O fim de um reino e de uma ordem
Durante todo este tempo, os Templários estiveram praticamente em
todas as frentes, alimentando, graças à gestão genial
de um patrimônio ocidental colossal, o esforço de guerra no
Oriente. Mas o povo, os nobres, começavam indubitavelmente a cansar-se.
As vitórias e as derrotas sucediam-se, tornavam-se banais. Já
não existia o entusiasmo inicial. Em contrapartida, o Oriente influenciara
o Ocidente. O contacto com outra civilização deixara marcas.
Tinham aparecido produtos novos nos mercados da Europa; haviam-se desenvolvido
técnicas e ciências graças a frutuosas relações
estabelecidas entre sábios e letrados das duas civilizações.
O Ocidente abria-se ao fascínio do Levante.
Um homem pensava ainda ter o dever de levar o ferro, em nome de Cristo,
ao seio dos infiéis:
São Luís. Em 1248, iniciou a catastrófica sétima
cruzada. Em nome de um ideal, desdenhava das realidades, recusando-se a
ouvir aqueles que, como os Templários, conheciam bem os problemas
locais. Acumulou erros e sofreu uma grave derrota em Mansurá, enquanto
os Mamelucos turcos consolidavam o seu poder no Egito. Em 1254, São
Luís regressou a França. Quatro anos mais tarde, os Mongóis
apoderaram-se de Bagdá, pondo fim ao califado abássida. Em
1260, foram repelidos para a Síria pelos Turcos e, no ano seguinte,
os Gregos retomavam Constantinopla.
Em 1270, São Luís, que nunca percebera nada e nem sempre retirara
as lições da sua primeira campanha, participava na oitava
cruzada. Encontrou a morte em frente a Túnis, nesse mesmo Em 1282,
foi concluída uma trégua de dez anos com o Egito, enquanto
os Cavaleiros Teutónicos haviam decidido levar as suas espadas mais
para norte e criar um reino na Prússia. Em 1285, Filipe III, cognominado
o Audaz, que sucedera a São Luís no trono de França,
extinguia-se, deixando o lugar a Filipe IV, o Belo. Seis anos mais tarde,
com a derrota de São João de Acre, no decurso da qual foi
morto o Grão-Mestre da Ordem do Templo, Guillaume de Beaujeu, a Terra
Santa foi perdida e evacuada. Os Templários retiraram para Chipre.
Em 1298, Jacques de Molay tornou-se Grão-Mestre da Ordem: o último
Grão-Mestre. Um ano mais tarde, organizou uma expedição
ao Egito, mas o reino latino de Jerusalém acabara de vez. Filipe,
o Belo, teve violentos confrontos com o papa Bonifácio VIII, que
o excomungou, em 1303. O sumo pontífice morreu nesse mesmo ano. Em
1305, o seu sucessor, também ele em litígio com Filipe, o
Belo, morreu envenenado e o rei de França tornou papa um homem com
quem fizera acordos: Bertrand de Got, que reinou sob o nome de Clemente
V. Nesse mesmo ano, foram lançadas acusações de extrema
gravidade contra a Ordem do Templo, que assumiram a forma de denúncias
feitas perante o rei de França. Acusações duvidosas
mas que surgiam num bom momento: a Ordem inquietava, agora que o seu poder
já não tinha onde se exercer no Oriente.
Em 1306, Filipe, o Belo, sempre sem dinheiro, baniu os judeus do reino de
França, não sem antes os ter espoliado dos seus bens e de
ter mandado torturar alguns deles. Em 1307, mandou prender todos os templários
do reino e escolheu para tal fim a data de 13 de Outubro. A 17 de Novembro,
o papa acedeu a pedir a sua prisão em toda a Europa.
Foram realizadas acusações estereotipadas e a instrução
do processo fez-se com a ajuda da tortura. Mesmo assim, o papa tentou organizar
a regularidade dos procedimentos mas não ousou atacar diretamente
o rei de França. Pouco a pouco, os Templários tentaram formalizar
a sua defesa mas, a partir de 1310, alguns deles foram condenados e conduzidos
à fogueira. Em 1312, quando do segundo concílio de Viena,
a Ordem do Templo foi extinta sem ser condenada. Os bens dos Templários
foram, teoricamente, devolvidos aos Hospitalários de São João
de Jerusalém. A 19 de Março de 1314, o Grão-Mestre,
Jacques de Molay, e vários outros dignitários foram queimados
vivos. Um mês mais tarde, a 20 de Abril, morreu, por sua vez, o papa
Clemente V. No dia 29 de Novembro ocorreu a morte de Filipe, o Belo.
A Ordem do Templo extinguira-se mas a sua história não terminara.
Deixou vestígios que, tal como as catedrais que ajudara a construir,
transpuseram o tempo. Vivera dois séculos, período durante
o qual a evolução da civilização ocidental fora
muito importante, muito mais do que deixa entender a concepção
estática que geralmente se tem em relação à
Idade Média. Dois séculos de evolução econômica,
de desenvolvimento do comércio e do artesanato, de progresso nas
artes. Dois séculos que marcaram para sempre o mundo.