apenas três ou quatro
no Oriente para assegurarem a falada proteção dos peregrinos.
Mesmo que tivessem junto deles alguns sargentos de armas, a hoste deveria
ser bem magra no caso de um reencontro com o inimigo. Decididamente, essa
missão era muito mal desempenhada. Isso prova insofismavelmente que
apenas se tratava de um "disfarce". Aliás, houve que esperar
até 1129 para se ver os Templários enfrentar pela primeira
vez os infiéis em combate.
Isso não impediu os modestos guardiões do desfiladeiro de
Athlit de se verem chamados "ilustres pelas suas façanhas guerreiras"
inspiradas diretamente por Deus, e isso ainda antes de se terem batido verdadeiramente.
A propaganda não é, por certo, uma invenção
moderna mas este exemplo é especialmente interessante. Mostra que
a publicidade que lhes foi feita não se baseava numa realidade e
se integrava, deliberadamente, naquilo que podemos considerar uma segunda
fase da Ordem: o seu desenvolvimento e a sua transformação
numa ordem militar. Do pequeno número discretamente ocupado com a
descoberta de segredos importantes, passava-se à procura do poder,
o que indica que as pesquisas tinham, sem dúvida, dado os seus frutos
e estavam terminadas.
Convinha, desde logo, pôr em execução a política que elas tivessem sugerido e podemos perguntar-nos se, a partir desse momento, não existiu uma vontade de criar uma espécie de poder sinárquico que se sobreporia aos reinos. Hugues de Payns parou em Roma, antes de seguir para a Champagne. Ali, encontrou-se com o papa Honório II (1124-1130) que se interessava muito por aquela Ordem nascente. Em Janeiro de 1128, Hugues de Payns encontrava-se em Troyes para participar no concilio onde foi proposto adotar uma regra especial para a Ordem do Templo. O texto, nas suas linhas gerais, fora elaborado em Jerusalém.
Tratava-se também de dar a conhecer a Ordem, de começar a recrutar, recolher dádivas, estimular a fundação do poder futuro do Templo. Hugues de Payns tinha no bolso a carta de recomendação do rei de Jerusalém, Balduíno II; que sem dúvida financiara a viagem. Dirigia-se a São Bernardo e pedia-lhe que desse o maior apoio aos projectos de Hugues de Payns e dos seus companheiros. Pelo seu lado, o patriarca de Jerusalém pedia ao papa a concessão de uma regra especial a esses monges.
A carta de Balduíno II a São Bernardo referia:
Os irmãos Templários, que Deus inspirou para a defesa desta
província e protegeu de uma forma notável, desejam obter a
confirmação apostólica bem como uma regra de conduta.
Devido a isso, enviamos André e Gondemarc, ilustres devido às
suas proezas guerreiras e pela nobreza do seu sangue, para que solicitem
ao Soberano Pontífice a aprovação da sua ordem e se
esforcem por obter dele subsídios e ajudas contra os inimigos da
fé, coligados para nos suplantarem e derrubarem o nosso reino. Sabendo
bem quanto peso poderá ter a vossa intercessão, tanto junto
de Deus como do seu vigário e dos outros príncipes ortodoxos
da Europa, confiamos à vossa prudência esta dupla missão
cujo êxito nos será muito agradável. Fundamentai as
constituições dos Templários de tal forma que eles
se não afastem dos ruídos e dos tumultos da guerra e continuem
a ser os auxiliares úteis dos príncipes cristãos...
Fazei de maneira que possamos, se Deus o permitir, ver em breve uma conclusão
feliz desta questão. Dirigi por nós orações
a Deus. Que Ele vos tenha na Sua Santa Guarda.