Origem
da Ordem dos Cavaleiros Templários
É sabido
que durante a Idade Média, era próprio da nobreza manejar
armas. O contato com a espada e o cavalo se dava logo cedo, durante a adolescência
e mesmo durante a infância.
Plínio Corrêa de Oliveira, no seu trabalho intitulado "Nobreza
e Elites Tradicionais Análogas", dirá a respeito desta
classe:
"Na Idade Média a nobreza constituía uma classe social
com funções específicas dentro do Estado, às
quais estavam ligadas determinadas honrarias, bem como encargos correspondentes".
Poderíamos nos perguntar quais eram estas "funções
específicas dentro do Estado" que cabiam à nobreza. Entre
estas funções, estava a da defesa do feudo ou do próprio
Estado em si; de um ponto de vista mais amplo, estava a defesa da Civilização
e do Cristianismo perante os seus inimigos.
Efetivamente, é na nobreza que surge a cavalaria e a figura do cavaleiro.
No "Dicionário da Idade Média", organizado por H.R.Loyn,
encontramos no verbete cavalaria:
"A evolução da sociedade feudal na Idade Média
Central, tanto na Europa ocidental quanto nas Cruzadas, gerou condições
especialmente favoráveis ao desenvolvimento dos ideais de cavalaria,
com seus elementos gêmeos, mas nem sempre inseparáveis, de
Cristianismo e de belicosidade. Associado etimologicamente (chevalier, 'cavaleiro')
à elite montada da sociedade feudal, a cavalaria desenvolveu suas
instituições, regras e convenções características
no decorrer dos séculos XII e XIII, por iniciativa tanto de poetas
quanto de legisladores. As cerimônias de armar cavaleiro, de concessão
de armas, de adoção de insígnias e brasões como
distintivos de nobreza, enfatizaram os atributos seculares da aristocracia
militar dominante. A formação de Ordens Militares para as
Cruzadas também voltou a introduzir um forte elemento religioso".
Sem querer entrar em detalhes, salientamos a presença da nobreza
no surgimento da cavalaria e do personagem cavaleiro, como também
o caráter religioso que marcou profundamente a cavalaria, como marcaria
tudo quanto surgisse na Idade Média, esta época tão
iluminada pela Fé Cristã.
As Cruzadas desempenham um papel fundamental em imprimir o caráter
religioso nas cavalarias. Com efeito, neste momento a nobreza, nos seus
cavaleiros, foram levados a defender a Civilização Cristã
e a Religião de Cristo diante da ofensiva islâmica. Buscando
preservar os locais sagrados da Terra Santa e as vidas dos inúmeros
peregrinos cristãos que nunca deixavam de acorrer a estes lugares
(ambos, tanto lugares como peregrinos, ameaçados pelos maometanos
da região, os quais, em nome da jihad, promoviam intensa perseguição
religiosa), a nobreza cristã empunhou espadas e saiu à luta.
As Cruzadas são, desta forma, um episódio deveras importante
na impressão do caráter religioso do cavaleiro medieval.
Na mesma obra por nós mencionada anteriormente, no verbete cavaleiro,
se verá:
"A imagem do cavaleiro foi muito favorecida e exaltada, nos planos
cultural e moral, durante as Cruzadas, quando a própria Igreja se
preocupou com a ética da cavalaria, incutindo-lhe uma natureza quase
religiosa como o braço secular da Igreja, responsável pela
proteção e defesa dos fracos e da própria instituição.
Isso foi realçado pela instituição das Ordens Religiosas
de Cavalaria no começo do século XII".
Enfatizamos a última frase porque é neste momento que começaremos
a falar dos Cavaleiros Templários propriamente ditos. Até
então falávamos da nobreza e da cavalaria em geral. Agora
abordaremos as origens dos Templários.
Como salienta o texto de Loyn, o caráter religioso da cavalaria medieval
foi realçado sobretudo durante a "instituição
das Ordens Religiosas de Cavalaria no começo do século XII".
Esta é uma clara referência aos Cavaleiros Templários,
que foram fundados em 1119 por Hugues de Payns e Geoffroy de Saint-Omer
juntos a outros sete cavaleiros. Os Templários surgem com estes nove
indivíduos.
A Terra Santa, conquistada pelos cristãos em 1099, durante a Primeira
Cruzada, ainda estava cercada por reinos maometanos. Ainda era perigoso
para os peregrinos percorrer seus caminhos, e estes eram alvo constante
de assaltos e assassinatos. Os peregrinos cristãos eram vítimas
dos sarracenos e também da seita secreta dos Assassinos, uma sociedade
secreta maometana, de cunho xiita, fundada em 1090 por Hassan ibn Sabbah,
também ditos hassassin ou hashishin (de onde veio a palavra "assassino"),
por utilizarem o haxixe em seus rituais, um alucinógeno que lhes
proporcionava "visões"; o quinto grau dos hashishin, os
fedayin (= devotos), eram os responsáveis por cometerem os assassinatos
seguindo os preceitos da seita.
Uma das causas desta enorme insegurança era a falta de cavaleiros
no exército do Reino latino de Jerusalém. Pouco mais de 300
cavaleiros não conseguiriam garantir a segurança e o policiamento
de um reino tão vasto.
Os Templários surgem com este objetivo inicial: proteger os peregrinos
em seu caminho à Terra Santa (principalmente no trecho entre Jaffa
e Jerusalém), e ajudar na defesa do Reino.
O Rei da época, Balduíno II, não recusou esta grande
ajuda, e cedeu a área do Templo do Rei Salomão para a instalação
da nova Ordem de Cavaleiros. De sua vocação monacal, expressa
na adoção dos votos de pobreza, obediência e castidade,
surgiu o título de "Pobres Cavaleiros de Cristo"; mas como
também estavam instalados na área do Templo, eram também
ditos "Cavaleiros do Templo do Rei Salomão". Surgiu, então,
a denominação completa do nome da ordem: "Pobres Cavaleiros
de Cristo e do Templo do Rei Salomão", ou Cavaleiros Templários.
A Ordem cresceu rapidamente. Os interessados em ingressar na Ordem deviam
procurar os postos de comando, numerosos na Europa, chamados commanderies,
e eram submetidos a muitas provas, que deveriam mostrar sua sólida
espiritualidade, seu amor a Cristo, sua força e habilidade com armas,
além de grande coragem. Somente após passar por estas provas,
e após renunciar a todo prazer material e carnal, jurando obediência
à Igreja, o jovem era admitido como novo Cavaleiro da Ordem.
Entre aqueles que foram atraídos para a Ordem estava André
de Montbard, Conde de Champagne, o qual era primo de São Bernardo
de Claraval. Por seu intermédio, a Ordem chegou aos olhos de São
Bernardo. O intrépido Abade de Clairvaux logo percebeu quão
grandiosa era a missão daquela nova Ordem de Cavalaria, que unia
os princípios do monasticismo ao ideal do cavaleiro, e não
lhe poupou apoios. No seu panfleto De Laude Novae Militiae elogiou-os profundamente.
Foi São Bernardo que redigiu a Regra dos Cavaleiros Templários,
baseando-se da Regra de São Bento; esta Regra dos Templários
foi aprovada pelo Concílio de Troyes em 1128.
A Ordem dos Cavaleiros Templários era uma nobre e valorosa Ordem
de Cavalaria, que muito ajudou na defesa da vida dos peregrinos cristãos
que iam à Terra Santa, como também na defesa da própria
Terra Santa.
Ademais, em agradecimento pela proteção recebida, muitos nobres
doavam terras aos Templários. Estas terras foram sendo acumuladas,
e junto com elas muitas riquezas. Os Templários se tornaram tão
ricos e chegaram até mesmo a montar uma rede bancária, talvez
a primeira que se tem notícia!
O fim dos Cavaleiros Templários
Tanto poder e riquezas acumuladas pelos Templários deu-lhes inimigos
poderosos. Entre estes inimigos estava Felipe IV, o Belo, Rei da França.
Felipe estava enfrentando dificuldades financeiras. Apossar-se dos tesouros
da Ordem seria, portanto, uma boa saída. Conta-se ainda que o Rei
teria inveja da Ordem, ciúmes de seu poder e influência na
Europa, e mesmo um ressentimento por não ter sido nela admitido.
Provavelmente o Rei Felipe sentia-se impotente diante da poderosa Ordem.
A condenação dos Templários à morte deve-se
inteiramente ao Rei Felipe IV.
O Rei instaurou um processo injusto, cujo único objetivo era condenar
os Templários, de um jeito ou de outro. Felipe, o Belo, ordenou a
prisão dos Cavaleiros Templários em todo o território
francês na noite de 13 de Outubro de 1307 (o mito do azar na Sexta-Feira
13 tem origem neste episódio). Por meio de um iníquo processo
jurídico, o Rei condenou os Templários à morte. Acusou-os
de idolatria, infidelidade, práticas homossexuais e diversos outros
crimes para legitimar seu veredicto. As "provas" para estas suas
acusações foram todas obtidas pelo uso da tortura.
O Papa Clemente
V (1305-1314) extinguiu definitivamente a Ordem dos Cavaleiros Templários
no Concílio de Viena, em 1312. Clemente V não era dono de
uma personalidade tão forte quanto seu Predecessor, o Papa Bonifácio
VIII (1294-1303), que foi preso e assassinado por Felipe, o Belo, por ir
de encontra às suas ambições. Sabe-se que Clemente
V não concordava com a condenação injusta dos Templários
pelo Rei Felipe, muito embora se diga que esta condenação
se deu de comum acordo entre o Rei e o Papa. Um reforma talvez resolvesse
o problema, servindo para limpar a Ordem do seu poder e posses financeiras.
Contudo, diante das pressões e violentas ameaças de Felipe
IV, Clemente V cedeu e extinguiu a Ordem.
O fato de Clemente V ter frustrado os planos de Felipe de se apossar das
propriedades e riquezas templárias, legando-as aos Cavaleiros Hospitalários,
parece provar contundentemente que este Pontífice não concordava
ou se arrependeu com a condenação do Rei à Ordem, embora
tenha cedido a ela diante das ameaças deste mesmo Rei.